Nota Musical – Outubro de 2021

Destaques do mês de outubro: Gloria Groove, Jão, Ed Sheeran e Alice Caymmi(Foto: Reprodução/Arte: Jho Brunhara/Texto de abertura: Raquel Dutra)

O mês de outubro foi o mais agitado de 2021 aqui no Persona. Iniciado com o especial para o Mês do Horror e intermediado pela cobertura intensa da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, os últimos 31 dias também viram o nascimento do nosso Clube do Livro, que aqui no site se materializou na Estante do Persona, nosso novo quadro mensal literário. Entre todas essas atividades, não deixamos de acompanhar o mundo da Música, e agora, chegamos para comentar tudo o que rolou no décimo mês do ano no Nota Musical.

Tudo começou com um misterioso número 30 surgindo nas principais cidades do mundo. Como um bat-sinal, Adele criou um momento no início de outubro para a divulgação de seu retorno, que acontece depois de seis silenciosos anos que sucederam seu último disco, 25. Agora, seremos apresentados aos 30 da artista, e o single Easy On Me foi mestre em nos introduzir ao novo estágio da vida de Adele, que encontrará seu lugar no mundo em forma de disco no próximo dia 19 de novembro.

Enquanto Adele ressurgia com os seus números, Ed Sheeran retornava com os seus sinais. Como anunciado pelas variáveis e constantes de Bad Habits e Shivers, o novo disco do cara mais legal do pop chegou para continuar sua concepção musical pautada na matemática. Agora, +, × e ÷ tem a companhia de =, e para o bem ou para o mal, a música de Ed é assumidamente definida pelo símbolo de igual. 

Por outro lado, as sábias operações musicais de Lady Gaga e Tony Bennett decidiram apostar tudo num jazz que coloca o amor à venda. Da mesma forma, Hans Zimmer, por sua vez, concluiu na trilha do novo 007 que não temos tempo para morrer, The War on Drugs percebeu que precisa de um novo lugar no indie rock, e Brandi Carlile criou sua aclamada música country a partir de dias silenciosos.

Há também os que buscam a maior abstração possível. É assim com Coldplay e seu novo disco Music of the Spheres, que inventa de buscar outras formas de vida e de expressão distanciando-se do que nos conecta uns aos outros aqui na Terra. Mas nem tudo está perdido: as viagens atmosféricas de outubro funcionam sob a condução de Felipe de Oliveira, Tirzah e Black Country, New Road. Quem quiser acompanhar as belezas descobertas pelos artistas em ascensão, pode conferir os discos Terra Vista da Lua e Colourgrade e o single Chaos Space Marine.

Se alguns embarcam em direção ao exterior, outros mergulham no interior. Na MPB, essa foi a direção de Caetano Veloso em Meu Coco, e de Ney Matogrosso em Nu Com a Minha Música. No rock, o movimento nos entrega o melhor de Sam Fender em seu segundo disco, Seventeen Goin Under. No pop, foi a tática de importantes estreias: lá, FINNEAS descobriu um otimismo agridoce e PinkPantheress resolveu mandar tudo pro inferno.

É da dimensão íntima que outros grandes nomes trazem grandes coletâneas. Silva comemorou seus dez anos de carreira com De Lá Até Aqui; Megan Thee Stallion presenteia seus fãs com Something for Thee Hotties; Elton John traz sua música de quarentena em The Lockdown Sessions; Nick Cave & The Bad Seeds desenterram alguns tesouros em B-Sides & Rarities (Part II); e Madonna disponibiliza sua experiência ao vivo de Madame X nas plataformas de streaming

Assim, outubro também foi um mês de retornos. Primeiro, The Wanted movimentou a internet com seu comeback anunciado através de Rule The World, primeiro lançamento da banda desde sua separação em 2014. Depois, Agnes chega para o revival da era disco em seu quinto álbum, Magic Still Exists, que finaliza um hiato de quase dez anos. Já Tears For Fears viveu um intervalo um pouco maior, mas agora o jejum iniciado em 2004 está encerrado com The Tipping Point, faixa-título do novo álbum da dupla britânica, cujo lançamento está previsto para o início de 2022.

Quando o assunto é novidade, também estamos bem servidos. Em terras brasileiras, o pop viu o encontro de ANAVITÓRIA e Jorge & Mateus, teve mais uma chance de reconhecer Johnny Hooker, finalmente recebeu a estreia de Priscilla Alcantara e o terceiro álbum de Jão. O funk juntou Valesca Popozuda e Rebecca, o rap esteve com Karol Conká e WC no Beat, e a MPB ganhou a companhia de Jorge Drexler na nova canção de Marisa Monte, mas o maior destaque de outubro vai para a Imaculada Alice Caymmi.

Fora do país, o nome segue sendo o de Anitta, que esse mês, apareceu junto de Saweetie em Faking Love. Mas desta vez, a Girl From Rio não representou o Brasil sozinha na música internacional. Nas tabelas, A QUEDA de Gloria Groove significou ascensão, e a drag brasileira estreou na parada global da Billboard. O mesmo sucesso e apreço não pode ser encontrado na colaboração entre Jesy Nelson e Nicki Minaj, já que o lançamento de Boyz veio encharcado de polêmicas da líder Barbz nas redes sociais, e episódios de blackfishing por parte da ex-Little Mix.

Ainda bem que a Música pode contar com a honestidade de Phoebe Bridgers, que usou That Funny Feeling para levantar sua voz em oposição à legislação antiaborto mais restritiva dos Estados Unidos que avança no Texas. O cover da artista esteve no radar mensal do indie, que também tem novidades preciosas no novo disco de Lana Del Rey e nas canções de Mitski e Michael Kiwanuka

Por fim, outubro ainda trouxe um belo descarte de Ariana Grande, novos contornos para a Conan Gray, clipes de Troye Sivan, Kacey Musgraves e Olivia Rodrigo, e o encontro gigante de The Weeknd com Swedish House Mafia. Foi um mês e tanto, mas o Persona nunca deixa de se atentar às novidades e decepções que a Arte nos oferece. Na décima edição do Nota Musical, nossa Editoria e nossos colaboradores se reúnem para vasculhar os CDs, EPs, músicas e clipes que ecoaram por aí em Outubro de 2021.

CDs

Capa do CD Blue Banisters exibe uma mulher branca de cabelos castanhos compridos, que usa um vestido amarelo, sentada de frente para foto ao lado de dois cachorros pastor alemão, olhando para a câmera. Ao fundo da cena há um corrimão e na parte superior da imagem está escrito Lana Del Rey Blue Banisters.
O disco número 8 de Lana Del Rey é focado em sua família (Foto: Universal Music)

Lana Del Rey – Blue Banisters

Quando Lana Del Rey anunciou que Blue Banisters sairia ainda em 2021, sobrancelhas arquearam. A mesma cantora que, poucos meses atrás, havia mergulhado sem bote salva-vidas no tênue rio de expectativas que foi Chemtrails Over the Country Club, agora decidira lançar uma nova coletânea de batidas lentas e composições afiadas. Para a surpresa da audiência, Lana se ausentou das redes sociais, teve o disco vazado (aparentemente sob a supervisão da gravadora) e cumpriu o calendário. Em 22 de outubro, pudemos nos apoiar nos corrimões azuis.

Acompanhada de dois belos cachorros serenos, Lana olha ao seu redor. Ela inspira o ar puro, ela observa o farfalhar das folhas. Ela decide cantar não apenas sobre a velha Hollywood e sobre relacionamentos complicados, mas também sobre sua família. Convidando membros do clã Del Rey até para o papel de compositores, tirando sarro da irmã e da vida moderna, Blue Banisters dá certo pois Lana entende o que deve ser feito.

Se Chemtrails frustrou pela exaustão dos temas que fizeram de Norman Fucking Rockwell! o melhor disco de 2019, em sua segunda rodagem de 2021, a artista acerta a mão na refrescância de si mesma. Em Text Book, ela nos convida ao passeio. Em Arcadia, apresenta uma terra mágica (e um pedido inusitado, mas bem-vindo). Em Dealer, grita os pulmões para fora do tórax e em Sweet Carolina reconfigura sua própria ideia de como ser uma cantora de sucesso. Quase como um manual de instruções que resulta no sucesso, Lana Del Rey dá conta do recado. – Vitor Evangelista


Capa do álbum No Time To Die Original Motion Picture Soundtrack. Na foto, vemos o ator Daniel Craig vestindo um terno de cor preta, camisa de cor branca e uma gravata borboleta de cor preta. Ele é um homem branco, possui cabelos loiros e olhos azuis, e está segurando uma pistola de cor preta na mão direita. Ao fundo, vemos um número 7 de cor preta em um fundo de cor branca. No centro da imagem, está escrito Music by Hans Zimmer, em fonte de cor branca; abaixo, em cor amarela e com fontes maiores, está escrito No Time To Die; ao lado dessa frase, está escrito em fonte de cor branca 007. Abaixo, também em fonte de cor branca, está escrito Original Motion Picture Soundtrack.
A trilha sonora do filme No Time To Die, composta por Hans Zimmer, oferece todos os elementos para se infiltrar nas profundidades psicológicas de James Bond (Foto: Danjaq/Decca Records/Universal Music Operations Limited)

Hans Zimmer – No Time To Die (Original Motion Picture Soundtrack)

A trilha de No Time To Die, novo filme da franquia de James Bond, chegou às plataformas de streaming. A despedida de Daniel Craig no papel de agente mais famoso do Cinema vem sob as canções imersivas e expansivas de Hans Zimmer, conceituado músico alemão que dá sequência a seus trabalhos em trilhas sonoras, cujo mais recente, The Dune Sketchbook (Music from the Soundtrack), foi lançado ainda no mês passado. A pedido de Zimmer, Billie Elish canta, de forma brilhante, a faixa-título do filme, e entra para a história como a artista mais jovem a gravar para a franquia. No começo deste ano, a canção rendeu um Grammy

Os longas do Agente 007 oferecem ao público um aspecto interessante. Embora sejam filmes de ação, mesclam elementos do Cinema cult, e compõem uma aura de clássico acessível. Por essa razão, suas trilhas sonoras têm a difícil missão de mesclar essas características, e, geralmente, são indicadas nas principais premiações. A franquia possui 15 indicações ao Oscar, das quais 11 são em categorias de som. Da lista, o mais recente foi o de Melhor Canção Original por Writing’s on the Wall, em 2015, cantada por Sam Smith. Para esse filme, inicialmente, a música tema seria Spectre, composta pelo Radiohead. Os britânicos produziram a canção, que foi recusada por ser considerada muito melancólica. 

É possível que se tenha encontrado a mistura perfeita entre o clássico, o melancólico e o acessível em No Time To Die. Mais do que aumentar o clima de tensão nas cenas de ação e suspense, as canções captam a sensação de perda emocional constante, elucidando as complexidades de James Bond. No fim das contas, há uma fórmula que não pode ser alterada, e Zimmer permanece dentro dos limites — mas tudo, claro, sem perder o estilo. – Bruno Andrade


Capa do álbum Pirata. Na imagem, em frente a um fundo em tons de azul, vemos, dos ombros para cima, o cantor Jão de perfil, mas com o rosto virado para a câmera. Jão é um homem branco, de cabelos pretos lisos penteados para cima, barba preta rala, aparentando ter cerca de 25 anos, vestindo uma blusa vermelha de gola alta e usando um tapa olho preto sob o olho esquerdo.
Sem falta, Jão anunciou o álbum PIRATA em uma carta aberta em suas redes sociais (Foto: Universal Music)

Jão – PIRATA

Finalmente Jão parou de sofrer por amor (mas não muito). Depois dos doídos LOBOS e ANTI-HERÓI, PIRATA, o terceiro álbum do cantor e compositor, superou as persistentes desilusões e lamentos sobre o amor e, para além de seu recorrente tema, cresceu também em sua sonoridade. O novo trabalho inaugura uma nova fase do artista, já começando pelo seu grandioso lançamento: ao invés de uma apresentação intimista do projeto, Jão reuniu os fãs em um teatro para ouvirem o álbum com exclusividade.

Agora mais ousado, otimista e confiante, as composições autorais do artista continuam charmosas e confessionais. Ninguém sabe o que aconteceu em 2013 para Jão, a quem pertence o dragão nas costas da pessoa que vai parar na cama dele ou o porquê o banco do carro o lembra da nuca de sabe se lá quem, mas mesmo assim, as letras pessoais foram feitas para serem cantadas alto por todos. As batidas animadas e os ritmos festeiros de Pirata, que se anima até quando abaixa o tom para sofrer um pouquinho (não pode faltar), também convidam para dançar até enquanto pronunciamos com convicção “é claro que eu não te amo”.

Falando em ânimo, Jão se arrisca com novas sonoridades e até na produção. Se de primeira algumas faixas como Clarão e Doce soam como um esforço para inovar que deu errado demais, as novidades crescem no ouvido depois que as expectativas iniciais se quebram. Chega de violões sofridos e de chororô, agora a desilusão virou uma dançante EDM para comemorar os fins. O sofrimento de PIRATA é quando este, depois de rápidos 34 minutos, chega ao seu. – Vitória Lopes Gomez


Capa do álbum Love For Sale. Arte digital quadrada, com fundo bege. No canto superior direito, lemos Tonny Bennet & Lady Gaga em letras pretas. Em quase todo o lado esquerdo, lemos Love For Sale também em letras pretas. Figuras abstratas alaranjadas, semelhantes a flores, ocupam quase toda a capa. Na frente delas, vemos a cantora Lady Gaga e o cantor Tony Bennett, numa fotografia em preto e branco. Lady Gaga é uma mulher branca, de cabelos loiros e veste um vestido preto. Tony Bennett é um homem branco, idoso e veste um terno. Um segura a mão do outro, como se estivessem prestes a dançar.
Preparem os lencinhos, pois nasceu o último grande ato da carreira de Tony Bennett (Foto: Columbia Records/Interscope Records)

Tony Bennett & Lady Gaga – Love For Sale

Dedicar um álbum inteiro a Cole Porter não é novidade no mercado fonográfico norte-americano. Em 1956, por exemplo, o mundo era presenteado com o clássico Ella Fitzgerald Sings The Cole Porter Song Book. De lá para cá, no entanto, os parâmetros musicais mudaram mais de uma vez, e, na atualidade, nenhuma realização similar à de Ella parecia ser capaz de fazer tanto barulho. Nenhuma, até o público finalmente conhecer Love For Sale. Afinal, com o brilhantismo da dupla Lady Gaga e Tony Bennett, tudo é possível. E ambos foram capazes de transportar os clássicos do jazz para os dias de hoje, sem deixar de lado o brilho original das canções, ou fazer com que o projeto soe pouco inovador.

Incorporando uma roupagem característica do duo super carismático a sucessos imortais, Love For Sale foi aclamado antes mesmo de nascer, recebendo 5 estrelas do jornal Financial Times. Além disso, vale ressaltar que o projeto não surgiu da noite para o dia, pois vinha sendo planejado desde meados da era Cheek To Cheek. Inclusive, para quem desconfiava que o álbum de 2014 era tão somente uma jogada de marketing, ou simplesmente torcia o nariz para a Mother Monster no jazz, o novo disco de Tony e Gaga evidencia de modo inigualável a sinceridade e química que há nessa dupla, o que talvez modifique um pouco a opinião de um grupo sisudo, que gosta de ter controle sobre o que é ou não Arte.      

Em relação aos destaques do CD, It’s De-Lovely é a abertura perfeita para o álbum: carregada de belos vocais e muita poesia, como já esperado, a faixa é um deleite à primeira ouvida. E indo da contagiante faixa-título à extasiante Do I Love You, uma das performances solo de Gaga, não podemos deixar de mencionar Let’s Do It. Para os brasileiros, talvez seja impossível não associar essa canção à memorável versão Façamos (Vamos Amar), de Elza Soares e Chico Buarque. Para finalizar, não foram inesperadas as reações da internet à música You’re The Top – já que alguns versos dessa faixa ganham outro sentido na comunidade gay, num jogo entre os termos passivo e ativo. Portanto, não restam dúvidas de que, ao lado de Lady Gaga, Tony Bennett se aposentou em grande estilo. – Eduardo Rota Hilário      


Capa do álbum Equals, de Ed Sheeran. O fundo é vermelho, com jatos de tintas preta, amarelo e rosa. Ao centro, está pintado em preto um sinal de igual. Em torno do sinal, estão desenhos de borboletas em movimento. Na parte inferior uma amarela e, no sentido anti-horário, estão uma azul, uma verde claro, uma bege claro, uma verde e uma azul piscina.
Não é engraçado como as coisas mais simples da vida podem fazer um homem?” (Foto: Asylum Records UK/Warner Music UK)

Ed Sheeran – Equals

Simples, íntimo e sem erros. É assim que Ed Sheeran orquestra = (Equals), em cada nota e ritmo de seu quinto álbum solo. Sem desapontamentos, o britânico entrega mais do que o esperado nas 14 músicas, harmonizando cada parte de sua era matemática em um único exemplar. Sentimos cada detalhe de suas emoções, transitando entre energias positivas e mais dramáticas

Ainda que o cantor permaneça no pop comercial, ele sempre traz seu diferencial com músicas acústicas em meio as mais dançantes. A menção honrosa vai para Tides, deixando explícito que, mesmo com as mudanças significativas em sua vida, o artista permanece o mesmo. Em sua nova fase, Ed Sheeran nos mostra o quanto ainda podemos ser iguais. – Júlia Paes de Arruda


Capa do álbum Você Aprendeu A Amar?, de Priscilla Alcantara. A imagem mostra uma fotografia de Priscilla Alcantara de lado, sentada em uma escada. Ela é uma mulher branca, de cabelos longos ondulados castanhos e olhos escuros, e veste uma blusa e saia brancas. Ela está ao centro e olha para a câmera, tem os braços tatuados, as unhas longas pintadas de preto e usa uma sandália cor de rosa. O cenário é todo rosa com textura de nuvem, inclusive a escada. Na linha vertical lateral direito, está escrito, no canto inferior, o nome da artista em branco e caixa alta, e no canto superior, está escrito o nome do disco, na mesma cor mas em letras minúsculas. No meio dessa linha, existe uma estrela cor de rosa separando as duas frases.
Na mesma noite em que saiu como a vencedora da primeira edição do The Masked Singer Brasil, Priscilla Alcantara anunciou seu novo disco (Foto: Sony Music Entertainment Brasil)

Priscilla Alcantara – Você Aprendeu A Amar?

Eu começo onde eles dizem ser o meu fim”, era a mensagem de Priscilla Alcantara quando iniciou de vez sua caminhada rumo ao pop num processo de ruptura com as suas raízes no gospel. O momento da mudança de carreira – e de postura diante das cobranças de quem se achava no direito de questionar a forma como seguia sua vida – foi marcado pelo single Correntes, lançado em novembro de 2020, que hoje é peça fundamental no primeiro disco de Alcantara fora da música religiosa. E bem antes do lançamento de Você Aprendeu A Amar?, Priscilla já é um fenômeno pop há muito tempo. 

De ícone da TV infantil dos anos 2000 à perfil influente nas redes sociais, recentemente ela até saiu vencedora da primeira edição do The Masked Singer Brasil. Assim, Alcantara não tem medo de ser cringe logo de cara, e apesar da boa produção, Boyzinho pode não ser a melhor forma de abrir o disco, que guarda coisas muito mais interessantes nas próximas faixas. Vide Primavera na segunda posição da tracklist, apresentando um lirismo que o pop nacional apreciava muito em Sandy & Júnior, agora fresco e repaginado pela expertise de uma artista que conhece bem o público e a música que busca. 

As referências do gênero que foi a primeira formação musical de Priscilla Alcantara estão por toda parte, e ainda que ela tenha dificuldade em coordenar sua individualidade junto do estilo secular e sua voz potente, nada aqui significa uma artista contida. Ela aposta alto e sem retorno em Você É Um Perigo e Beat Triste, enquanto o auge do álbum é quando ela se solta na balada Eu Não Sou Pra Você, brilhando forte a assinatura musical junto da participação de Lucas Silveira (que também assina a produção do álbum). Em seguida, Tem Dias mostra o melhor do pop de Alcantara no trabalho que ainda tem a participação de Projota e uma vindoura colaboração com Emicida (!). Como ela disse, Você Aprendeu A Amar? é só o começo. – Raquel Dutra


Capa do álbum De Lá Até Aqui (2011-2021). No centro da imagem, vemos as palavras “SILVA”, em uma linha; “DE LÁ”, na linha abaixo; e “ATÉ AQUI", na linha abaixo. Todas as palavras estão escritas em uma fonte estilizada, em caixa alta, na cor roxa clara e com um contorno preto.
Assim como os clipes, o álbum foi produzido e gravado por Silva e seu irmão da casa dos dois na Região Serrana do Espírito Santo (Foto: Farol Music)

Silva – De Lá Até Aqui (2011-2021)

Silva resolveu comemorar seus dez anos de carreira musical do melhor jeito: com mais música. No álbum De Lá Até Aqui, o cantor, compositor e produtor revisita canções e celebra seus trabalhos anteriores em, não por coincidência, dez faixas. Além dos áudios, ele tornou a produção também visual e todas as músicas ganharam clipe, filmados diretamente de sua casa no Espírito Santo. Com novos arranjos e interpretações, Silva se aproveita da habilidade no violão para brincar com os estilos e mudar pegadas, em releituras que não tornam o trabalho somente um ‘Maiores Sucessos’. 

Regravadas no ‘voz e violão’, como as faixas foram primeiramente concebidas, o artista pretendia focar na essência das composições ao invés de produções grandiosas. Amantes, por exemplo, que já tinha sido apresentada ao vivo no Bloco do Silva, mas nunca chegou a ser lançada, foi disponibilizada oficialmente em uma versão completamente diferente. Outras, as animadas Pra Vida Inteira, colaboração com Ivete Sangalo, e Um Pôr do Sol na Praia, com Ludmilla, ganharam uma versão solo, repensadas no formato acústico e ao teclado. Até Não É Fácil, presente no Silva Canta Marisa, teve sua própria releitura da releitura, já que, no álbum de covers, o artista performa sua visão de sucessos de Marisa Monte.

Entre as dez faixas, Silva ainda deixa espaço para uma inédita, Pra Te Dizer Que Tô Feliz Assim, que já abre o trabalho significativa. “Meu caminho não é reto pra lá/ninguém me falou onde é que ia dar”, ele inicia, com a voz calma e melódica que, com certeza, marcou sua carreira. De Lá Até Aqui relembra canções desde o primeiro álbum, Claridão, até o mais recente, Cinco, e homenageia os dez anos de trajetória mostrando que, mesmo depois de uma década, Silva sabe muito bem como se renovar. – Vitória Lopes Gomez


Capa do álbum Nu Com a Minha Música. Fotografia quadrada, com fundo composto por luzes amareladas e sombras. O rosto de Ney Matogrosso ocupa quase toda a capa. Ele é um homem branco, idoso, de cabelos grisalhos e semblante sério. Na parte inferior da capa, lemos Ney Matogrosso em letras bege. Ao lado, lemos Nu Com a Minha Música em letras acinzentadas.
Com figurinos extravagantes ou simplesmente nu, Ney Matogrosso é sempre um show imperdível (Foto: Sony Music Entertainment Brasil/Marcos Hermes)

Ney Matogrosso – Nu Com a Minha Música

Para o bem da legião de apaixonados por Música brasileira, Ney Matogrosso adiantou o lançamento do álbum Nu Com a Minha Música, antes previsto para sair somente em novembro deste ano. Composto pelas quatro canções já apresentadas no EP homônimo de agosto, além de outras oito faixas, o novo disco de Ney é, antes de tudo, uma celebração da liberdade. Não à toa, desde a escolha do repertório, o artista satisfez sensivelmente as próprias vontades. E o resultado foi, como sempre, um belo CD, com produção musical divida entre Leandro Braga, Marcello Gonçalves, Ricardo Silveira e Sacha Amback. 

Felizmente, o “medo” de não conseguir cantar aos 80 anos, depois de ficar um ano inteiro sem essa prática, não passava de um temor. Jogando um pouco de luz sobre um país tão dizimado, Ney Matogrosso parece expressar sua relação íntima com a Música ao cantar “eu ouço cada palavra/de cada frase não dita”. Nesses versos de Noturno, canção ampliada por Vitor Ramil, a pedido do próprio intérprete, temos certeza de que Ney enxerga além do lugar-comum de suas escolhas. Prova disso é Sua Estupidez, que, nas mãos do ex-Secos & Molhados, fascina até quem não aprova muito os compositores Roberto e Erasmo Carlos

Sem muita surpresa, Mi Unicornio Azul, do cubano Silvio Rodríguez, permanece, de agosto até aqui, como um dos auges das novas gravações. E falando em destaques, o expurgo poético de Estranha Toada nos encanta com os versos de Martins e PC Silva: “Eu tô gastando canção,/minha função principal,/derramando verso a quem não vale uma vogal”. De fato, percorridas oito décadas de vida, é urgente assumir que Ney Matogrosso não precisa mais provar sua expressividade e relevância. As renovações tornam-se, da mesma forma, desnecessárias para quem pode muito bem gravar porque quer gravar. E cantar – até o fim.  – Eduardo Rota Hilário


Capa do álbum In These Silent Days de Brandi Carlile. Fotografia quadrada com o perfil de Brandi Carlile voltado para a esquerda. Brandi é uma mulher branca, de cabelos curtos com luzes, vestindo uma camisa branca, gravata preta e branca e um colete marrom com mangas estampadas em tons terrosos. Ela segura a gravata com a mão. Ao fundo está a paisagem de uma cidade montanhosa, no qual as montanhas vão desaparecendo com a neblina. A cidade é azul mas Brandi é iluminada por uma luz alaranjada. Na parte superior esquerda, é possível ler o nome da artista em fonte branca e cursiva. Já na parte superior direita, é possível ler o título do álbum, In These Silent Days, na mesma fonte.
Brandi Carlile é mulher lésbica e vem redefinindo o gênero country desde 2005 (Foto: Low Country Sound/Elektra Records)

Brandi Carlile – In These Silent Days

Vencedora do Melhor Álbum Americana com By The Way, I Forgive You, além de conquistar outras 2 vitórias com o hino do country queer, The Joke, Brandi Carlile foi a mulher mais indicada ao Grammy 2019 e para ela, Música e ativismo são inseparáveis. Lésbica assumida desde os 15 anos de idade, a cantora-compositora redefine o gênero através da experiência como pessoa LGBTQIA+, dando plataforma à comunidade. Carlile foi pioneira, enfrentou as tensões de ser diferente dos padrões na indústria country, se tornando expoente de um conjunto de artistas que vêm transfigurando o Americana como forma de protesto.

Dando sequência ao sucesso do último registro, no sétimo e mais recente álbum, In These Silent Days, Carlile mais uma vez reafirma a filosofia pessoal de encontrar beleza nas fraquezas – explorada simultaneamente na produção de seu livro de memórias, Broken Horses. Aqui, a artista revela as influências dos ídolos com quem desenvolveu relações estreitas após By The Way, I Forgive You, permeando entre o intimismo de Joni Mitchell em You and Me On The Rock à teatralidade de Elton John em Sinners, Saints and Fools.

Com a pressão de superar o triunfo do álbum antecessor, a norte-americana aposta na mesma sonoridade passada: a instrumentação acústica, os vocais protuberantes e o destaque dos refrões continuam presentes em In These Silent Days. Ainda, a inspiração do rock setentista se manifesta ao longo das dez faixas, nas quais Carlile aparenta estar segura, satisfeita – mesmo quando versa sobre assuntos obscuros. Carlile não busca metamorfose, mas o refinamento de suas qualidades já existentes, finalmente aceitando as próprias imperfeições. – Ayra Mori


Capa do álbum Terra Vista da Lua. Fotografia quadrada, com fundo preto. No canto superior esquerdo, lemos Terra Vista da Lua em letras brancas. No meio e no canto direito da parte superior, lemos Felipe de Oliveira também em letras brancas, porém mais finas. O teto branco de uma espécie de silo ocupa quase toda a foto. No centro desse teto, igualmente centro da capa, vemos o cantor Felipe de Oliveira. Ele é um homem de barba, com camiseta clara, calças escuras, segurando o que parece ser uma mochila e olhando para cima.
O segundo disco da carreira de Felipe de Oliveira comprova que nossa Música ainda é muito rica (Foto: Under Discos)

Felipe de Oliveira – Terra Vista da Lua 

É perfeitamente compreensível que Felipe de Oliveira, ao participar do The Voice Brasil 2016, tenha recebido elogios de Ney Matogrosso. Em primeiro lugar, porque o novo álbum de estúdio do intérprete mineiro abre com Descasos, composição de Juliano Antunes que, na voz de Felipe, lembra bastante a forma de cantar do ex-Secos & Molhados – sem deixar de lado uma roupagem única, que o singulariza como cantor. Em segundo lugar, porque as habilidades vocais e interpretativas de Oliveira, assim como seu bom gosto para seleção de repertório, são notáveis.  

Com título inspirado na canção Lunik 9, de Gilberto Gil, Terra Vista da Lua também abraça o tropicalista baiano ao apresentar uma regravação de Balada do Lado Sem Luz: jogo de brilhos e sombras que se encaixa muito bem na voz de Felipe. Mas o auge do disco está mesmo em Cara da Esquina, música composta por Dé de Freitas e Guilherme Borges. “A gente inventa tanta esquina/pra falar que importam/as minúcias dessa vida”, diz uma das passagens mais belas desse momento sensível, reflexivo e maduro, trecho ímpar de um álbum igualmente poético do início ao fim.

Sem perder a qualidade estética, Terra Vista da Lua ainda aborda temas urgentes, como “aqueles homens que se escondem/atrás de tanto ódio” – parte da atualíssima faixa Aqueles Homens, com autoria de Nobat. Já em Encontro Nosso, Felipe consolida o único feat do CD, ao lado da artista baiana Laila Garin. Inquestionável, no entanto, é dizer que, ao fim desta jornada produzida pelo baixista Barral Lima, com direção artística do próprio cantor mineiro, Terra Vista da Lua mostra-se belo e sensível como um todo, desde sua capa até as letras e sonoridades mais diversas. – Eduardo Rota Hilário    


Capa do álbum Girlfriend, da banda The Driver Era. Na capa, uma foto em preto e branco de ponta cabeça e com as portas em preto, vemos, da esquerda para a direita, Rocky e Ross Lynch vestindo sapatos pretos, calça sociais e paletós pretos e brancos, respectivamente, curvados para a frente e encarando a câmera. Do lado direito da imagem, acima da cabeça de Ross, vemos a palavra “girlfriend” em uma fonte estilizada, verde e em caixa alta. Abaixo da palavra, em uma tamanho pequeno, vemos a frase “THE DRIVER ERA” em preto e em caixa alta.
Todas as faixas de Girlfriend foram compostas e produzidas por Rocky e Ross Lynch (Foto: BMG Rights Management)

The Driver Era – Girlfriend

O aguardado segundo álbum da The Driver Era, a banda formada pelos famosos irmãos Ross e Rocky Lynch, chegou tímido: das quinze faixas que compõem Girlfriend, somente quatro são inéditas. A escolha da dupla de dividir o trabalho em duas partes (a primeira com sete canções frescas, três delas disponibilizadas antecipadamente como singles, e a segunda com faixas lançadas avulsamente durante 2019 e 2020), destaca o progresso na experimentação musical dos irmãos, mas soa familiar demais. Não que isso seja ruim: apesar de mais da metade do álbum não ser novidade, a identidade autêntica de The Driver Era continua marcante

A união das canções atuais e antigas serve para mostrar a evolução de Ross e Rocky, que estão notavelmente mais confiantes e confortáveis agora, tanto nas composições, quanto na produção das faixas. E nas mãos dos irmãos, a sonoridade multi-gêneros de Girlfriend, que coexiste nos rótulos de indie pop, rock e alt, contrapõe os vibrantes solos de baixo e os dançantes teclados, que são os destaques de canções como Heaven Angel, #1 Fan e When You Need a Man, diante dos introspectivos solos e riffs de guitarra de OMG Plz Don´t Come Around, Fade e Take Me Away. Algumas faixas, ainda, conseguem unir o melhor das duas fases da The Driver Era, como acontece nas versáteis Heart Of Mine, Leave Me Feeling Confident e A Kiss. – Vitória Lopes Gomez


Capa do álbum Music of the Spheres. A imagem mostra um conjunto de planetas e símbolos coloridos organizados dentro de círculos finos e brancos que se sobrepõem formando uma imagem simétrica, sobre um fundo em degradê de azul e preto.
O lançamento é o nono álbum de estúdio da banda (Foto: Parlophone)

Coldplay – Music of the Spheres

Entre altos e baixos, o quarteto britânico encabeçado por Chris Martin conseguiu notavelmente manter-se relevante ao longo dos últimos 21 anos, oscilando do rock alternativo que marcou sua primeira década ao pop chiclete que caracterizou a sua segunda, aprofundando-se em uma sonoridade ou outra a cada projeto. Para a alegria de alguns e o horror de outros, em Music of the Spheres, a banda mergulha de cabeça na música multicolorida blasé que caracterizou seus discos Mylo Xyloto e A Head Full of Dreams. Trazendo uma mensagem de paz e amor, emojis no título de canções, e preparando uma turnê sustentável, a banda vem cheia de boas intenções, mas ainda assim carece de intenções artísticas genuínas. 

O conceito principal do disco é apresentar uma viagem espacial por planetas imaginários, proposta que na realidade funciona como fachada para tratar do amor e sentimentos humanos. A viagem parece chamativa e a passagem é barata, mas estejam preparados para gravidade intensa gerando quedas bruscas em várias partes do trajeto, pois nem sempre a espaçonave será capaz de se manter a níveis elevados de voo. Após uma breve introdução instrumental, Higher Power decola melhor do que o esperado, parecendo mais energética e animadora do que quando foi lançada como single. Mas não se animem se a decolagem pareceu estável, pois teremos algumas tremulações nas próximas faixas. 

Depois das genéricas Humankind e Let Somebody Go, com a participação de Selena Gomez, o disco almeja se elevar nas sempre belas harmonias vocais de Jacob Collier com o grupo We Are KING em ❤️, mas balança novamente em People of the Pride, que tenta reproduzir a mesma energia pulsante de Arabesque, canção que foi o ápice do disco anterior. Aproveitem enquanto é tempo, pois daqui pra frente enfrentaremos trajetos perigosos. Biutyful apresenta um bizarro dueto de Chris Martin consigo mesmo em uma voz que parece ser de um personagem de Alvin e os Esquilos, My Universe é mais uma canção chiclete que vai dominar as rádios por meses, e ♾️ parece estar ali só pra estender ainda mais a jornada ao infinito. O pouso será ao som da bela Coloratura, um descanso até que bem-vindo depois de uma viagem tão instável. – João Batista Signorelli


Capa do álbum Meu Coco. Fotografia quadrada, com fundo branco. Na parte superior da capa, vemos um espelho arredondado, com vários reflexos de Caetano Veloso. Sobre esse espelho, lemos Caetano Veloso em letras brancas, cortadas pela metade. No meio da capa, vemos Caetano Veloso de costas. Ele é um homem branco, idoso, de roupa preta. Na parte inferior da capa, vemos a testa e a cabeça de Caetano Veloso, com cabelos grisalhos. Sobre a testa, lemos Meu Coco em letras brancas.
Desde 2012 sem lançar álbum de composições inéditas, Caetano Veloso ressurge com uma vertente criativa preciosa (Foto: Sony Music Entertainment Brasil)

Caetano Veloso – Meu Coco

Nove anos após conceder um Abraçaço à Cultura brasileira, Caetano Veloso resgata seu frescor inventivo no recém-lançado álbum Meu Coco. Com produção musical do próprio artista, junto de Lucas Nunes, a nova obra do cantor e compositor baiano adotou, inclusive, atualizados formatos em seu processo de divulgação, como é o caso das esquetes humorísticas. Afastando-se, no entanto, e felizmente, dos automatismos, conteúdos rasos e da instantaneidade do universo contemporâneo, Meu Coco chega ao mundo como um disco que ecoa, ao mesmo tempo, nossa Arte e nossos horrores; nossas vozes mais belas e sórdidas.    

Como em todas as criações de Caê, só é possível desvendar esse novo disco de camada em camada. E talvez nem seja possível esgotar as incontáveis ramificações que brotam a cada imersão ou pesquisa atenta. Assim como em Anjos Tronchos, lead single do projeto, não há aqui detalhe que escape das antenas universais de Caetano. Em Não Vou Deixar, por exemplo, observamos um grito não panfletário, que ressoaria em qualquer boca minimamente consciente das perversidades que habitam o Brasil e o mundo de hoje em dia – o que justifica a predileção do artista por essa faixa política, destacada e esperançosa.

Há, aliás, mais de uma luz no fim do túnel. “Com Naras, Bethânias e Elis/Faremos mundo feliz”, promete a faixa-título. Exaltação musical entremeada em todo o CD, é impossível não notá-la em GilGal, ou, quem sabe, se empolgar com as novas gerações citadas em Sem Samba Não Dá – tão inesperadas eram as menções a nomes como Gloria Groove e DUDA BEAT. No fim, até Portugal se entrega a esse caldeirão cultural múltiplo: ao lado da cantora Carminho, Caê constrói Você-Você, um dos tocantes auges de Meu Coco. Já nós, passo a passo, vamos abrindo nossos cocos para um vislumbre de futuro que nos parecia delírio utópico. – Eduardo Rota Hilário


Capa do álbum Colourgrade de Tirzah. Fotografia quadrada somente do tronco de uma pessoa não identificável, sem a cabeça. A pessoa veste uma camisa folgada de tecido cinza escuro e costura branca. A camisa reflete uma luz forte que ilumina a pessoa, formando sombras contrastantes. Os dois primeiros botões estão desabotoados. A pessoa está parada folheando um livro colorido, livro este com efeito desfocado que sugere o movimento dele. Na parte inferior esquerda da imagem, pode-se ler o título do álbum, Colourgrade, em fonte branca de forma. Já na parte inferior direita, pode-se ler o nome da artista, Tirzah, na mesma fonte.
Em Colourgrade, Tirzah, ao mesmo tempo que causa estranheza, deslumbra (Foto: Domino Recording)

Tirzah – Colourgrade

É fato que Tirzah não se contenta em encaixar sua Música aos padrões sonoros de qualquer gênero musical. E com Colourgrade não foi diferente. Dando sequência à estreia atmosférica de Devotion, em seu segundo álbum, a cantora, compositora e produtora britânica flerta com o R&B e o pop, jamais se enquadrando plenamente em nenhuma das categorias. O resultado é um som sintético vanguardista que desliza por uma série de experimentações que aguçam os sentidos e ultrapassam a experiência sonora, tornando-se também visual, táctil.

Contando com a colaboração veterana de Coby Sey e Mica Levi (conhecide pela produção de trilhas sonoras audaciosas como a do horror contemporâneo Sob a Pele), o trio com certeza traz à tona as melhores qualidades de cada parte. Rebeldes sem causa, a coprodução confere imprevisibilidade aos temas explorados nas dez faixas, produzidas ao longo de 2019, um ano após o nascimento do primeiro filho de Tirzah. “Passando pela gravidez, parto e maternidade, a anatomia encontrou seu lugar em todas as canções”, ela afirmou a Stereogum.

Contudo, é através dos ruídos, sintetizadores claustrofóbicos e melodias enigmáticas que Tirzah se excede. Por trás das celebrações do parentesco, transformações e pormenores da experiência cotidiana, evocados pelos versos confessionais, ela se despe dos exageros, abraçando o estranho – são sussurros sensuais em Tectonic até guitarras que evocam choros de bebês em Beating. Como uma peça de arte assombrosa, difícil de digerir, Colourgrade hipnotiza. – Ayra Mori


Capa do disco Optimist, de FINNEAS. Na imagem, vemos um fundo preto, com um semi-círculo de cor branca na parte superior. À frente estão três bailarinas de bronze, com detalhes em cor branca, preto e laranja. As bailarinas estão com os dois braços levantados.
Distante do universo pop pelo qual o artista consolidou seu nome, Optimist soa como algo que poderia ter sido melhor (Foto: OYOY/Interscope Records)

FINNEAS – Optimist

Sejamos honestos: é difícil dissociar a fama de Finneas O’Connel da carreira internacional de Billie Elish. Como produtor de sua irmã, o artista mostrou os pontos altos de alguém que domina o sombrio e converte isso em Música pop, ao mesmo tempo em que trata de assuntos pertinentes como as injustiças sociais. Esses temas são a força motriz de Optimist, álbum de estreia de FINNEAS.

A verdade é que existem poucos pontos otimistas aqui. Logo na primeira canção do disco, A Concert Six Months From Now, recebemos o tom de todo o álbum, ouvindo o artista evocar sentimentos de perda e decepção sob uma aura sombria, colocando-se contra a alienação que parece reinar nos tempos digitais — é dessa faixa que surge o trecho que dá título ao CD, no qual O’Connel entoa: “Acho que sou otimista”. Optimist parece fazer parte da leva de projetos que — talvez erroneamente — são caracterizados como pop, mesmo que neguem todos os valores que consolidaram o gênero, devido a uma reconstrução constante da Música.

Assim como Lorde, FINNEAS aposta ao longo das 13 faixas do álbum em paradas mais suaves e lentas, priorizando voz e piano — as canções mais eletrônicas do disco são Around My Neck e How It Ends, que o encerra dando um suspiro a toda tensão que a precedeu. Embora FINNEAS cite em Optimist sensações de tristeza e dor, provavelmente uma forma irônica de abordar seu título, ainda se vê preso em alguns clichês sobre sociedade e alienação, o que transmite sua enorme ambição, mas evidencia uma prática pouco viável. – Bruno Andrade


Capa do álbum Seventeen Going Under, de Sam Fender. A imagem é composta por uma fotografia em preto e branco do artista, que é um jovem branco e está sentado numa mureta de uma construção grande de tijolos. Ele veste roupas escuras e olha para a câmera de longe, está de dia e muitas árvores preenchem o redor da imagem. No lado esquerdo da imagem, existe uma linha vertical preta onde está escrito o nome do disco em vermelho e caixa alta. No canto inferior direito, está escrito o nome do artista, também em caixa alta, em branco.
Em processo de lapidação, Sam Fender pede por uma chance no futuro do rock (Foto: Polydor Records)

Sam Fender – Seventeen Going Under

Há um certo sentimento de euforia que ronda a nova geração do rock, nos confirma o novo disco de Sam Fender. Num contraste direto com a lírica obscura e direta que fez a estreia do britânico em Hypersonic Missiles ser tão marcante, Seventeen Going Under demora a revelar seus lugares mais escuros e também para compreender o que eles significam no álbum da vez. Aos afetados pela perfeita melancolia psicológica de Dead Boys em 2019, Sam Fender oferece músicas mais doces em toda a primeira metade de Seventeen Going Under

Referenciando diretamente o rock clássico do ídolo Bruce Springsteen, o disco entrega seu auge logo na faixa-título inaugural, e segue com produções e arranjos musicais que poderiam ter saído das sessões de gravação do novo disco do Bleachers em Getting Started, Long Way Off, Get You Down e em outro destaque do álbum, Aye. As conclusões do processo de reflexão, no entanto, continuam trazendo um gosto amargo às palavras que saem da voz operística de Sam Fender. Entre reflexões sobre a sua vida, Last Train To Make It Home, Spite Of You e The Dying Light mostram que a melhor matéria-prima é sempre o que existe dentro de nós.

Isso porque quando olhando para fora, Seventeen Going Under não consegue criar a mesma beleza artística. O percalço também era identificável no primeiro disco do artista, e aos incomodados pela dimensão rasa de White Privilege, Sam Fender expressa suas tentativas de ir além das análises sociais básicas em Paradigmas. Às vezes bruta, às vezes lapidada, a sensibilidade de Sam Fender é para ser descoberta, e ainda bem que existe uma urgência sentimental pungente em Seventeen Going Under. – Raquel Dutra


Capa do álbum Madame X - Music From The Theater Experience (Live). Fotografia quadrada, com fundo azul-escuro. A cantora Madonna ocupa quase toda a imagem. Ela é uma mulher branca, loira, de batom, tapa olho, vestindo uma roupa preta, de capuz, com alguns detalhes em pedraria, e segurando um microfone com a mão direita. Na parte inferior da foto, mais ou menos sobre o abdômen de Madonna, lemos Madonna Madame X Music From The Theater Xperience em letras brancas, com exceção das duas letras X, que são vermelhas.
Vocês pensaram que eu não ia falar de Madonna hoje? (Foto: Boy Toy Inc./Warner Records LLC)

Madonna – Madame X – Music From The Theater Experience (Live)

Madonna está de volta com mais um álbum ao vivo. Gravado no Coliseu dos Recreios, em Portugal, Madame X – Music From The Theater Experience (Live) é composto majoritariamente por canções do 14º disco de estúdio da cantora, o Madame X, embora traga também conhecidas faixas de outros CDs da Rainha do Pop – como American Life, Human Nature e Like A Prayer. Pelos exemplos citados, dá para perceber que, no quesito repertório, estamos diante de um dos shows mais políticos de toda a carreira da Queen Madge. Ultrapassando a Música, isso se confirma igualmente nos discursos que aparecem vez ou outra no meio desta obra.

Nos últimos tempos, não é surpresa que Madonna ama robotizar a própria voz. Seja como ferramenta criativa ou excesso que pode causar estranheza, essa escolha inventiva aparece em vários momentos do novo disco ao vivo. E é, inclusive, muito bom chegar a certos intervalos de respiro, quando Madge canta com voz natural. Afinal, são os momentos mais orgânicos do disco, como o Fado Pechincha – cantado em Português, ao lado do músico Gaspar Varela – e a presença da Orquestra Batukadeiras na faixa Batuka, que se destacam neste universo profundamente influenciado por diferentes culturas ligadas pela Língua Portuguesa.

Fora isso, pela interação calorosa entre artista e público, dá para ter uma noção mínima de como a plateia realmente aproveitou este show super intimista e teatral. Assumindo o cargo de melhor finalização possível para esta era, I Rise brilha como última faixa do espetáculo. No entanto, ao chegarmos ao fim do disco, é inevitável dizer que, sem a parte visual da apresentação, o lado sonoro da obra perde um pouco de seu brilho natural. No fim, Madame X – Music From The Theater Experience (Live) acaba sendo, mais do que qualquer coisa, um álbum para os fãs mais ferrenhos da eterna Material Girl. – Eduardo Rota Hilário


Capa do álbum The Lockdown Sessions de Elton John. Na imagem está Elton John, homem branco de cabelo curto ruivo e com cerca de 74 anos. Ele veste um óculos de sol preto, um brinco prata redondo com brilhantes na orelha esquerda, camiseta preta, blazer azul marinho e máscara brilhante colorida estampada com o nome “Elton” em letras maiúsculas vermelhas e estrelas amarelas dispostas aleatoriamente. As cores da máscara se mesclam em um gradiente que vai do azul, verde, amarelo, laranja ao vermelho. O fundo é um gradiente entre as cores azul e rosa, de baixo para cima. Abaixo é possível ler o título do álbum, The Lockdown Sessions, em fonte de forma branca.
Reunindo diferentes gerações, Elton John explora os diferentes meios de se fazer Música em plena pandemia (Foto: Mercury Records Limited)

Elton John – The Lockdown Sessions

2020 não foi um ano fácil, quem dirá 2021. Em dois anos de isolamento lidando com o fim do mundo, na Música, encontramos refúgio. Nela, encaramos a solidão e nos transportamos para tempos mais coloridos, assim como fez o gigante do pop, Elton John, em seu mais recente álbum. Produto de 16 registros remotos, The Lockdown Sessions foi concebido despropositadamente após o cancelamento de sua turnê Farewell Yellow Brick Road, em decorrência do agravamento de casos de covid-19. E descendo do pedestal, o cantor britânico transverte as frustrações em parcerias inesperadas.

O novo projeto reúne um encontro memorável de diferentes gerações que incluem desde artistas emergentes (Rina Sawayama, Lil Nas X e Dua Lipa) até ícones consagrados da Quarta Arte (Stevie Wonder, Stevie Nicks e Eddie Vedder). São mais de vinte colaborações lançadas e produzidas durante o período da pandemia. Atirando-se a novas experiências, sem hesitar, The Lockdown Sessions naturalmente perde o equilíbrio em algumas faixas, como no insosso After All. Porém, apesar dos deslizes, o álbum também integra verdadeiras preciosidades, como o melancólico The Pink Phantom, revelando um Elton John liberto, explorando os mais variados gêneros musicais, despido de qualquer acanhamento. – Ayra Mori


Capa do disco B-Sides and Rarities, de Nick Cave and The bad seeds. Na imagem, há apenas um fundo preto, com os escritos Nick Cave and the bad seeds e B-sides and rarities de forma centralizada, em fonte de cor branca. Abaixo, está escrito Part II, também em fonte de cor branca.
B-Sides & Rarities é um registro musical dos caminhos que Nick Cave & The Bad Seeds decidiram não seguir (Foto: Mute Records/BMG Company)

Nick Cave & The Bad Seeds – B-Sides & Rarities (Part II)

Na carreira do artista que passou seus anos no limiar entre a sarjeta e o estrelato, nada pode ser jogado fora. Em B-Sides & Rarities (Part II), Nick Cave & The Bad Seeds revelam suas preocupações e inseguranças, e avançam por janelas alternativas. Dando sequência à primeira coleção de b-sides lançada em 2005 — nesta que contemplou as duas primeiras décadas de trabalho —, B-Sides & Rarities (Part II) chega com 27 canções inéditas, gravadas entre 2006 e 2019, e apresenta um conjunto mais centrado cujo desenvolvimento parece ficar entre a festa e a melancolia.

Ao longo da história, os b-sides foram utilizados pelos grupos para mostrarem facetas pouco convencionais, ou versões que simplesmente não se encaixavam no grande universo mainstream. Mas o que ouvimos no disco é uma tentativa bastante sólida de entender as questões que regem o mundo, como na canção Push The Sky Away, a qual Cave entoa de forma honesta: “Você precisa apenas/Continuar empurrando/Empurre o céu para longe”. Em Steve McQueen ouvimos, ao longo de seus quatro minutos de duração, Nick Cave tecer considerações sobre depressão, suicídio e assassinato, com sua voz acompanhada apenas por um sintetizador — essa característica dá a canção um tom de discurso, cuja ideia é registrar esses pensamentos.

Também ouvimos em Needle Boy — uma canção que de cara faz lembrar os trabalhos mais recentes de Low — suas afirmações sobre a virada do século, maldade e o que podemos entender como metáforas da globalização. No disco, ainda há um cover de Avalanche, música de Leonard Cohen que Cave e os Bad Seeds já reproduziram no álbum de estreia, From Her to Eternity (1984). B-Sides & Rarities (Part II) é de fato raro, e, invariavelmente, genial. – Bruno Andrade


apa do álbum Magic Still Exists de Agnes. Imagem de fundo laranja quase neon. No centro está Agnes, uma mulher vestindo uma peruca triangular amarela, sobretudo preto e broche prateado na cintura. Ela está de olhos fechados com as duas mãos com o dedo indicador unido ao polegar. Em cima é possível ler “Magic” e na parte superior “Still Exists”, ambas em letra de fôrma preta.
Sim, a magia ainda existe (Foto: Senga)

Agnes – Magic Still Exists

O revivalismo da disco music já deu o que tinha que dar, certo? Errado. Quando as exaltações nostálgicas parecem perder força, Agnes se traja do figurino mais extravagante ao evocar o hedonismo setentista em sua melhor essência com Magic Still Exists. E após quase uma década de um longo hiato, a vencedora do Ídolos Suécia 2005 conjura uma suprema magia nos curtos 35 minutos do seu aguardado quinto álbum de estúdio, fazendo da pista de dança seu confessionário mais íntimo, seu grito libertário.

Encabeçando o álbum com XX – hino enérgico sobre a exaltação da própria existência –, a sueca eleva as expectativas logo de cara, estendo um convite: “Liberte sua mente, liberte seu corpo”. Cada batida pulsante, cada melodia galáctica e cada verso meticuloso parecem estar concisamente onde deveriam estar e, como um truque de mestre, a artista eleva seu pop ao mais alto patamar. As influências óbvias são reverenciadas com primor, acumulando ao longo das sete faixas e quatro interlúdios a discoteca de Donna Summer, ABBA, Diana Ross, Prince, Kylie Minogue, além das contemporâneas Robyn e Dua Lipa.

Magic Still Exists é encerrada em toda a sua excelência pela faixa-título do álbum, uma balada sublime transportada por um piano sóbrio, a voz poderosíssima de Agnes e um coro angelicalmente extraterrestre, fazendo crer que sim, ainda há mágica na existência humana. “Às vezes se ganha, e de repente se perde tudo/A vida pode te enganar, se você assim quiser/Tudo que sei é que isso me leva de volta para você/A magia ainda existe”. Sem sequer uma canção dispensável, todas se amarram apuradamente numa coleção de epifanias do início ao fim, como pura magia. – Ayra Mori


Capa do disco Imaculada de Alice Caymmi. Ao centro vemos a cantora, uma cantora branca de cabelos loiros na altura do ombro. Há um pano branco esvoaçante que cobre seu corpo por inteiro. Ela está em pé em cima de um tablado quadrado bege. No tablado ao lado direito e esquerdo da cantora há velas brancas. Seus pés estão descalços. Na parte superior lê-se em branco ALICE CAYMMI. Ao centro horizontal, passando pela cintura da cantora, lê-se em rosa e laranja IMACULADA. O fundo é preto.
Imaculada, mas não santa (Foto: Rainha dos Raios)

Alice Caymmi – Imaculada 

Imaculada é o quinto álbum de estúdio da potente Alice Caymmi. Neta de Dorival Caymmi, Alice não nega suas raízes com a inconfundível e impactante voz que possui. O diferencial mais chamativo desse disco está na assinatura de sua cantora. Ela é dona da maioria das músicas e também produtora de Imaculada, sendo assim o trabalho tem Alice por completo, com todos os seus anseios e prazeres.

As dez faixas compõem uma linha tênue entre o divino e o visceral, e a voz da cantora conduz os profundos sentimentos gerados por Imaculada. Dentro da Minha Cabeça, canção que abre o disco, dá uma palhinha da singularidade do novo trabalho; Recíproco provoca um reencontro com o eu-lírico ainda machucado que continua em Ninfomaníaca – essa contando com a parceria de Urias e Number Teddie; e a faixa-título amarra todo o conceito previsto para o álbum, sinalizando com sua rítmica renovada que esse é apenas o começo de uma nova era. Imaculada ainda conta com os feats entre Mulú e Vivian Kuczynski. – Ana Júlia Trevisan


Capa do álbum Friends That Break Your Heart. A capa contém uma moldura bege, com a frase “FRIENDS THAT BREAK YOUR HEART” em uma fonte serifada, em preto e em caixa alta na parte superior central, e “JAMES BLAKE”, na mesma fonte, na parte inferior central. Dentro da moldura, vemos uma ilustração. Ao, vemos várias árvores com troncos acinzentados e folhas verdes claras espalhadas. À frente, vemos um gramado verde com flores azuis claras espalhadas. Deitado de lado sob a grama, vemos o cantor James Blake com desenhos que imitam buracos em formas arredondadas espalhadas sob seu tronco, peito, rosto e cabeça. James Blake é um homem branco, com barba loira rala, cabelos castanhos curtos e olhos azuis, que está sem camisa e encara a câmera.
Três dias depois de lançar Friends That Break Your Heart, James Blake disponibilizou uma versão bônus do álbum, com apenas uma canção a mais (Foto: UMG Recordings)

James Blake – Friends That Break Your Heart

Em ano de lançamentos concebidos na pandemia, Friends That Break Your Heart, o quinto álbum do londrino James Blake, é mais um deles. No novo projeto, o cantor, compositor e produtor, que já trabalhou com nomes como Frank Ocean, Kendrick Lamar e Beyoncé e foi incluído em indicações do Grammy por suas colaborações, faz o esforço para reencontrar seu lugar e se reajustar aos seus arredores. Seja nas relações familiares, românticas, de amizade ou profissionais, as 12 faixas do álbum refletem os questionamentos e incertezas de James Blake. 

Como ele defende, “o álbum não é marcado por canções de amor, é sobre se ajustar a vários tipos diferentes de relacionamentos (…), e sobre refletir sobre eles, sobre mim e sobre minha posição no mundo”. Porém, ao passo que ele define o trabalho como sua catarse pessoal, para os ouvidos não familiarizados à discografia do artista, Friends That Break Your Heart soa até seguro demais. 

Permeado pelas baladas R&B, que incluem participações de SZA, Monica Martin, slowthai e dos rappers JID e SwaVay, as canções soam similares às do último álbum de Blake, Assume Form, apesar do tema do anterior ser completamente o oposto. Ainda assim, algumas das canções mais pessoais, como a que intitula o projeto, Friends That Break Your Heart, If I’m Insecure e Funeral destacam a voz potente e profunda de James Blake e se sobressaem no bem sucedido, mas comum Friends That Break Your Heart. – Vitória Lopes Gomez


Capa do disco I dont’t live here anymore, da banda The War On Drugs. Na foto, vemos um homem caminhando em uma neve branca, mas seu rosto está cortado da imagem. Ele veste botas de cor preta, calça de cor preta, jaqueta de cor de preta e uma camisa xadrez de cor vermelha, preta e branca. Ele segura na sua mão direita uma xícara branca com detalhes em cor amarela e vermelha. Sob o braço esquerdo, ele carrega uma guitarra de cor vermelha com detalhes em cor amarela. Na parte superior esquerda, há um triângulo com os escritos The War on Drugs, I Dont’t Live Here Anymore, em fonte de cor branca.
Gravado ao longo de 7 anos, o novo álbum de The War On Drugs é um exemplo de como fazer indie rock sem cair em clichês (Foto: Atlantic Recording Corporation)

The War On Drugs – I Don’t Live Here Anymore

Adam Granduciel, líder do grupo intitulado The War On Drugs, possui um ar de trovador solitário, caminhando por vales desconhecidos com seu violão preso às costas enquanto vive um dia de cada vez. Em I Don’t Live Here Anymore, novo álbum do projeto, o que é levado a sério é justamente a jornada, a qual o estrelato inevitável, após angariar prêmios importantes, não subiu à cabeça. Muito semelhante ao que Wilco fez — especialmente no álbum Sky Blue Sky (2007) —, lembrando ainda canções de Bob Dylan com seu folk arredio, o disco é uma afirmação do poder musical de The War On Drugs.

Nesse épico comovente, cada elemento é colocado de forma limpa e sem grandes invenções, porém extremamente bem utilizados. Dos sintetizadores aos solos de guitarra, tudo parece ter sido encaixado peça por peça. Em Living Proof, uma bela porta de entrada, ouvimos um violão ao estilo folk, acompanhado de piano e guitarra levemente inseridos, dando a tônica do álbum. Change é uma das canções que demonstram a tranquilidade com que o disco é levado, trazendo ao longo de seus seis minutos de duração um pouco de britpop e uma voz autoconsciente.

Mesmo que possa soar semelhante ao disco A Deeper Understanding (2017), vencedor do Grammy na categoria Melhor Álbum de Rock, o trabalho possui uma diferença: “Ele é sobre crescer, envelhecer, mas também crescer fora de si mesmo”, conforme Granduciel disse em entrevista. I Don’t Live Here Anymore consolida o indie rock de qualidade composto pelos integrantes de The War On Drugs — ou não, talvez seja mais do que isso, mas vamos encerrar por aqui. – Bruno Andrade


Capa do álbum to hell with it de PinkPantheress. Fotografia de PinkPantheress, mulher negra com cabelo preto longo trançado. Ela veste uma blusa preta de mangas compridas e está olhando para o além. Na frente dela está uma cerca branca. Atrás está uma casa típica do subúrbio estadunidense, arbustos e um relâmpago. É noite e o céu está preto. A casa possui fachada branca, duas janelas e duas águas.
Seria o TikTok o Tumblr da geração Z? (Foto: Parlophone Records Limited)

PinkPantheress – to hell with it

Com 15 segundos, PinkPantheress explodiu no TikTok. Inserida na potente rede cultural, sua Música naturalmente é suportada pelos mesmos pilares da plataforma: são imediatistas, atrevidas e não têm medo de abraçar o cringe. Como resultado, a produtora e cantora britânica de 20 anos – registrando milhões de streams –, assinou um selo com uma grande gravadora, explorando no álbum de estreia o “new nostalgic”, termo utilizado pela própria para referenciar a nova onda que exalta o saudado anos 2000, (uma utopia peculiarmente esquisita onde pessoas usavam calças baixas, navegavam por gráficos pixelados e sonhavam com vampiros adolescentes), ainda bem.

Composto por dez faixas que raramente ultrapassam 2 minutos, to hell with it dispõe-se de uma simplicidade furtiva. PinkPantheress não tenta dominar as faixas com seus versos, pelo contrário, ela preenche o vazio com expressões vocais simples que se mesclam com o ritmo lo-fi pulsante característico. O que define a marca autoral da artista é a sua voz, que parece sussurrar diretamente em nosso ouvido. E apesar de referenciar intimamente o período 00’s, PinkPantheress não se limita a mimese, adicionando camadas contemporâneas sobre uma memória idealizada da infância passada. – Ayra Mori


Capa do álbum Something for Thee Hotties, de Megan Thee Stallion. A imagem mostra uma fotografia de Megan fantasiada de diabo. Ela é uma mulher negra, de cabelos longos castanhos, mas está com a pele vermelha, assim como o fundo da imagem. Megan é fotografada da cintura para cima e está inclinada para o lado esquerdo da imagem, mas olha para o lado direito. Ela tem dois chifres na cabeça e um rabo saindo do final de suas costas, e tapa os seios com a mão direita. Megan usa uma maquiagem clara nos olhos e um brilho labial na boca, e também coloca a língua para fora. No lado esquerdo superior, está escrito o nome do disco, numa fonte estilizada em amarelo. Embaixo, contornando o rabo, está escrito “From Thee Archives”, em caixa alta e também amarelo.
Gostosuras ou travessuras? (Foto: 300 Entertainment)

Megan Thee Stallion – Something for Thee Hotties

Ela faz o Halloween dela! No dia 29 de outubro, Megan Thee Stallion nos presenteou com Something for Thee Hotties, coletânea que abriga alguns hits, canções inéditas dos arquivos da artista e alguns dos freestyles favoritos dos seus fãs. Em 21 faixas, a rapper ostenta o talento para rimas e sua identidade musical que elegeu como Melhor Artista Revelação no Grammy 2021 e uma das artistas mais promissoras da atualidade.

O destaque maior de Something for Thee Hotties é relembrar o que fez com que Megan Thee Stallion se transformasse em Megan Thee Stallion, isto é, sua genialidade na essência mais pura do rap. Desde os 14 anos, o que mais chama a atenção na artista que hoje é uma das maiores rappers do planeta é a sua habilidade em freestyles. É ousado fazer qualquer destaque, mas ouça Megan Monday Freestyle, God’s Favorite, Freakend, Bae Goals e Pipe Up se quiser sentir certeiramente a mágica de Megan com seus próprios ouvidos. – Raquel Dutra


EPs

Capa do EP Last Birthday. Do lado superior esquerdo da foto, vemos o logotipo da banda Valley, a palavra “valley” em uma fonte branca estilizada, em caixa alta. Ao centro, vemos, através do teto solar de um carro preto, os membros da banda amontoados no banco da frente e de trás. Nas laterais inferiores da foto, do lado esquerdo e direito da foto, vemos um tênis all star vermelho apoiado no teto do carro. Do lado inferior direito, vemos o símbolo do “Parental Advisory Explicit Content”.
Além da sonoridade empolgante do novo EP da Valley, as composições também são um destaque (Foto: Universal Music Canada)

Valley – Last Birthday

Se tem uma palavra que marca Last Birthday, o novo EP da Valley, é enérgico. Lançando single após single, a banda canadense de indie pop já havia disponibilizado quatro das sete faixas que compõem o trabalho, que chega com expectativa depois das prévias e de seu antecessor, o EP sucks to see you doing better. Mas enquanto este último é sobre “o sentimento de se comparar, corações partidos e saúde mental”, o mais recente tenta “entender o amor incondicional e refletir sobre as experiências que nos fazem entender nosso propósito”.

Abrindo o lançamento, Oh shit… are we in love? já começa animada, mas ainda leve o suficiente para construir o clima para o que vem depois, as empolgantes e dançantes Can We Make It? (Jim Carrey) e Cure. Seguindo a explosão de energia, a balada calma de ain’t my girl abaixa o tom demais e chega a ser tediosa, no que EP parece já ter atingido seu pico e decaído. Nisso, Valley mostra que não e que só precisava tomar fôlego para continuar, com as estimulantes e contagiantes Like 1999 e SOCIETY

Na reta final de um EP que poderia ser maior, a sétima faixa, Tempo, se distancia da sonoridade que marcou esse e outros trabalhos da banda e se aproxima mais da Eletrônica. Apesar de eufórica e ‘pra cima’ como suas companheiras, a canção soa experimental e acaba deslocada em relação ao restante. Ainda assim, em boa parte dos vinte e poucos minutos de duração, Last Birthday é revigorante como uma injeção de energia e empolgação – mesmo quando Valley canta sobre a sociedade ser uma merda. – Vitória Lopes Gomez


Capa do álbum Savage. Na imagem, um ambiente virtual, semelhante à borda de uma praia. No centro, ondas em formato de linhas digitais. É possível ver uma escama preta de cobra circulando. O fundo é azul claro, cor do céu. Acima, o logotipo do título do álbum, escrito Savage em prata e fonte metálica e personalizada, como se fossem objetos de metal cortante. Abaixo da capa, no centro, o nome do grupo, Aespa, com a mesma fonte.
Em seu EP de estreia, o grupo aespa coloca a prova o porquê de serem as melhores do momento (Foto: Reprodução/SM Town)

aespa – Savage

Em menos de 1 ano de carreira, o quarteto aespa se mostrou uma grande potência no mercado competitivo que é o k-pop. Seus dois primeiros singles, Black Mamba e Forever, não obtiveram êxitos monstruosos nas paradas musicais, mas certamente serviram como amostras do talento e da versatilidade do grupo. Em Next Level, o nível aumentou. Nadando contra a onda retrô que inundou o gênero no último ano, as novatas mudaram o jogo com uma faixa que mescla hip-hop e upbeat-jazz de uma maneira que suas concorrentes não conseguiriam performar mesmo se quisessem. E em seu trabalho de estreia, Savage, a crescente continua.

O mini-álbum de 6 faixas mergulha em uma sonoridade futurista e energética, seguindo a linearidade musical que o grupo trabalha desde o seu debut. Com uma produção caprichada, vemos um aespa confiante, audacioso e pronto para a aventura em seu universo próprio. Aliás, a parte lírica é um dos principais destaques positivos. Toda a narrativa original que as artistas construíram com a sua linguagem própria e as histórias evocadas em seus vídeos musicais retornam e chegam próximo de um desfecho. Através da faixa-título Savage, por exemplo, é possível interpretar o embate final do grupo com a figura vilanesca que fez sua primeira aparição em Black Mamba.

Aespa teve a proeza de, em seu primeiro EP, conseguir entregar um trabalho coeso e bem construído. A sequência Aenergy, Savage e I’ll Make You Cry é tão poderosa que o repeat é quase que inevitável. Não que as outras faixas não sejam tão interessantes quanto o trio, aliás, Yeppi Yeppi mostra uma faceta diferente do grupo, que consegue fugir do electropop por um minuto para relaxar os ouvidos do ouvinte com uma faixa hyperpop viciante. Iconic talvez seja a única que não se destaca dentro do álbum, mas está longe de ser ruim, diferente de Lucid Dream, um pop mesclado de R&B alternativo que evidencia a originalidade do grupo. O resultado? O sucesso. O EP já é um dos mais bem sucedidos entre girlgroups sul-coreanos. E é bem difícil unir qualidade com o sucesso, mas aqui o aespa conseguiu fazer tudo isso. – Giovanne Ramos


Músicas

Capa do single Telepath, do cantor Conan Gray. Na foto, Conan aparece de blusa vermelha com mangas bufantes e calça preta. Ele segura uma espada para o alto, com as duas mãos acima da cabeça. O fundo é escuro, mas um círculo de luz do holofote ilumina o centro de seu corpo.
Conan Gray permanece em casa (Foto: Republic Records)

Conan Gray – Telepath

Depois de Astronomy e People Watching, o Garoto Corvo libera Telepath, terceiro single da nova era. Co-escrita por ele, Julia Michaels, Ilya e Caroline Ailin, a canção acelera o tom dos trabalhos anteriores, e chegou junto do anúncio da turnê mundial do cantor, marcada para começar logo em 2022. O visual barroco e o conceito mais caloroso do material parece enveredar Conan para um som menos ameno que o apresentado em Kid Krow. Com sorte, ano que vem descobriremos a verdade. – Vitor Evangelista


Capa do single girls girls girls. Na imagem, vemos duas meninas, uma em cada canto da foto, se beijando. Uma delas tem a língua para fora. Vemos a palavra “girls” várias vezes por cima dos rostos das meninas e espalhadas pela capa, em uma letra rosa que aparenta ter sido escrita com um batom.
Assim como o single anterior, girls girls girls veio depois do EP THE S(EX) TAPES, e provavelmente fará parte do próximo álbum de FLETCHER (Foto: Snapback Entertainment LLC)

FLETCHER – girls girls girls

“Eu beijei uma garota e gostei” é de se cantar a plenos pulmões e FLETCHER sabe disso. Com direito a sample do hit I Kissed a Girl, girls girls girls, o mais recente single da cantora e compositora, evoca todo o entusiasmo e a empolgação da descoberta da sexualidade, realmente merecedora de ser entoada alto e repetidamente. Não por coincidência, a canção, que acompanha um clipe nostálgico, foi lançada no International Lesbian Day.

girls girls girls chega animada e ousada depois da pessoal e reflexiva Healing, o single anterior da artista. “Eu beijei uma garota/e ela gostou/é melhor do que eu imaginei” é como a artista renova a canção de Katy Perry que marcou gerações, mas foi cantada por muitos – inclusive por ela – escondida. Agora, ao som da dançante batida pop, a letra divertida e confiante é reconfortante e o refrão grudento, libertador. O coming-of-age da sexualidade de FLETCHER é digno de, finalmente, ser cantado alto. – Vitória Lopes Gomez 


Capa do single Faking Love. Fotografia quadrada, com fundo cor-de-rosa. Na parte superior, lemos Anitta em letras cor-de-rosa, com fundo preto. As cantoras Saweeetie e Anitta ocupam quase toda a capa. Saweetie está ao fundo, é loira, de trança e veste uma roupa repleta de pedrarias. Anitta está na frente, tem cabelos pretos, veste roupas pretas e segura a trança de Saweetie. Na parte inferior da capa, a mesma trança forma o título Faking Love. Embaixo, lemos “feat Saweetie” em letras brancas, ou de fundo branco.
Como diria o grupo Molejo: “não era amor, era cilada” (Foto: Warner Records)

Anitta e Saweetie – Faking Love

A saga da carreira internacional continua! Entre altos e baixos, como o destaque nas rádios estrangeiras, a divulgação na Times Square e a ausência na Billboard Hot 100, o novo single de Anitta mais acerta do que erra em suas não tão ambiciosas propostas. Gravado com a rapper estadunidense Saweetie, e assinado por Andres Torres, Anitta, Kaine, Mauricio Rengifo, Ryan Tedder e a própria Saweetie, Faking Love toma sua melhor decisão ao mesclar o funk melody com os traços característicos do pop.  

Com um videoclipe bem finalizado, mas não muito tranquilo de se gravar, a dupla feminina brilha entre amores falsos, muita coreografia e flechas que voam por toda parte. Anitta, em particular, segue misturando as diversidades da Cultura brasileira com os ares internacionais bastante padronizados. E nesta jornada mais recente, de Me Gusta, Girl From Rio e Faking Love, a curiosidade do público acerca do próximo álbum da cantora carioca só cresce. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single My Way, da banda PVRIS. Lynn Gunn, líder da banda, está sentada em cima de uma caixa de som com uma guitarra no colo apontando para baixo, com um fundo branco infinito atrás de si. Ela e a caixa estão em preto e branco, então só vemos que a caixa é preta, com seus fios se esticando dela até o canto esquerdo inferior da capa, enquanto Lynn, uma mulher caucasiana, tem cabelos pretos curtos, usa uma calça preta e botinas pretas, com uma camisa aberta que deixa entrever uma camiseta branca que expõe seu pescoço, onde há vários colares. Ela está com uma expressão corporal bem relaxada, com os membros esticados.
Lynn Gunn está preparada para trilhar seu próprio caminho (Foto: Warner Records Inc.)

PVRIS – My Way

Em My Way, Lynn Gunn continua o caminho de libertação iniciado em Use Me (2020) e dá voz ao sentimento de seguir em frente, da melhor maneira que conseguir: “Transformar o dia em noite/Ligar o interruptor na minha mente/Eu queimo as fases da vida/Sem resetar ou dar pra trás”, ela canta logo antes do refrão. O novo single mais uma vez é carregado pelos vocais densos e insidiosos de Gunn, que se unem ao sintetizador e ao baixo para formar uma batida elétrica alt-rock tão viciante quanto a anterior. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Capa do single PayPau. Fotografia quadrada, com fundo cor-de-rosa. Na parte superior, lemos Valesca Popozuda e Rebecca em letras brancas. Uma figura também cor-de-rosa, semelhante a uma letra B, ocupa quase toda a imagem. Na frente dela, vemos as cantoras Valesca Popozuda e Rebecca. Valesca é loira e está em pé, enquanto Rebecca tem cabelos pretos e, aparentemente, está sentada. As mãos de Valesca estão sobre os ombros de Rebecca. Ambas vestem roupas claras e estão de óculos, olhando para frente. Em cima de Rebecca, lemos PayPau em letras de contorno branco.
E você, também paga no PayPau? (Foto: The Orchard)

Valesca Popozuda e Rebecca – PayPau 

No começo de outubro, Valesca Popozuda completou mais um ano de vida, mas o presentinho veio direcionado novamente aos popofãs. Lançando PayPau, a tão aguardada parceria com a funkeira Rebecca, a cantora carioca entrega um prato cheio aos fãs de duplo sentido. Isso porque a composição de Umberto Tavares e Jefferson Júnior carrega, desde o título, irreverências ambíguas – recurso amplamente utilizado em criações artísticas, embora seja preconceituosamente menosprezado de acordo com o gênero musical em que está inserido.

Mesclando funk tradicional e bregafunk, um dos elementos que PayPau apresenta é um toque que lembra bastante o hit Tudo OK, de Thiaguinho MT, Mila e JS O Mão de Ouro. Semelhança intencional ou não, isso cria uma atmosfera muito similar à dos sucessos do TikTok. Já em relação aos versos da canção, Umberto revelou ao portal Metrópoles que “a ideia social da música é colocar a mulher nesse lugar de empoderamento e independência”. Encerrando com chave de ouro, PayPau ganhou um clipe recheado de coreografia e figurinos deslumbrantes: obra audiovisual para nenhum fã botar defeito. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single The Tipping Point, de Tears For Fears. Na imagem, vemos seis cadeiras com seus pés atravessados entre si, de forma empilhada. Em três cadeiras diferentes estão sentadas duas mulheres e um homem, ambos são brancos. A primeira mulher está lendo um jornal, veste calça e camisa verde e utiliza um chapéu estilo panamá. A segunda mulher veste calça jeans, uma blusa com losangos de cor azul, amarela e vermelha e segura uma garrafa de cor roxa. Atrás de sua cadeira, há um gato com pêlos de cor laranja. À frente deste gato, há um gato de cor preta. Abaixo, há o homem, vestindo camisa xadrez de cor verde escuro e verde mais claro, uma calça marrom e tênis branco. Ele está teclando em um notebook. Abaixo, há um terceiro gato com pêlos em cores cinza e branca. O fundo da imagem é cinza fosco. Acima, de forma centralizada, está escrito Tears For Fears em fonte de cor preta, e ao lado The Tipping Point, em fonte de cor laranja
Depois de 17 anos sem qualquer lançamento, Tears For Fears lança o single The Tipping Point (Foto: TFF UK/Concord Records)

Tears For Fears – The Tipping Point

Tears For Fears, dupla britânica formada por Curt Smith e Roland Orzabal, anunciou um novo álbum para o início de 2022, e divulgou a faixa-título desse novo projeto, The Tipping Point. O single marca o retorno do duo, cujo último trabalho inédito foi o disco Everybody Loves a Happy Ending, lançado em 2004. De forma ambiciosa e carregada de marcas que consolidaram a dupla, a canção é acompanhada por elementos eletrônicos que dão uma aura mística, nos transportando aos hits que brilharam nas trilhas sonoras de filmes, como a canção Head Over Heels, que compõe Donnie Darko (2001). A faixa ainda faz lembrar Everybody Wants To Rule The World, clássico absoluto que possui uma versão da Lorde, e que figura nas listas de melhores músicas de todos os tempos. – Bruno Andrade


Capa do single A QUEDA de Gloria Groove. Na imagem a cantora está vestida como um apresentador de circo e também ventríloquo que controla um boneco, também feito por Gloria, através de cordas. O fundo é um palco de circo com lona vermelha na parte superior e uma placa ao meio em que está escrito “Gloria Groove” e abaixo “A queda”.
Cenografia, maquiagem, figurinos, coreografia e mais: tudo parece estar perfeito na queda de Gloria Groove (Foto: SB Music)

Gloria Groove – A QUEDA

Gloria Groove é um dos maiores nomes do pop brasileiro e gosta de continuar provando isso. Ser uma exímia artista, cantora e pessoa parece pouco para ela. Em A QUEDA, ela compôs uma verdadeira obra dos pés à cabeça: uma letra potente e um ritmo viciante combinados em um conceito circense fenomenal. A Lady Leste surfa pelo seu estilo musical sempre agregando novos ritmos à sua Música, como mostrou no funk BONEKINHA e na parceria com o sambista Thiaguinho em Presente do Céu

A drag queen sabe que sobe cada vez mais na carreira musical que vem construindo e entende que estar sob os holofotes em meio à tanta tecnologia é igual andar na corda bamba. Adotando o circo que o mundo do entretenimento é, A QUEDA fala sobre uma sociedade que está de prontidão com seus celulares esperando o erro. Junto com o single, o clipe, de direção de Felipe Sassi, é um show visual que viralizou instantaneamente, e já beira 30 milhões de visualizações no YouTube. Nathália Mendes


Capa do single That Funny Feeling de Phoebe Bridgers. A imagem é uma fotografia de um show da cantora Phoebe Bridgers. Ela é uma mulher branca de cabelo platinado e com cerca de 27 anos. Ela veste uma fantasia de esqueleto, segura uma guitarra e a sua frente está um pedestal com microfone, envolvido por um pisca-pisca. O fundo todo é preto e só Phoebe está iluminada por um feixe de luz focal azul.
O cover de That Funny Feeling vai para além da Arte, posicionando Phoebe Bridgers contra os retrocessos legislativos antiaborto do Texas (Foto: Dead Oceans)

Phoebe Bridgers – That Funny Feeling

Se em maio Bo Burnham, com o pessimismo cômico de Inside, gritou para o mundo sobre as agonias de um mundo caindo aos pedaços, em outubro, Phoebe Bridgers lançou sua versão acústica de uma das canções que integram o especial de comédia vencedor do Emmy, That Funny Feeling, em resposta a aprovação recente de políticas contra o aborto no Texas. O cover, também interpretado ao vivo em sua turnê de 2021 pelos EUA, foi primeiramente disponibilizado exclusivamente na plataforma Bandcamp, no qual toda receita gerada foi direcionada ao Texas Abortion Funds.

Esta é para Greg Abbott”, disse a cantora indie em comunicado, referindo-se ao governador do estado, responsável por assinar a legislação de aborto mais restritiva do país. A lei proíbe todo aborto após seis semanas de gestação, além de permitir que qualquer cidadão tenha o poder de processar provedores de clínicas de aborto e qualquer pessoa que ofereça apoio a um aborto, incluindo desde familiares e amigos de um paciente até motoristas que forneçam transporte. Contra os retrocessos legislativos, Bridgers acertadamente posiciona sua Música como ato político. – Ayra Mori


Capa do single Boyz de Jesy Nelson com participação de Nicki Minaj. Em um estúdio branco, Jesy e Nicki estão agachadas. Jesy é uma mulher branca, e veste um biquíni preto uma saia branca e um tênis preto e branco. Ela está com um olho fechado e a língua para fora. Nicki é uma mulher negra e veste um top preto, shorts pretos e um colete branco de pelos. Ela também usa sapatos pretos e peludos. Nicki está com um óculos preto e faz o símbolo da paz com as duas mãos.
Se a música é ruim, a capa é ainda pior (Foto: Republic Records)

Jesy Nelson e Nicki Minaj – Boyz

Quando Jesy Nelson anunciou sua saída da bem-sucedida girlgroup britânica Little Mix, foi desconcertante assistir uma parceria de longa década sendo desfeita. Os motivos de sua saída, no momento, foram válidos: a grande pressão estética de ser uma mulher na indústria da Música e a constante comparação com as suas parceiras no grupo a fizeram desistir.

O seu retorno para a música, no entanto, não replica a mesma qualidade nem a honestidade que o seu trabalho como misturinha transmitia. Entre o uso descarado de blackfishing e as polêmicas declarações de sua parceira na faixa, Nicki Minaj, o single de estreia Boyz amarga ainda no primeiro play. Mesmo com o sample da icônica Bad Boys For Life, do rapper Diddy, a canção não se sustenta, já que ela se baseia em um flow preguiçoso e um lirismo ultrapassado. Se Jesy se tornou uma artista solo para destacar sua identidade, Boyz é um péssimo início. – Laís David 


Capa do single Geleira do tempo. O fundo é um bege clarinho. Ao centro, está o desenho de quatro pessoas sentadas em bancos altos, formando em semicírculo, representando os cantores Vitória Falcão, Mateus Liduário, Jorge Barcellos e Ana Caetano. O desenho retratado é como se os tivessem observando de costas. Da ponta esquerda à direita, está uma mulher de cabelos cacheados e um vestido solto, um homem de cabelos curtos com camisa e calça, um homem de cabelos mais longos também de camisa e calça e, por fim, uma mulher de cabelos curtos e ondulados, com um vestido solto.
Já na sua semana de lançamento, Geleira do tempo acumulava mais de 1 milhão de streams no Spotify (Foto: Anavitória Artes)

ANAVITÓRIA e Jorge & Mateus – Geleira do tempo 

A série feats que eu não sabia que precisava ouvir até ouvir de verdade está de volta, estrelando ANAVITÓRIA e Jorge & Mateus. A dupla sertaneja e o duo pop começaram o mês com o pé direito, recheado de muita paixão e companheirismo. É estranho descrever, mas a canção escrita por Ana Caetano e Tó Brandileone consegue emplacar, harmonicamente e liricamente, as duas duplas. Dá pra notar o trabalho de ANAVITÓRIA e Jorge & Mateus ao mesmo tempo, ainda que eles façam parte de estilos musicais completamente distintos. Com leveza e mansidão, inclusive um mundo congelado é capaz de derreter e se deleitar junto dos versos envolventes de Geleira do tempo. – Júlia Paes de Arruda


Capa do single Am I Alright, do duo Aly & AJ. Aly e AJ, apoiadas contra um carro vintage branco estacionado ao lado de uma rua, com a frente apontada para a esquerda. A foto é tirada de cima deixando grande parte da rua vazia e cinza ocupando a metade inferior do espaço. AJ está apoiada contra a porta do motorista, com a mão na maçaneta. Ela é caucasiana, loira de cabelos longos, usando uma calça preta com uma camiseta cor lavanda e óculos escuros. Aly está à direita dela, se apoiando contra a porta de trás, com a perna esquerda dobrada para dentro e as mãos apoiando sua cabeça por trás. Aly é caucasiana, de cabelos castanhos e longos, usando uma calça bege e uma blusa vermelha e leve, além de óculos escuros. Atrás delas, uma placa de trânsito está fixada na calçada, perto da traseira do carro, anunciando que é proibido estacionar ali por mais do que um determinado período de tempo. Atrás da placa, uma sebe alta projetando uma sombra na rua cobre o restante da imagem.
Aly e AJ exploram as piores sensações em seu novo single (Foto: Aly & AJ Music, LLC)

Aly & AJ – Am I Alright

Continuando no aquecimento para a versão Deluxe de a touch of the beat, Aly e AJ Michalka lançaram Am I Alright, mais uma amostra de suas adições ecléticas ao disco. Dessa vez, deixando de lado as energias mais positivas do CD original, aqui elas cantam sobre noites chuvosas em Los Angeles “revendo filmes de Godard”. Puxando alguns dos temas mais sombrios de suas experiências, as irmãs lamentam em uma melodia trágica e apaixonante: “Você pode dizer que estou me apoiando em depressão/Mas estou rejeitando-a/Você pode dizer que estou chorando por atenção/Mas estou prestes a quebrar”. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Capa do single Moth To A Flame. A imagem é escura e mostra o rosto do cantor The Weeknd iluminado por uma luz azul. Ele usa uma barba bem aparada e óculos de sol que refletem pontos luminosos. O fundo da imagem é preto.
O efeito que Swedish House Mafia e The Weeknd conseguiram ao se juntar foi de uma música magnetizante como uma mariposa para uma chama (Foto: SSA Recording)

Swedish House Mafia e The Weeknd – Moth To A Flame

Se Swedish House Mafia e The Weeknd parece uma combinação surpreendente, o resultado é, na verdade, um dos melhores singles de 2021. Moth To A Flame é uma mistura perfeita dos estilos musicais de ambos e forma uma balada dos anos 2000 de sensualidade e ritmo extremamente contagiante. A música foi lançada junto com um clipe de pegada apocalíptica bem meia boca que acompanha a letra sobre a busca por um prazer que incendeia. Duas lendas da Música mereciam um vídeo tão estrondoso quanto a obra que compuseram.

A presença da concepção musical de The Weeknd é predominante, mas o backdrop de Moth To A Flame é a essência da Swedish House Mafia, conseguindo até lembrar a fenomenal Don’t You Worry Child quando o beat é mais rápido. Além disso, os DJs conseguiram absorver o estilo único de unir passado com presente de The Weeknd, e formar um ritmo mais future house – provando que tantos anos de parceria só os tornam melhores no que fazem desde o começo. Nathália Mendes


Capa do single Fallen Star. Em um fundo preto, vemos, ao centro da capa, o personagem fictício Chip Chrome, um homem prateado, com uma sombra azul no olho direito e rosa no olho esquerdo, flutuando de ponta cabeça e com os braços abertos. À direita dele, na altura do meio da capa, vemos as palavras “FALLEN STAR” em uma fonte estilizada, em caixa alta e em amarelo.
Chip Chrome veio para ficar? (Foto: The Neighbourhood)

The Neighbourhood – Fallen Star

Fallen Star, o mais recente lançamento da The Neighbourhood, pode soar familiar. Isso porque trechos da faixa já haviam sido divulgados nas redes sociais da banda antes mesmo da chegada do último álbum, o conceitual Chip Chrome & The Mono-Tones. A canção acabou não integrando nem o projeto, nem sua versão Deluxe e, na época, as prévias pareceram ficar por aquilo mesmo. Agora, mais de um ano depois do nascimento de Chip Chrome, a The Neighbourhood resolveu reviver a persona de Jesse Rutherford e a canção descartada: Fallen Star finalmente foi disponibilizada, como single

Na faixa, o vocalista sofre por um amor inevitável, mas que parece não dar certo. “Eu vou te manter longe de mim como uma estrela/Difícil não me apaixonar por você, te dei todo o meu coração”, ele se divide. Não só no personagem principal, mas a sonoridade do single também remete ao último álbum do quinteto: Fallen Star lembra faixas como Pretty Boy e Cherry Flavoured. De fato, a canção facilmente se encaixaria com seus antecessores, mas Chip Chrome ainda não morreu. – Vitória Lopes Gomez


Capa do single O Rock Ronca. Arte digital quadrada, com fundo lilás. No canto superior direito, lemos Tom Zé em letras azul-claras. A letra T, em específico, faz alusão ao Cristo Redentor. Em grande parte do lado esquerdo da imagem, vemos uma espécie de palheta musical amarela. No canto inferior direito, lemos O Rock Ronca também em letras azul-claras. Essas três palavras estão uma sobre a outra, com as letras O alinhadas.
“O rock ronca in Rio!” (Foto: Circus Produções Culturais & Fonográficas)

Tom Zé – O Rock Ronca

É de longa data o espírito roqueiro que Tom Zé cultiva em si mesmo. Uma das provas mais famosas dessa afirmação talvez seja a canção Jimmy, Renda-Se, presente no álbum Tom Zé, de 1970. Agora, após completar 85 anos de vida em outubro, o gênio tropicalista comprova que essa alma de liberdade e atrevimento – no bom sentido da palavra – permanece viva. Com a criatividade ousada de sempre, o artista lança, através do selo Circus Produções, a animada música O Rock Ronca

Na verdade, não se trata de uma composição inédita. Criada para a apresentação de Tom Zé na edição de 2011 do Rock in Rio, foram necessários dez anos até que essa canção fosse lançada oficialmente como single nas plataformas de streaming. Se é verdade que O Rock Ronca celebra o aniversário de seu criador, também podemos afirmar que essa música abre caminhos para a nova edição do mesmo festival: o Rock in Rio 2022. – Eduardo Rota Hilário 


Capa do single Working for the Knife de Mitski. Imagem formada por quatro fotografias quadradas iguais, ampliadas da esquerda para a direita gradativamente. As fotografias são preto e brancas e nela está Mitski, mulher nipo-americana de aproximadamente 30 anos de idade com cabelo preto médio. Mitski está com ambos os braços levantados, que se tocam acima da cabeça. Ela olha para o além com a cabeça levemente voltada para cima e seu tronco ligeiramente inclinado para frente. Ela veste somente um bustiê de renda. O fundo das fotografias são o céu, um edifício à esquerda e outro à direita. Na parcela superior da capa está um risco vermelho desordenado, semelhante a um relâmpago.
Mitski está de volta lambendo corrimões (Foto: Dead Oceans)

Mitski – Working for the Knife

I cry at the start of every movie/I guess ‘cause I wish I was making things too”. Assim, inicia Mitski nos cortando logo de cara após três longos anos. Desde o irretocável Be the Cowboy, a nipo-americana anunciou uma pausa indefinida na carreira, confrontando nesse hiato a própria identidade na Música em que produzia. Esquivando de ser engolida por um sistema em constante frenesi, Mitski ressurge com Working for the Knife numa reflexão dura quanto ao exato conflito entre arte e ofício que a fez se desligar em 2019.

Acompanhada de sintetizadores misteriosos, guitarra intensa ou, ainda, da própria respiração, Mitski discorre sobre os movimentos da vida sob uma “faca”, uma força opressora. O capitalismo, a velhice, o desequilíbrio psicológico, são metáforas evocadas pelos versos que abrem espaço para as particularidades de quem ouve. Até mesmo a estrutura da música revela a abordagem em relação a monotonia capitalista, constituindo-se somente por cinco estrofes que não se distinguem sonoramente entre si e se encerram subitamente, sem alívio algum.

No videoclipe dirigido por Zia Anger, reforçando o desespero angustiante marcado pela canção, Mitski vagueia completamente sozinha pelo espaço, emergindo num vazio sem fim. A escala da arquitetura monumental amplifica os vazios do edifício, dando visibilidade à presença enigmática de Mitski que conduz uma performance desvairada e, no final das contas, retorna ao mesmo lugar. “I start the day lying and end with the truth/That I’m dying for the knife.” – Ayra Mori


Capa do single SG. A imagem é em preto e branco e mostra 5 listras horizontais. Na primeira está escrito “Dj Snake” em branco e o fundo é uma parte do tronco e mãos dele. Na segunda está escrito “Ozuna” em branco e o fundo é o maxilar e a mão do cantor. Na terceira está escrito “SG” em vermelho e o fundo é preto. Na quarta está escrito “Lisa of Blackpink” em branco e o fundo é uma parte do rosto da cantora. Na última está escrito “Megan Thee Stallion” em branco e o fundo também é uma parte do rosto da cantora. No canto inferior direito há a logo da Parental Advisory.
DJ Snake, Ozuna, Megan Thee Stallion e LISA aproveitam sua fama em um iate em Miami no clipe bombado de SG (Foto: DJ Snake Music Productions Limited)

DJ Snake, Ozuna, Megan Thee Stallion e LISA – SG

Um espertíssimo DJ Snake uniu Ozuna (novamente), Megan Thee Stallion e LISA do grupo BLACKPINK em um single, e assim, conseguiu um clipe bombadíssimo com 60 milhões de visualizações no YouTube em apenas uma semana. Sem surpresa, SG não é nenhuma composição fenomenal com sua letra sobre uma mulher gostosa dançando para um cara. O DJ mostra que gosta de ser um camaleão farejador de sucessos e explorar os estilos que estão em alta, como em Taki Taki e as participações de Selena Gomez e Cardi B – que até tem o mesmo estilo pop e rap de SG. Mas quem diria que um DJ, uma rapper, uma cantora de k-pop e um espanhol dariam um reggaeton de ritmo gostoso assim? Nathália Mendes


Capa do single Dance Magic, da cantora britânica Foxes. Foxes está de pé, com os pés cruzados e o braço esquerdo estendido para o lado, como num movimento de dança, e o título no canto inferior esquerdo em letras cursivas pretas inclinadas para cima. Foxes é caucasiana e magra, usa uma meia calça branca com padrões pretos curvos. Na parte de cima, ela usa um corpete dourado com laços rosa nos ombros. Ela está olhando para a direita e seus cabelos pretos estão voando para o lado direito, cobrindo parcialmente seu rosto. Ao redor dela, quadrados brancos vão se sobrepondo um sobre os outros, dando a impressão de formar portas consecutivas.
“Mas quando nós dançamos mágica, oh/Quando você me beija como eu mereço/Tão trágico (tão, tão trágico)” [Foto: [PIAS] Recordings]
Foxes – Dance Magic

Ainda mais dançante que o single anterior, Foxes aposta na angústia de relacionamentos complicados e no sabor que uma boa tragédia proporciona em Dance Magic. Apesar de à primeira vista se diferenciar do repertório de costume da britânica, a música logo engata em suas batidas eletrônicas usuais e versos potentes e engajantes. Parte do vindouro terceiro álbum de estúdio da cantora pop, The Kick, a faixa nos deixa ansiosos para o próximo capítulo de sua artista em 2022. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Capa do single Chaos Space Marine. A imagem mostra um pacote plástico transparente e quadrado com alguns cavalos de brinquedo coloridos dentro. O pacote está pendurado em um cabide duplo, preso a uma parede com textura de madeira e linhas paralelas verticais.
Ainda que inéditas em sua versão de estúdio, várias das canções do futuro disco da banda têm sido executadas nos palcos (Foto: Ninja Tune)

Black Country, New Road – Chaos Space Marine

Parece uma eternidade, mas se passaram somente alguns meses desde que Black Country, New Road debutou com sua mescla surpreendente de post-punk, música tradicional judaica e o que mais lhes desse na telha. E para a sorte dos fãs, o septeto britânico não demorou a lançar material inédito, como podemos ver no novo single da banda, acompanhado do anúncio do futuro álbum que virá apenas em fevereiro de 2022. Cravando 3 minutos e 36 segundos, Chaos Space Marine é a música mais curta já lançada por eles até o momento, mas que ainda assim condensa neste curto espaço de tempo uma dose de energia tão intensa quanto a de seus épicos anteriores de quase dez minutos. 

A canção abre com um divertido diálogo entre os instrumentos da banda, quase como que dando boas vindas ao piano, que aparece aqui em sua primeira vez integrando uma canção do grupo. A adição contribui ainda mais para o clima de energia caótica crescente que explode em um ápice impossível de não acompanhar movendo a cabeça, ou o corpo todo que seja. Nunca saberemos exatamente porque o personagem de Warhammer 40k  do título volta para casa ao “estilo Billie Eilish”, mas com BC,NR o que importa é a energia e a criatividade, o que essa canção tem de sobra. – João Batista Signorelli


Na capa, Ariana Grande está na vertical e olha para cima com um olhar sereno. Ariana é uma mulher branca, e seus cabelos platinados estão presos para baixo e posicionados em frente ao seu ombro direito. Ariana veste um moletom cinza e coloca sua mão sobre o queixo. O fundo é uma parede de cor cinza.
A voz angelical de Grande está de volta com You, faixa vazada pelos fãs (Foto: Dave Meyers)

Ariana Grande – You

De tempos em tempos, um vazamento na discografia de um artista encanta ainda mais que os seus últimos lançamentos oficiais. Esse é o caso da gloriosa You, de Ariana Grande. Mesmo que originalmente planejada para o seu premiado quarto álbum, Sweetener, e amplamente divulgada por Grande em diversas entrevistas, a faixa acabou sendo descartada do trabalho final. Em outubro de 2021, no entanto, ela foi disponibilizada de forma anônima na internet. Com o sample da percussão icônica de Waterfalls, das TLC, Ariana constrói seus versos com delicadeza e chama atenção com suas elegantes harmonias. Portanto, esqueça o Positions: You é a faixa mais fascinante de Grande no momento. – Laís David


Capa do single Vento Sardo. A capa é uma pintura em aquarela. Na parte direita vemos a pintura de uma perna e um pé em tons rosados. Acima a pintura representa um vestido vermelho. No canto inferior esquerdo os traços formam flores marrons e o fundo é azul. O resto da imagem é composta por tons claros de verde e azul.
O vento é o temperamento do ar (Foto: Marcela Cantuária)

Marisa Monte e Jorge Drexler – Vento Sardo 

As portas de Marisa Monte continuam abertas e agora com vista para o mar. Vento Sardo é uma parceria entre a cantora e o uruguaio Jorge Drexler, lançado quatro meses após a estreia do álbum. Uma das mais belas composições apresentadas pela cantora esse ano, o single entrou como décima quarta faixa de Portas

A canção é uma declaração ao vento. Passeando pela letra entre o português e o espanhol, a dupla explora toda leveza, naturalidade e espiritualidade do elemento ar, e sua melodia encanta ao mesmo tempo em que envolve e nos teletransporta a céu aberto por um lugar pacífico. A Vento Sardo foi gravada entre Madri, Barcelona e Rio de Janeiro, chegando como uma adorável surpresa em outubro e deixa a pulga atrás da orelha para saber se  mais singles virão a compor o nono álbum de Marisa. – Ana Júlia Trevisan


Capa do single The Hours, da banda Babeheaven. Na imagem, vemos um fundo azul, e ao centro duas fotografias quadradas. O primeiro mostra o rosto de Nancy Andersen, ela é uma mulher negra e na foto há um filtro azul que colore seu rosto. Na foto abaixo, está Jamie Travis, ele é um homem branco, possui cabelos lisos de cor preta, e sua foto também possui o filtro azul colorindo seu rosto. Na parte superior esquerda, está escrito Babeheaven em fonte de cor branca. Na parte inferior direita, está escrito The Hours, também em fonte de cor branca.
Depois de Home for Now, álbum de estreia do grupo, Babeheaven retorna com o single The Hours (Foto: Babeheaven)

Babeheaven – The Hours

Babeheaven, quinteto londrino liderado por Nancy Andersen e Jamie Travis, retorna com The Hours, single que marca a continuidade do grupo após o seu álbum de estreia, Home for Now (2020). Através da aconchegante voz de Andersen, a canção reflete sobre o sentimento de irrelevância quando observamos a vastidão do mundo. Como a cantora britânica afirmou, a faixa joga luz à “sensação de solidão que vem quando você está sentado no trem olhando para pessoas cujos mundos parecem tão distantes”. Apostando desde o projeto anterior em canções imersivas, Babeheaven executa um indie pop cauteloso com The Hours, cujo resultado parece ser uma mistura inusitada entre Cigarettes After Sex e Massive Attack. – Bruno Andrade


Capa do single Louca e Sagaz. Fotografia quadrada, com fundo amarelo. No canto superior esquerdo, lemos Louca e Sagaz em letras verdes, de borda alaranjada. Ao lado, lemos Karol Conká feat WC no Beat em letras vermelhas. Nos lados esquerdo e direito do meio horizontal da foto, vemos algumas caixas de som alaranjadas. A cantora Karol Conká ocupa o centro da capa. Ela é uma mulher negra, de óculos colorido, brinco de argola e roupa feita predominantemente de redes transparentes. Sentada de costas em uma plataforma retangular, onde apoia as mãos, a rapper olha para o lado direito da imagem.
Com lançamento planejado para fevereiro deste ano, Louca e Sagaz só saiu em outubro (Foto: Sony Music Entertainment Brasil)

Karol Conká e WC no Beat – Louca e Sagaz

Depois de meses de espera, os fãs da Mamacita finalmente podem ouvir a quase mitológica canção Louca e Sagaz. Adiado por conta de polêmicas e cancelamento que marcaram a participação de Karol Conká no Big Brother Brasil 2021, o novo single da rapper curitibana faz parte do ainda inédito álbum Urucum. Com produção de Conká e WC no Beat, Louca e Sagaz mistura reggaeton e trap, seguindo a preferência dos dois artistas. 

Dei permissão, então, vem sem censura”, canta a artista, lembrando a importância do respeito mútuo em qualquer envolvimento humano. Com uma letra moderada, que não pretende ser muito rebuscada, o que mais se destaca neste novo single é, com certeza, o videoclipe que ele ganhou. Calorosa, sensual e dançante, a parte audiovisual de Louca e Sagaz é mais um dos inúmeros investimentos em vídeo que tem feito o atual mercado fonográfico brasileiro. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single Rule The World que é a mesma capa do álbum Most Wanted - The Greatest Hits da The Wanted. Na imagem os 5 integrantes da banda estão sentados em um sofá marrom de couro posicionado na quina de uma parede de tijolos cinza escuro. Max, um homem branco careca, está sentado no chão na ponta esquerda do sofá; Jay, um homem branco de cabelos loiros encaracolados cortados curtos e barba rente, está sentado no encosto do sofá acima de Max. Siva, um homem negro de pele clara e cabelos pretos, está sentado bem no meio do sofá. À direita de Siva está Nathan, um homem branco de cabelos castanhos encaracolados compridos até os ombros. No braço direito do sofá está sentado Tom, um homem branco de cabelos e barbas castanhos rentes ao rosto. Na parte superior da imagem está escrito “The WANTED” em letras brancas. Na parte inferior está escrito “MOST WANTED” e embaixo “THE GREATEST HITS”, ambos em letras brancas.
O retorno da The Wanted é antes uma obra sobre a história inesquecível que os integrantes vivenciaram entre si e pelo mundo, do que um projeto para a indústria da Música (Foto: Universal Music)

The Wanted – Rule The World

A The Wanted se separou em 2014 depois de 3 álbuns, o hit inesquecível de Glad You Came, e prometendo projetos solos para seus 5 integrantes. 7 anos depois, a boyband se reencontrou lançando tudo de uma vez só: o single Rule The World, um show beneficente promovido pelo vocalista Tom Parker, e o futuro álbum – o Most Wanted – The Greatest Hits – marcado para chegar ao mundo em 12 de novembro. O fato é que não há tempo para Tom, que foi diagnosticado com um tumor cerebral em estágio 4 no ano passado, e o projeto de retorno da banda entendeu muito bem esse propósito, inclusive na letra da primeira música após hiato.

Rule The World tem um ritmo delicioso e consegue fazer de conta que Jay, Tom, Max, Nathan e Siva nunca deixaram de cantar juntos. Na letra e no clipe, há uma retomada do estilo de Battleground, primeiro álbum da The Wanted lançado lá em 2011. Isso se dá porque – finalmente – os meninos parecem sentir de novo a vontade de viver e conhecer o mundo que mostravam em Invincible e Rocket. No entanto, não dá para reproduzir uma obra “antes-da-fama”, por isso Rule The World aquece o coração com a retomada da banda e ânsia pelo seu futuro na mesma proporção que aflige quem os ama desde a adolescência: até quando Tom Parker irá fazer parte disso? Nathália Mendes


Capa do single No Bad Days, da banda Bastille. Na imagem, vemos um formato similar ao de interior de uma pirâmide, todas as paredes com linhas luminosas em cores diferentes, como verde, azul, amarelo, laranja, rosa e vermelho. Ao centro, no fundo, vemos um triângulo branco, como se fosse a saída da pirâmide, e a silhueta de uma pessoa na frente. Na parte inferior central, vemos as escritas “GIVE ME THE FUTURE” em meio às linhas luminosas de um dos triângulos.
A banda Bastille anunciou seu quarto álbum, Give Me The Future, para 4 de fevereiro de 2022 (Foto: Virgin Records Limited)

Bastille – No Bad Days

Depois dos elétricos Distorted Light Beam, Give Me The Future e Thelma & Louise, o último single do próximo álbum de Bastille é mais contido. No Bad Days abaixa o tom, mas os instrumentais iniciais e as distorções nos vocais do lead singer Dan Smith ainda remetem à sonoridade futurista escolhida pela banda para seu quarto projeto, que já estampa o conceito no título, Give Me The Future. Além da faixa, o quarteto inglês também disponibilizou um videoclipe: codirigido e protagonizado pelo vocalista do grupo, a narrativa saída diretamente de Black Mirror ou Love, Death & Robots conecta a letra de No Bad Days, com menos referências óbvias do que suas antecessoras, ao universo fictício e distópico criado por Bastille. – Vitória Lopes Gomez


Capa do single Nothing Can Kill Us, da rapper K.Flay. K.Flay está segurando um aquário com ambas as mãos, cheio até um pouco acima da metade, e vemos sua face distorcida através dele. K.Flay é caucasiana, tem cabelos pretos e olhos verdes. Ela vira seu olho esquerdo para a câmera, e podemos ver glitter escorrendo dele, como lágrimas. K.Flay usa uma blusa preta fora de foco. Dentro do aquário há um personagem animado em 2D. Ele uma calça e uma blusa cinzas e botas pretas, tem cabelo preto e olhos verdes brilhantes. Atrás deles, há um fundo azul claro.
Por mais que seja difícil, K.Flay transforma sua dor em arte (Foto: K.Flay via BMG Rights Management, LLC)

K.Flay – Nothing Can Kill Us

Primeiro single do próximo projeto da artista, Nothing Can Kill Us é uma amostra potente de K.Flay como rapper e liricista, contando com vocais profundos sobre o significado de relacionamentos que terminaram e de como preservar a memória deles, sob a mistura distinta de rap e rock que marca seu trabalho. O single marca uma mudança da vibe introspectiva de Inside Voices, o EP anterior da cantora, reexaminando os momentos anteriores ao término de um romance e encontrando não apenas tristeza, mas euforia. Com o objetivo de verdadeiramente imortalizar as memórias que ali foram feitas, ela canta: “Eu deveria ter segurado aquele beijo/E te dito todas as maneiras que você mudou minha vida/Estou feliz por você existir/Mesmo que durma em uma cama que não é a minha”. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Capa do single Amante de Aluguel. Fotografia quadrada. Uma faixa preta ocupa verticalmente o lado esquerdo da imagem, enquanto o restante do fundo é vermelho. Na faixa, lemos, de cima para baixo, Johnny, Amante de Aluguel, Hooker em letras vermelhas. No canto superior direito da capa, vemos uma pequena cruz invertida vermelha. Johnny Hooker ocupa quase toda a parte vermelha da imagem. Ele é um homem branco, de cabelos compridos pretos, barba curta, maquiagem e veste uma roupa preta, com correntes, cruzes e detalhes pontiagudos metalizados.
“O jeito que você me engana é tão diferente/Tenta esconder, mas beijos não mentem” (Foto: Carlos Sales/Filipe Catto)

Johnny Hooker – Amante de Aluguel

Antes de qualquer coisa, Johnny Hooker é um dos anticamaleões nacionais mais evidentes da atualidade: aqueles artistas imprevisíveis, que mudam o tempo todo, mas longe de abandonar a liberdade criativa para atender aos clamores do público. Mergulhado em uma mistura de brega e pop eletrônico, o cantor pernambucano ressurge agora com Amante de Aluguel, canção produzida por ele mesmo, ao lado de Tiago Abrahão. Fazendo jus à abertura deste texto, o novo single de Hooker atiça a curiosidade para o futuro e ainda misterioso novo álbum do artista, baseado no livro Orgia – Os Diários de Tulio Carella, Recife 1960, do dramaturgo argentino Tulio Carella.    

Além do coro final, no melhor estilo Like a Prayer possível, o que mais se destaca em Amante de Aluguel é o videoclipe dirigido por Johnny Hooker, Arthur Moric e Érica Colaço. Dentro da onda de excelentes obras audiovisuais que a música pop brasileira tem criado, Hooker surge como uma verdadeira diva artística. De jaqueta à la Lady Gaga e cabelão modelo Cher dos anos 1970 – ou Mortícia Addams, se preferir -, somos inseridos em uma narrativa realista, com alguns pontos de tensão e clichê, mas que também conforta, mesmo que minimamente, com um final cinematograficamente belo e apaixonado.  – Eduardo Rota Hilário


Capa do single Beautiful Life de Michael Kiwanuka. Imagem com fundo branco e desenho de um rádio no centro. O desenho apenas delineia o rádio em linhas pretas. Em volta estão linhas de chamada em seta que apontam para o rádio, onde é possível ler trechos do refrão da música. São os trechos: “But it’s a beautiful good life”, “I’ve had this feeling my whole life”, “I was caught in a nightmare”, “Now we’re breathing the same air”, “I live my dream life in a daydream”, “All the colours are so clean”, “And it’s a beautiful good life”, “It’s a beautiful good life” e “It’s a beautiful good life”, em ordem da esquerda para a direita. No canto superior esquerdo está um círculo com um gradiente duro entre as cores amarelo e laranja. Acima do círculo é possível ler o nome do cantor, Michael Kiwanuka, e logo abaixo o título da canção, Beautiful Life, ambos em fonte preta e de forma. A primeira regular, a segunda em itálico.
Onde estão essas belezas? (Foto: Music Operations Limited)

Michael Kiwanuka – Beautiful Life

É difícil encontrar beleza em meio à tanta perda, tanta dor. “Nessa música, eu queria me concentrar no sentimento de que há uma força real no espírito humano quando você tenta buscar pela beleza, mesmo em situações difíceis”, diz Michael Kiwanuka sobre o belíssimo Beautiful Life, acertando precisamente onde dói. A música faz parte da trilha sonora do documentário da Netflix, Convergência: Coragem Em Tempos de Crise, onde o diretor Orlando von Einsiedel ensaia sobre as vulnerabilidades de uma população global afetada pelas consequências penosas do covid-19, a partir do relato pessoal de pessoas de oito países diferentes.

Com um quarto álbum previsto para 2022, Kiwanuka certamente encontra na faixa a beleza em que disserta com a voz suave, mas, também, se depara com a melancolia do teclado lânguido, da guitarra chorosa e da percussão pungente. Tudo dói, e na beleza, surge a tristeza. “As cores enganam meu cérebro enquanto a luz do dia enche minha janela/Que tolo fui em me sentar e assistir você se indo/Caindo pelos meus braços como sussurros nas cordas do meu coração/E assim por diante se indo”. – Ayra Mori


Capa do single Life Goes By And I Can’t Keep Up, do duo Dear Rouge. É noite, Danielle e Drew McTaggart estão sentados um do lado do outro, em um chão de madeira iluminado por uma luz azul. Não há paredes atrás ou dos lados, deixando o céu noturno exposto, com a luz das estrelas expondo o contorno de uma colina no horizonte. Danielle, sentada à esquerda, é uma mulher caucasiana de cabelos pretos, com uma mecha loira na frente. Ela usa calças que vão até as canelas, botas pretas e uma jaqueta por cima da camiseta preta. Sua perna direita está cruzada para dentro, passando por baixo do arco formado pela perna esquerda. Sua mão direita está tocando no chão enquanto a esquerda está em volta do joelho esquerdo. Drew, um homem caucasiano de cabelos pretos e curtos, está um pouco atrás dela, usando calças longas e pretas, com rasgos nos joelhos, uma camisa escura aberta por cima de uma camiseta estampada. Sua perna esquerda está esticada para o lado esquerdo, e sua direita está dobrada para dentro, passando por baixo dela. Seu punho esquerdo está em contato com o chão. Danielle olha para a esquerda enquanto Drew olha para a direita, e ambas as figuras estão duplicadas, com cópias translúcidas à direita e à esquerda, misturando suas formas. Na metade superior, o título do single está escrito com letras cursivas e finas em vermelho neon. O nome do duo está escrito na mesma letra, só que branca, no canto inferior direito.
“Os anos passam e eu estou tropeçando/Eu não sei para onde o tempo foi/E te digo que parece que acabei de sair do colégio” (Foto: Cadence Recordings)

Dear Rouge – Life Goes By And I Can’t Keep Up

Após retornarem em setembro com a elétrica Fake Fame, o duo canadense de rock alternativo Dear Rouge voltou no final deste mês com mais um novo single de seu terceiro álbum de estúdio, ainda sem nome ou data. Destoando completamente do resto de sua discografia, Life Goes By And I Can’t Keep Up vê o casal de músicos em seu espírito mais introspectivo e sensível até agora, trocando as batidas rápidas de Black to Gold e PHASES por uma balada lenta e triste sobre as dificuldades de não conseguir acompanhar o mundo ao seu redor.

Começando sem rodeio com o refrão que dá nome à canção, Danielle e Drew McTaggart não perdem tempo em estabelecer seu ritmo delicado e vulnerável, complementando belamente as vozes um do outro. Conforme a melodia progride, a voz de Drew recebe ainda mais destaque, carregando consigo alguns dos versos mais honestos e passando a impressão de ser a expressão mais colaborativa da banda até agora, ecoando sentimentos profundos e dolorosos, mas terminando numa nota de beleza e compaixão, deixando claro que seu par de artistas não temem o futuro. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Capa do single I Got You Babe/Where Do You Go/But You’re Mine (Medley/Live On The Ed Sullivan Show, September 26, 1965). Arte digital quadrada, com fundo metade vermelho, metade preto. Na parte superior, a vermelha, lemos Sonny and Cher em letras brancas. Na parte inferior, a preta, lemos Medley Live on The Ed Sullivan Show September 26, 1965 em letras vermelhas. Abaixo, vemos o símbolo que representa o programa. Trata-se de um círculo amarelo, com uma forma geométrica azul, um retângulo roxo e algumas estrelas. Nesse símbolo, lemos The Ed Sullivan Show em letras vermelhas, verdes e bege.
Quando episódios clássicos chegam aos serviços de streaming, tudo se torna uma imensa alegria (Foto: UMG Recordings/SOFA Entertainment)

Sonny & Cher – I Got You Babe/Where Do You Go/But You’re Mine (Medley/Live On The Ed Sullivan Show, September 26, 1965) 

Preservar registros históricos não basta. É preciso divulgá-los às novas gerações, para que o mundo tenha sempre memória e repertório. E nada melhor do que os serviços de streaming para esse tipo de compartilhamento. Pensando assim, é fabuloso saber que a primeira e única apresentação do casal Sonny & Cher no programa The Ed Sullivan Show esteja agora disponível como single no Spotify

Realizada em 1965, a performance marcada por interrupções bruscas e muitos aplausos já sinalizava a excelência artística de uma das maiores duplas musicais dos anos 1960. Ao cantarem Where Do You Go, But You’re Mine e o hit I Got You Babe, Sonny e Cher honravam o histórico de um programa lendário, onde verdadeiros deuses da Música – como Janis Joplin, Tina Turner e Elvis Presley – se apresentavam. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single Crush de Hatchie. Fotografia de Hatchie ao centro com bordas em degradê não uniforme entre as cores laranja e azul cobalto. As bordas estão contornadas por linhas beges que formam formas geométricas quadrilaterais, triangulares e circulares de cima para baixo. Entre as formas pode se ler, em ordem: “Every light on this side of the town/Every light on this side of the town/Every light on this side of the town” no quadrilátero superior; abaixo o nome da artista, “Hatchie”; uma sequência de setas apontando para cima e para baixo nas bordas laterais; o nome do single “Crush”; em parênteses o nome de Jennifer Paige, cantora da versão original da música; e por fim, as letras e números “S2C5” dentro dos círculos laterais. Quanto à fotografia central, nela está a cantora. Hatchie é uma mulher branca com cabelo preto e cerca de 28 anos. Ela olha para o lado com a cabeça levemente inclinada para o lado, e usa uma sombra escura nos olhos.
Poxa, crush, por que não me nota? (Foto: Secretly Canadian)

Hatchie – Crush

Em 1998, a cantora Jennifer Paige lançou seu único hit da carreira, Crush, sucesso pop adolescente que conquistou a terceira posição na Billboard Hot 100 do ano. Passados 23 anos, Hatchie, ou Harriette Pilbeam, evoca a canção em uma nova versão dream pop com toques da era Ray Of Light de Madonna mesclados a um shoegaze hipnótico. A faixa dá continuidade ao primeiro single da australiana sob o selo Secretly Canadian, This Enchanted, compondo o aglomerado de covers do 25º aniversário da gravadora, Secretly Twenty-Five. Colaborando com Jorge Elbrecht – um dos produtores de Sky Ferreira e Japanese Breakfast –, Hatchie é com certeza alguém para se ficar de olho. – Ayra Mori


Capa do single Easy On Me, de Adele. A imagem é composta por uma fotografia da cantora de perfil. Apenas o rosto de Adele aparece, e ela está virada para o lado esquerdo da imagem, na frente de um fundo verde azulado que imita a textura de água. Ela é uma mulher branca, de cabelos loiros lisos, e usa maquiagem preta delineando os olhos, bronzeando o rosto e batom nude nos lábios.
Nem mesmo a dona da Indústria quis competir com Adele: o lançamento da nova regravação de Taylor Swift, inicialmente planejado para o dia 19 de novembro, foi adiantado em uma semana depois que a britânica ressurgiu anunciando seu novo disco para a penúltima sexta-feira do mês (Foto: Columbia Records)

Adele – Easy On Me

Era o início de outubro quando uma imagem do número 30 dourado sob um fundo oceânico começou a aparecer nos cantos das maiores cidades do globo terrestre. O sinal misterioso logo viralizou nas redes sociais, assim como as interpretações dos seus significados também começaram a borbulhar. Felizmente ou infelizmente, é impossível não reconhecer os vislumbres da música mais exata do mundo

Seis anos se passaram desde a última vez que tomamos parte da vida de Adele. Primeiro, a britânica fez seu fenômeno brilhar pela primeira vez ao reportar seus 19 em 2008; logo depois, conhecemos os seus 21 em 2011; então, chegamos aos 25 em 2015. Muitos prêmios, recordes e experiências preencheram cada um desses anos, mas depois do marco que concretizou seu último disco, a artista se recolheu para viver seu casamento e sua família. Aquela que transforma a dor emocional em ondas sonoras físicas teria o seu final feliz? Não exatamente, dizem os 30 de Adele.

A forma que a artista encontrou para nos introduzir a sua vida novamente foi através de Easy On Me, primeiro single de seu novo disco que leva como nome a idade em que ela vivenciou o divórcio e a maternidade. Na canção, somos introduzidos a uma nova Adele que nunca deixaria de soar familiar com sua voz esfumada, que ecoa sob um piano choroso porém firme e se materializa em tons de sépia. A história já é hit, mas os detalhes nós vamos conhecer no dia 19 de novembro, quando 30 também nos conhecerá. Até lá, eu peço a Adele todos os dias para que ela pegue leve comigo. – Raquel Dutra


Clipes

Capa do álbum SOUR. Mostra Olivia Rodrigo, mulher jovem, magra e de origem filipina, com a língua de fora e os olhos revirados. Ela tem vários adesivos colados no rosto e o fundo da imagem é roxo.
Olivia Rodrigo canta sobre seu coração partido no clipe de traitor dirigido por Olivia Bee (Foto: Geffen Records)

Olivia Rodrigo – traitor

Olivia Rodrigo pula entre as nuvens, ela caminha, corre, escala muros e se joga na piscina. Faz tudo isso na companhia dos amigos, claro, já que no clipe de traitor ela coloca para fora todos os sapos que engoliu no relacionamento que agora chegou ao fim.

Poucos meses antes de subir ao palco para receber o Grammy de Artista Revelação, a jovem cantora continua explorando cada uma das canções de SOUR, um dos maiores sucessos de 2021. Para a melancólica e raivosa traitor, ela escolhe a esperança de um amanhã mais simples. – Vitor Evangelista


Cena do videoclipe de G R O W. Na imagem, à frente de um céu azul e de prédios nos cantos direito e esquerdo, vemos, ao centro, Avril Lavigne (à esquerda) e WILLOW (à direita). Avril Lavigne é uma mulher branca, de cabelos loiros lisos e longos, aparentando cerca de 30 anos, vestindo uma blusa preta, jaqueta de couro preta e calça listrada nas cores vermelha, preta e branca. Ela tem um de seus braços levantados, com a mão apontando para cima, e sorri. WILLOW é uma mulher negra, de cabelos pretos longos, aparentando ter cerca de 20 anos, usando um calor prateado, vestindo uma blusa amarela e calça listrada nas cores verde e preto. Ela está inclinada em direção à câmera com a boca aberta, no que aparenta estar cantando.
O filtro Indie do Instagram (Foto: ROC Nation Records)

WILLOW, Avril Lavigne e Travis Barker – G R O W 

WILLOW já havia reunido a realeza do pop punk atual (os veteranos Avril Lavigne e Travis Barker) em G R O W, décima faixa do excepcional lately i feel EVERYTHING. Seguindo na era do álbum, a artista convocou mais uma vez os dois grandes nomes do gênero (que, agora, incluem o dela) para o videoclipe da canção.

O baterista ficou de fora, mas ao lado de Lavigne, WILLOW leva sua urgência em crescer à sério e literalmente iguala-se aos arranha-céus, enquanto, com sua postura rebelde, caminha pelas ruas, canta para a câmera e performa em um fundo de quintal ao lado da experiente rock princess, que vira só coadjuvante da voz principal e força central de G R O W. – Vitória Lopes Gomez


Capa do álbum star-crossed mostra o desenho de um pingente de coração partido. O fundo é vermelho.
Depois de cantar no Saturday Night Live, Kacey Musgraves lançou o clipe de camera roll, parte do filme que acompanha o disco (Foto: Interscope Records)

Kacey Musgraves – camera roll

No novo clipe do disco star-crossed, Kacey Musgraves está despedaçada. Literalmente, já que em camera roll sua personagem sofre um acidente e, na forma de um manequim destruído, se encontra toda quebrada em uma estrada qualquer.

Sendo recolhida por um equipe fashion de enfermeiros, Kacey canta a melancolia da galeria do celular agora que seu casamento acabou. Tentando se prender às boas memórias, a canção ilumina um otimismo e um senso de agradecimento, super a cara do disco novo da artista, adereçando sua separação com maturidade e ciência. – Vitor Evangelista


Capa do single Subida. Fotografia quadrada, com fundo vermelho. No canto superior direito, lemos Karol Conká & RDD em letras pretas. A cantora Karol Conká está no meio da parte superior da capa. Ela é uma mulher negra, de tranças, com roupa majoritariamente verde, amarela, vermelha e preta. Sentada de lado, Karol levanta o braço esquerdo, enquanto apoia o direito no chão. Embaixo dela, lemos Subida em letras pretas, esticadas até a parte inferior da capa.
“Tô na subida/E ainda vou subir mais” (Foto: Sony Music Entertainment Brasil)

Karol Conká e RDD – Subida 

Videoclipe brasileiro estilo Rude Boy? Temos! Vestindo belos figurinos e rodeada de colagens admiráveis, Karol Conká começou o mês bastante empenhada com o lançamento da parte audiovisual de Subida. Para essa composição da própria artista, assinada também por RDD (Rafa Dias), foram elaborados uma pequena coreografia e alguns efeitos especiais, com destaque para a multiplicação de Conkás.

Diferente da queda de Gloria Groove, o foco desta obra, como o próprio título diz, é a ascensão. Transitando entre pagodão baiano, reggae e dub, Subida curiosamente se dividiu em dois meses. Com single disponível no dia 30 de setembro, o clipe só chegou ao YouTube em 1º de outubro. E por ser de uma música que está na trilha sonora do jogo Fifa 22, vale a pena dar uma olhada neste vídeo interessante. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single Angel Baby. Nela, vemos Troye Sivan, um homem branco, loiro e magro, de perfil, sem camisa. Ao fundo, vemos nuvens brancas e o céu azul. Troye tem duas asas brancas desenhadas em suas costas.
Tadinho dele (Foto: EMI Recorded Music Australia Production)

Troye Sivan – Angel Baby 

O romantismo está vivo no novo clipe do anjinho Troye Sivan. Um mês depois de lançar a canção Angel Baby, o australiano disponibilizou nas redes o vídeo que a acompanha. Dirigido por Luke Gilford, que já havia comandado os visuais da brilhante Heaven em 2017, o videoclipe é uma experiência cinematográfica digna dos grandes amores.

Atravessado por uma paixão inabalável, Troye Sivan está à mercê do mundo. Contracenando com uma porção de pares românticos, o jovem só quer saber de dar e receber carinho. Lúdico e terno, Angel Baby mantém as temáticas sentimentais que Troye se acostumou a cantar, mas dessa vez com um extra avantajado de mel. – Vitor Evangelista


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