O mês de Julho aterrissou nas Olimpíadas de Tóquio. E entre a emoção ver Rebeca Andrade subindo ao pódio em 1º lugar após performar ao som de Baile de Favela e o orgulho de contemplar nossa Fadinha, Rayssa Leal, se tornar prata no skate, sobrou espaço para assistirmos os lançamentos audiovisuais do mês. Pega a pipoca, que o hoje o Persona comenta tudo que teve de melhor e de pior na Televisão e na Sétima Arte.
A Netflix acertou em cheio ao testar um novo formato de disponibilização de filmes. Apostando no bom slasher, o streaming produziu uma trilogia que foi lançada durante três sextas-feiras. Rua do Medo teve tudo que os clássicos filmes de terror podem oferecer: reviravoltas, clichês, sexo, casal queer, acampamentos e muito sangue.
A queridinha ainda nos presenteou com o show AmarElo do Emicida, eternizando toda energia positiva daquela noite de 2019. Quem também registrou todo seu amor pela Música brasileira foi a cantora Gloria Estefan, que trouxe, para os assinantes do HBO Max, Sangue Iorubá, um documentário explicando todo seu encanto e inspiração pelos nossos ritmos. Além deles, música e documentário também se mesclaram no mais novo – e delirante – trabalho de St. Vicent, que tenta captar a essência de Annie Clark.
Imagina postar uma thread em seu Twitter e ela se transformar num filme? Pois, o que parece absurdo funcionou muito bem com as atuações Riley Keough e Taylour Paige. Incrivelmente, as viagens de Zola agradaram mais que as de Jolt. O filme de baixo orçamento do Prime Video até traz uma premissa interessante, mas faz com que seu roteiro seja uma sucessão de erros. O aviso que fica é: Nunca Confie em Homens!
A Disney foi liberal na economia e conservadora nos costumes. Com o preço da assinatura do streaming mais 70 reais (Não, Mickey, jamais te perdoarei por isso) pudemos abraçar a tradição e assistir Jungle Cruise, uma típica aventura nos parques do mundo encantado. Ainda na exploração capitalista, nos despedimos de Natasha Romanoff da maneira mais frustrante possível. Não que Viúva Negra seja ruim, mas ele deveria ter aparecido no Cineclube de 2013. E não, Marvel, jamais te perdoaremos por isso.
Esse mês, remakes e continuações ganham espaço especial entre os lançamentos. O aguardado Space Jam: Um Novo Legado chegou sem muitas inovações mas carregado de nostalgia para os amantes dos Looney Tunes. Velozes & Furiosos 9 manteve a qualidade da franquia no patamar elevado e Um Lugar Silencioso – Parte II, ajuda a amarrar as pontas que ficaram soltas no filme anterior. Já Caçadores de Trolls: A ascensão dos Titãs, mais cansa o cinéfilo do que cumpre com sua promessa.
Na TV, o resultado foi mais positivo. A salada de frutas da Netflix atirou para todos os lados: Outer Banks voltou tão apetitosa quanto antes, enquanto Resident Evil: No Escuro Absoluto não esquentou o suficiente. Atypical deu tchau deixando saudade, Mestres do Universo: Salvando Eternia chegou com pé na porta e Beastars retornou com potencial.
A querida e estimada Eu Nunca… continua sua jornada como uma das comédias mais importantes da atualidade, esbanjando o frisson juvenil que muito nos conforta em tempos de pandemia. Young Royals nos serviu o suco da aclamação: Suécia, uma família real cheia de problemas e um romance LGBTQIA+ proibido.
No HBO Max, chegou a primeira produção nacional, Os Ausentes. Além disso, a joia rara genera+ion finalmente foi disponibilizada aqui, dando vasta visibilidade para essa turminha do barulho, que navega em problemas adolescentes do jeito mais identificável possível: quebrando a cara.
Na casa do rato, Loki adiou suas conclusões a fim de nos apresentar o Multiverso, em adição ao maior personagem da Marvel de 2021, o Loki Jacaré. A segunda temporada de High School Musical: A Série: O Musical (ufa) acabou meio sem pé nem cabeça, totalmente incerta da história que queria contar.
Na Rede Globo, acabou No Limite e nem a merecida vitória de Paula ganhou as manchetes. Na internet, o xodó The Bold Type encerrou sua jornada na TV de maneira tímida, e a versão espanhola da competição de drags de RuPaul, Drag Race España, divertiu mais que qualquer outra coisa.
Pulando de streaming em streaming, a Editoria do Persona passeia pelos grandes lançamentos de Julho de 2021 e dá as dicas imperdíveis do que de melhor está borbulhando no meio audiovisual. Se prepara para mergulhar em animações instigantes, filmes de terror imperdíveis e até mesmo em uma das melhores produções do ano passado (spoiler: envolve uma vaquinha chegando nos Estados Unidos).
Cinema
Rua do Medo: 1994 – Parte 1 (Fear Street: 1994, Leigh Janiak)
A primeira parte da trilogia de filmes de terror da Netflix inspirados na série de livros de R.L. Stine chegou no início do mês e nos apresentou à realidade sombria de Shadyside, uma pequena cidade do interior americano assombrada por assassinos seriais aparentemente inexplicáveis e que deram à ela a sombria alcunha de Killer Capital, USA. Seus adultos vivem em estado de alerta enquanto juventude ou quer fugir ou já aceitou seu destino sombrio.
É em 1994 que a história começa – e quase termina – no início da trilogia da diretora Leigh Janiak: quando a rixa entre Shadyside e Sunnyvale, a cidade vizinha incrivelmente bem sucedida, leva a um acidente que perturba o espírito de uma infame bruxa e coloca um grupo de adolescentes na luta contra forças sobrenaturais (e seus próprios traumas).
Por mais que a ambientação seja clichê e os sustos não fujam do esperado, 1994 é uma ótima homenagem a clássicos do gênero como Halloween: A Hora do Terror e A Hora do Pesadelo. Com uma reviravolta maravilhosamente queer no seu elenco desafortunado de jovens, propelindo a trama (e consequentemente a trilogia) com uma história de romance frágil e doce. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Rua do Medo: 1978 – Parte 2 (Fear Street: 1978, Leigh Janiak)
Apostando ainda mais alto em reavivar o subgênero slasher, a Netflix nos oferece a segunda parte de Rua do Medo, sua nova franquia de terror. A sequência pode até permanecer com direção e roteirização guiadas por Leigh Janiak, mas a construção e execução dos crimes do serial killer à la Jason Voorhees, a reconfiguração no timing dos sustos, bem como a renovação do apelo dado a mitos sobrenaturais, superam as frustrações atribuídas ao primeiro filme da trilogia pela falta de sangue e profundidade enigmática.
O retorno à Shadyside? Mais brutal que Olivia Rodrigo. Apimentada, em sua maior parte, pelo choque de personalidades e pela inegável conexão entre as irmãs Ziggy (Sadie Sink) e Cindy (Emily Rudd), a narrativa cria vida (ou morte) em um típico acampamento juvenil. No entanto, surpreende ao jogar a comicidade para escanteio e se entregar a uma versão mais aterrorizante, visceral e violenta do cenário desesperador instalado no decorrer da trama. A ambientação, comum em dezenas de slashers de sucesso, obtém êxito em honrar clássicos do terror bem mais que o início da tríade – tudo sem perder de vista a originalidade gore que o horror espera, atualmente, de seus filmes.
Por fim, o aprofundamento dos massacres e o magnetismo de uma final girl de respeito se unem às metas mal definidas dos impactos sombrios que a bruxa Sarah Fier (Elizabeth Scopel) insiste em causar. Esse é o tripé responsável por manter o fôlego que a trilogia precisava encontrar antes de seu término. Assim, a história instiga horripilantemente seus espectadores a concluírem o cerne de tantas maldições em Rua do Medo: 1666 – Parte 3. – Vitória Vulcano
Rua do Medo: 1666 – Parte 3 (Fear Street: 1666, Leigh Janiak)
A Maldição de Shadyside chega ao fim (por enquanto) junto da trilogia Rua do Medo, que garantiu a diversão em três sextas-feiras seguidas na Netflix. Depois de sermos apresentados às assombrações esporádicas que assolam a cidade no promissor Rua do Medo: 1994, e revisitarmos o Massacre de Nightwing no nostálgico e excitante Rua do Medo: 1978, na parte final da sequência, Rua do Medo: 1666, voltamos à origem da lenda da bruxa Sarah Fier.
Através dos olhos de Deena (Kiana Madeira), os eventos que levaram à maldição da marginalizada cidadezinha se revelam diferentes do que as más línguas contam. Em uma primeira parte menos sangrenta mas igualmente surpreendente, o slasher dos anos 70 e o colorido dos anos 90 dão lugar à uma amedrontadora e tensa paisagem bucólica, impossível de não ser comparada ao da icônica A Bruxa, e o sangue ketchup é substituído pelo suspense.
Com o passado desvendado e um plot twist que reengata onde a narrativa parou, 1666 corrige a história de Sarah Fier e, em um desfecho rápido e cheio de cenas eufóricas e divertidas, encerra a trilogia idealizada pela diretora Leigh Janiak. Agora, cabe à Netflix decidir se o final feliz de Shadyside vai durar ou não… e esperamos que não. – Vitória Lopes Gomez
Ar Condicionado (Idem, Fradique)
Ar: o fluido que respiramos. Condicionar: tornar dependente de condição, acondicionar. É a partir da contradição entre o natural e o artificial, da condicionalização daquilo que é essencial que Ar Condicionado tem seu ponto de partida. O filme do diretor angolano Fradique tem uma premissa inusitada: os ar-condicionados (apelidados de ACs) dos prédios de Luanda começam a cair sem razão aparente. Em meio ao mistério, Matacedo tem a missão de trazer o AC de seu chefe consertado, o que o leva a uma estranha jornada pela capital angolana.
A trama ganha camadas de realismo fantástico quando percebermos que saber a razão dos incidentes frequentes talvez não seja a pergunta mais importante a ser feita. Os ar-condicionados passam de meros resfriadores a causadores de fatalidades, armazenadores da memória humana, tornando-se até razão para o luto. Mesmo com o frescor de descobrir o Cinema de outras partes do mundo, Ar Condicionado por vezes pode cansar com seu protagonista vagando no labirinto urbano, sem levar a história para uma direção evidente. Ainda assim, a multiplicidade de interpretações gerada pela imagem dos ar-condicionados torna o filme emblemático, levando-nos a aceitar que na selva de pedra, ninguém consegue respirar. – João Batista Signorelli
Caçadores de Trolls: A ascensão dos Titãs (Trollhunters: Rise of the Titans, Johanne Matte, Francisco Ruiz-Velasco e Andrew L. Schmidt)
A conclusão da série de histórias criada por Guillermo del Toro chega na forma de um longa com a cruel tarefa de unir todas as tramas apresentadas nos Contos de Arcadia e levá-las a um fim com o esperado embate contra a Ordem Arcana. Infelizmente, A ascensão dos Titãs não suporta o peso de seu enredo estufado e se arruína na hora de entregar um final satisfatório para aqueles que vinham acompanhando seus personagens desde 2016.
A qualidade da animação é um dos poucos pontos fortes do filme que, junto com a fotografia, elevam a batalha dos defensores de Arcadia contra os gigantescos Titãs em lutas espetaculares que ecoam Pacific Rim. No entanto, há tantos personagens e subtramas inconsequentes que fica até difícil prestar atenção quando algo genuinamente divertido acontece.
São os personagens de Caçadores de Trolls que mais sofrem na transição de formato, sendo relegados ou à piadas recorrentes ou apenas aparecendo para cumprir tabela, sem relação direta com os eventos que se desenrolam. A única parte épica do longa está na escala da decepção que seu final causa: não só desperdiça todo restante do filme como também todas as séries que o precederam em uma decisão final verdadeiramente deplorável. – Gabriel Oliveira F. Arruda
The Nowhere Inn (Idem, Bill Benz)
Quando St. Vincent decide fazer um documentário, é certo que sua abordagem não será convencional. Em The Nowhere Inn, a artista nos carrega junto nos bastidores da turnê de MASSEDUCTION, onde conhecemos a verdadeira cara por trás do pseudônimo enigmático dos palcos, Annie Clark – ou pelo menos achamos que sim. Ficção e autobiografia se entrelaçam num pseudo-documentário à la David Lynch, nos levando conscientemente a não entender nada.
A premissa inicial do longa é de documentar a essência da real Annie Clark ao lado da amiga e cineasta Carrie Brownstein. Juntas, as amigas iriam criar um relato metaficcional sobre a essência artística de Clark, mas que rapidamente revela divergências criativas. O que começa de maneira clara, logo se transforma num delírio delicioso. A realidade é fragmentada e não é mais possível distinguir o que é autêntico e o que é espetáculo em meio à cores vibrantes, figurinos deslumbrantes, uma trilha sonora com versões inéditas das canções de St. Vincent e cowboys.
Para quem é fã, a diversão é garantida. Contudo, aos não familiarizados, a experiência pode se tornar desapegada quando o foco narrativo do longa não é a história em si. Entre bizarrices divertidíssimas, nos deleitamos ao ver uma St. Vincent totalmente diferente de suas personas performáticas, como nerd jogando Nintendo Switch ou até mesmo contracenando como namorada da atriz Dakota Johnson. Com proposta óbvia de não ser levada a sério, Annie Clark nos convida a adentrar numa fantasia surrealista e embarca quem quer. – Ayra Mori
Jungle Cruise (Idem, Jaume Collet-Serra)
A pandemia fez com que todos os estúdios precisassem se adaptar. No caso da Disney, a empresa optou por vender seus lançamentos no formato de Premier Access no Disney+, além da tradicional exibição nos cinemas. Jungle Cruise, nova aventura lançada nesse formato híbrido, diverte e cativa de tal forma que nos faz relembrar da força das histórias que viajam pelo desconhecido.
Baseado no parque temático da Disney, o filme conta a história da Dra. Lily Houghton (Emily Blunt), que pede ajuda ao capitão Frank Wolff (Dwayne Johnson) para levá-la à Amazônia em seu barco caindo aos pedaços. Juntos, procuram por uma árvore ancestral que pode curar qualquer doença.
Jungle Cruise não tem medo de abraçar a fantasia. O diretor Jaume Collet-Serra aproveita as possibilidades dos efeitos especiais para construir uma jornada colorida e vibrante como a natureza. Em tempos que parecem valorizar demais o realismo, é bom ver o retorno de aventuras mais tradicionais e escapistas como essa. – Caio Machado
Um Clássico Filme de Terror (A Classic Horror Story, Roberto De Feo e Paolo Strippoli)
Quando uma obra-prima cinematográfica vem à vida, logo nos vem à mente a seguinte pergunta: o que o diretor não faria para alcançar tamanha perfeição? Talvez Um Clássico Filme de Terror não seja uma obra-prima, mas dizer que seu “diretor” deu o sangue para alcançar esse mesmo objetivo é inegável. O longa italiano lançado pela Netflix mescla um pouco do terror clichê (como já propõe o próprio nome) com um toque moderno e, infelizmente, batido.
Começando pela fórmula reciclada, o plot twist e sua intenção inovadora já não é mais um plano de ação fresco no mundo do Cinema, mesclar elementos demoníacos com o controle humano já não causa mais a mesma surpresa. Porém, é o cenário da não tão Santíssima Trindade mafiosa que cria o melhor elemento do filme: a metalinguagem. Dentro do ambiente cinematográfico onde há outro ambiente cinematográfico, perdemos a noção de quem está no comando e o que é real ou não. Ao final, no melhor estilo Casamento Sangrento, nossa bambina se despede da maneira mais satisfatória possível. – Vitor Tenca
Space Jam: Um Novo Legado (Space Jam: A New Legacy, Malcolm D. Lee)
A onda de remakes de filmes dos anos 1990 continua com a atualização do clássico Space Jam, e mais do que nunca é de se questionar se isso é uma boa ideia. Space Jam: Um Novo Legado conta a história da maior estrela do basquete atual: LeBron James, em uma aventura no mundo cibernético em que precisa derrotar uma Inteligência Artificial em um jogo de basquete, ao lado dos Looney Tunes, para salvar seu filho.
Apesar de uma trama não muito inovadora, o filme traz algumas diferenças em comparação a sua versão anterior, especialmente em relação às motivações por trás dos acontecimentos. O vilão, o jogo, os problemas, todos são consequências apresentadas pelo mundo de James, diferente da versão de 1996, em que Michael Jordan é apenas mais um personagem no mundo dos Looney Tunes. E isso em partes tira um pouco da alma do filme, tornando-o um tanto corrido em alguns momentos e arrastado em outros, parecendo não saber muito no que focar. Se é na história de um pai e filho com interesses diferentes que tentam se conectar, ou só em um jogo de criaturas lunáticas com motivações lunáticas.
É difícil assistir Space Jam: Um Novo Legado sem comparar pelas lentes da nostalgia, mas quando removidas temos um filme bem feito, um pouco repetitivo, mas que agrada em sua proposta de divertir o público e que vale a pena assistir. Nem que só pelas referências ao universo da televisão que é trazido ao longo do filme. – Marcela Zogheib
Um Lugar Silencioso – Parte II (A Quiet Place Part II, John Krasinski)
Um Lugar Silencioso – Parte II se encarregou de explicar como o apocalipse alienígena – e que os Demogorgons com super audição vieram de meteoro – do primeiro filme aconteceu, e dar continuidade na história ao mesmo tempo. Agora com um bebê e a descoberta de como matar os alienígenas, o que sobrou da família Abbott explora o mundo fora de sua fazenda. Com uma fotografia mais clara e a mesma boa dose de sustos, o thriller mantém a ótima performance.
É na sonoplastia que mora o segredo, ainda que não seja O Som do Silêncio. Nas mãos de Krasinski, o som norteia o filme, na mesma proporção em que a não-audição de Regan (Millicent Simmonds) o faz. Há um jogo de cenas espetacular entre sons nítidos de todas as movimentações, literalmente até troca de sinal no semáforo, e a quietude do mundo da menina. Após a morte de seu pai, interpretado pelo ator e diretor Krasinski, só ela é necessária para o andamento da história. Mas Cillian Murphy co-protagoniza o filme, mantendo o clichê de uma figura masculina heróica. – Nathália Mendes
Jolt: Fúria Fatal (Jolt, Tanya Wexler)
Parte filme de ação de baixo orçamento, parte comédia romântica de roteiro duvidoso, há poucas cenas em Jolt: Fúria Fatal que fazem jus ao potencial farofeiro do longa de Tanya Wexler. Lançado pelo Amazon Prime Video em julho e estrelado por Kate Beckinsale, a trama segue Lindy, uma mulher que usa um sistema de eletrochoque para evitar impulsos de violência súbitos. Quando seu namorado de dois dias é misteriosamente assassinado, ela vai contra os desejos de seu terapeuta (Stanley Tucci) e decide punir os culpados com as próprias mãos.
Embora o carisma de Kate Beckinsale seja capaz de suportar bastante coisa, ele não basta para que a uma hora e meia de filme se passe num ritmo minimamente agradável. Com cenas de ação e cenários genéricos, fica difícil se conectar com os traumas de sua protagonista irritável, mesmo que em alguns momentos a sua falta de paciência seja genuinamente engajante e divertida de se ver (talvez porque seja o mesmo sentimento do espectador).
No aspecto de comédia romântica, o filme obtém melhores resultados, graças à boas interpretações de um elenco que claramente merecia mais com o que trabalhar. No entanto, o final destrói qualquer chance de uma boa lembrança, entregando conflitos clichês e um plot twist que sacrifica a construção de personagem pelo shock value e, incrivelmente, acha de bom tom dar pistas para uma sequência. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Zola (Idem, Janicza Bravo)
É comum ver filmes baseados em livros, peças, jogos, acontecimentos marcantes… mas nunca em algo feito nas redes sociais. Zola chama a atenção nesse aspecto: é o primeiro filme baseado numa thread que viralizou no Twitter, escrita pela norte-americana Aziah Wells em 2015.
Na trama, a garçonete Zola (Taylour Page) concorda em acompanhar a amiga, Stefani (Riley Keough), numa viagem à Flórida. O que deveria ser um final de semana com festas e curtição rapidamente se transforma numa jornada absurda de 48 horas.
Com um visual limpo e agradável digno de filtro dos stories do Instagram, Zola prende a atenção por causa de sua sequência de acontecimentos tão malucos que suscitam o questionamento de “será que isso aconteceu mesmo?” em várias cenas. É uma aventura igualmente tensa e cômica que consegue incorporar, de maneira criativa, elementos característicos das redes sociais, como o som de notificações do Twitter e o recurso da rolagem infinita presente na timeline do Instagram. – Caio Machado
Viúva Negra (Black Widow, Cate Shortland)
Viúva Negra é frustrante. Não ruim, nem fraco, muito menos entediante. Mas, depois de 11 anos desde sua aparição inicial no MCU, assistir o primeiro filme protagonizado por Natasha Romanoff sabendo o futuro injusto que a aguarda é frustrante. A primeira Vingadora a aparecer nas telas da Marvel precisou sofrer com a sexualização extrema, a falta de um arco relevante, um relacionamento meia-bomba com Bruce Banner e uma morte horrenda em Ultimato para finalmente ganhar um longa solo que se preze, minimamente, a dar os contornos vivos e lúcidos que a personagem de Scarlett Johansson merecia – verbo conjugado no passado, infelizmente.
Enriquecendo a folha de pagamento do estúdio com Florence Pugh, David Harbour e Rachel Weisz, Viúva Negra volta no tempo e se norteia logo após os acontecimentos de Guerra Civil, pondo em foco o período em que Natasha estava foragida e precisou se reencontrar com a família falsa que a botou entre os dentes asquerosos de Dreykov e sua iniciativa de Viúvas. Se você esperava um desenvolvimento sólido sobre o período de treinamento da agente ou do que ela precisou fazer como Viúva, o filme de Cate Shortland apenas pincela esse passado, deixando a impressão de que, na verdade, estamos assistindo Viúva Negra 2: A Volta da Sala Vermelha, sucessor de um hipotético filme de origem da heroína.
A trama se sustenta, claro. A relação de Natasha com Yelena é caótica e divertida, e seu acerto de contas com a jovem Antonia suga o que há de mais dramático na bagagem de Johansson. Apesar de pouco explorados, os traumas causados pelo terror da Sala Vermelha deixam a atmosfera densa, complementando a atuação de Ray Winstone como um dos vilões mais repulsivos – e relâmpagos – da Marvel. No fim das contas, Viúva Negra é um tapa-buracos para os anos de descaso cinematográfico que a personagem teve que aturar. E isso, com certeza, afeta a despedida da Vingadora. – Caroline Campos
First Cow – A Primeira Vaca da América (First Cow, Kelly Reichardt)
Em First Cow, somos transportados para um oeste norte-americano bem diferente daquele que Hollywood está acostumada a mostrar. Não é o lugar de heróis corajosos, de grandes jornadas, ou de conquistas históricas. Muito menos o cenário para a corrupção e a violência do faroeste revisionista. O estado de Oregon é um lugar de simplicidade, onde a chegada de uma vaca ao território é um evento, onde botões são usados como moedas de troca, e o prato para o jantar é colhido diretamente dos arbustos ou pescado no rio.
O mais aclamado e premiado longa da diretora e roteirista Kelly Reichardt acompanha o encontro entre o cozinheiro Cookie (John Magaro) e o imigrante chinês King-Lu (Orion Lee), e a sincera amizade que se desenvolve entre os dois. Motivados pela possibilidade de fazer dinheiro com as habilidades culinárias de Cookie, a dupla passa a ordenhar clandestinamente a vaca do homem mais rico da região. O retrato de dois homens buscando se realizar e estabilizar através de seu pequeno negócio torna-se também um retrato naturalista e sem idealizações da construção do sonho americano.
O ritmo lento e contemplativo pode parecer um obstáculo, mas aos moldes de Guimarães Rosa, superados os desafiadores minutos (ou páginas) iniciais, a experiência se torna enormemente recompensadora. A simplicidade de seus personagens é traduzida para a luz natural, os cenários rústicos e o jogo de câmera sutil. Aos moldes dos bolinhos feitos por Cookie, é um filme construído de forma artesanal, quase do mesmo modo que 200 anos atrás, aqueles homens haviam construído com suas próprias mãos, suas vidas e as das gerações futuras, em um lugar onde sequer a História havia chegado. – João Batista Signorelli
Sangue Iorubá: Uma Jornada Musical Através de África, Brasil e Cuba (Idem, Lourival Rodriguez)
Gloria Estefan é uma cantora cubana naturalizada estadunidense. Multigrammyada, ela é uma das maiores representantes da Música latina, e o Brasil é um dos itens da inúmera lista de inúmeras influências que compõem a artista. Para homenagear a Música brasileira, mais precisamente o samba, Gloria gravou um álbum de inéditas intitulado Brazil305. A imersão audiovisual da cantora foi complementada com o documentário Sangue Iorubá, onde ela fala das semelhanças da sonoridade trazida pelos africanos.
O documentário acompanha a viagem de Gloria por São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, e também traz cenas da cantora no Estados Unidos. Para contar a história do samba, há participações especiais de produtores e grandes nomes da música como Maria Rita, e os maiores sambistas da velha guarda como Alcione, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho e Ubirany do Grupo Fundo de Quintal. Todos esses encontros mostram a admiração de Gloria por nossa música e seu encantamento por nossos instrumentos.
De todos os encontros, os mais marcantes aconteceram na quadra da Portela e em Salvador ao lado de Carlinhos Brown. Na Portela, a conversa acontece com o baluarte Monarco acompanhado da velha guarda da escola. Gloria usou do santuário carnavalesco para gravar o brilhante clipe de Samba. Já em Salvador, a cantora visitou o Candeal, local onde Carlinhos foi criado. O ex-Tribalista, que exala ancestralidade, foi ponto chave no documentário Iorubá, ele apresenta toda história e magia da musicalidade brasileira. – Ana Júlia Trevisan
Velozes & Furiosos 9 (F9: The Fast Saga, Justin Lin)
O oitavo filme da franquia Velozes e Furiosos impressionava por seu nível de loucura, com cenas envolvendo um submarino no gelo e até uma chuva de carros. Depois dele, ficou difícil imaginar como poderiam se superar na continuação. Felizmente, Velozes & Furiosos 9 consegue esse feito com facilidade.
Na trama, o passado de Dominic Toretto (Vin Diesel) volta a assombrá-lo quando seu irmão, Jakob (John Cena), retorna e passa a trabalhar com a hacker Cipher (Charlize Theron). Então, cabe a Dom reunir sua equipe novamente para derrotá-los.
Tentar descrever a experiência de ver Velozes & Furiosos 9 é um esforço complexo diante de tantas cenas malucas, que vão desde carros com foguetes até uma ida ao espaço para destruir um satélite. O que importa é que isso tudo é unido por um senso de amizade e respeito que aproveita tão bem o espetáculo que o Cinema é capaz de oferecer que você nem se importa com as leis da física quebradas por eles durante as mais de duas horas de duração. – Caio Machado
Emicida: AmarElo – Ao Vivo (Fred Ouro Preto)
Depois de um documentário sensível e autoral sobre a construção do Brasil, Emicida pintou novamente o vermelho da Netflix com seu AmarElo – Ao Vivo. O show histórico no Theatro Municipal, retratado pela criatividade de Fred Ouro Preto, entrou na íntegra no catálogo do serviço e espalhou pelos quatro cantos a genialidade de um dos maiores rappers do país.
Mesclando canções de sua discografia, a apresentação harmoniza uma sinfonia perfeita entre artistas e plateia, todos pulsando no ritmo inigualável daquela noite de 2019 em São Paulo. Ao lado de Majur, Pabllo Vittar, MC Tha, Drik Barbosa e Jé Santiago, Leandro Roque de Oliveira balança a fundação do Municipal e entrega um concerto que dialoga com a ancestralidade e com o poder da cultura negra. Emicida, você fez o Sol levantar. – Caroline Campos
Lorelei (Idem, Sabrina Doyle)
A primeira cobertura do Persona ainda influencia o que fazemos hoje. Quando Lorelei surgiu dentre os lançamentos audiovisuais do mês, não poderíamos deixar passar uma das obras que ficou de fora da nossa cobertura da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Em outubro do ano passado, o filme de Sabrina Doyle chamou a atenção dentre a vasta curadoria do festival pela sua promessa de um drama sincero sobre sonhos, amor e família à margem da sociedade. E em julho de 2021, ele tem sua chance de cumprir o que prometeu.
O longa parte de Wayland (Pablo Schreiber), que acaba de cumprir 15 anos na prisão por um assalto à mão armada. Quando preso, ele interrompeu o relacionamento juvenil movido pela paixão e sonhos que cultivava junto de Lola (Jena Malone), que depois de todos aqueles anos, também seguiu a vida como podia sendo mãe solo de 3 filhos. O pretexto de Lorelei é simples e até clichê, mas a delicadeza de sua diretora estreante, que também assina o roteiro, transforma a narrativa em algo quase mágico de tão singelo.
Além de trabalhar bem com a raiz do filme, Doyle também desenvolve perfeitamente seus personagens principais, seguindo o trabalho fantástico de seus atores. Malone trabalha na pele de uma mulher que viu sua vida mudar completamente de uma forma muito rápida, e que embora cheia de amor, é marcada pela dor de engavetar seus sonhos. Já em Wayland, Schreiber é melancolicamente hesitante nas tentativas de se colocar de volta no mundo depois de uma década e meia longe de tudo. O encontro dos dois é uma colisão de dois corações em pedaços, um pelo outro e também pela vida, e assim, Lorelei cria sua própria maneira de tratar o que já sabemos sobre segundas, terceiras, quartas e muitas outras novas chances. – Raquel Dutra
TV
genera+tion (Parte 2 da 1ª temporada, HBO Max)
O charme de genera+ion, a comédia dramática mais subestimada de 2021, é a habilidade dúbia de construir tramas igualmente patéticas e sérias. Seja nas peripécias amorosas de Chester (Justice Smith, em um papel definidor de sua carreira), ou nas bruxarias feministas de Arianna (uma hipnotizante Nathanya Alexander) e até mesmo nas caras e bocas que Megan (Martha Plimpton) projeta frente à modernidade da vida dessa garotada: a série sabe que não precisa se levar a sério.
A leva final de capítulos da primeira e, por enquanto, única temporada, transporta o roteiro de maneira menos incisiva que o começo, mas a criação da jovem Zelda Barnz e seu pai Daniel engrena a partir do momento que entende o coração de genera+ion: o complicado enlace de Greta (Haley Sanchez) e Riley (Chase Sui Wonders). O casal passa por todo perrengue imaginável e, dentre todo o elenco, é quem melhor encerra esse ciclo.
É uma pena que o HBO Max não tenha confirmado o retorno dos queers, e o andar da carruagem sugere que a festa escorregadia da finale seja realmente o adeus dos amigos mais diversos da TV atual. A jornada foi muito proveitosa, nada cringe, esbanjou o carisma de Naomi (Chloe East, um destaque da série) e a apaixonante Delilah (Lukita Maxwell) e ainda dedicou um momento especial para que a super estrela Gigi Goode fizesse uma pontinha. Quer mais o que? – Vitor Evangelista
Os Ausentes (1ª temporada, HBO Max)
Cerca de 80 mil pessoas desaparecem no Brasil a cada ano, em uma média de oito pessoas por hora. Essa é uma das premissas que leva Os Ausentes adiante, cuja trama gira em torno de Raul (Erom Cordeiro) e Maria Julia (Maria Flor). Na história — distribuída em 10 episódios de 45 minutos —, Raul é um investigador particular e ex-delegado, que é motivado a procurar pessoas desaparecidas após o sumiço, sem solução, de sua filha. Sua agência em São Paulo, chamada Ausentes, lida com casos em que as pessoas não podem ou não querem recorrer à polícia.
Os Ausentes é a primeira série brasileira original no catálogo do HBO Max, e a produção teve como consultor Barry Schkolnick, roteirista da série The Good Wife e Law & Order. Essa informação fica em evidência no desenvolvimento dos capítulos, que parecem remeter diretamente aos seriados norte-americanos do gênero policial. Os episódios ocorrem de forma independente — com uma história de investigação em cada um deles —, e a ligação entre eles está na trama pessoal de Raul e Maria Julia, personagem misteriosa que também procura por um desaparecido. Esse tipo de produção não restringe o número de episódios, pois, de forma livre, eles são desenvolvidos isoladamente e trazem flashbacks para contextualizar possíveis questões. A série traz um importante recorte socioeconômico e coloca em evidência regiões que ainda são deixadas de lado em questões de segurança pública. – Bruno Andrade
Atypical (4ª temporada, Netflix)
Embora nunca tenha sido um imã de premiações, Atypical sempre foi uma das queridinhas dos assinantes da Netflix desde sua estreia em 2017. Mesmo com sua perda pesando nos corações daqueles que se apaixonaram pelas pequenas aventuras da família Gardner ao longo dos anos, sua temporada final chega não como um adeus, mas um trabalho caloroso.
A série criada por Robia Rashid sempre se beneficiou de um tato sensível para lidar com seus personagens e suas falhas e aqui não é diferente: seja acompanhando os planos para o futuro de Sam (Keir Gilchrist) ou tropeçando junto com Casey (Brigette Lundy-Paine) na sua vida esportiva, cada episódio se supera ao humanizar os conflitos externos e internos das personagens e nunca dá-los por certos. Jennifer Jason Leigh continua dando uma das melhores performances de sua carreira no papel de Elsa, e é genuinamente prazeroso ver até onde a personagem chegou desde a primeira temporada.
O ritmo meio da temporada é prejudicado por algumas tramas que parecem estagnar, e é triste ver antigos personagens recorrentes sendo jogados de lado para abrir espaço para novas narrativas. O final, no entanto, engata de volta e fecha a série com a conclusão de uma trama aberta desde o seu início e que com certeza irá emocionar aqueles que a acompanharam até aqui. – Gabriel Oliveira F. Arruda
The Bold Type (5° temporada, Freeform)
Enquanto as quatro primeiras temporadas de The Bold Type fazem sucesso na Netflix, a série encerra sua exibição e se despede no quinto ano. O anúncio do cancelamento foi uma surpresa, já que o seriado tinha um bom desempenho de público e crítica, mas foi prejudicado pela pandemia, que inclusive forçou a conclusão precoce da quarta temporada, e pela redução recente na audiência. Com um último ano bem menor do que os anteriores, Jane (Katie Stevens), Kat (Aisha Dee) e Sutton (Meghann Fahy) dão adeus aos fãs que conquistaram.
Os 6 episódios finais têm um clima de despedida: depois de acompanharmos as meninas em seus perrengues, sucessos, falhas e descobertas, de conhecermos seus sonhos, medos, ambições e questionamentos, dizer tchau para as três e para a revista que as acolheu é emotivo. Agora, ainda e sempre unidas mesmo em diferentes momentos de vida, as meninas refletem sobre o quão longe chegaram desde suas entradas na Scarlett e o que querem para o futuro. The Bold Type encerra sua trajetória por aqui, mas Jane, Kat e Sutton ainda têm muito pela frente. – Vitória Lopes Gomez
No Limite (5ª temporada, TV Globo)
O BBB20 reviveu o amor do brasileiro por reality show, e na carona desse sucesso, o diretor de televisão Boninho decidiu ressuscitar, também, o primeiro reality da Globo: No Limite. Desde 2009 sem novas temporadas, a edição de 2021 contou com um diferencial, um elenco formado inteiramente por ex-BBBs. A decisão foi acertada para chamar o público, mas não suficiente para segurá-lo, e semana após semana o programa agonizou em audiência. Nem Rafael Infante fazendo cosplay de Rafael Portugal num CAT BBB improvisado foi capaz de salvar, e, aliás, essa ‘adição’ só terminou de destruir o reality.
Tudo que podia dar errado, deu: a começar por André Marques, que é um apresentador horroroso, e não foi capaz de dar tom ao jeito que queria conduzir seu programeco. As provas eram entediantes e davam canseira nos participantes e no telespectador, que esperava desafios de sobrevivência ao ar livre de assistir na ponta da cadeira e recebeu um playground de crossfit extremo. O programa ir ao ar apenas na terça-feira também foi um erro gigantesco, já que no resto da semana se falava sobre qualquer outra coisa, menos No Limite, e era fácil esquecer que o reality existia.
Os ex-BBBs, que foram vendidos como um atrativo, no fim se mostraram um problema: tirando um ou outro ali, o resto não servia carisma nenhum e o fato de já terem uma vida confortável de subcelebridade atrapalhava a conexão do público com os participantes. Na reta final, ficou mais interessante acompanhar o MasterChef Brasil no ao vivo e assistir o terrível No Limite depois, já que nem spoiler na internet dava para pegar, afinal, ninguém estava comentando o acampamento fitness de Boninho. A 6ª temporada ainda é incerta, mas, seguindo a tradição, é bem provável que ela só venha em 2029. – Jho Brunhara
Outer Banks (2° temporada, Netflix)
Lançada no meio de 2020, Outer Banks foi um escape do caótico mundo real para uma ilha paradisíaca cheia de adolescentes desocupados e engraçados. A série começou simples, foi crescendo e terminou sua primeira temporada de forma estrondosa, conquistando um público que aguardou bastante pela sua volta.
E em apenas um ano, no meio das dificuldades causadas pela pandemia, a segunda temporada foi produzida. Parecia impossível que, em tais situações, algo realmente bom pudesse vir. Mas, para surpresa de muitos, a retomada de OBX não foi apenas boa, e sim sensacional.
Os novos episódios não deixaram faltar nada, trazendo drama, comédia e suspense nas doses certas. O único defeito dessa temporada é que acaba. Por favor, Netflix, agilize logo, pois já estamos morrendo de saudade do nosso quinteto favorito. – Mariana Chagas
Resident Evil: No Escuro Absoluto (Resident Evil: Infinite Darkness, 1ª temporada, Netflix)
Continuando o aniversário de 25 anos da franquia após o bem recebido Resident Evil Village, a nova tentativa da Netflix de adaptar videogames para um formato seriado chega na forma de Resident Evil: No Escuro Absoluto. Nos moldes de Castlevania, a primeira temporada tem apenas quatro episódios, focando principalmente em apresentar seus personagens e formar a base para possíveis histórias futuras.
Com um dos grandes chamativos da série sendo a reunião do icônico duo de Resident Evil 2, é decepcionante ver quão poucas cenas Leon Kennedy (Nick Apostolides) e Claire Redfield (Stephanie Panisello) dividem. Situado após o final de Resident Evil 4, a série começa com Leon entrando para o serviço secreto e tendo que lidar com uma invasão de zumbis à Casa Branca, enquanto Claire persegue os detalhes de uma conspiração para ocultar um novo surto de mortos-vivos. Apesar dos cenários centrados e animações realistas, a nova série não esquece de fazer piada consigo mesma e trazer aquela farofa que os fãs dos games já esperam da franquia.
No Escuro Absoluto age como uma perfeita tradução visual do jogo para série, capturando o sentimento de fases, ambientação e o terror grotesco da franquia (com direito até a boss final), mas falha em contar uma história engajante para sustentar essa adaptação. A trama política ao redor das armas biológicas já foi contada e recontada vezes suficientes para saber como termina, e o final em aberto para mais temporadas frustra mais do que empolga. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime (Minissérie Documental, Netflix)
A minissérie documental que revisita os fatos envolvendo o assassinato do empresário Marcos Matsunaga, produzida por Gustavo Mello, é a primeira aposta da Netflix para produções envolvendo crimes reais nacionais. Apresentada em quatro episódios, narra e discute desde o relacionamento de Marcos e Elize, passando pelo julgamento e pelas visões da condenada pelo caso neste período em que a mesma se encontra cumprindo a pena. Entrevistas com amigos, jornalistas que acompanharam o desenrolar da investigação, advogados, o promotor e o delegado envolvidos no fato também foram utilizadas.
“Ela vivia uma vida de princesa”. A escolha da produção foi brincar e problematizar com essa fala que era corriqueira da acusação, do delegado, de amigos e familiares de Marcos. O que faria uma mulher que aparentemente tem uma vida perfeita matar e esquartejar o marido? Por meio deste questionamento, a minissérie vai trazendo as falas dos personagens envolvidos com o caso para discutir temas como: midiatização de casos criminais, julgamento moral e criminal por parte da imprensa, machismo, misoginia judicial e violência contra a mulher.
A minissérie documental não pretende refazer o julgamento de Elize, mas trazer certas nuances sobre o crime de modo que o telespectador possa se questionar acerca de algumas questões sociais e morais. Entretanto, a produção peca na escolha de alguns caminhos narrativos, como a caricatura de alguns envolvidos, a tentativa de justificação dos atos de Elize e mesmo o tom cômico com que algumas questões são abordadas, não havendo a seriedade necessária ao tratamento deste caso como exigem tais produções. – Ma Ferreira
Loki (1ª temporada, Disney+)
É claro que a Marvel não ia perder a oportunidade de dar uma série para o vilão mais amado e charmoso do Universo Cinematográfico. Mesmo assim, trazer de volta o Loki assassino e conquistador de Vingadores depois de uma evolução visível ao longo de 13 anos de estúdio foi uma jogada que poderia ter dado muito certo ou muito errado. Felizmente, os que apostaram na última opção ainda não perceberam que, quando se trata de Tom Hiddleston, consegue-se abrir uma indústria de leite de pedra.
Logo no primeiro episódio, Loki pega toda a Saga do Infinito, corta em mil pedacinhos e manda diretamente para os lixões de Sakaar. Depois de assistirmos a morte de personagens queridos por conta daquelas malditas Joias do Infinito, é impossível conter o choque de ver montes delas sendo utilizados como peso de papel pela Autoridade de Variação Temporal. Finalmente, o Deus da Trapaça fica cara a cara com o maior poder do universo.
Acima de tudo isso, o glorioso propósito de Loki foi nos apresentar a ela: Sophia Di Martino. A química que atravessa o espaço-tempo entre Sylvie e Loki manteve unidos os alicerces da série da Disney+ e abriu um mundo (ou muitos) de possibilidades para o futuro pós-pandemia dos cinemas. Seja bem-vindo, multiverso. – Caroline Campos
Mestres do Universo: Salvando Eternia (Masters of the Universe: Revelation, 1ª Parte, Netflix)
Ele tem a força! A primeira parte da nova iteração de Mestres do Universo chegou na Netflix em julho e, apesar de modernizar a narrativa e dar o foco para as personagens femininas da franquia, ainda mantém toda a estranheza clássica dos anos 80 e os designs gloriosamente cafonas de seus personagens. Comandada por Kevin Smith, essa nova narrativa busca reinventar o que esperamos da franquia ao mesmo tempo que a homenageia e, graças às animações excepcionais do estúdio Powerhouse, ela consegue.
Embora tenha apenas cinco capítulos, a primeira parte da nova série estabelece maravilhosamente bem o seu universo e é extremamente convidativa para novos espectadores, apesar de não poupar referências aos seus antecessores. Escolhendo focar não na luta imortal de He-Man (Chris Wood) contra o maléfico Esqueleto (Mark Hamill), mas em sua parceira, Teela (Sarah Michelle Gellar) e sua relação com os outros personagens, Salvando Eternia evita as tentações comuns à reboots e remakes de repetir histórias que já foram contadas e, ao invés disso, traz novas e ousadas interpretações para seus personagens.
Com um capítulo final que se move talvez um pouco rápido demais para o seu próprio bem e atropela algumas das relações mais interessantes entre seus personagens, Mestres do Universo: Salvando Eternia termina com um gancho poderoso para sua segunda parte, ainda sem data marcada. Com um elenco estelar e uma direção moderna, os poderes de Grayskull nunca foram tão fortes. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Young Royals (1ª temporada, Netflix)
A Netflix não tem limites. Agora, ela inventou de juntar elementos de sua maior produção e seu maior sucesso de crítica com a sensação teen mais quente do momento. Imagina uma mistura de The Crown com Elite? Ela existe e atende por Young Royals. A produção sueca chegou na plataforma de streaming junto do jovem príncipe Wilhelm (Edvin Ryding), que é enviado para um colégio interno depois de deixar sua família real de cabelo em pé com episódios típicos de um adolescente em crise. Lá, ele conhece o apaixonante Simon (Omar Rudberg), e o resto é história.
A série de Rojda Sekersöz e Erika Calmeyer aborda os mais variados aspectos das vidas de seus personagens com muito ritmo e muito estilo. O acerto maior das diretoras, no entanto, é colocar adolescentes para viver seus adolescentes, pressuposto básico que parece ser demais para as produções juvenis tradicionais, que se preocupam mais em criar um ideal em torno de suas histórias do que de fato contemplar os que se propõem a retratar.
Assim, os jovens reais de Young Royals fazem com que seus arcos básicos sejam extremamente atraentes. As personagens vivem suas descobertas sexuais, encaram seus dilemas pessoais, lidam com suas questões emocionais e psicológicas e sentem os conflitos de classe em cada um dos seis episódios, com destaque para a atuação dos coadjuvantes Sara (Frida Argento) e August (Malte Gårdinger). A energia da juventude que falta no palácio da Rainha Elizabeth com o refino que falta nos causos de Las Encinas. Tem como dar errado? – Raquel Dutra
Good Girls (4° temporada, NBC)
Em sua quarta temporada, Good Girls entra na longa lista de séries descartadas pela NBC. A história de três mulheres que entram no mundo do crime começou divertida e viciante, mas decepcionou em seus episódios finais. Apesar de deixarem saudades, já estava na hora de dizermos adeus para as mamães mais delinquentes da televisão.
É uma pena, então, que a despedida tenha sido tão fraca. Com 16 episódios que não pareciam sair do lugar, a temporada final do seriado mal parecia ter uma narrativa definida. O que seria aceitável se, pelo menos, os atores dessem conta de anular esse problema. Mas com uma Beth (Christina Hendricks) mais egoísta do que nunca, ficou difícil de engolir. A protagonista conseguiu irritar não um ou dois, mas praticamente todos os outros personagens.
E Rio (Manny Montana), o badboy tão amado, perdeu um pouco de seu charme e poder. Em uma tentativa de humanizar mais o traficante, ele acabou se tornando um pouco sem graça. No meio dessa bagunça, o trio principal acaba por caminhar em diferentes sentidos, com uma finalização um tanto aberta para novas possibilidades, mas que vão existir apenas na imaginação dos telespectadores. – Mariana Chagas
Beastars (2ª temporada, Netflix)
Os animais antropomorfizados de Beastars estão de volta para fazer você se perguntar se não é realmente um furry. A segunda temporada da adaptação do mangá de Paru Itagaki volta com ainda mais dramas adolescentes e mistérios noir, junto com a animação em CGI característica do estúdio Orange. O aspecto 3D ajuda a capturar o escopo e os movimentos de seus personagens em lutas eletrizantes, assim como em cenas mais íntimas.
Enquanto o lobo Legoshi (Chikahiro Kobayashi) continua sua jornada para superar seus próprios instintos e tornar-se protetor dos herbívoros (e também poder passar tempo com sua namorada coelha), o veado Louis (Yuuki Ono) toma uma direção inesperada, tomando o controle de sua vida através de uma integração surpreendente com o mundo dos carnívoros. O anime continua adicionando diversos temas à sua narrativa, interpretando problemas humanos em uma sociedade animalesca em oposição inerente.
Alguns personagens secundários sofrem com o novo foco da série, especialmente os estudantes da escola Cherryton. Haru (Sayaka Senbongi) recebe poucos momentos para brilhar, e deixa saudades de sua narrativa na primeira temporada. É triste não ver tanto desses personagens, já que trabalho realizado com outros continua excepcional e, com a confirmação recente da produção de sua terceira temporada, Beastars termina seu segundo ano nos dando esperanças de que, apesar de difícil, um futuro melhor é possível. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Eu Nunca… (Never Have I Ever, 2ª temporada, Netflix)
Foi quase criminoso o tempo que tivemos que esperar para descobrir se Devi Vishwakumar iria escolher o fofo-porém-egocêntrico Ben Gross ou o lindo-porém-esnobe Paxton Hall-Yoshida. De cara, o primeiro episódio da segunda temporada de Eu Nunca… já acabou com as dúvidas e carimbou a decisão mais Devi possível: por que não namorar… os dois? E foi aí que os problemas começaram.
Para quem amou e odiou a protagonista interpretada por Maitreyi Ramakrishnan no ano anterior, a boa notícia é que ela continua nos oferecendo as mesmas doses cavalares de vergonha alheia enquanto despeja um carisma tão grande que é impossível não simpatizar com as loucuras de sua vida. Devi ainda não sabe lidar com seu temperamento e seu luto segue ditando cada decisão que toma, mas a personagem vai se tornando mais consciente e aberta à mudanças conforme os episódios seguem seu ritmo.
Pérola adolescente da Netflix, Eu Nunca… explora perfeitamente seu elenco repleto de diversidade e talento. Paxton finalmente deixa de ser apenas um sex-appeal e ganha um episódio sensível para chamar de seu, enquanto Eleanor e Fabíola embarcam em suas jornadas amorosas opostas, cada uma articulada para levantar uma nova discussão dentro do panorama da série criada por Mindy Kaling. Depois de mais dez episódios, a conclusão é clara – sem espaço para #TeamBen ou #TeamPaxton; por aqui, somos #TeamDevi. – Caroline Campos
High School Musical: A Série: O Musical (High School Musical: The Musical: The Series, 2ª temporada, Disney+)
Após o sucesso estrondoso de Olivia Rodrigo ao redor do globo, e o burburinho de indiretas musicais com seu ex-namorado Joshua Bassett, a segunda temporada de High School Musical: A Série: O Musical era mais do que aguardada. Além da ansiedade em continuar acompanhando a produção que trouxe o gostinho da nostalgia para toda uma geração de Wildcats, a trama também teve como gancho final o destino incerto do relacionamento entre Nini e Ricky, interpretados respectivamente pelo casal já mencionado. Mas o clima tenso foi capaz de casar perfeitamente com a narrativa prevista, resultando em uma relação desgastante e num exagero de drama adolescente que supera até mesmo o dueto de Troy (Zac Efron) e Gabriela (Vanessa Hudgens) em Gotta Go My Own Way.
Em paralelo ao romance em ruínas, o segundo ano da série segue o mesmo objetivo da realização de um musical, que se desvencilha completamente da proposta até então dependente da trilogia de filmes ambientada no colégio East High. Agora, o clube de teatro prepara uma adaptação de A Bela e a Fera, enquanto fornece um terreno propício para o desenvolvimento de narrativas de personagens secundários – e um milhão de vezes mais interessantes que o casal protagonista. Nisso, outros relacionamentos tomam os holofotes, como Carlos (Frankie A. Rodriguez) e Seb (Joe Serafini), que, mesmo na razoabilidade, manifestam uma importante discussão sobre suas identidades e a questão de serem o único casal gay da escola. Ashlyn (Julia Lester) forma uma dupla e tanto com Big Red (Larry Saperstein), recebendo a atenção que o seu talento merece e protagonizando uma importante narrativa sobre aceitação.
Mas quem rouba o devido destaque na temporada é Gina (Sofia Wylie). A trama faz mais do que obrigação ao não deixar a dançarina presa ao papel de vilã levantado no ano anterior, erro imperdoável cometido com a brilhante Sharpay Evans (Ashley Tisdale) na obra original. Assim, em meio à superação de um romance frustrado, ela desenvolve uma grande amizade com E. J. (Matt Cornett) e até com Nini, abandonando narrativas fáceis de disputa feminina. Mesmo com o ambiente bem preparado para essas outras histórias, High School Musical: A Série: O Musical deixa de explorar a trama principal da rivalidade com o colégio North High, ganhando um desfecho preguiçoso e que desmoraliza todo o trabalho realizado ao longo dos seus 12 episódios. Com poucas pontas soltas em seu encerramento, a despedida de Olivia Rodrigo é quase certa, em que sua personagem parece seguir seus passos da vida real e estar cada vez mais preparada para ganhar o mundo a fora com seu talento único. – Vitória Silva
Drag Race España (1ª temporada, ATRESplayer)
Ninguém aguenta mais Drag Race, mas a gente continua assistindo mesmo assim. O reality atual com a maior capacidade de se reinventar andou explorando novos países e novas línguas nos últimos anos, e chegou a vez da Espanha mostrar o que há de melhor (e pior) por lá. No lugar de RuPaul, conhecemos Supremme de Luxe, uma mistura de Silvetty Montilla e Adriane Galisteu, que se mostrou a melhor apresentadora substituta da franquia até agora. A exausta Michelle Visage virou Ana Locking, que ainda tem muito a aprender; e a dupla robótica purpurinada Ross e Carson deu lugar para o casal de Javiers, Calvo e Ambrossi, criadores da imperdível minissérie Veneno.
Não tem outra definição, Drag Race España é uma bagunça. Com uma energia direto dos programas brasileiros dos anos 90, a corrida das locas parecia produzida e editada no susto. A montagem era levemente caótica, e a edição final dos episódios não tentava esconder a equipe de primeira viagem no assunto Drag Race, seja na escolha da trilha sonora incomum ou nos cortes secos. Porém, para o espectador que conseguiu enxergar além dessas questões, vimos uma temporada estreante extremamente divertida e uma leva de queens memoráveis e talentosas. Aliás, diversão, essa, que parece cada vez mais podada na versão americana em prol da qualidade técnica, o que também se torna um problema.
Foi nessa bagunça que assistimos Pupi Poisson, uma palhaça de peruca, brilhar. Em primeiro momento, seus vestidos questionáveis fazem franzir a testa, mas sua personalidade compensa e nos lembra do lema original da arte drag: divertir quem assiste. E isso, Pupi faz com êxito. Inti serviu visuais impecáveis e discussões importantíssimas, que o programa deixou escapar de suas mãos quando não foi capaz de respeitar as referências culturais da queen quechua; Hugáceo Crujiente também foi incompreendida. Killer Queen lutou até o último segundo e conquistou sua posição no top 3, enquanto Sagittaria deslizou até o pódio repetindo sua estética copiada toda semana. Quem levou a melhor foi Carmen Farala, que agora senta no Olimpo de Drag Race como uma das melhores participantes (e vencedoras) da história do programa. – Jho Brunhara