A competição entre os streamings para conquistar o público no conforto de quatro paredes aumenta cada vez mais. Em 2022, não só assistimos às Melhores Séries, mas também o drama da perda bilionária da Netflix, a busca incessante pelo lucro com a introdução dos anúncios nas plataformas e a caminhada de ascensão da HBO até dentro das premiações. Talvez, no ano que vem, o Persona tenha que abarcar até os esportes que adentraram nesse mundo.
É nítido que a Netflix segue sendo a mandachuva: das 64 séries indicadas pela nossa Editoria, 25 pertencem à dona do tudum. Para além disso, a novela mexicana que a empresa vive após 200 mil assinantes pularem fora, e consequentemente as ações despencaram em 35%, nos alcançou. Se antes era divertido ver a vermelhinha fazer de tudo para que suas séries originais brigassem por prêmios, agora tivemos dor de cabeça ao descobrir a novidade polêmica e irritante de que o compartilhamento de conta na plataforma será cobrado.
Dentro desse cenário, vivemos um paradoxo: enquanto Wandinha, Heartstopper e Stranger Things foram as mais lembradas pelo Persona, mencionadas nove vezes cada uma, as melhores produções não são da nossa camarada Netflix. The Bear e Ruptura (Severance, em seu nome original) empataram na liderança dos rankings, ambas com três menções na primeira posição de melhor série do ano. Parece que estamos divididos ou que a competição das empresas tem resultado em produções mais esplêndidas?
A coletânea da nossa Editoria também está alinhada com as maiores premiações da Televisão, mesmo sem ter a intenção. Enquanto aguardamos a lista de indicados ao Emmy 2023, fazemos nossas especulações. Desbancando suas concorrentes em uma competição interna, a HBO Max também preencheu um grande espaço na nossa lista. Com o lançamento estrondoso de A Casa do Dragão, o spin-off de Game Of Thrones enfiou o dedo na ferida de sua produção materna e foi mencionado oito vezes por nossos colaboradores. Em seu cangote está a segunda temporada de The White Lotus, com a mesma quantidade de menções e ganhando em número de troféus do Globo de Ouro deste ano por 2 a 1 da novela da família Targaryen.
Vale ressaltar que outras grandes produções premiadas ou aclamadas pelas críticas também foram lembradas, seja a polêmica história de Dahmer: Um Canibal Americano, a comédia de Hacks ou o terror genial de Yellowjackets. No entanto, não é isso que prezamos. Enquanto estiver despejando sua curiosidade e tempo na leitura de nossas indicações de Melhores Séries de 2022, saiba que priorizamos nos aventurar. Você encontrará produções nacionais extremamente políticas, como Rota 66, irá se deparar com romances britânicos, dois volumes de Atlanta muito esperados, e mais. Essa espontaneidade de obras é essencialmente quem somos, uma diversidade em construção. Aproveite, até Pantanal entrou na dança!
1ª temporada de A Casa Do Dragão (House Of The Dragon)
É muito difícil uma pessoa pensar em spin-off e achar uma boa ideia, mas A Casa do Dragão já chegou com os dois pés no peito dos viúvos de Game of Thrones. A continuação do universo não só agrada como surpreende ao trazer uma história e uma produção superiores à série original, escolhendo minuciosamente apenas suas partes boas e transformando em uma obra completa e redonda. Dividida em duas partes por um intervalo temporal, aqui o destaque na atuação fica por conta da dupla dinâmica Emma D’Arcy, que interpreta Rhaenyra Targaryen mais velha com imensa maestria, e Olivia Cooke no papel de Alicent Hightower adulta.
Diferentemente de Game of Thrones, A Casa do Dragão tem um foco menos universal e mais aprofundado no desenvolvimento dos personagens. Não há um Rei da Noite para se preocupar, logo, há muito mais espaço para conflitos internos com um maior complexidade de sentimentos. A clássica divisão entre bom e ruim não existe, e sim indivíduos com ações e atitudes controversas que cabem ao telespectador julgar. Além deste ponto positivo, a série nos leva de volta a lugares já conhecidos, como a Pedra do Dragão e Porto Real, trazendo um lugar reconfortante e nostálgico para os fãs. – Arthur Caires
1ª temporada de A Lenda de Vox Machina (The Legend of Vox Machina)
Como uma carta de amor para os amantes de RPG, A Lenda de Vox Machina transfere toda a magia dos jogos de tabuleiro para as telas do Amazon Prime Video. Adaptando a websérie do Critical Role, a trama acompanha o grupo de guerrilheiros não convencionais em busca de reconhecimento do título de heróis pelo reino de Exandria e de dinheiro para uma “breja” no fim da tarde. Igualmente a outras produções que constam no catálogo do streaming – como Invencível e The Boys -, a animação também explora grandes clichês do audiovisual, satirizando com muito humor o modo que histórias medievais são construídas.
Em poucos minutos de projeção, o seriado consegue imergir o espectador em uma narrativa obscura e intrigante, que a cada final de episódio nos arrebata em uma fervorosa sensação de querer mais daquela trama. O arco de Percival em busca de vingança pelos assassinos e cúmplices da morte de sua família, é sem dúvidas um dos grandes atos de toda animação, abarcando impetuosos momentos de violência, que mesmo angustiantes, também guardam desse lado comovente da história do personagem. O enredo é envolvente do inicio ao fim, saindo das obviedades, A Lenda de Vox Machina é um retrato irrepreensível da apreensão e do entusiasmo disseminado durante uma partida de role playing game. – Ludmila Henrique
1ª temporada de A Lição (The Glory)
A obsessão pela vingança pode ser algo destrutivo para si e para outros a seu redor, mas quando não há nada a se perder, talvez seja o único meio para a felicidade. É o que a protagonista de A Lição, Moon Dong-eun, interpretada por Song Hye-Kyo, sente: que há apenas um modo justo, e é o seu. Poderíamos julgar mal a atitude e os pensamento da personagem, contudo sua busca pela justiça passa a ser nossa assim que conhecemos seu passado.
Não apenas isso, mas os fins que justificam seus meios são também as personalidades de seus alvos. Atos horrendos nos fazem entender o quão ruim um deles pode ser. Portanto, para Moon, a intenção é clara: se vingar dos agressores e assediadores que a fizeram perder o pouco de dignidade que tinha em sua juventude. A primeira temporada de A Lição nos mostra a ação e reação que algo ou alguém pode ter contra nós. Aqui se colhe o que se planta.
As vidas das personagens só tendem a ficar mais instáveis à medida que Dong-eun as adentra. A primeira temporada se encerra nesse turbilhão construído não só por Moon Dong-eun, mas também pelas ações de seus colegas. Esperemos pelo desenrolar em uma próxima temporada, e veremos se todo o castelo construído na primeira não desmoronará. – Izadora Azevedo Albertini
2ª temporada de A Vida Sexual das Universitárias (The Sex Lives of College Girls)
Drama adolescente não é nada de novo no mercado, porém A Vida Sexual Das Universitárias é uma ótima produção para assistir e não ter que pensar muito. Em sua primeira temporada, o caráter foi mais introdutório com uma história bem planejada. Já na segunda leva de episódios, o humor – sua principal qualidade – está bem mais elevado, mas com um enredo sem muito aprofundamento. A criação e o roteiro tem a assinatura de Mindy Kaling, nossa Kelly de The Office, que brilha na comédia e na construção de personagens fracassados e extremamente simpáticos.
Nesta temporada, ao passo que Kimberly (Pauline Chalamet) tem os holofotes desde o começo, Whitney (Alyah Chanelle Scott) é deixada de lado e fica limitada a pares românticos rasos. Dessa forma, sobra mais espaço para o desenvolvimento de Leighton (Reneé Rapp) e suas relações amorosas, e Bela (Amrit Kaur) com sua busca pelo reconhecimento de seus talentos na comédia. Além disso, embora a dinâmica imaculada entre as quatro garotas seja o brilho da série, isso se perde nos últimos episódios, junto com a profundidade da maioria do enredo. Apressados e superficiais, estes muitas vezes servem apenas como alívio cômico. – Arthur Caires
As Três Irmãs (Jag-eun Assideul)
Parte adaptação de Mulherzinhas, romance clássico de Louisa May Alcott, parte drama de suspense familiar, As Três Irmãs é uma série sul-coreana que já impressiona em sua apresentação. Em seu primeiro capítulo, somos introduzidos às complicadas vidas de In-joo (Kim Go-eun), In-kyung (Nam Ji-hyun) e In-hye (Park Ji-hu), três irmãs que, apesar de nascerem em uma família pobre, trabalharam para conquistar seu lugar no mundo. A vida delas muda quando uma delas acaba se envolvendo numa conspiração envolvendo a família mais poderosa do país — e uma quantia gigantesca de dinheiro.
Apesar de parecer estranho um livro de 1868 ser reinterpretado como um suspense criminal, fica logo claro que a série segue por seu próprio caminho, apresentando uma família bem longe do espírito caloroso de Alcott, dividida pela hierarquia social e econômica, mas que se mantém unida pelos sofrimentos que cada uma partilha. Com um mistério denso e complexo, a produção é elevada pelo texto rico e pelas performances estelares de suas atrizes, complementadas por uma estética elegante e voraz. — Gabriel Oliveira F. Arruda
2ª temporada de Alice in Borderland
Após uma primeira temporada eternizada pela violência e pelo mistério, Alice in Borderland retornou para traumatizar os fãs novamente, porém, para também surpreender com os últimos segundos de um desfecho antes tido como previsível pela existência do mangá de mesmo nome, responsável por originar a adaptação para a Televisão. No ano de 2022, a série da Netflix não poupou ninguém e tratou com fidelidade as sequências de ação.
Donos de uma química eletrizante, os protagonistas Ryōhei Arisu (Kento Yamazaki) e Yuzuha Usagi (Tao Tsuchiya) provaram que os seus destinos foram traçados juntos. Mas, se alguém dominou a arte de se expressar com o coração, este foi Shuntarō Chishiya (Nijirō Murakami) com a sua frieza calculista que o fez vencer o apelo emocional dos jogos e do enredo. Com o atraso nas gravações devido ao cenário de caos universal em 2020, Alice in Borderland fez valer a pena a espera. – Nathalia Tetzner
1ª temporada de All of Us Are Dead (지금 우리 학교는)
Nada de muito novo no universo zumbi. Um vírus voraz criado em laboratório, inúmeras perseguições e mordidas, sangue por toda parte, uma cidade rapidamente dominada pelos mortos-vivos, sobreviventes isolados tomando péssimas decisões e um governo incapaz de conter contágios, recorrendo apenas a bombardeios para exterminar as maiores hordas. A primeira temporada de All of Us Are Dead soube investir com inteligência nos clichês para atrair a atenção de um público vidrado em histórias apocalípticas, mesmo que isso trouxesse o risco de se criar uma narrativa monótona e consequentemente desinteressante.
É claro que a série de Lee Jae-Kyoo não ignora as tecnologias e os dilemas do mundo contemporâneo, mas a inovação deixa de ser regra em uma obra que sabe valorizar seus momentos de reviravolta e tensão. Cenas sem sentido, com sobrevivências improváveis, passam despercebidas por fazerem parte de uma atmosfera agonizante, que mostra o quão difícil seria enfrentar um apocalipse zumbi estando preso em ambientes escolares. Mas nem tudo está perdido para quem exige originalidade. Afinal, os seres híbridos – apresentados como meio humanos, meio zumbis – são a cereja do bolo de uma série que nos cativa pela falta de tranquilidade. – Eduardo Rota Hilário
1ª temporada de Andor
Andor, dirigida e roteirizada por Tony Gilroy e seu irmão Dan Gilroy, se trata de um Spin-off do filme Rogue One: Uma História Star Wars (2016). Na série, acompanhamos Cassian Andor (Diego Luna) em uma jornada para se tornar um guerreiro e espião da Aliança Rebelde, e assistimos a formação do grupo revolucionário e a escalada da opressão dentro do Império Galáctico.
Star Wars é, sem dúvidas, uma das franquias mais amadas do Cinema. Apesar de alguns produtos feitos pela gestão Disney da marca sofrerem críticas negativas, Andor vem em um bom momento, em que as infinitas possibilidades de histórias na “galáxia muito distante” vêm sendo melhor exploradas. De fato, o seriado se aprofunda tanto na vastidão de cenários como nas excentricidades de cada personagem.
O roteiro inova em trazer uma visão mais madura em relação aos filmes originais sobre o contexto político desse universo. Mostrar como figuras icônicas, como a líder da rebelião Mon Mothma (Genevieve O’Reilly), saíram de suas vidas cotidianas para se rebelar contra um sistema opressor enriquece a experiência com a franquia no geral e cria ligações quase íntimas entre telespectadores e personagens. – Guilherme Dias Siqueira
1ª temporada de Arquivo 81 (Archive 81)
As fitas VHS são hoje uma relíquia e um símbolo da cultura pop, sempre muito usadas em filmes, séries e jogos de terror como um recurso que se comunica com um passado não tão distante. As gravações são usadas como ferramenta documental, mas nunca se sabe o que realmente há na fita a menos que ela seja reproduzida. O medo nasce daí e Arquivo 81 questiona: o que há no passado é algo que o telespectador realmente quer assistir?
Dan, interpretado por Mamoudou Athie, não pode dizer não ao conteúdo das fitas: ele deve restaurá-las por 100 mil dólares. Para isso, o personagem é enviado a um complexo afastado, uma gigantesca casa onde passará os dias sozinho até sua última passagem. Nas filmagens, Melody (Dina Shihabi), uma jovem que morreu em 1994 durante sua estadia no hotel Vissel, aparece. Ela e Dan não pretendiam nada, mas encontraram um mistério de um culto satânico interligados através das gravações.
A narrativa da primeira temporada é crescente, resultado de um mistério perturbador que os aflige. O passado parece distante, mas fica cada vez mais próximo e ameaçador. Já o presente não é melhor, e sim apenas uma cerca que delimita nossas ações. Arquivo 81 explora muito bem essa proposta, contudo, infelizmente, foi cancelada. – Izadora Azevedo Albertini
3ª temporada de Atlanta
A fase mais movimentada para Atlanta também foi a mais arrefecida desde 2016. Os quatro longos anos de hiato entre a segunda e terceira temporada afetaram tanto sua entrega – seja por questão de demanda ou distribuição, a série sequer foi transmitida no Brasil – quanto sua recepção, que dividiu a crítica e o público como nunca antes. Em um cenário tão turbulento para a produção, Donald Glover e sua equipe deram um passo maior do que as pernas, ao passo que é precisamente isso que faz do ano três de Atlanta o mais provocativo até então.
Nos afastamos não só do território comum da série, como também da própria noção de lógica como conceito tangível. Não havia forma mais certeira de suplantar as ansiedades de nossos protagonistas do que dando um passo para trás e observando o plano maior. Através de uma formação narrativa fabulosa, somos induzidos a desconstruir cada um dos temas que atravessam Atlanta, para que, então, possamos reconstruí-los em uma perspectiva renovada. Se esse é o resultado artístico de uma obra que rejeita a opinião pública, é disso que a televisão definitivamente precisa. – Enrico Souto
4ª temporada de Atlanta
Para quem precisou esperar tanto pelo retorno, o desfecho chegou mais rápido que o esperado. Dois meses depois do fim de sua terceira leva, a quarta e última fase de Atlanta foi anunciada já para setembro de 2022. E, ainda que produzidas simultaneamente, ambas apresentaram uma diferença decisiva. Se a temporada três culmina os aspectos de seu afrossurrealismo, gerando uma experiência fora de toda e qualquer noção de concreto que pudéssemos antecipar, a temporada quatro volta à capital da Geórgia, nos EUA, e encerra o arco de seus protagonistas em seu momento mais sóbrio.
Seja mergulhando nos traumas mais profundos da vida de Earn (Donald Glover), dissecando a dicotomia inerente ao relacionamento do protagonista e Van (Zazie Beetz), ou aprofundando-se na busca intuitiva de Alfred (Brian Tyree Henry) em se isolar, a safra final de Atlanta se despe da sua comédia sagaz, suspense sutil ou de qualquer outro filtro para conceder caminho livre aos personagens, que finalmente podem preencher a tela em sua forma mais guarnecida. O que não os impede, é claro, de extrapolar todas as estribeiras no último episódio. Realidade ou fantasia, acompanhar a obra-prima de Glover foi um sonho. – Enrico Souto
6ª temporada de Better Call Saul
Vince Gilligan tinha um desafio em suas mãos: amarrar todo o universo de Breaking Bad na última temporada de seu prequel, Better Call Saul. O spin-off acompanha a trajetória de Jimmy McGill, ou, para quem já o conhecia de outros carnavais, Saul Goodman (Bob Odenkirk), um advogado ‘porta de cadeia’ que dedicava sua carreira a defender criminosos, até chegar no trabalho da sua vida – Walter White.
As seis temporadas da série dão ao telespectador a oportunidade de conhecer um pouco mais dos personagens que integram o universo do tráfico em Albuquerque, e, na season finale, a linha temporal ultrapassa os acontecimentos de sua antecessora e mostra a vida de McGill após os efeitos de Heisenberg. Dar um desfecho legítimo para um dos personagens mais importantes da trama não era uma tarefa fácil, mas pode-se dizer que o objetivo foi atingido com excelência. Os riscos que Gilligan assumiu ao criar o spin-off foram enormes; ele podia estragar um dos universos cinematográficos mais promissores já imaginados, ou desenvolvê-lo mais ainda. Foi o que aconteceu. – Amábile Zioli
2ª temporada de Bridgerton
A água já está fervendo, e dentro da xícara tem fofocas, música clássica e muita paixão: é hora do chá da tarde na casa dos Bridgertons. A série da Netflix ganhou sua segunda temporada, que conta a história de Anthony Bridgerton (Jonathan Bailey) e Kate Sharma (Simone Ashley). Durante os oito episódios, os dois têm encontros, desencontros, irritações e discussões, e vão lentamente se aproximando e se apaixonando. Porém, o casal possui um problema: a mão de Edwina Sharma (Charithra Chandran), irmã de Kate, já está prometida a Anthony, e assim, a dupla não pode agir de acordo com seus sentimentos.
Enquanto isso, na segunda temporada de Bridgerton, Eloise Bridgerton (Claudia Jessie) e a Rainha Carlota (Golda Rosheuvel), fazem uma aliança, e tentam descobrir a verdadeira identidade de Lady Whistledown (Julie Andrews, voz), responsável pelos panfletos que contam boatos, rumores e fofocas sobre a alta-sociedade de britânica. Em aventuras e peripécias, Eloise acaba encontrando várias pistas, chegando cada vez mais perto da pessoa por trás de Whistledown; e, ao mesmo tempo, acaba conhecendo Theo (Calam Lynch), e entende um pouco sobre paixão. – Laura Hirata Vale
2ª temporada de Bom dia, Verônica
É estranho se orgulhar de uma produção como Bom dia, Verônica dada sua narrativa avassaladora. Ainda que tenha e nutra suas raízes na investigação policial, a série mostra cada vez mais que suas garrinhas arranham muito mais. As cenas de ação policial ficaram na primeira temporada, e a sequência ganhou uma seara religiosa e política à la João de Deus, criando uma exímia progressão narrativa. O aprofundamento do enredo não só foi inteligente, mas também necessário, pois – spoiler alert – cada irmão tem seu próprio modus operandi. É como se a série ficasse cada vez mais real e brasileira, adentrando na complexidade social que permeia a violência contra a mulher no país.
Quando se acredita que há alguma ponta solta, as amarras são feitas e a história mostra que, sim, você precisa disso agora para entender onde iremos chegar. Há, ainda, um precioso caráter dualista na criação de Raphael Montes e Ilana Casoy: o enredo se renova para mostrar que as questões são as mesmas em essência. A introdução do novo psicopata Matias (Reynaldo Gianecchini), sua filha Angela (Klara Castanho) e a permanência da incansável Verônica Torres (Tainá Müller) acrescentou dinamismo à coisa toda. São novos personagens dentro de uma faceta diferente da sociedade brasileira, mas não por acaso, o mesmo perigo mortal que espreita à porta de todas nós. E deixem às espectadoras o roer de unhas, a se questionar se há lugar no mundo em que estejamos minimamente livres. – Nathália Mendes
1ª temporada de Candy
Como já vimos em Don’t Worry, Darling, todo subúrbio americano possui segredos. Camuflados atrás de jardins impecáveis, piscinas largas e garagens com o carro do ano, a pequena cidade de Wylie, no Texas, era exatamente o conceito palpável do american dream – até todos descobrirem o que Candy Montgomery (Jessica Biel) fez. A série do Star+, em uma narrativa intrigante, abre as cortinas para assistirmos horrorizados o ruir das aparências e o terrível assassinato de Betty Gore (Melanie Lynskey).
Baseada em fatos reais e seguindo o fluxo do true crime que inundou 2022, Candy é digna de maratona. A delicada construção do suspense, a impecável ambientação na década de 80 e a incrível atuação de Jessica e Melanie nos prende do começo ao fim. Entre levar e trazer as crianças da escola, a natação, preparar o jantar, as reuniões da igreja e o vôlei, Candance Lynn Montgomery arrumou um espaço na agenda para ser responsável por um dos assassinatos mais cruéis do Texas. O que fica, além da triste memória de um crime horrendo, é que no fundo, nada é realmente tão doce como aparenta ser. – Clara Sganzerla
1ª temporada de Cavaleiro da Lua (Moon Knight)
Diferentemente de She-Hulk e Ms. Marvel, Cavaleiro da Lua aproxima-se do lado mais sério da Marvel, em que o protagonista (ou os protagonistas) possuem defeitos condizentes com a vida real. O fato do personagem ser um herói com transtorno dissociativo de identidade, desordem em que o sujeito possui várias personalidades dentro de uma mesma pessoa, intriga o espectador a acompanhá-los e diferenciá-los a cada momento da série.
A representação da cultura egípcia em Cavaleiro da Lua não tem os estereótipos hollywoodianos de filtro amarelo ou uma ambientação caótica. M, muito disso se deve ao diretor Mohamed Diab e a escolha de um elenco apropriado para os papéis da etnia, assim como um cuidado com as referências às tradições da civilização egípcia e deuses do Egito Antigo.
A das adaptações que ocorreram dos quadrinhos para a obra audiovisual, os elementos não prejudicaram o andamento dos episódios. Além disso, a minissérie afasta os problemas do personagem principal de Nova York, a cidade em que tudo acontece dentro do universo Marvel, foge da fórmula do estúdio e apresenta histórias não ligadas constantemente ao roteiro batido diversas vezes em outras produções. – Júlia Aguiar
Dahmer: Um Canibal Americano (Monster)
O sucesso do gênero true crime pela Netflix não é algo que surgiu recentemente, como vimos em produções como Mindhunter. Porém, Dahmer: Um Canibal Americano ultrapassa os limites do grotesco. A série, ao mesmo tempo que aborda a crueldade do assassino em série, também mostra como o sistema penitenciário estadunidense possui muitas falhas e que deixa os criminosos impunes, principalmente para pessoas brancas, como é o caso de Jeffrey Dahmer.
A atuação de Evan Peters (e também sua coragem para interpretar o psicopata) foi um dos aspectos que mais chamou a atenção do público e o rendeu o Globo de Ouro de Melhor Ator, fazendo ele até mesmo dar um tempo nos papéis maldosos após as críticas. Além disso, algumas adaptações do seriado diferenciam-se dos fatos que ocorreram na realidade e que, embora dramatizem mais do que as ocorrências que realmente aconteceram, também fazem nos aproximarmos das vítimas, aumentando a empatia.
Porém, nem toda a representação do produto deve ser elogiada. As polêmicas levantadas acerca de Dahmer: Um Canibal Americano sempre percorrerão o audiovisual. Este enfrenta o desafio de fazer produzir um true crime, pois os sujeitos que presenciaram a trama estão sendo, de certa forma, traumatizados novamente. Assim, apesar do produto ser cuidadoso com alguns elementos, peca em outros. – Júlia Aguiar
4ª temporada de Game Changer
“O único game show em que o game muda em todo show!” O conceito enfeitiçante da série do Dropout, serviço de streaming do canal CollegeHumor, não perde o seu encanto mesmo quatro temporadas mais tarde. De fato, parece que ele só fica mais forte: marcando o que talvez seja o conjunto mais forte de episódios da produção até então, o quarto ano de Game Changer, apresentado por Sam Reich, é marcado pela volta de velhos favoritos do programa, como Brennan Lee Mulligan, Ally Beardsley e Grant O’Brien, além de introduzir outros nomes recorrentes em outros seriados da plataforma.
O segredo para a diversão de Game Changer é muito simples: embora o conceito do jogo mude em todo episódio (apesar de algumas continuações terem se tornado frequentes – e até mesmo inspirado spin-offs), a graça está em conhecer os seus participantes e antecipar o que o cenário da vez vai tirar deles. Colocar três pessoas para bolar cantadas românticas por 30 minutos talvez ficasse cansativo se elas não fossem Jess Ross, Grant O’Brien e Mike Trapp. Rever os jogos acaba se tornando um prazer próprio, depois que a surpresa do primeiro contato se vai, ficamos ainda mais focados nas reações dos participantes e envolvidos na sua competição.
Terminando com uma paródia de Survivor dividida em duas partes, algumas das melhores ideias dessa temporada são: um musical improvisado pelos participantes; um “simples” jogo de “O mestre mandou”; a conclusão da saga de improvisos sonoros dos Noise Boys e, é claro, um jogo em que é proibido chorar — e que é impossível ver sem chorar. Se você tem oito reais sobrando na sua renda, é imperativo que você assine o CollegeHumor pelo YouTube, reserve uma tarde descomplicada, e passe algumas gloriosas horas gargalhando com as novas loucuras desse game show tão especial. — Gabriel Oliveira F. Arruda
2ª temporada de Hacks
Poucas pessoas dominam tão bem a atuação e fluem naturalmente entre camadas e variações de personagens como Jean Smart. A loira multivencedora de importantes prêmios da indústria sabe – como ninguém – deixar sua assinatura na Arte, entregando uma persona completa, convincente e ímpar. A coroa da atriz se dá em Hacks, produção original HBO Max, na qualonde ela interpreta a complexa Deborah Vance, uma comediante veterana de Las Vegas que está flertando com o ostracismo por suas piadas ultrapassadas.
Após uma bem-sucedida primeira temporada, Hacks volta em seu segundo ano ainda mais segura da pérola que possui em mãos. Amenizando as ferozes críticas à indústria hollywoodiana, a produção de 2022 resolve focar mais no íntimo de sua estrela Deborah Vance. A autoconfiança dos diretores e roteiristas em usar tudo aquilo que já vinha sendo timidamente construído na temporada anterior como combustível é potencializado em episódios de road trip, que escancaram todo o humor inteligente da série. O marcante sabor agridoce presente nos oito episódios dessa temporada provam que Jean Smart é o maior ser humano vivo. – Ana Júlia Trevisan
1ª temporada de Heartbreak High: Onde Tudo Acontece (Heartbreak High)
Fôlego. Isso é tudo o que Heartbreak High soube devolver aos calejados assinantes da Netflix e carregar durante sua recheada leva de estreia. O reboot da série australiana de mesmo nome, que fez sua história nos anos 90, já nasceu viralizando no TikTok e renovando o compromisso de alimentar barulho, inclusão e sagacidade. Não à toa, o evento catalisador dos oito episódios é a escandalosa descoberta de um “mapa sexual” desenhado nas paredes de Hartley High, esqueleto que compila as relações mais íntimas e peculiares desenvolvidas entre seus alunos.
A tônica do sexo permanece forte ao longo da temporada, com a inserção de debates que vão do consentimento ao afeto, mas nunca vira máxima em um mundo conduzido pela identidade de seus ótimos personagens. Nesse quesito, a diversidade – teórica e prática – crava o primor da produção, que não pisa no freio nem cai no maniqueísmo falando sobre família, sexualidade, depressão, neurodiversidade, questões étnicas ou qualquer outro dilema que ultrapassa à adolescência. Polvilhando carisma até na dor, Heartbreak High se conhece o bastante para continuar alavancando suas muitas potências. – Vitória Vulcano
1ª temporada de Heartstopper
Ao pensar em um romance LGBTQIAP+ é comum vir à mente narrativas trágicas, como Carol e O Segredo de Brokeback Mountain. Com toda a certeza, a primeira temporada de Heartstopper quebra o estereótipo e entrega a comédia romântica clichê que a comunidade tem direito. A série é uma adaptação da graphic novel homônima de Alice Oseman e, dado que nem sempre as adaptações da Netflix são bem quistas pelo público, dessa vez foi um acerto de mão cheia. A parceria de Osman com o diretor Euros Lyn conduziu os oito episódios com todo o cuidado necessários para contar a história de amor e amizade entre Charlie (Joe Locke) e Nick (Kit Connor). Além de Locke e Connor, que foram as escolhas perfeitas para os papéis dos protagonistas, o elenco conta com o rosto já renomado de Olivia Colman, cuja personagem emociona a todos na sua relação com o filho, Nick.
Como o próprio nome sugere, Heartstopper é sobre aquele friozinho na barriga, aquela paixão que arrebata as tais borboletas no estômago. É exatamente assim que o espectador se sente ao maratonar a série. O bullying é, sim, um tema abordado, mas não rouba o foco principal: a descoberta sobre quem se é, a importância de estar cercado de boas amizades e de pessoas amorosas no processo. O visual da produção acompanha super bem a temática, com cenas coloridas e efeitos gráficos que remetem às HQs. A série não foi apenas selecionada para a lista das Melhores do Ano, mas também saiu vitoriosa do Children’s and Family Emmy Awards de 2022, com os prêmios de melhores atuações, roteiro e série adolescente. A segunda temporada de Heartstopper já está confirmada e chega em 2023 no streaming. – Costanza Guerriero
3ª temporada de High School Musical: A Série: O Musical (High School Musical: The Musical: The Series
Na terceira temporada de High School Musical: A Série: O Musical, os estudantes do East High abandonam as quadras de basquete e finalmente estão livres para desfrutar das férias de verão. Após um inverno memorável, os alunos do clube de teatro deixam de ser Wildcats, para se tornarem campistas no acampamento Shallow Lake, transferindo todos os holofotes para uma nova adaptação nos palcos, Frozen: Uma Aventura Congelante. Embora a série tente desvincular seu script da obra original, nada é mais High School Musical do que a ilustre participação de Corbin Bleu no elenco. O ator que interpretou Chad Danforth na célebre trilogia dos filmes, é uma das grandes surpresas da temporada.
Após o sucesso do álbum Sour, Olivia Rodrigo se despede do papel de Nini com muito carinho e com poucas aparições, praticamente como convidada na série teen. Apesar do clima de adeus, a vaga de protagonista ficou nas mãos de Sofia Wylie, atriz que interpreta Gina Porter. Deixando completamente o papel de antagonista, Gina é o grande destaque da temporada, não apenas no papel principal nos palcos do acampamento, mas também como interesse amoroso de E.J Caswell (Matt Cornett) e Ricky Bowen (Joshua Bassett), completando novamente o clichê dos triângulos amorosos da Disney. A renovação da série comprova que a trama está longe de ter um fim, presenteando novamente os telespectadores com muito romance, música e reviravoltas. – Ludmila Henrique
2ª temporada de Hunters
Hunters é tudo o que pode, mas nem perto de tudo que se propôs. Apesar de pontuar em tantos erros críticos, sua evolução em relação à primeira temporada é inegável. Mais profunda, desenvolvida, dramática e calorosa, seu segundo ato hipnotiza ao acertar o tom e a força de vontade com que seus protagonistas caçam nazistas.
Com a mais que ilustre presença de Al Pacino, indicado ao Globo de Ouro pela atuação no primeiro ano de Hunters, segue impressionando ao atuar em uma obra que impressiona ao fechar todas as portas que abriu. A série satisfaz= com seu encerramento e ao mesmo tempo deixa uma vontade insaciável de justiça inalcançável que enfrentamos na realidade, além da produção oferecer uma fotografia, roteiro e atuações ilustres. – Henrique Marinhos
Irma Vep
O grande feito indie do diretor Olivier Assayas, que marcou o fim da década de 90 com seu retrato de um set de filmagem de um remake do clássico seriado francês de mistério Les Vampires, de Louis Feillaude, ganha mais uma camada de repetição. Pela produção do estúdio A24, a versão geração Z de Irma Vep emula o original na maneira em que, novamente, destrincha as tensões entre atores, diretores e assistentes na refilmagem, em uma série, da narrativa de Feillaude. Em diálogos deliciosamente bem construídos, a nova versão tem seu diferencial ao reconhecer as complexidades do fazer artístico na lógica dos blockbusters, além de trazer a própria história do diretor em relação a separação com a grandiosa atriz Maggie Cheung, que é protagonista e interpreta a si mesma na primeira versão da trama.
Se na versão dos anos 90 a sequência de Cheung correndo em corredores escuros ao som de Sonic Youth conseguiu captar perfeitamente a essência daqueles tempos, o remake, com suas personagens blasé leitoras de Gilles Deleuze e flertes em redes sociais e mensagens de texto, também cumpre esse objetivo. Tanto que, se as inquietações que antes assolavam a equipe eram apenas nuances, capazes de serem captadas pelas falas de atores que conversavam casualmente durante a filmagem e em festas depois da gravação, agora os oito episódios exaltam esses conflitos.
Desde a sexualidade da atriz interpretada por Alicia Vikander até os dilemas estéticos e psicológicos atravessados pelo diretor René Vidal (Vincent Macaigne) — um personagem quase autobiográfico de Assayas — adicionam complexidade e conseguem, pela fluidez de tudo, prender o espectador a uma série sem grandes reviravoltas ou cliffhangers. Em Irma Vep, são muitos os espectros que atormentam o universo do diretor a cada plano, mas nenhum mais evidente que seu casamento mal sucedido com a atriz Maggie Cheung e sua obsessão por um exercício de seus atores verdadeiro às interações humanas e à magia do Cinema. – Enzo Caramori
2ª temporada de Irmandade
Todos nós amamos Seu Jorge, mas finalmente o protagonismo feminino ganhou uma força indescritível em Irmandade. Mesmo que Cristina (Naruna Costa) fosse um fio condutor consistente na temporada de estreia da série, a sequência explora a presença de mulheres dentro de facções, as comandando. De forma bem amarrada, o enredo se reparte: dentro do presídio, o personagem do cantor, Edson, se envolve com os mandachuvas do crime no Brasil, aqueles nos mais altos níveis de poder e controle estatal no país, enquanto duas mulheres estão do lado de fora, exemplificando de forma belíssima a fragilidade de parcerias diante da possibilidade irresistível de liderar.
Deixamos para trás o cenário de Carandiru e a rebelião na prisão, e, conforme a trama se desenvolve, tudo é mais intenso, sem haver espaço para respiro. Violência, paixão, poder, tudo está em modo progressivo. Essa imersão na realidade sufocante é uma das artimanhas mais inteligentes da série de Pedro Morelli, que solta pelo caminho da narrativa as consequências de viver nesse limite insuportável. Seja com a história paralela do homossexual Faísca (William Costa) dentro da facção inimiga ou nas desconfianças corretas de Darlene (Hermila Guedes), as ações dos personagens da série sempre retornam para os assombrar. – Nathália Mendes
4ª temporada de Irmão do Jorel
Em 2022, o cotidiano brasileiro desenhado por Irmão do Jorel alcançou novas ondas de nostalgia e diversão com o término de sua quarta temporada. Com cores ainda mais saturadas e cenários que parecem ter saído de um sonho maluco, o seriado continuou a propagar o seu legado entre o público infantil e a expandir o apego dos adultos com os elementos que moldaram as personalidades das crianças de décadas anteriores.
A produção conjunta entre Cartoon Network, TV Quase e Copa Studio abraçou de vez o streaming com a ida para a plataforma da HBO Max, na qual novos episódios foram lançados com exclusividade. Fato é que o futuro de O Irmão do Jorel é tão próspero quanto o seu passado e, ainda que os anos passem, o menino de cabelos enrolados e galochas amarelas mantém a voz que denota a sua ingenuidade encantadora. – Nathalia Tetzner
2ª temporada de Manhãs de Setembro
A expressão é absoluta e, em Manhãs de Setembro, Liniker é a prova disso. Comprometida nesse exercício de borrar os limites entre a expressão da Música e do exercício dramático em um elenco que conta com nomes como como Mart’nália, Seu Jorge e Ney Matogrosso, a segunda temporada da série expande a complexidade das relações e interioridades de Cassandra, uma mulher trans que se depara com seu passado na forma da volta de seu filho. Em um desenvolvimento extremamente coeso aos pontos soltos da primeira temporada, o roteiro expande seu universo de personagens, espaços e cenários, ao mesmo tempo que se intensifica o tensionamento de Cassandra consigo mesma.
Se o primeiro ano se ocupava em introduzir as complexidades da personagem de Liniker, seu o filho e Leide, interpretada pela eletrizante Karina Telles, sua sequência já aproveita do terreno estabelecido dessas histórias para colocá-las frente a novos contextos, sendo o principal o passado da protagonista. Manhãs de Setembro aprende, em sua própria trama, a ser forte, sensível, dramática e leve, numa complexa simultaneidade dada por seus diálogos verossímeis que captam o poder máximo da expressão: tocar o outro. – Enzo Caramori
1ª temporada de Ms. Marvel
A quarta fase do Universo Cinematográfico Marvel foi marcada pelo lançamento de diversas séries em streaming. Uma delas é a jovial Ms. Marvel, que conta a história de Kamala Khan (Iman Vellani), uma adolescente de família paquistanesa, que adquire – sem querer – superpoderes. Durante os episódios, vemos diversos conflitos que a protagonista possui: desde os embates com sua mãe; a questionamentos do Islam, sua religião, até suas tentativas de balancear a vida de garota pakistani de 16 anos, da cidade de Nova Jersey, com a vida de super-heroína cheia de poderes.
A série é sinônimo de representatividade: boa parte do elenco é composto por atores e atrizes de ascendência paquistanesa. Além disso, alguns capítulos mostram, de forma tocante, o que aconteceu durante a divisão da Índia e do Paquistão, após o fim do Império Britânico. Kamala também serviu como símbolo de representação feminina na TV; o jeito que ela é retratada, como uma garota que ama super-heróis, quadrinhos e desenhos, faz com que essas coisas sejam normalizadas, e mostra que a cultura geek é para todos, e não para somente uma pequena parte da população. – Laura Hirata Vale
1ª temporada de Mulher-Hulk: Defensora de Heróis (She-Hulk: Attorney at Law)
Antes de qualquer coisa, vamos falar sobre o elefante na sala. Os efeitos especiais de Mulher-Hulk: Defensora de Heróis e, em especial, a modelagem da protagonista, não são bons. Porém, essa está longe de ser uma exclusividade da série. Outros lançamentos da Marvel Studios, como Viúva Negra, Cavaleiro da Lua e Ms. Marvel, sofrem do mesmo problema. No final, essa é uma questão estrutural do MCU e de uma lógica de produção capitalista que anda na corda bamba do colapso. E é curioso que tenha sido esse o debate central justamente sobre uma obra que toca em feridas tão específicas. Porque, a despeito do CGI, o texto de She-Hulk, com perdão ao trocadilho, é incrível.
A trajetória de Jessica Walter (Tatiana Maslany), centrada no esforço de conciliar a vida pessoal com seus novos poderes, é típica de todo super-herói. Entretanto, ela não só é apresentada pelo olhar único de uma comédia de trabalho, como também sob um tratamento de personagem atencioso, que compreende as inquietações da protagonista, sua posição em um corpo social predominantemente masculino, e tece um comentário metalinguístico – para além das já perspicazes quebras da quarta parede – sobre a recepção da própria série por seu público misógino. Sem medo de incomodar pelos motivos certos, She-Hulk é a melhor série da Marvel até aqui. – Enrico Souto
3ª temporada de Mythic Quest
Apesar de não se reinventar no seu terceiro ano, Mythic Quest continua produzindo personagens cativantes em sua ruindade, apresentando conflitos que passeiam alegremente entre risadas e lágrimas nessa encantadora sitcom sobre uma desenvolvedora de jogos e sua equipe problemática. Após Poppy (Charlotte Nicdao) e Ian (Rob McElhenney) deixarem a MQ no final da temporada anterior, os dois são obrigados a redefinir sua parceria para abrir o próprio estúdio, enquanto seus antigos colegas são colocados em novas posições e têm de arcar com crescentes responsabilidades.
A vibrante Nicdao é a que mais brilha na nova leva de episódios, expandindo a já querida Poppy para direções que, mesmo previsíveis, seguem firmes e determinam o curso da temporada. Sua dinâmica com o personagem de McElhenney só cresce e se diversifica, atingindo seu ápice no devastador oitavo capítulo, intitulado “To Catch a Mouse”, dirigido por Ashly Burch, que complementa sua participação no elenco da produção e é outro dos destaques da temporada. As sátiras da indústria do videogame são sagazes, capitalizando em tendências modernas como NFTs, criptomoedas e adaptações para o cinema, mas sem nunca perder o charme ou o bom humor. — Gabriel Oliveira F. Arruda
1ª temporada de Naomi
Adaptada da história em quadrinhos de mesmo nome, Naomi chegou com uma proposta diferente da explorada em sua versão original. Focada em um público jovem, a série é um conto de origem sobre a jovem Naomi McDuffie (Kaci Walfall), uma fã obcecada pelo Super Homem. Após um episódio envolvendo o herói, até então ficcional, acontecer em sua cidade, as coisas começam a tomar um rumo estranho e é introduzido o jogo de perguntas e respostas.
Apesar de parecer uma fórmula comum no universo dos heróis, a produção de Ava DuVernay foge da versão heróica da protagonista. Powerhouse não é o arco que importa, mas sim os elementos normais que compõem a personalidade, insegurança e afirmação social da adolescente. Entre os muitos temas abordados, a série traz o racismo, a adoção e a influência da instabilidade vivida por ela como tópicos importantes. Longe de grandes cenas de ação, Naomi nos mostra as faces íntimas de núcleos menos conhecidos da DC Comics. – Jamily Rigonatto
1ª temporada de O Clube da Meia-noite (The Midnight Club)
Um mistério leve e que vale a pena assistir pouco a pouco é o que define O Clube da Meia-noite. Apesar das questões das personagens serem bastante sérias – todos estão em uma instituição onde jovens com câncer vão para morrer com dignidade – toda a abordagem é feita de modo a acompanhar um fator principal, além da doença: a própria juventude.
A jovialidade implica em alguns sendo esperançosos, outros radicais e alguns alienados. Porém, todos andam numa constante metamorfose, e nos fazem desejar ter tanta perseverança quanto eles em suas batalhas. O mistério que envolve a primeira temporada de O Clube da Meia-noite está envolto na possibilidade de se livrar do câncer através de um antigo ritual. Será que alguém poderia mesmo ter tido sucesso? Ou será que tudo não passa de imaginação? A série brinca conosco até o último segundo. – Izadora Azevedo Albertini
O Gabinete de Curiosidades de Guillermo del Toro (Guillermo del Toro’s Cabinet of Curiosities)
Em um 2022 levemente distante das salas de cinema, a mente de Guillermo del Toro manteve a compostura e confeccionou dois trabalhos impressionantes, lançados exclusivamente na Netflix. Antes de emocionar multidões com sua versão irretocável e indicada ao Oscar de Pinóquio, o cineasta testou enredos em um universo aterrorizante e magnífico, acolhendo a monstruosidade que, segundo ele, “permite e abraça a possibilidade de errar e viver”. Nessa onda, criaturas noturnas e mistérios surgem como metáforas que acenam às catástrofes do caráter humano, em um Gabinete de Curiosidades que homenageia dos giallos a H.P. Lovecraft.
A antologia compila oito histórias distintas, todas filtradas e supervisionadas pelo próprio mexicano. Tendo um novo diretor a cada episódio, o foco narrativo se estabelece na criação de experimentações abrangentes e imersivas, como o Terror tem que ser. Tão notável quanto o arrojado design de produção, que transita entre as pretensões de bizarrice e a pura brutalidade, são algumas feições estampadas nele: F. Murray Abraham (Scarface), Glynn Turman (Gremlins) e Sofia Boutella (Climax), além de Ben Barnes e Rupert Grint, das sagas As Crônicas de Nárnia e Harry Potter, respectivamente. Esse é um banquete de arregalar os olhos que só poderia ser preparado por del Toro, amigo íntimo e fiel do gênero sangrento. – Vitória Vulcano
4ª temporada de O Príncipe Dragão (The Dragon Prince)
A quarta temporada de O Príncipe Dragão continua a história de Callum, Rayla, Ezran e seus amigos em sua luta para restaurar a paz entre os humanos e elfos em Xadia. A temporada aprofunda os conflitos entre raças, além de apresentar novos personagens, como Nyx e Aaravos, em sua trama principal como antagonistas, trazendo cenas emocionantes de batalha e belas paisagens de fantasia.
Apesar de alguns episódios serem menos empolgantes, a produção continua mantendo o padrão de alta qualidade estabelecido, sendo uma adição impressionante à história épica de Dragon Prince. E embora seja uma animação, apresenta temas e conflitos complexos que a tornam adequada para um público diverso, e não apenas infantil. – Henrique Marinhos
1ª temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (The Lord of the Rings: The Rings of Power)
O universo de J.R.R Tolkien ganha uma nova constelação na qual os discursos proféticos e dramáticos continuam sendo as estrelas. No entanto, elas não brilham tanto quanto os discursos progressistas que Os Anéis do Poder decidiu abraçar. Produzida peloa Amazon Prime Video, a série se passa milhões de anos antes dos eventos clássicos de Frodo e O Anel e pode ser considerada a tataravó arejada de O Senhor dos Anéis.
É válido ressaltar que Os Anéis do Poder foi alvo de diversos comentários racistas por parte de indivíduos cuja única conquista na indústria vital foi ter atingido a marca de 1.000 amigos no Facebook. Ainda assim, nenhum destes foi capaz de avisar que criticar a existência de um elfo negro é, no mínimo, constrangedor. Dessa forma, o Prime Video revigora as esferas da Terra Média e entrega uma obra que mistura valores tradicionais e contemporâneos a fim de despertar todos os orgulhos, menos o nerd. – Ana Cegatti
1ª temporada de O Verão que Mudou Minha Vida (The Summer I Turned Pretty)
O mundo inteiro se curva à potência de uma boa história de amor. Entretanto, The Summer I Turned Pretty não quer entregar de bandeja que, junto às descobertas românticas de sua protagonista, estão emaranhadas as inúmeras raízes e faíscas que proporcionam a ternura à vida em si. Baseada na trilogia literária de Jenny Han, que também assinou a adaptação, a série dao Amazon Prime Video acompanha Isabel Conklin (Lola Tung) de volta a Cousins Beach, seu destino anual nas férias de verão. Prestes a completar 16 anos, ela sente e, munida de toda a sutileza e intimidade presente nos oceanos e ganchos da trama, reflete cada aspecto agridoce do amadurecimento.
Abusando de textos contemplativos, gravações amistosamente solares e trilha sonora piegas, a produção engrandece os clichês juvenis dando a Belly o poder de narrar o simbolismo de conflitos pessoais e de seus familiares. O voiceover sem onisciência amarra os núcleos da série pelo dom da imersão, ainda que todos os arcos existam sozinhos e tenham força para além da garota – sobretudo a amizade transcendental entre as matriarcas de Jackie Chung e Rachel Blanchard. Fazendo mágica com sua constante delicadeza, O Verão que Mudou Minha Vida já tem segunda temporada confirmada e uma eterna obrigação de cultivar mais declarações entre Isabel e Conrad (Christopher Briney) ao som de Taylor Swift. – Vitória Vulcano
Obi-Wan Kenobi
“Hello there”. Longe de ser uma produção estratosférica, Obi-Wan Kenobi é uma espécie de redenção necessária ao próprio personagem desde o surgimento da segunda trilogia de Star Wars. Alec Guinness nunca precisou disso, mas Ewan McGregor sim. O problema é que a Disney não consegue largar o osso dos lucros no streaming, e, aos poucos, empurra o universo da saga para a beira do precipício. Na decisão controversa de não expandir a narrativa, foi a chegada de Joby Harold no roteiro que colocou o enredo de volta aos trilhos, acertando – e muito – no cuidado com a história de nosso herói.
Ainda que se trate de uma aposta segura após a desgraça de O Livro de Boba Fett, a sensibilidade da série envolve, e o sofrimento latente de Kenobi arrebata o coração por completo. Os efeitos especiais são lindos, a ação tem exímia coreografia, tudo como deve ser dentro de Star Wars. Além disso, a cinematografia vem ganhando novo olhar desde que a turma do Mickey assumiu. Em Obi-Wan, é Chung-hoon Chung que expõe a genialidade dos momentos de escuridão que envolvem o protagonista. As emoções complexas do jedi se tornam as nossas emoções, até ficarmos frente a frente com Hayden Christensen no seu momento de redenção sob o traje do maior vilão do Cinema de todos os tempos. – Nathália Mendes
33ª Temporada de Os Simpsons (The Simpsons)
Para uma série capaz de se manter no ar após 33 temporadas, não é preciso muito para se destacar. Os Simpsons surgiram em 1989 e, desde então, seguem marcando o imaginário popular com personagens bem construídos e piadas inteligentes. Em seu trigésimo terceiro ano, as coisas não foram diferentes. Alguns roteiros e fórmulas aparecem desgastados, como episódios em que a Lisa busca uma amiga ou que algum membro da família se torna alucinado por algum equipamento tecnológico, mas ainda assim a sitcom se mantém forte.
Essa força se mostra presente nos episódios A Serious Flanders parte 1 e 2, em que o vizinho da família amarela, Ned Flanders, encontra uma maleta cheia de dinheiro, que o beato decide doar para o orfanato local. Porém, os verdadeiros donos da grana não ficam nada contentes com o destino das verdinhas e vão atrás do morador de Springfield. Os dois capítulos não se destacam pelo humor tão característico dos Simpsons, mas sim por sua narrativa eletrizante pouco explorada pelos roteiristas da série até então. – Gabriel Gatti
2ª temporada de Only Murders in the Building
Depois de uma excepcional e surpreendente primeira temporada, Only Murders in the Building retornou com um novo mistério, novos personagens e, principalmente, uma nova aventura para nos concentrar nas jornadas de Charles (Steve Martin, de Roxanne), Oliver (Martin Short, de Três Amigos) e Mabel (Selena Gomez, de Hotel Transilvânia). O resultado final é extremamente positivo e continua mantendo muito bem a qualidade da série.
Apesar de alguns deslizes no que diz respeito às longas e confusas voltas do roteiro com intenção de ludibriar o espectador, o show continua se sustentando na base de uma ótima comédia situacional, principalmente quando as piadas envolvem a inaptidão de Charles e Oliver para o ramo da investigação. A obra também se sustenta no aprofundamento de personagens já bem estabelecidos, como Mabel e Teddy Dimas (Nathan Lane, de Os Produtores); e na invejável parte técnica, do requinte do design de produção do Arconia até a elegância da trilha sonora de Siddharta Khosla, que compõem uma experiência muito boa e prazerosa no geral. – Nathan Nunes
1ª temporada de Pachinko
Pachinko é um dorama, ou seja, uma série dramática coreana, lançada pela Apple TV+ e baseada em um livro de mesmo nome da escritora Mi Jin Lee. Dirigido por Kogonada e roteirizada por Soo Hugh, o seriado narra uma saga familiar que tem origem em Busan, durante a ocupação japonesa na Coréia ao longo da primeira metade do século XX, quando Kim Sunja sobrevive a pobreza e a violência vivenciada pelos coreanos no período.
A série tem uma direção de fotografia espetacular liderada por Florian Hoffmeister e Ante Cheng, que entrega beleza e carrega muitos significados para a história. As atuações são outro grande destaque de Pachinko, principalmente pela protagonista Yo Yuh-jung, conhecida e premiada internacionalmente pelo seu papel em Minari: Em Busca da Felicidade (2020). Kim Min-ha e Lee Min-ho também ajudam a trazer a profundidade dramática da série. – Guilherme Dias Siqueira
Pantanal
Na boca do povo, o remake de Pantanal repetiu o sucesso alcançado pela versão original, exibida no início da década de 90 pela extinta Rede Manchete. Em 2022, a trama adaptada por Bruno Luperi, neto do consagrado dramaturgo Benedito Ruy Barbosa, conseguiu unir o público do sofá e os jovens acorrentados à tela do celular. Assim, resgatando não somente a nostalgia de uma história que marcou gerações, como também a tradição que mantém viva a cultura da novela no Brasil.
Com personagens icônicos interpretados por um elenco afiado, bordões facilmente reconhecíveis e um ótimo equilíbrio entre humor e drama, Pantanal superou os desafios impostos pelo avanço das plataformas de streaming ao levantar a audiência da TV Globo após uma série de fracassos movidos, principalmente, pela pandemia e pela tentativa frustrada de alguns diretores em mudar o tom de um gênero já consolidado entre os noveleiros. – Nathalia Tetzner
6ª temporada de Peaky Blinders
Um homem violento e emocionalmente comprometido, que quer uma vida maior do que aquela em que nasceu, Thomas Shelby (Cillian Murphy) sempre esteve e sempre estará dividido entre os dois lados de sua própria natureza e os dois tipos de futuro que eles representam. São raras as vezes em que seus demônios não triunfam sobre seus anjos e, por mais que nos questionamos se algum dia ele vai parar, é a certeza de que sua ambição só se tornará maior que faz com que acompanhemos sua história ano após ano em Peaky Blinders.
É o fim de uma era – mas nem tanto. Mesmo sendo a sexta e a última temporada da série, os malditos Peaky Blinders ganham um desfecho temporário, já que um filme sobre a produção promete colocar um ponto final em suas histórias. Ainda assim, a conclusão que Steven Knight nos entregou condiz muito com o que ele construiu ao longo dos anos. É uma espécie de auto-realização para Tommy, pois dessa vez ele consegue ver claramente seu futuro para além do fogo, das cinzas e do sangue que o têm assombrado. Ele é mortal, mas imortal em muitos aspectos.
Naquele que talvez seja o tributo mais adequado à Helen McCrory, que interpretou Polly Gray e faleceu no começo de 2021, não é exagero dizer que as mulheres são o grande espetáculo da temporada. Ada (Sophie Rundle) e Lizzie (Natasha O’Keeffe) tiveram muitas oportunidades de brilhar à medida que cada uma luta com a dor, a raiva e a frustração aparentemente interminável de carregar o peso de ser uma Shelby. Por outro lado, ambas tiveram a chance de tomar seu próprio poder de uma forma que nunca vimos, e esse é um lembrete adequado de que a figura feminina foi, é e será responsável por evitar a ruína dessa família. – Raquel Freire
Pretendente Surpresa (Sanae Matseon)
Não há ferida que uma comédia romântica boa não possa curar. Nesse gênero, fica até difícil competir com as produções sul-coreanas que vêm explodindo no mercado graças às para plataformas de streaming. De fato, com o fenômeno de Round 6, não é de se espantar que a Netflix tenha apostado várias fichas nesse tipo de conteúdo. Pretendente Surpresa, adaptação do webtoon The Office Blind Date, é uma dessas exportações, narrando a série de desventuras amorosas que seguem Shin Ha-ri (Kim Se-jeong) depois que ela aceita ir num encontro às cegas no lugar de uma amiga e acaba dando de cara com o novo CEO da empresa em que trabalha, Kang Tae-moo (Ahn Hyo-seop).
Química é apelido para o elenco de Business Proposal. Mesmo além do casal principal, todos os personagens possuem entrosamento e repertório dignos de série própria, roubando a cena por diversas vezes. Destaque precisa ser dado para Kim Min-gue e Seol In-ah, responsáveis por interpretar os melhores amigos dos protagonistas e, durante seu próprio relacionamento, adquirindo protagonismo e carisma próprios. É difícil pensar em um único aspecto do seriado que fique devendo, já que em todas as suas facetas ele parece estar decidido a providenciar a comédia romântica definitiva de sua geração.
A única palavra capaz de descrever o conjunto de clichês e convenções do gênero presentes em todos os 12 capítulos da produção não é nenhuma outra senão majestosa. Com um elenco de personagens carismáticos e memoráveis, não há um segundo só em que a série se esqueça de entreter, divertir e emocionar. Pode não ser a produção mais impressionante ou revolucionária de 2022, mas é muito difícil pensar em outra que faz o que ela fez com tamanha excelência e sinceridade. Se você precisa de mais romance na vida, não olhe além de Pretendente Surpresa. — Gabriel Oliveira F. Arruda
1ª temporada de Promotor do Mal (Bad Prosecutor)
Irreverente e malandro, mas também dono de um senso forte de justiça. Este é Jin Jeong, o promotor nada conveniente de Bad Prosecutor, drama da KBS exibido em 2022. A direção de Kim Seong-ho e Choi Yeon-soo se juntou ao roteiro de Im Young-bin para marcar o retorno triunfal do ator Doh Kyung-soo frente às tramas sul-coreanas que arrematam o coração do público. Ao seu lado, a atriz veterana Lee Se-hee deu vida a apaixonante promotora sênior Shin A-ra.
Depois de interpretar o príncipe ríspido de 100 Days My Prince, o integrante do grupo EXO adotou um tom mais leve e, nem por isso, menos intenso. A presença quase sufocante de D.O foi responsável por segurar o desenvolvimento até o clímax. Em meio a um cenário universal de desigualdade, Bad Prosecutor teve a proeza de retratar na ficção o caso excepcional de um promotor que ajuda os menos privilegiados e pune a corrupção. – Nathalia Tetzner
1ª temporada de Rota 66 – A Polícia que Mata
Penetre na trajetória investigativa que marcou a carreira de uma das maiores figuras do jornalismo brasileiro: Rota 66: A Polícia que Mata. Inspirado no livro homônimo de Caco Barcellos, Rota 66: A História da Polícia que Mata, o seriado produzido pela Globoplay, em parceria com a Boutique Filmes, se tornou um sucesso na plataforma de streaming por dar vida aos relatos descritos no prestigiado livro-reportagem de Barcellos. Baseada em fatos reais, a série consegue contextualizar como ocorreu o levantamento de dados explorado na obra do jornalista, bem como traz um panorama da repressão policial nos tempos da Ditadura Militar.
Qual é o modus operandi da polícia mais assassina do Brasil nos tempos da Ditadura? Essa é a pergunta que motiva Caco Barcellos, interpretado pelo ator Humberto Carrão, a investigar um sistema brutal, repressivo e racista instalado nas forças de segurança pública do Estado de São Paulo. Baseada nos capítulos abordados no livro, a série constrói uma narrativa que irá apresentar tanto a figura dos envolvidos responsáveis pelos homicídios, quanto as vítimas que, em sua maioria, são marginalizadas pela sociedade. Com um rico levantamento de dados elaborado pelo jornalista e seus fiéis ajudantes, a reportagem serve como prova dos centenas de depoimentos que atestam para o abuso das forças policiais.
Além de Carrão como protagonista no papel de Caco, a trama conta com as ilustres atuações de Ailton Graça, Naruna Costa, Adriano Garib, Rômulo Braga, Adriana Lessa e grande elenco. Vale destacar que Graça foi o ator que deu vida ao icônico Majestade, personagem do filme Carandiru, que representa o estereótipo cômico do malandro boêmio encarcerado no maior presídio da América Latina. É incrível observar a maturidade cênica do ator, agora no papel de um policial da Rota que tem uma conduta contrastante com a metodologia aplicada por seus colegas de equipe. – Gabriel Gomes Santana
7ª Temporada de RuPaul’s Drag Race: All Stars
A 7ª temporada de RuPaul’s Drag Race: All Stars podia ser igual a todas as outras, com uma seleção de queens que se destacaram em edições anteriores e voltam para tentar alcançar um lugar no sonhado Drag Race Hall of Fame. Mas diferentemente do habitual, desta vez há apenas vencedoras de anos passados em uma corrida alucinante pelo título de Queen of All Queens. O modelo renovado permitiu que nenhuma participante fosse eliminada até a grande final, em que apenas quatro seguiram para o lipsync rumo a coroa, enquanto as outras de menos destaque dublaram para descobrir quem seria a Queen of She Done Already Done Had Herses.
Ao longo da jornada não havia grande surpresa de quem seria a grande vencedora: Jinkx Monsoon sempre se destacou entre as outras participantes com seu carisma, singularidade, coragem e talento. A queen se mostrou muito mais madura desde a 5ª temporada e acabou levando a melhor na maioria dos desafios com as outras vitoriosas que participavam de All Stars 7. Além dela, outras participantes também tiveram chance de brilhar, como Monét X Change, que teve sua coroa dividida com Trinity The Tuck, e The Vivien, que participou originalmente do Drag Race UK. – Gabriel Gatti
1ª temporada de Ruptura (Severance)
“Quem é você?” pode ser considerada uma das perguntas mais difíceis de se responder. O diretor Ben Stiller e o roteirista Dan Erickson, no entanto, decidem inserir o questionamento nos minutos iniciais de Ruptura, série da Apple TV+ que intriga e fomenta curiosidade do espectador por meio da estranheza. A noção clara de que existe algo fora do lugar desde os primeiros instantes, com a personagem que aparece sem explicações e a composição desconfortável, indicam a aflição que guiará o rumo da série.
O nome da série é preciso ao ser parte da trama: Ruptura é o nome do procedimento cirúrgico que os personagens sofrem, no qual, com a inserção de um chip em seus cérebros, eles se tornam capazes de separar as memórias do que acontece dentro e fora de seu expediente. O que parecia uma bênção no imaginário, torna-se uma maldição da realidade, criando duas versões do indivíduo. Com um roteiro muito esperto e uma direção de câmera tão minuciosa que pode ser tratada como obsessiva, Severance é um material denso, que revela temas humanos, tratando com os anseios e torcidas do espectador, que torna-se uma parte do todo. – Aryadne Xavier
1ª temporada de Sandman
A obra inadaptável finalmente ganhou uma representação genuína no streaming. Com o autor do quadrinho Neil Gaiman na criação, a Netflix lançou quase que na surdina a adaptação do Sonho dos Perpétuos, depois de muita tentativa falha de transmitir a história para as telas. Sandman conta a história de Morpheus enquanto é aprisionado no mundo humano por um mago. Após isso, com o Sonho preso, a humanidade é condenada a permanecer acordada, o que provoca um colapso do reino humano enquanto o Reino dos Sonhos também está colapsando pela falta de seu líder. Esse vácuo de poder nos dois mundos promove uma guerra fantástica entre o misto de mitologias que o texto original incorpora.
Sendo um exercício de adaptação, a série faz respeito tanto ao telespectador como ao material de origem. A obra é uma ode à Neil Gaiman e cada frame é um impossível jogo dos sete erros com as páginas dos quadrinhos. Sandman é extremamente competente na difícil tarefa de trazer a fantasia para o mundo real e consegue destrinchar a riquíssima mitologia de Gaiman em todos seus aspectos, seja pela estranheza de seus personagens ou nas metáforas filosóficas brilhantemente trabalhadas. – Guilherme Veiga
3ª temporada de Sintonia
Desde sua primeira temporada, Sintonia ganhou destaque por representar a periferia paulistana da forma mais fiel possível. Jogando o caricato para escanteio, a série chega ao seu terceiro ano com amadurecimento e estabilidade. Depois de deixar as pontas soltas, chegou a hora de prendê-las e a produção idealizada por Konrad Dantas – conhecido como Kondzilla – ganhou novos cenários e ciclos.
Os protagonistas Nando (Christian Malheiros), Doni (Jotapê) e Rita (Bruna Mascarenhas) têm suas vivências elevadas a outro nível e suas escolhas levam a consequências e questionamentos. Tratando sobre o uso de drogas, a insatisfação pessoal, política e igreja, o roteiro – conduzido pelo diretor em parceria com Guilherme Moraes Quintella e Felipe Braga – tece críticas e reflexões acerca da estrutura social e diversos outros fantasmas que assombram pessoas oriundas da periferia.
A exploração do contexto político é um dos maiores acertos da temporada. Com Rita se candidatando a vereadora, a narrativa abre espaço para reflexões sobre o papel dos representantes e a capacidade da democracia afetar a população. O funk também se mantém como um ser quase personalizado, e sua representação reafirma a ideia de resistência. Entre colares de prata e pregações, Sintonia continua sendo do povo e para o povo. – Jamily Rigonatto
25ª Temporada de South Park
Após um ano dedicado inteiramente aos impactos da Covid-19, South Park retornou para sua 25ª temporada nos mesmos moldes conhecidos pelos fãs da série. O humor ácido da animação se mantém presente, ainda que em apenas seis episódios, deixando de lado o tom melancólico do Especial de Pandemia. Infelizmente, o personagem Randy Marsh, pai do Stan, ainda tem grande protagonismo com a Tegridy Farms, que toma grande espaço da trama com piadas fracas.
Apesar disso, Eric Cartman continua se destacando com seu humor grosseiro marcante em episódios antigos de South Park. Na 25ª temporada, o destaque foi em City People, em que o jovem fica possesso quando sua mãe conta a ele sobre seu novo emprego. Como de costume, o protagonista faz de tudo para que ela abra mão de seu trabalho para se dedicar exclusivamente a cuidar do filho. – Gabriel Gatti
4ª temporada de Stranger Things
Stranger Things é um sucesso desde seu lançamento em 2016. Desde então, ela se reinventa e aprimora sua qualidade a cada sequência, sem nunca perder a essência da narrativa ou o fio condutor da trama principal. Por isso, expectativas rondavam a quarta temporada, que se não simplesmente as cumpriu, as superou. Com os mesmos personagens queridos do público e outros novos, tão adorados quanto, ela dá início a uma conclusão para o Horror de Hawkins – com ênfase nesse Horror. Nostálgica, frenética e divertida, desta vez a ficção científica também dá espaço para elementos do suspense e terror sobrenatural, devido a origem misteriosa e ações perturbadoras do vilão. Visualmente e em roteiro, essa temporada amadurece junto das crianças cuja história acompanha.
A nova leva se difere das demais ao mergulhar em uma atmosfera sombria, com cenas impressionantes e violentas, além de ligar pontos criados em anos anteriores. Alternando entre núcleos de personagens, ela permeia entre traumas, responsabilidades e ações heróicas de seus protagonistas, com destaques para Eleven (Mille Bobby Brown), Max (Sadie Sink), o aclamado Eddie (Joseph Quinn) e o macabro Vecna (Jamie Campbell). Com uma trilha sonora marcante dos anos 80 e cenários e figurinos da época, a série ainda garante uma imersão completa.
As qualidades técnicas e narrativas de Stranger Things a fez liderar o recorde de audiência da Netflix, com 335 milhões de horas assistidas. Sua liderança foi mantida até o lançamento de Wandinha, que a superou com 341,2 milhões. Mesmo assim, a temporada foi prestigiada e consagra-se como uma das melhores de 2022 – e de toda a série. – Mariana Nicastro
1ª temporada de The Afterparty
O que acontece depois da festa? Em The Afterparty, uma morte cercada de suspeitos. Desenvolver uma narrativa em torno do assassinato inesperado de um personagem com quê de protagonista é comum, dificil é tornar isso motivo de risos. Aqui o resultado é hilariante e querer mais é praticamente inevitável. Sob a direção de Christopher Miller, a série faz o que a primeira temporada de The White Lotus tentou fazer.
Xavier (Dave Franco) era o nerd da escola, mas no reencontro com seus ex-colegas de Ensino Médio, sua superação envolve ter se tornado uma celebridade. Agora é sua vez de dar a festa e convidar todos para um after. No entanto, ele não esperava ser a vítima da vez. Em um movimento de nos colocar como detetives, a série começa a desmontar os convidados sob a perspectiva de cada um: o resultado são capítulos completamente parciais e extremamente singulares.
Entre musicais, drama e comédia, não ter um narrador comum é o caminho para uma viagem pela aleatoriedade em sua forma mais cômica. Longe do previsível, fica fácil esquecer as motivações mórbidas desse mistério. Os personagens são muito diferentes uns dos outros, e isso torna as interações curiosas e cheias de possibilidades. Entre referências e diversidade, The Afterparty prova que a sobremesa é melhor que o prato principal. – Jamily Rigonatto
1ª temporada de The Bear
A produtora FX tinha a faca e o queijo na mão e conseguiu fazer um prato cheio para os amantes de histórias cruas. The Bear pode, a princípio, parecer inofensiva ao retratar o cotidiano de um chefe de cozinha, mas, eventualmente, revela-se como um ensaio sobre a complexa interioridade humana. A série garante um ótimo dinamismo por sequências frenéticas de gritarias e discussões as quais fazem da obra um making-of do cenário comercial opressor de Chicago.
Jeremy Allen White entrega uma performance excepcional como Carmen, o chefe de cozinha o qual lida com os perrengues de um ambiente de trabalho sem o charme de um cabelo loiro e o carisma de um boneco de papagaio. A série ainda conta com a atriz Ayo Edebiri dando vida à Sydney, uma personagem cuja desenvoltura sarcástica permite o rótulo de Tati Quebra Barraco estadunidense. Diante de um elenco poderoso e de um roteiro exuberante escrito por Christopher Storer, The Bear é a comprovação de que a existência de direitos trabalhistas é a maior lenda urbana dos Estados Unidos. – Ana Cegatti
3ª temporada de The Boys
Por mais que ainda siga a principal regra de não haver regras, o terceiro ano dos heróis que amamos odiar de The Boys se mostra mais consciente. Isso pode ter frustrado alguns que esperavam a loucura destrambelhada dos outros dois anos, principalmente após o anúncio da adaptação do arco Herogasm. Porém, o show evidencia um enorme amadurecimento de sua produção e personagens. Acompanhando o enlouquecimento do Capitão Pátria após o desdobramento de explodir cabeças do segundo ano, a produção se mostra a par da sátira que o mundo atual já é, e, em cima disso, constrói críticas muito pontuais.
A série tira sarro de uma sociedade pós-trumpista em que o extremismo ainda está latente, além de ainda ironizar a indústria do entretenimento. Sem abrir mão do humor sanguinolento e perverso, o foco do terceiro ano é aprofundar seus personagens, nos recompensando com uma das melhores versões do Capitão Pátria (Antony Starr). Temos junto ao elenco a ótima adição do Soldier Boy de Jensen Ackles, repetindo a parceria de Supernatural com o criador Eric Kripke, e também mais tempo de tela para o incrível Giancarlo Esposito. Se despindo de todos os tabus que faltavam (quase que literalmente), o ápice de The Boys é entender que ela jamais ultrapassará o mundo real. Mas, sendo cínica do jeito que é, não liga para isso. – Guilherme Veiga
3ª temporada de The Umbrella Academy
A cada vez que os irmãos Hargreeves da The Umbrella Academy saltam no espaço-tempo, seus personagens encaram novas facetas de desenvolvimento narrativo. De certa forma, parece mais do mesmo, visto que a equipe está presa num looping irritante de iminente fim do mundo. Como salvar a humanidade é sempre o objetivo final, mas os meios para tal, o que cada um deles é capaz de fazer para o atingir, aí que a história se complica. Entre o apocalipse e os problemas de família, na terceira temporada chega a hora de encarar uma versão alternativa deles próprios, a Sparrow Academy, e de seu pai, Sir Reginald (Colm Feore).
O roteiro cômico, as primorosas batalhas, efeitos visuais bem feitos e uma cinematografia de cores fortes que contrastam a destruição do mundo e sua vida pulsante, tudo está mais apurado do que nunca. Em mais uma temporada, é nítido o quão divertido The Umbrella Academy consegue ser, sem soltar a complexidade de seu enredo. Muito pelo contrário, a separação dos Hargreeves no volume anterior construiu narrativas individuais fortes, bases sólidas para que os personagens chegassem aqui com histórias próprias. Na linha de que na verdade os meios justificam os fins, a família enfrenta tudo, a ponto de nos perguntarmos como diabos a Netflix irá encerrar suas tramas no último capítulo, que vem por aí. – Nathália Mendes
2ª temporada de The White Lotus
Repetindo o sucesso estrondoso do ano anterior, a segunda temporada de The White Lotus entregou a mesma acidez, ousadia e deboche que a primeira. Dessa vez, o hotel de luxo idealizado por White White, diz arrivederci ao ‘aloha’ e abre uma franquia na paradisíaca ilha italiana da Sicília, cenário tão atrativo quanto o próprio enredo. As personagens que se apresentam neste novo panorama possuem camadas complexas e fascinantes, cujo os intérpretes entregam atuações muito convincentes.
Dos grandes destaques dessa temporada estão F. Murray Abraham (Amadeus), Aubrey Plaza (Black Bear), Meghan Fairly (The Bold Type) e, é claro, a brilhante Jennifer Coolidge que retorna mais uma vez como a cômica e melancólica Tania. Além da temática que já é conhecida dessa produção da HBO Max, a respeito da sátira dos ricaços e os misteriosos assassinatos, o ponto central que conduz a narrativa de sete episódios é o adultério, carregado pela lenda das testa di mora.
Considerada por muitos a melhor temporada da série, o roteiro e direção carregou o segundo ano da Lótus Branca com um pouco mais (mas apenas um pouco) de empatia com o espectador que não gosta de ser escandalizado. Talvez essa seja a razão do favoritismo. Para além da aprovação do público, a série ganha destaque nas premiações levando o Emmy de Melhor Roteiro e Direção. Todo esse prestígio é dado a incrível capacidade de White de contar histórias absurdas e, ao mesmo tempo que cria personagens desprezíveis, traz a humanidade necessária para que haja pessoas torcendo por elas. Como arremate, cabe uma menção honrosa à trilha sonora da minissérie, Renaissance de Cristobal Tapia de Veer, que expressa a exata tônica na qual a trama se desenrola. – Costanza Guerriero
6ª temporada de This Is Us
Depois de mais de cem episódios e muitos lenços de papel para acompanhar, chegou a hora de se despedir de This Is Us. Tendo passado pelas principais premiações da televisão – dentre elas, Emmy e Globo de Ouro –, o hit da emissora NBC coloca um ponto final na história da família Pearson com o lançamento de sua sexta temporada. Conhecida por sua capacidade de emocionar em todos os seus episódios, um dos raros produtos de TV aberta que manteve sua popularidade ao longo dos anos nunca foi sobre grandes acontecimentos, mas sobre encontrar beleza e catarse no que a vida tem de mais simples, e o roteiro manteve-se fiel a si mesmo até o fim.
Além de uma equipe de criação e elenco talentosos, um formato criativo e uma recepção esmagadora do público, uma das coisas que sempre fizeram de This Is Us uma produção tão grandiosa foi sua capacidade de celebrar e buscar o significado inesperado – e muitas vezes escondido – da vida no corriqueiro. A série se destacou em meio ao mar de produções que temos nos dias de hoje por ser uma simples celebração do viver. O final deixou Jack (Milo Ventimiglia) resumir os seis anos do seriado em uma única linha, dizendo a seus filhos adolescentes que a vida é sobre “colecionar estes pequenos momentos”, o tipo de coisa cuja importância é muitas vezes perdida em nós. – Raquel Freire
1ª temporada de Uma Advogada Extraordinária (이상한 변호사 우영우)
Uma Advogada Extraordinária é uma produção coreana que traz uma narrativa bem construída sobre a advocacia e a busca por justiça. A personagem principal se enquadra no espectro autista e é interpretada de forma cativante por Park Eun-bin, que transmite toda a complexidade e nuances da com muita habilidade.
A primeira temporada série é envolvente e apresenta cenas emocionantes que demonstram resiliência diante das adversidades. Além disso, traz questões relevantes da sociedade coreana, como a corrupção e o abuso de poder, em uma abordagem singela e realista. Apesar de alguns momentos previsíveis na narrativa e da falta de desenvolvimento de alguns personagens secundários, a excelente atuação de Park Eun-bin e a série de reviravoltas em torno de sua vida hipnotiza o público. – Henrique Marinhos
1ª temporada de Wandinha (Wednesday)
Em um cenário global de romantização de práticas perfeccionistas as quais envolvem o indivíduo em um ciclo infinito de (auto)cobranças e aumentam o número de usuários do Letterboxd, Wandinha é um porto seguro. Em outras palavras, a série produzida pela Netflix e protagonizada por Jenna Ortega serve de zona de conforto, não só para pseudo-emos, como também para todos os amantes de uma alienação saudável. A primeira temporada é, acima de tudo, uma homenagem às pessoas que encaram a Família Addams como parentes indispensáveis na ceia de Natal.
Apesar da existência de reviravoltas interessantes dentro do enredo, nada foi tão surpreendente quanto a presença de personagens negros diante da assinatura de Tim Burton. É seguro dizer que Wandinha protagonizou discussões nas redes sociais de diversas formas, seja por atos de vangloriação à atuação de Ortega, por menções a um suposto queer bait ou por críticas a Burton. De qualquer maneira, a série representa o apontamento, ainda relevante, feito por MC Melody: “fale bem ou fale mal, mas fale de mim”. – Ana Cegatti
4ª temporada de What We Do in the Shadows
É difícil uma comédia manter a qualidade depois de certo tempo. Porém, What We Do in the Shadows, assim como um vampiro, parece não envelhecer e a cada ano se renova, superando o próprio ápice. Sendo um spin-off do filme homônimo de 2014, idealizado por Jemaine Clement e Taika Waititi, a obra expande seu próprio cosmos ao desdobrar os acontecimentos dos anos anteriores e trazer novos ares para a produção de forma extremamente inteligente e sarcástica.
O show é um respiro da nova safra de mockumentaries e tira sarro não só da mitologia de monstros como também da inserção dela na cultura pop. Consolidando de vez o quarteto de vampiros no mundo moderno, a série abraça com louvor a tosquice nesse choque de mundos, sem abrir mão de toda sua inteligência que calcou ao longo dos anos. Sabendo tirar proveito da ótima química entre os atores e de um roteiro afiadíssimo, What We Do in the Shadows entrega seu melhor e mais divertido ano, seguindo todos os caminhos dos falsos documentários de sucesso: desconhecidos, mas imperdíveis. – Guilherme Veiga
1ª temporada de Willow
Levando os telespectadores para a Terra da Magia, Willow é o resgate do filme homônimo de 1988. Na nova produção, são introduzidas narrativas frescas misturadas a atores e personagens da trama original. 34 anos depois, Willow Ufgood é vivido por Warwick Davis, assim como Joanne Whalley vive Sorsha e Kevin Pollak volta no papel de Rool. Além dos veteranos, somos apresentados a novas gerações, com destaque para Dove (Ellie Bamber), uma jovem tomada por ingenuidade e pronta para ir rumo ao autoconhecimento e maturidade. A personagem traz um ponto de equilíbrio entre as partes rústicas do enredo escrito por Jon Kasdan, George Lucas, Wendy Mericle, John Bickerstaff e Bob Dolman.
Com uma linha bastante horizontal, a série sabe trabalhar com a mistura de épocas sem deixar dúvidas em quem nunca assistiu o primogênito. Suas facetas cronológicas explicam as relações entre os personagens e na primeira brecha investe nos elementos de aventura, fazendo uma expansão progressiva do universo. Entre os timings de ação, há também a inserção de desenvolvimento e interpessoalidade necessária para manter as coisas relevantes e nada superficiais.
A pitada de veracidade da produção conta com raízes nos efeitos visuais e na caracterização – responsabilidade de Sarah Young –, tão bem feitos que solidificam a sensação de estar distante do conceito mundano. Essa ideia de se afastar do contexto humano se reflete no enredo e, em muitos momentos, os personagens ganham princípios heróicos como a coragem e a bondade, tornando as motivações puras. Assim, Willow chega às nossas telas com autenticidade e potencial para fazer de um dos pioneiros do gênero de Fantasia, novamente um mestre. – Jamily Rigonatto
1ª temporada de Yellowjackets
Sobrevivência, sangue e assassinatos. Na primeira temporada de Yellowjackets, o time de futebol feminino do título se vê preso na selvageria após a queda do avião que as transportava para a final do campeonato. 19 meses na selva e longe da civilização é mais do que suficiente para mudar o grupo de meninas – e de três meninos – para o resto da vida. Isso é, para aqueles que conseguiram escapar.
A estreia da série rendeu sete indicações ao Emmy 2022, destacando apenas alguns dos muitos pontos altos da produção. Com um elenco intenso e feroz tanto em sua versão mais nova quanto adulta, que impulsiona uma narrativa misteriosa e envolvente, Yellowjackets abocanhou a nomeação de Melhor Direção de Elenco em Série de Drama e Christina Ricci, no papel da curiosa Misty, concorreu como Melhor Atriz Coadjuvante.
A direção da série, responsabilidade dos showrunners Ashley Lyle, Bart Nickerson e do roteirista Jonathan Lisco, também ganhou destaque, com duas menções na mesma categoria. Sob o olhar e as lentes dos três, a narrativa de Yellowjackets – que, diga-se de passagem, não é das mais inovadoras – ganha tons sombrios e cheios de horror. Com uma condução e roteiro alinhados ao Terror e sem medo de recorrerem ao macabro, o elenco poderoso da série só impulsiona uma das melhores séries em exibição atualmente. – Vitória Gomez
2º temporada de Young Royals
Young Royals retorna ao catálogo da Netflix com muito mais do drama e do romance que fez os fãs se apaixonarem em 2021. Na nova temporada da série sueca, Wilhelm (Edvin Ryding) e Simon (Omar Rudberg) foram obrigados a amadurecer e a lidar com seus demônios internos. O herdeiro do trono enfrenta sua batalha de escolher entre a coroa e seu amor, enquanto o estudante bolsista debate entre tentar mais uma vez e seguir em frente. Em comparação com o lançamento de estreia, os novos episódios carregam muito mais esperança de dias melhores.
Apesar da grande vilã da série ainda ser a monarquia, a nova fase da produção se mostrou mais focada no grupo de adolescentes. Foi desenvolvido ainda mais o lado cruel de Augustus (Malte Gårdinger), a ingenuidade de Sara (Frida Argento), a personalidade amiga de Felice (Nikita Uggla) e outros alunos da escola Hillerska. Essa atitude é uma escolha bem pensada, uma vez que demonstra perfeitamente como a pressão do mundo e da sociedade pode afetar uma pessoa – ainda mais um jovem –, tornando-o vulnerável e impulsivo. Young Royals ainda tem muito o que dizer e muitas respostas para dar, a terceira e última temporada já está confirmada e promete um final intenso para o príncipe e o plebeu. – Gabrielli Natividade