Um novo Diomedes Chinaski surge em A Vida Ainda Pode Ser Bela

A vida ainda pode ser bela se eu fizer dinheiro/Primeiro família, depois o amor verdadeiro/A grana se esconde, você tem ir pelo cheiro 

Cena do clipe Adão e Eva (Foto: Reprodução)

Elder John

No início de fevereiro, Diomedes Chinaski lançou a mixtape A Vida Ainda Pode Ser Bela e se mostrou um artista completo. O rapper manteve seu nível musical, mas agora com uma visão de mundo um pouco diferente nas letras. O trabalho conta com 7 faixas e já tem 2 clipes disponíveis no canal do artista no YouTube. Nas participações, temos o Moral e Raz Tarcisio, que já haviam trabalhado com o aprendiz em outras produções. Além da análise, trago uma entrevista exclusiva que fiz com o artista sobre o álbum.

A mixtape se passa em 20 minutos, mas como o próprio Diomedes disse, necessita de um ambiente tranquilo para apreciar a obra: “Você precisa estar sentado ou deitado confortavelmente. O ideal, se possível, é estar com alguém. A vida ainda pode ser bela é uma experiência musical muito gostosa. As letras são eróticas e poéticas. O poeta é um sonhador”, afirmou.

Capa da mixtape A Vida Ainda Pode Ser Bela (Foto: Reprodução)

Realmente, é uma produção leve, mas precisa de um ambiente calmo para curtir a vibe. Dentro da proposta, o rapper foi totalmente assertivo em um misto de desabafo, reflexão e amor. Quando falo sobre um novo Diomedes, é verdade, aquele que cantou Sulicídio já conquistou seu espaço e hoje gera oportunidades para os demais artistas da região. Seus assuntos são mais pessoais e sentimentais.

Apesar de ser um EP curto, o artista não foge de sua principal característica de passar emoção e sentimento nas letras, algo que Chinaski sempre trouxe em todos os projetos. E que não são poucos, mesmo tendo apenas 29 anos, lançou nove produções: Ressentimentos (2010), Réquiem (2014), O Aprendiz (2015), Ouroboros (2016), Ressentimentos II (2017), Comunista Rico (2018), Crocodiloboy (2020), Coração Partido Vol. 1 (2020) e A Vida Ainda Pode Ser Bela (2021).

Começando pela faixa Chuva, uma introdução impactante, instrumental melancólico, já demonstrando a pegada da obra. Em contrapartida, na sequência temos Deserto e Metflix, duas love songs. A primeira, em tom de agradecimento e alívio, enquanto a segunda é uma letra totalmente erótica, como já vimos o rapper fazer em Poesia Acústica 2. Já Adão e Eva me lembrou muito o disco Ressentimentos II, uma letra com muitos significados, na qual cada pessoa que ouvir vai se identificar com algum ponto. Uma combinação de desabafo com pedido de socorro, principalmente quando diz não saber lidar com a solidão.

Janis Joplin, referência do rock nos anos 60, foi homenageada nesta faixa. Talvez seja um dos estilos menos usados pelo artista, mas é a canção mais erótica da mixtape, além de uma virada de beat que casou perfeitamente. Diomedes ousou e acertou.

Leis de D’us volta no estilo de Adão e Eva, Chinaski contrastou esses dois pontos, poesia e erotismo. Essa música retrata a superação do artista em meio às adversidades da vida: “Quem eu amo não se importa com a dor que a vida me deu/Eu vou me trancar no estúdio, já que a rua me escolheu”. E o rapper prometeu que virão muitas produções daqui pra frente.

A última faixa e dona do título da mixtape é, sem dúvidas, a melhor. A Vida Ainda Pode Ser Bela é autêntica, demonstrando toda a qualidade do rapper em passar uma mensagem objetiva com uma musicalidade fenomenal. A letra é tão equilibrada que não tem uma punchline de destaque, é um verso completo.

Falando sobre as letras, a primeira frase da mixtape é: “Quando uma lágrima cai, você tem a chance de deixar tudo aquilo que te fez tanto mal pra trás […] Espero que chova mais”. Em uma conversa exclusiva comigo, Diomedes explicou que essa passagem é uma fase de superação em sua vida, quando se reaproximou de sua família após um período conturbado na vida pessoal e artística.

“A depressão e a solidão nos levam para a vida noturna. E a vida noturna junto com a depressão te levam às drogas. Quando falo que não sei lidar com a solidão, estou dizendo que me estrago e me drogo. E agora estou mudando radicalmente, eu e minha esposa amadurecemos, agora nossa vida é em casa e isso faz tudo ao redor melhorar. Chuva fala de deixar pra trás a vida noturna, de confiar em muita gente, ser visto o tempo todo, muita carga pesada nisso tudo”, disse o rapper.

Em contrapartida, a frase-chave da obra é a “vida ainda pode ser bela se eu fizer dinheiro” e Chinaski falou sobre o real sentido disso tudo: A vida vai ser bela se eu tiver dinheiro pra cuidar do que realmente importa, não é tipo ostentação, é dinheiro por qualidade de vida, relatou. A mixtape está toda amarrada em cima dessa narrativa, diversos exemplos são citados sobre como era a vida do rapper e como ele vive e pensa hoje em dia.

Reparem nesse outro verso, as prioridades mudaram: “Sempre que encho o armário/Esqueço a opinião de vários/Chinaski, empilhador de tracks/O famoso bruxo lendário”. Toda a pressão existente no movimento cultural, uma cobrança muitas vezes até utópica de postura e atitude dos artistas se torna supérflua quando estamos bem com as pessoas próximas.

Diomedes passou por fases complicadas e agora enxerga na família o local ideal para gastar o tempo. “Enquanto eu fizer dinheiro eu ajudo minha mãe, meu pai, pago as contas e o principal, meu filho é especial e precisa de uma atenção maior. Sem dinheiro é sofrimento e depressão”, finalizou.

Houve um processo de amadurecimento na vida do artista pernambucano e isso fica nítido em suas letras. Diomedes disse na entrevista: “O deserto é a vida, os problemas da vida, cada um de nós temos desertos que temos que atravessar”. Sem dúvidas, o dinheiro é um dos principais fatores no processo de travessia. Concordo, Chinaski, se fizermos dinheiro, a vida ainda pode ser bela.

Deixe uma resposta