Se se sentir sozinho, Fale Comigo

Fale Comigo estreou no Festival de Sundance de 2023, onde foi adquirido pela A24 para ser distribuído nos Estados Unidos, e passou pelo Festival de Berlim (Foto: Diamond Films)

Vitória Gomez

Vivendo na linha tênue entre mainstream e marginal, o Cinema de Horror encontrou terreno fértil no público nos últimos anos. A A24 é um dos exemplos de produtora e distribuidora independente que, dando liberdade criativa para seus realizadores, lançou sucessos instigantes à audiência e à crítica, e pareceu reacender uma chama que sempre existiu no gênero, geralmente renegada ao lado B. Assim, a produtora assumiu um papel relevante em catapultar ao estrelato obras discretas sob o seu merecido selo de qualidade. Foi o caso de Fale Comigo: chegando aos cinemas mundiais já sob o título de “melhor terror de 2023”, o longa de estreia dos irmãos RackaRacka saiu da Austrália para ganhar o mundo mostrando tudo que o Horror sempre teve a oferecer.

Continue lendo “Se se sentir sozinho, Fale Comigo”

A esperança é o antídoto para o vício em Four Good Days

Cena do filme Four Good Days. Na imagem, vemos uma mulher de meia idade à esquerda; de cabelos loiros com franja, lisos e curtos; e pele clara. Ela está usando uma camisa de mangas longas, estampada de marrom e amarelo, uma calça bege, e está com os braços cruzados. Ela está sentada em uma cadeira verde escura estofada, com as pernas cruzadas, com uma expressão de preocupação, olhando para a moça que está sentada ao seu lado direito. Ao lado dela, à direita, está uma mulher jovem. Ela tem cabelos compridos, loiros, lisos e soltos. Ela está usando uma camisa xadrez cinza de mangas longas, com outra camiseta cinza por baixo, e calça preta; está olhando séria para a senhora que está sentada à sua esquerda, com as mãos fechadas sobre as pernas. Atrás delas há uma parede azul clara, com um quadro de tamanho médio. Elas estão em ambiente interno.
Indicado ao Oscar 2022, Four Good Days mostra-nos a realidade do consumo excessivo de substâncias ilícitas e como esse abuso pode destruir os laços familiares mais fortes, como o de mãe e filha (Foto: Vertical Entertainment)

Sabrina G. Ferreira

A narrativa de Four Good Days tinha tudo para ser óbvia e seguir o roteiro clássico de um filme com essa abordagem, entretanto o que se vê é um show de atuações, e um recorte instigante do problema apresentado. Baseado em fatos reais, o longa dirigido por Rodrigo García (Em Terapia, Questão de Vida), mostra a trajetória de Molly (Mila Kunis), uma mulher jovem viciada em drogas, que retorna para a casa da sua mãe, Deb (Glenn Close), em busca de ajuda para vencer sua dependência química. Após levar a filha à reabilitação, pela 15ª vez, elas descobrem um método novo e intensivo de cura para o vício, mas para iniciar o tratamento, Molly precisa ficar quatro dias sem usar nenhum tipo de droga.

Continue lendo “A esperança é o antídoto para o vício em Four Good Days”

Shameless: essa família é muito unida e também muito ouriçada

William H. Macy é o único ator de Shameless nomeado no Emmy 2021 (Foto: Showtime)

Ana Júlia Trevisan

Não vamos mais contar o que rolou semana passada” “Acabou”, “Não vai rolar”, “É um insulto”: dessa maneira se encerra o ciclo de onze anos da série que recepcionava com um atrativo recap e finalizava seus episódios com uma cena pós-créditos nível Marvel. Shameless é uma comédia com todos os modos de um bom drama. A produção gira em torno dos Gallagher: uma família disfuncional de seis irmãos, onde a mãe tem bipolaridade e abandonou o lar e o pai é um bêbado, drogado e negligente. Assim como grandes séries vide The Office e Skins, Shameless é um remake americano da série britânica de mesmo nome.

Continue lendo “Shameless: essa família é muito unida e também muito ouriçada”

Mom acabou :’(

Cena da série Mom que mostra um grupo de mulheres brancas adultas se abraçando.
Sutilmente se despedindo da TV, Mom recebeu 3 indicações ao Emmy 2021 (Foto: CBS)

Vitor Evangelista

A era das grandes comédias da Televisão aberta está chegando ao fim. Enquanto os anos 2000 geraram longas produções, que facilmente alcançaram a lendária marca dos cem capítulos, as décadas de dez e vinte cumpriram a solene tarefa de findar essas jornadas. Quando o assunto é sitcom estadunidense, pode ter certeza que Chuck Lorre está no meio, e com Mom a história não é diferente. Dando adeus após 8 temporadas, a série guiada pelo encanto de Allison Janney enfim acabou.

Continue lendo “Mom acabou :’(“

O Radical de Euphoria e a Revolução de Rue

Cena de Part 1: Rue, o Episódio Especial de Euphoria. A imagem mostra a protagonista Rue sentada à mesa de uma lanchonete num bando estofado, de perfil, durante a noite. Rue é interpretada por Zendaya, uma jovem negra de cabelos castanhos cacheados volumosos. Rue está sentada, de frente para a mesa, com os pés em cima do banco, segurando as pernas, e descansa a cabeça nas costas do banco, olhando para cima. Ela veste uma blusa de moletom vermelha escura e uma calça de moletom azul marinho. Atrás dela, do lado da mesa, existe uma grande janela de vidro, através da qual pode-se observar o estacionamento do estabelecimento. Na frente de Rue, está uma mesa com um copo de suco de laranja e um prato de panquecas.
Os episódios especiais de Euphoria encontraram seu lugar no Emmy 2021, e a Parte 1: Rue foi indicada na categoria de Melhor Fotografia para Série de Câmera Única (Uma Hora) [Foto: HBO]
Raquel Dutra

O termo que significa um estado transcendental de alegria é usado para nomear uma obra que existe no nível mais profundo das dores de uma juventude autodestrutiva para nos avisar sobre algo: desde seu início, aclamado e conturbado lá em 2019, Euphoria não quer saber de nada além do radical ao construir seu caminho na companhia de jovens que lidam com muitas, muitas, mas muitas questões. A máxima se consolidou ao fim visceral daqueles 8 primeiros episódios que colocaram o drama adolescente da HBO numa evidência maior que qualquer nicho. Ali, nossas protagonistas, responsáveis por engatilhar o desenrolar dos arcos da narrativa e toda sinceridade e todos problemas que os acompanham, se encontravam num lugar perfeito de completa ausência de resolução.

A complexidade que o diretor e roteirista Sam Levinson criou ao fim do primeiro ano de Euphoria só seria compreendida mais tarde, quando os ganchos de 2019 ameaçavam se perder no meio da fenda temporal aberta pela pandemia de covid-19. Então, o criador correu para os transformar em dois episódios especiais, dedicados exclusivamente ao centro da história – Rue (Zendaya) e Jules (Hunter Schafer) -, e quando Part 1: Rue foi ao ar em dezembro de 2020, o poder da narrativa se mostraria ainda maior. Sob o título de Trouble Don’t Last Always, aconteceu o primeiro contato da produção com o mundo depois de sua estreia, e também o primeiro encontro do apreciador da série com a profundidade emocional daquela que foi o fio narrativo de tudo o que Euphoria nos apresentou.

Continue lendo “O Radical de Euphoria e a Revolução de Rue”