A esperança é o antídoto para o vício em Four Good Days

Cena do filme Four Good Days. Na imagem, vemos uma mulher de meia idade à esquerda; de cabelos loiros com franja, lisos e curtos; e pele clara. Ela está usando uma camisa de mangas longas, estampada de marrom e amarelo, uma calça bege, e está com os braços cruzados. Ela está sentada em uma cadeira verde escura estofada, com as pernas cruzadas, com uma expressão de preocupação, olhando para a moça que está sentada ao seu lado direito. Ao lado dela, à direita, está uma mulher jovem. Ela tem cabelos compridos, loiros, lisos e soltos. Ela está usando uma camisa xadrez cinza de mangas longas, com outra camiseta cinza por baixo, e calça preta; está olhando séria para a senhora que está sentada à sua esquerda, com as mãos fechadas sobre as pernas. Atrás delas há uma parede azul clara, com um quadro de tamanho médio. Elas estão em ambiente interno.
Indicado ao Oscar 2022, Four Good Days mostra-nos a realidade do consumo excessivo de substâncias ilícitas e como esse abuso pode destruir os laços familiares mais fortes, como o de mãe e filha (Foto: Vertical Entertainment)

Sabrina G. Ferreira

A narrativa de Four Good Days tinha tudo para ser óbvia e seguir o roteiro clássico de um filme com essa abordagem, entretanto o que se vê é um show de atuações, e um recorte instigante do problema apresentado. Baseado em fatos reais, o longa dirigido por Rodrigo García (Em Terapia, Questão de Vida), mostra a trajetória de Molly (Mila Kunis), uma mulher jovem viciada em drogas, que retorna para a casa da sua mãe, Deb (Glenn Close), em busca de ajuda para vencer sua dependência química. Após levar a filha à reabilitação, pela 15ª vez, elas descobrem um método novo e intensivo de cura para o vício, mas para iniciar o tratamento, Molly precisa ficar quatro dias sem usar nenhum tipo de droga.

Esta é a premissa de Four Good Days, que fez sua pré-estreia no Festival de Sundance em 2020, e agora concorre ao Oscar 2022 na categoria de Melhor Canção Original com Somehow You Do, composta por Diane Warren, mulher mais nomeada aos prêmios da Academia sem nunca ter ganho. Graças ao trabalho de longa data na área de trilhas sonoras, com as faixas icônicas There You’ll Be de Pearl Harbor, e I Don’t Want To Miss A Thing de Armagedom; até o momento foram 13 indicações, e infelizmente, nenhuma vitória.

Cena do filme Four Good Days. Na imagem, vemos uma mulher jovem à esquerda; de cabelos loiros, lisos, amarrados em um coque; e pele clara. Ela está usando um vestido comprido de cor verde, estampado com flores pequenas, uma camiseta verde escura de mangas longas, e está com os braços cruzados, enquanto olha para baixo. Ao lado dela, à direita, está uma mulher de meia idade. Ela tem cabelos curtos, loiros, lisos e com franja. Ela está usando uma camisa jeans de mangas longas, com outra camiseta vermelha por baixo, e calça preta; está olhando séria para a moça que está à sua esquerda. Ambas estão em pé, paradas em uma calçada na rua. Atrás delas há algumas casas e algumas árvores. Está de dia e está sol.
A trama é baseada em história real publicada no Washington Post em 2016, escrita pelo premiado jornalista Eli Saslow (Foto: Vertical Entertainment)

Apesar da trama previsível e sem grandes surpresas, o destaque mesmo é a dupla de protagonistas. Mila Kunis e Glenn Close desempenham seus papéis de forma impecável, recriando uma dinâmica familiar repleta de emoções, que vão desde o passado até o presente, envolvendo decisões, erros e perdão por parte das duas, enfatizando o relacionamento de ambas e criando várias cenas comoventes de mãe para filha (e vice-versa).

Enquanto temos Glenn Close interpretando uma mãe traumatizada pelas ações de sua filha no passado – é perceptível pela sua casa, que é toda é acionada por alarmes – e até mesmo culpada por ter abandonado a família quando as filhas eram adolescentes e necessitavam de uma figura materna, Mila Kunis vive a filha que tinha tudo para ter um futuro promissor. Mas, após um acidente esportivo, se vê submetida a um tratamento à base de opióides e agora, se encontra dependente e totalmente destruída pelas drogas, em uma circunstância que lhe arruinou a vida e o casamento, e que a afastou dos dois filhos, e frequentemente, culpa a mãe pela falta de apoio e seu vício na adolescência.

Cena do filme Four Good Days. Na imagem, vemos quatro pessoas sentadas em uma mesa de madeira. No canto à esquerda, está um garoto de cabelos lisos e pretos, pele clara, vestindo uma camiseta cinza; ele tem as mãos fechadas sobre a mesa. Ao lado dele está uma garotinha, de cabelos loiros, ondulados e compridos, soltos sobre os ombros, com uma flor rosa na cabeça. Ela está vestindo uma blusa rosa de mangas longas, está olhando para baixo, e tem os braços cruzados sobre a mesa. Do lado direito dela há um homem, de boné cinza, pele clara, barba por fazer e vestindo uma camiseta cinza de mangas longas. Ele está olhando para a garota, com as mãos sobre a mesa. Do outro lado da mesa há uma moça, de cabelos loiros, lisos, amarrados em um coque. Ela usa um vestido verde, com uma camiseta verde escura de mangas longas por baixo. Ela também está olhando para a garota, e tem as mãos sobre a mesa. Há uma toalha estreita e fina no meio da mesa. O ambiente é interno, com paredes beges, e alguns móveis de madeira e quadros atrás deles. Está de dia e aparenta estar sol.
Fica claro o desconforto e o estranhamento dos filhos diante da mãe (Foto: Vertical Entertainment)

Para quem está acostumado com o semblante de Mila Kunis em outros trabalhos como em Cisne Negro, é assustadora a imagem da atriz, que com o auxílio de maquiagem, e um corpo exageradamente magro e curvado, na condição de alguém que já não consegue suportar o peso de seu próprio esqueleto, parece realmente uma pessoa devastada pela dependência química. Fica evidente o sofrimento da protagonista quando o ex-marido, papel de Joshua Leonard, traz seus filhos para uma visita e vemos um vislumbre da vida que ela poderia ter tido se tivesse seguido outros rumos.

Quanto ao roteiro do vencedor do Prêmio Pulitzer em 2014, Eli Saslow, e do próprio García, o texto não é nem um pouco diferente de outras produções recentes que tratam desta mesma temática, muitas vezes exagerando ao mostrar a verdade nua e crua de uma família que vive inúmeros problemas por ter um filho viciado em drogas. As situações são quase sempre as mesmas, e qualquer pessoa com conhecimento deste tipo de comportamento já deduz tudo o que virá no decorrer da narrativa. Entretanto, não deixa de ser um tema complicado e pesado e ao mesmo tempo importante de ser sempre lembrado e exposto.

Cena do filme Four Good Days. Na imagem, vemos uma moça abraçando uma senhora. A senhora está sentada em uma cadeira, de frente para uma mesa de madeira, com algumas taças em cima. Ela tem cabelos curtos, loiros, lisos e com franja, e veste uma blusa roxa de mangas longas; está com uma das mãos sobre a mesa, enquanto a outra está sobre o braço da outra mulher. A moça que está abraçando a senhora tem cabelos loiros, lisos e compridos e pele clara. Ela veste uma camisa marrom de mangas longas e calça jeans. Atrás delas, há um armário de madeira com portas de vidro, com algumas peças de porcelana dentro. Elas estão em ambiente fechado.
A história desfaz a visão de que problemas como esse são enfrentados por quem não teve boas oportunidades na vida (Foto: Vertical Entertainment)

No desfecho, após as várias tentativas e a irredutível crença de Deb na recuperação da filha quando mais ninguém acreditava, temos por fim a concretização de um final feliz. Depois de uma recaída e uma overdose, Molly consegue se desintoxicar das drogas e ter a chance de lutar pelo seu futuro como filha e como mãe. Four Good Days é sobre a impaciente amargura de que tudo o que foi conquistado poderá acabar assim, do nada. O milagre da cura para o vício seria a espera durar um pouco mais, e os dias tornarem-se meses, e anos. As mães continuarão acreditando, e os filhos seguirão tentando.

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