Atravessando gerações, O Homem Cordial está sempre à espreita

Cena do filme O Homem Cordial. A cena se passa durante a noite em um bar, desfocado ao fundo. No primeiro plano, vemos à esquerda um homem branco de cerca de 50 anos, com cabelos e barba grisalhos, vestindo uma jaqueta preta e com a mão apoiada em um balcão. Do lado esquerdo, vemos uma mulher negra de cerca de 25 anos, com cabelos escuros presos em tranças, vestindo uma jaqueta jeans. Os dois olham para frente, para algo que está fora do quadro.
A semelhança do título com o conceito sociológico do Homem Cordial não é mera coincidência (Foto: O2 Play)

Vitória Gomez

Na tentativa de entender o Brasil da década de 1930, com as aspirações nacionalistas e a valorização da cultura brasileira, o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda propõe a ideia do “homem cordial”. O conceito definia um cidadão movido pelo coração, afeto e pelo sentimentalismo em detrimento da razão, que extrapola o âmbito pessoal e o aplica no coletivo. Para Buarque de Holanda, essa seria a razão pela qual o brasileiro adota uma figura paternalista, familiar e passional. No entanto, é a mesma pessoa que se esconde por trás da face da cordialidade até que a hostilidade tome conta. Mais de oito décadas depois, O Homem Cordial busca a revitalização dessa ideia durante uma única e violenta noite em São Paulo.

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Dois Estranhos diz “basta”

Foto retangular que mostra um homem de pé. Joey Badass está à esquerda da imagem. Ele é um homem negro de 26 anos, possui cabelos curtos, crespos e pretos, usa uma calça preta, tênis brancos e uma jaqueta amarela. Sua mão esquerda está no bolso na jaqueta e ele posa com o queixo levantado. Joey está na frente de uma parede levemente amarelada onde podemos ver a frase NO JUSTICE pichada em vermelho.
Joey Bada$$ deslanchou na carreira de ator e protagoniza o curta-metragem indicado ao Oscar 2021 (Foto: Netflix)

Caroline Campos

Eric Garner, Breonna Taylor, George Floyd. Diga o nome deles. Quase um ano depois do assassinato de George Floyd, o ex-policial Derek Chauvin foi declarado culpado pelo júri popular. Exceção, claro, já que pouquíssimos agentes da polícia estadunidense são processados por matar alguém durante uma ação de trabalho. A decisão histórica calhou de acontecer alguns dias antes da cerimônia do Oscar 2021, em que Dois Estranhos, curta da Netflix que denuncia a violência sofrida pela população negra, está cotado como o favorito para levar a estatueta para casa.

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O ódio que você semeia: uma história sobre o preço de ser preto hoje em dia 

Fotografia do livro O ódio que você semeia, em formato brochura e com a capa na cor branca com a atriz Amandla Stenberg na capa, segurando um cartaz com o título do livro. Amanda é uma mulher negra, com cabelos pretos e longos, ela veste um moletom vermelho, uma calça escura e tênis brancos. Ao lado do livro, há uma xícara de café e flores vermelhas ao lado; é possível ver a lombada de outro livro, com o título A Hora da Virada.
Angie Thomas inspirou-se em Oscar Grant para criar o personagem Khalil; ele era um negro de 22 anos, assassinado a tiros no Ano Novo, em 2009, por um policial de trânsito de Oakland (Foto: Reprodução)

Kayane Cavalcante 

Em um mundo que rotula as pessoas, que as faz se sentirem estranhas, mal vistas e menosprezadas por serem quem são, levantar sua voz e usá-la como uma arma é um ato de coragem. Nesse contexto, o livro O ódio que você semeia, da magnífica autora afro-americana Angie Thomas, me deu uma lição que vou levar pelo resto da minha miserável vida de leitora, que é: minha voz é importante e não devo permitir que alguém tente me silenciar, pois quando nos calamos permitimos que um ciclo de injustiças criado pela sociedade elitizada continue e evolua. Assim, quando vamos às ruas em manifestações e escrevemos tweets cobrando pelos nossos direitos como seres humanos,  estamos quebrando esse ciclo preconceituoso que já dura séculos.

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