Já tem alguns anos que o Cinema, principalmente o western, tem desconstruído os mitos que solidificaram gêneros. Oeste Outra Vez, de Erico Rassi, segue pela mesma boiada, colocando em duelo os homens e seus relacionamentos. Nesse sertão, Toto (Ângelo Antônio) contrata um pistoleiro para dar um fim no homem que conquistou sua mulher. O filme faz parte da seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Mussum, o Filmis chegou às telas em uma safra fértil para as personalidades brasileiras: alguns meses depois de Nosso Sonho, junto do documentário Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você e Meu Nome é Gal, e pouco antes de Meu Sangue Ferve por Você. Haja cultura e diversidade em um ano em que, independentemente dos desempenhos individuais de cada obra, o Cinema nacional mostrou a potência que é – e que poderia ser ainda maior com políticas públicas que verdadeiramente valorizassem esse potencial. Para melhorar, a envolvente cinebiografia do sambista, ator e comediante Mussum, eternamente conhecido pelo seu papel como um dOs Trapalhões, arranca risadas fáceis e, não por menos, estreou com seis Kikitos do Festival da Gramado na bagagem, além de passagens pelo Festival do Rio 2023 e pela 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Mostra Brasil.
Na tentativa de entender o Brasil da década de 1930, com as aspirações nacionalistas e a valorização da cultura brasileira, o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda propõe a ideia do “homem cordial”. O conceito definia um cidadão movido pelo coração, afeto e pelo sentimentalismo em detrimento da razão, que extrapola o âmbito pessoal e o aplica no coletivo. Para Buarque de Holanda, essa seria a razão pela qual o brasileiro adota uma figura paternalista, familiar e passional. No entanto, é a mesma pessoa que se esconde por trás da face da cordialidade até que a hostilidade tome conta. Mais de oito décadas depois, O Homem Cordial busca a revitalização dessa ideia durante uma única e violenta noite em São Paulo.
“A ditadura nunca acabou. A ditadura só vai acabar com o fim da Polícia Militar, porque ela é muito presente dentro do cotidiano da periferia”, defende Débora Maria da Silva, fundadora do grupo Mães de Maio, em sua participação em A Mãe. Integrante da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Mostra Brasil, o longa mescla ficção à realidade para escancará-la: para Maria (Marcélia Cartaxo), mãe solo e residente da periferia, o desaparecimento do seu filho pelas mãos da polícia e a burocracia para encontrá-lo se assemelha a incontáveis outros casos do cotidiano da Grande São Paulo.
Uma família negra de Minas Gerais navega por um Brasil incerto e nebuloso, afetado pela eleição de um presidente que representa o oposto de quem são. O véu de mundanidade da trama, escrita e dirigida por Gabriel Martins, chamou atenção por onde passou, sendo condecorada em Sundance e em Gramado, chegando, enfim, às portas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que escolheu a obra como a representante nacional na corrida pela estatueta de Melhor Filme Internacional no Oscar 2023.
“A Rita levou meu sorriso/No sorriso dela/Meu assunto/Levou junto com ela/E o que me é de direito/Arrancou-me do peito/E tem mais…” cantava Chico Buarque em uma de suas primeiras gravações. Mas, afinal, quem foi essa Rita que arrasou os sentimentos do artista? Em O Pai da Rita, novo longa de Joel Zito Araújo que estreou na Mostra Brasil da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, a tal da Rita não roubou somente o coração de Chico, como também de dois sambistas da Vai-Vai, em um filme leve e divertido, que celebra a paternidade e o reencontro de gerações.