Made in Honório é uma propaganda que emociona

foto do pôster do documentário Anitta: Made In Honório, vemos a cantora Anitta, cantora branca, de perfil para a esquerda. Ela está com a língua para fora usando óculos escuros, brinco de argola brilhante e rabo de cavalo. Ao fundo há uma parede de luzes refletindo a artista.
Após promessas, série documental mostra outras faces de Anitta (Foto: Reprodução)

Maju Rosa

Números, muitos números. É assim que somos introduzidos à Anitta no primeiro episódio do documentário Anitta: Made in Honório. As visualizações, seguidores e parcerias internacionais aparecem na tela, mostrando de forma orgulhosa as conquistas da cantora durante sua carreira, praticamente um currículo.  

Depois do sucesso de Vai Anitta, a Netflix decidiu repetir a dose e apresentou para os seus assinantes mais uma série biográfica da cantora pop brasileira mais famosa da atualidade. Essa dose, assim como na primeira vez, veio batizada com algumas pitadas de autopromoção, basta saber se foi uma estratégia que se camuflou o bastante para não ser notada.

Continue lendo “Made in Honório é uma propaganda que emociona”

Persona Entrevista: Moara Passoni

A cineasta, co-roteirista do comentado Democracia em Vertigem, fala sobre sua experiência com a anorexia que motivou Êxtase, seu primeiro longa-metragem e sobre a indicação ao Oscar 2020

O Persona entrevista Moara Passoni, diretora de Êxtase e roteirista de Democracia em Vertigem (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

Semana passada, estreamos uma novidade aqui no site: o Persona Entrevista. O quadro ainda tem o gostinho da nossa cobertura da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo porque traz para seu início conversas que tivemos com alguns diretores de filmes exibidos no festival. A abertura se deu com João Paulo Miranda Maria, diretor de Casa de Antiguidades, filme que representou o Brasil no Festival de Cannes este ano. 

Dessa vez, o Persona recebe Moara Passoni, roteirista de Democracia em Vertigem que, depois de nos representar entre os Melhores Documentários do Oscar 2020, estreia na direção com Êxtase, seu primeiro longa-metragem premiado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) na Mostra SP deste ano. Ela conversou conosco sobre o longo processo de criação do filme que, brincando com a linha tênue existente entre a ficção e a realidade, atravessa a experiência da própria com a anorexia e dá voz a relatos de muitas outras mulheres que participaram de sua concepção compartilhando suas vivências.

Continue lendo “Persona Entrevista: Moara Passoni”

Êxtase dissolve os limites

Depois de celebrar sua indicação ao Oscar, a roteirista de Democracia em Vertigem estreia na direção documentando sua experiência com a anorexia na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

É sempre surpreendente como algo profundamente pessoal pode ressoar de maneira tão universal. Fenômeno que é objeto de estudos das ciências humanas é também matéria-prima da arte, especialmente na que surge das mentes e mãos de uma nova geração de documentaristas brasileiras. Depois de explorar esse aspecto em produções como Elena, agora eu falo de Êxtase, documentário que participa da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo marcando a estreia de Moara Passoni – também roteirista do anteriormente citado – na direção. A partir das vivências da própria com a anorexia, o filme estabelece uma narrativa que em nada compreende as estruturas clássicas do cinema para nos conectar com outras realidades e mostrar que, mesmo com as nossas individualidades, muitas das nossas angústias podem ser similares e mesmo com manifestações diferentes, podem carregar a mesma origem.

Continue lendo “Êxtase dissolve os limites”

A Morte do Cinema e do Meu Pai Também: o cinema não morreu

O segundo longa do diretor israelense Dani Rosenberg faz parte da Seleção Oficial do Festival de Cannes (Foto: Reprodução)

João Batista Signorelli 

É no mínimo curioso o fato de um filme com este título venha a ser lançado justamente no ano de 2020, onde redes de cinema caminham para a falência e as salas oscilam entre uma capacidade limitadíssima de espectadores e o fechamento total. E se A Morte do Cinema e do Meu Pai Também poderia estar anunciando nos festivais de cinema online como a 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo que essa forma de arte do modo que conhecemos está com seus dias contados, no fim ele acaba fazendo justamente o contrário. A Morte do Cinema e do Meu Pai Também revigora a arte cinematográfica não apenas por suas reflexões pertinentes a respeito do próprio ato de fazer um filme, mas também por ser tão assertivo em encontrar o universal a partir de um lugar tão íntimo e pessoal. 

Continue lendo “A Morte do Cinema e do Meu Pai Também: o cinema não morreu”

Notturno: as cicatrizes da guerra são profundas como a noite e nítidas como o dia

O documentário é parte da seção Perspectiva Internacional da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

Um jovem casal se encontrando enquanto tiros soam ao fundo, crianças desenhando seus traumas, pacientes psiquiátricos ensaiando uma peça de teatro como parte do tratamento. Num compilado de imagens cotidianas protagonizadas por quem viu e sentiu uma violência extrema, Notturno ressalta as marcas que os conflitos no Oriente Médio deixam em seus habitantes. Filmado durante os três últimos anos nas fronteiras do Iraque, Curdistão, Síria e Líbano, o documentário chega na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo registrando a realidade material e psicológica de quem, inserido num cenário onde a guerra é uma companhia constante, tenta seguir em frente.

Continue lendo “Notturno: as cicatrizes da guerra são profundas como a noite e nítidas como o dia”

Cracolândia (não) é propaganda

O documentário é parte da Mostra Brasil da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Danilo Verpa/Folhapress)

Raquel Dutra

Prometendo apresentar uma profunda pesquisa e diferentes pontos de vista sobre um dos maiores desafios da vida urbana contemporânea é que o documentário Cracolândia chega à 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Em certa medida, ainda que levianamente, a produção dirigida por Edu Felistoque cumpre sua promessa inicial, mas revela outras problemáticas ao decorrer do filme que são chanceladas de uma forma muito infeliz ao final de seus 87 minutos.

Continue lendo “Cracolândia (não) é propaganda”

Desmistificando La Planta

O documentário de Beto Brant emplacou na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Vitor Tenca

A cannabis faz parte da história humana por milhares de anos e tem tremendas propriedades além de sua mera utilização recreacional. Seu papel central para a compreensão do sistema endocanabinóide e sua relação especial com o sistema químico corpóreo a torna única, e ainda há muito a se descobrir. O que você sabe sobre cannabis? É com essa pergunta que o documentário La Planta, exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, vem nos instigar de uma forma sensível, informativa e, o mais importante, afirmativa. 

Continue lendo “Desmistificando La Planta”

Coronation é o pesadelo coletivo do qual todo indivíduo gostaria de acordar

O documentário proporciona um mergulho aos bastidores esterilizados do hospital de campanha em Wuhan (Foto: Divulgação Imprensa)

João Batista Signorelli

Caso você não tenha prestado atenção às notícias dos últimos dez meses, ou se o isolamento social já lhe era regra antes de 2020, é importante saber que o mundo vive um momento bastante delicado de sua história: uma pandemia global. Nesse contexto de grande impacto a todos os continentes, o documentário Coronation, dirigido pelo artista multifacetado Ai Weiwei, tem sua estreia no Brasil como Apresentação Especial durante a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Nele, Weiwei traz um olhar singular para a experiência de indivíduos durante os primeiros meses da pandemia em Wuhan, além de mergulhar nos bastidores do combate ao vírus, tecendo uma crítica ousada ao governo chinês.

Continue lendo “Coronation é o pesadelo coletivo do qual todo indivíduo gostaria de acordar”

Taylor Swift não é a Miss Americana

“Eu me tornei a garota que todos queriam que eu fosse” (Foto: Republic Records)

Ana Laura Ferreira

O que significa ser mulher no mundo de hoje? O que significa ter seu corpo e suas ações a mercê do olhar e da opinião alheia? E se todas nós já sofremos as pressões que respondem tais perguntas, o que isso significa em um nível maior?

Viva uma narrativa que os entretenha, mas não os deixe desconfortáveis”. Talvez essa seja a resposta que a sociedade impõe às mulheres, em especial aquelas que fazem parte da indústria do entretenimento. E é destrinchando as camadas encobertas pela mídia e explorando o lado bom, e o ruim, de ser uma figura pública que acompanhamos alguns anos da vida de uma das maiores estrelas pop da década, Taylor Swift. Produzido pela Netflix, o documentário Miss Americana embarca em uma viagem pelo emocional e criativo da cantora e abre margem para discussões políticas que transcendem suas músicas românticas.

Continue lendo “Taylor Swift não é a Miss Americana”

Rex Orange County cresce para além dos traumas

Tanto o disco ao vivo quanto o documentário foram surpresas do cantor para os fãs (Foto: Reprodução)

Vitor Evangelista

Se, três anos atrás, Rex Orange County achava que deveria ter ficado em casa, em 2020 ele quer o oposto. A pandemia e o isolamento social mataram esses sonhos, é claro, mas não impediram-no de lançar Live at Radio City Music Hall, seu primeiro disco ao vivo. As 9 canções selecionadas foram cantadas em Nova Iorque, pouco antes do mundo fechar as portas e as aglomerações virarem memória. 1 ano após o sentimental Pony, Alex O’Connor parece mais maduro e preparado para lidar com seu coração.

Continue lendo “Rex Orange County cresce para além dos traumas”