A 2ª temporada de Hunters aproveita as brechas da liberdade criativa

Texto Alternativo: Cena da série Hunters. Nele estão 4 pessoas. Dois homens e duas mulheres.Estão andando com roupas de gala em um salão ornamental. A esquerda, um homem e uma mulher brancos, vestem um terno vermelho e amarelo e um vestido prateado respectivamente. A direita, um homem branco e uma mulher negra. Vestem um terno vermelho de veludo e um vestido marrom
David Weil, showrunner de Hunters, subiu ao estrelato com a série que o representa pessoalmente por ser neto de sobreviventes do Holocausto (Foto: Amazon Prime Video)

Henrique Marinhos

Há três anos estreava a dualista primeira temporada de Hunters. Aos que conseguiram terminá-la, hoje podem apreciar o segundo – e maior – ato do enredo, desenvolvido por David Weil, Mark Bianculli, Nikki Toscano e David Rosen, que divide opiniões. Com um exímio elenco, a série traz Al Pacino de volta às telas, já que seu último papel em uma produção para televisão foi em 2003, em Angels in America. Agora, o ator interpreta Meyer Offerman, um líder de caçadores nazistas à procura de fechar as feridas deixadas pela Segunda Guerra Mundial.

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Holy Spider cai em sua própria teia

cena do filme Holy Spider. Mulher caído ao chão com apenas sua mão e tronco à mostra no take do filme, foco central em sua mão derrubada - tudo acima de um tapete estampado
“Cada homem encontrará o que deseja evitar” Imam Ali – Nahj Al-Balagha – Sermão 149. (Foto: MUBI)

Mariana Pinheiro

Estarei de volta quando você acordar“, diz uma mulher ao seu filho horas antes de ser brutalmente assassinada enquanto trabalhava. Ela arrumou-se e o beijou pela última vez sem saber o que aconteceria em mais uma noite nas ruas. Essa é a primeira cena de Holy Spider, a qual elucida tudo o que o filme pretende contar durante sua exibição. Nela, uma prostituta iraniana caminha pela cidade de Mashhad enfrentando olhares mal-intencionados e buscando refúgio em drogas para escapar da realidade assombrosa a qual é condenada a viver. 

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1899 tenta, mas está longe de superar Dark

Cena da série 1899. Nela, há um homem branco com cabelos pretos vestindo sobretudo preto olhando para a esquerda, lado em que está na foto. No centro, há uma mulher branca com cabelos ruivos e que veste um vestido na cor marsala. À direita, está um homem branco, com cabelo castanho liso e barba. Ele veste um colete preto sobre uma camisa de manga cinza. O fundo da cena é desfocado.
Em 1899, Baran bo Odar e Jantje Friese repetem fórmula na tentativa de se consagrarem novamente com uma das séries mais assistidas da gigante do streaming (Foto: Netflix)

Felipe Nunes

Drama, artefatos misteriosos que moldam a realidade, o espaço e o tempo, ficção científica e um casal alemão que revolucionou a história da Netflix ao lançar uma das séries de língua não inglesa mais consumidas na plataforma. Essa é a receita de Dark e quase foi a do novo lançamento do streaming, 1899. As comparações são sempre injustas, mas o tempo de produção e investimento superior para a segunda obra de Baran bo Odar e Jantje Friese fez o seriado prometer mais do que podia cumprir. A associação é inevitável. 

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Os curtas brasileiros do 28º Festival É Tudo Verdade

Na 28ª edição do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, o Persona acompanhou os filmes da Competição Brasileira de Curtas-Metragens (Foto: Hans Gunter Flieg/Acervo Instituto Moreira Salles/É Tudo Verdade/Arte: Ana Clara Abbate/Texto de abertura: Bruno Andrade)

Entre os dias 13 e 23 de abril, o Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade voltou totalmente às salas presenciais dos cinemas espalhados em São Paulo e Rio de Janeiro. Com exibições gratuitas no Centro Cultural São Paulo, Cine Marquise, Cinemateca Brasileira, Sesc 24 de Maio e IMS Paulista, o festival teve também Sessões Especiais virtuais, exibindo nas plataformas de streaming Itaú Cultural Play e Sesc Digital sete dos nove filmes da Competição Brasileira de Curtas-Metragens e dois longas da Mostra Foco Latino-Americano (Beleza Silenciosa, de Jasmín Mara Lópeza, e Hot Club de Montevideo, de Maximiliano Contenti).

Com 72 títulos de 34 países, o festival – fundado em 1996 por Amir Labaki – homenageou dois grandes cineastas na sua 28ª edição: Humberto Mauro (1897–1983), “um dos inventores do Brasil cinematográfico”, que “impõe-se quando o próprio país e logo seu Cinema enfrentam nova reconstrução”, exibindo dez de seus filmes e dois documentários; e Jean-Luc Godard (1930–2022), com a apresentação dos oito episódios da sua série documental História(s) do Cinema (1987-1998), considerada a obra-prima da última parte de sua carreira, cujo conteúdo foi constantemente retrabalhado pelo autor e cuja produção durou cerca de dez anos.

O alcance do É Tudo Verdade, o maior festival de Documentários do mundo, é reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que classifica diretamente os filmes vencedores dos prêmios dos júris nas Competições Brasileiras e Internacionais de Longas/Médias e de Curtas-Metragens para apreciação ao Oscar do próximo ano. Longe das sessões presenciais, o Persona assistiu à distância os curtas-metragens brasileiros disponíveis no streaming. Dos sete filmes da Competição Brasileira de Curtas exibidos remotamente, quatro tiveram sua estreia mundial no É Tudo Verdade, que também expôs, apenas presencialmente, Ferro’s Bar (Menção Honrosa na categoria), dirigido por Aline A. Assis, Fernanda Elias, Nayla Guerra e Rita Quadros, e O Materialismo Histórico da Flecha Contra o Relógio, de Carlos Adriano.

Mãri hi – A Árvore do Sonho, de Morzaniel Ɨramari, além de ter sua estreia mundial no É Tudo Verdade, foi o grande vencedor da Competição Brasileira de Curtas-Metragens, recebendo também o Prêmio Mistika. Produzido em parceria da ARUAC Filmes com a Hutukara Associação Yanomami, o curta do cineasta yanomami aborda o conhecimento de seu povo sobre os sonhos, com a participação e narração da liderança indígena e xamã, Davi Kopenawa. “A luta yanomami vai continuar até o fim”, disse Ɨramari.

Abaixo, você fica com a curadoria do Persona feita por Bruno Andrade, Enzo Caramori, Guilherme Veiga, Jamily Rigonatto, Nathalia Tetzner e Vitória Gomez, que deixam suas impressões sobre Os curtas brasileiros do 28º Festival É Tudo Verdade.

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A segunda temporada de A Vida Sexual das Universitárias canta em notas lascivamente cômicas

Cena da série A Vida Sexual das Universitárias. Na imagem estão Whitney, Leighton, Bela e Kimberly, da esquerda para a direita. Whitney é uma mulher negra de tranças castanhas, ela veste uma camiseta branca e uma jaqueta rosa. Leighton é uma mulher branca de cabelos longos e lisos. Bela é uma mulher indiana de cabelos longos, pretos e lisos, ela veste uma camiseta vermelha com um casaco bege. Kimberly é uma mulher branca de cabelos curtos, lisos e castanhos claros, ela veste uma camiseta listrada com uma jaqueta laranja. Todas fazem cara de surpresa.
Sob as subjetividades de suas protagonistas, A Vida Sexual das Universitárias repousa em um retorno maduro e coerente (Foto: HBO Max)

Jamily Rigonatto 

Quatro meninas de personalidades completamente diferentes em um quarto de universidade e a possibilidade de explorar o que o desejo permitir? Já vimos algo parecido antes, mas a receita de A Vida Sexual das Universitárias tem um tempero a mais. Com dramas sinceros e o sopro da juventude contemporânea, a série original da HBO Max chegou ao seu segundo ano pronta para conquistar os corações e corpos da Essex College.

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Estante do Persona – Março de 2023

Imergindo na subjetividade, o Clube do Livro de Março conheceu a franqueza de Aurora Venturini em As Primas (Foto: Fósforo/Arte: Aryadne Xavier/Texto de Abertura: Jamily Rigonatto)

“Mas tudo passa neste mundo imundo. Por isso não faz sentido se afligir demais por nada nem ninguém. Às vezes penso que somos um sonho ou um pesadelo realizado dia após dia que a qualquer momento não será mais, que não aparecerá mais no telão da alma para nos atormentar.”

– Aurora Venturini

Aprofundando os laços familiares, o Clube do Livro do Persona escolheu os ares argentinos para guiar os ventos no terceiro mês do ano. Sob as linhas de uma protagonista de personalidade forte, as páginas de As Primas, de Aurora Venturini, encaminharam uma leitura curiosa e repulsivamente divertida. Definida como uma espécie de autobiografia, a obra é narrada por Yuna, uma mulher com deficiência vivendo rodeada de um contexto trágico em que a violência e a vulnerabilidade social abraçam mulheres e seus laços sanguíneos. 

Com características únicas, o livro não performa o mais politicamente correto dos textos. Sob os pensamentos, julgamentos e o nojo voraz carregados pela personagem principal, somos afundados em uma narrativa sem filtros na qual o incomum ganha forma em linhas curvas e manchas de tinta. O movimento atípico se reflete na construção de uma escrita que considera a pontuação secundária e dá holofotes à sinceridade liberta. 

Em 160 páginas, Yuna detalha as figuras de sua família e os eventos assombrados que a perseguem enquanto registra tudo em cor e sombra através de suas pinturas. Sob as pinceladas, aborto, prostituição, morte e abuso ganham retratações ácidas. Entre a mãe, a irmã Betina, a tia Nenê e as primas Carina e Petra, o grotesco e o desatino remontam um viés peculiar da vivência de vítimas da opressão oferecida pelo destino. 

O romance é o primeiro e único das mais de 40 publicações de Aurora e marca sua estreia no universo literário da América Latina. Em um deslumbramento brutal, o escrito consagrou a literata aos 85 anos com o prêmio Nueva Novela em 2007. No Brasil, a obra ganhou a primeira versão em setembro de 2022 pela Editora Fósforo e foi traduzida por Mariana Sanchez. 

Em tons insólitos, As Primas causou um rebuliço comicamente miserável. Para não perder o costume, os membros da nossa editoria não falham em dar opções aos que querem adentrar relações similarmente complicadas, mas também contemplam os interessados em conhecer outras das infinitas possibilidades oferecidas pela Literatura. Por isso, o Estante do Persona de Março deixa suas primorosas indicações para estampar o cinza outonal.

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Dentro de si, escute as feras: entre a autobiografia e a etnografia de Nastassja Martin

Imagem retangular de fundo branco. No canto superior, está centralizado a logo do Persona, um olho com íris na cor cinza e pupila em preto no formato triangular de play. Ao lado da logo, está o selo “Clube do Livro” em letras transparentes colocadas sobre um fundo preto. Abaixo está escrito “Dentro de si, escute as feras: entre a autobiografia e a etnografia de Nastassja Martin” em letras pretas, sendo "escute as feras" em letras cinzas. Mais abaixo, no canto esquerdo, há a capa do livro cujo fundo é branco. Na parte superior direita da capa, há o nome da autora Nastassja Martin escrito em letras pretas. Na parte superior esquerda, há o título do livro “Escute as Feras” escrito em letras pretas. Mais abaixo, está uma ilustração de um borrão preto com uma silhueta similar ao de um urso. Ao lado direito da imagem da capa, está o escrito "Ao encontrarem-se uma no olhar da outra, a antropóloga e a ursa, próximas a um vulcão no extremo leste siberiano, marcam mutuamente os seus destinos e fundem a condição de fera e humana." em letras pretas. Abaixo do texto está escrito “Por" em letras pretas e "Enzo Caramori" em letras cinzas.
Nastassja Martin esteve na programação principal da 20ª Flip junto a Tamara Klink na mesa ‘‘Desterrando o susto’’, e seu Escute as feras foi a leitura do Clube do Livro do Persona em Fevereiro (Foto: Editora 34/Arte: Ana Cegatti)

Enzo Caramori

Outono. Todo encontro com o Outro revela-se como uma experiência de arrebatamento: da violência de deixar um pedaço de si e desprender-se da unidade do Eu ao movimento da alteridade de achar-se nos olhos do desconhecido. No caso da antropóloga Nastassja Martin, ressonante no livro Escute as feras, a experiência é do deslumbramento de um beijo e da brutalidade de um ataque e contra-ataque. Ao encontrarem-se uma no olhar da outra, a antropóloga e a ursa, próximas a um vulcão no extremo leste siberiano, marcam mutuamente os seus destinos e fundem a condição de fera e humana.

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Todos somos Criaturas do Senhor

Criaturas do Senhor estreou no Festival de Cannes em 2022 e chegou nos cinemas brasileiros em abril, seis meses após o lançamento global (Foto: A24)

Vitória Gomez

A Irlanda tem sido palco de produções interessantes e diversas. Longe dos conflitos amistosos e de uma bela ambientação folclórica, ou até da sensibilidade tocante de uma tal menina silenciosa, a ilha também abriga as Criaturas do Senhor e seus lados sombrios e humanos. Na obra, produzida pela oscarizada A24, a decisão de uma mãe entre proteger seu filho ou deixá-lo aceitar as consequências de suas próprias ações norteiam um dilema sem volta, capaz de alterar a trajetória da cidade inteira e de um patriarcado atemporal.

Estrelado pelos indicados ao Oscar Emily Watson e Paul Mescal, o filme demora a mostrar a que veio. Brian (Mescal) retorna ao lar, uma ilha não nomeada da Irlanda, depois de anos morando na Austrália. Sua partida é um mistério e seu retorno, mais ainda. Mesmo assim, o homem, na casa dos seus vinte e tantos anos, é bem recebido pela irmã Erin (Toni O’Rourke) e principalmente pela mãe, Aileen (Watson). O menino de ouro da mulher, porém, não é bem como ela o vê e, ao longo dos 100 minutos, se revela.

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Os filhos dos nossos filhos também verão Pantanal

Cena da novela Pantanal. Da esquerda para a direita na imagem, as personagens Juma e Jove se posicionam frente a frente. Juma, uma mulher branca de cabelos e olhos castanhos, está de olhos fechados enquanto Jove, um homem branco de cabelos castanhos e olhos claros, a observa. A câmera captura ambos apenas a partir dos ombros. O cenário ao fundo é uma parede branca iluminada pelos raios de sol.
Juma e Jove retornaram às televisões brasileiras 32 anos depois da primeira exibição da novela Pantanal (Foto: Globo)

Nathalia Tetzner

A história contada por Pantanal é atemporal e se confunde com uma moda sertaneja que há décadas emociona peões: “ele tinha um cavalo preto por nome de Ventania e um laço de doze braças do couro de uma novilha”. Desde a primeira exibição da novela, em 1990, até o remake em 2022, a trama pouco mudou, ainda que o Brasil, acumulador de uma quantidade exorbitante de gado, tenha sofrido grandes transformações. Ao som da mesma canção, o ‘Véio’ Joventino cavalgou país afora até um dia sumir e deixar seu filho José Leôncio para trás. Ele, bicho do mato, se meteu com uma moça da cidade e da união nasceu Jove, o primeiro herdeiro sem padrão de boiadeiro que chegou para “cutucar a onça com vara curta”. Da luta entre humano e felino, a novela reviveu o seu destino. 

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O Menu abocanha o terror psicológico e não deixa nada no prato

Cena do filme O Menu. Da esquerda para a direita na imagem, Margot escuta o que o chef Slowik tem a dizer. Ela é uma jovem branca de cabelos ruivos e olhos claros. Ele é um homem branco de cabelos e olhos claros. Margot está sentada em uma mesa do restaurante de Slowik que, por sua vez, está de pé ao seu lado. O chef veste um avental característico da profissão na cor branca. Ao fundo, o cenário é um restaurante pouco iluminado e repleto de clientes
O novo longa de Mark Mylod traz Anya Taylor-Joy e Ralph Fiennes como protagonistas de uma experiência gastronômica transformadora (Foto: Searchlight Pictures)

Nathalia Tetzner 

Salpique uma jovem fumante sem apetite, ferva um ator latino esquecido, cozinhe alguns empresários corruptos, tempere um fanático por gastronomia, corte uma crítica sem papas na língua e adoce um chef de cozinha assombrado pelo próprio trabalho, faça todas as etapas no desconforto de um restaurante rodeado pelo mar e pronto: a receita de terror psicológico está servida. Na direção do seu primeiro filme de grande investimento, Mark Mylod prepara para as telas do Cinema o sabor transformador da sátira unida ao suspense com O Menu.

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