35 anos depois, O Clube dos Cinco não é mais tão bizarro assim

A imagem é uma fotografia dos personagens do filme, em frente à um armário escolar vermelho. Da esquerda para a direita estão: John, Allison, Andrew, Claire e Brian. John é um homem branco de cabelos castanhos lisos um pouco acima do ombro, ele usa um óculos escuro, jaqueta jeans, uma camisa xadrez vermelha e uma calça preta. John está encostado no armário, com o joelho direito dobrado. Allison é uma mulher branca, de cabelos castanhos curtos e franja, ela veste uma blusa preta de mangas compridas e uma saia cinza. Allison está sentada no chão, de joelhos dobrados em frente ao peito. Andrew é um homem branco de cabelos loiros curtos, ele veste um casaco azul estilo college, uma camiseta azul clara, uma calça jeans e tênis branco. Andrew está encostado no armário, com as pernas e braços cruzados. Claire é uma mulher banca, de cabelos ruivos acima dos ombros, ela veste uma blusa rosa, uma saia marrom e botas marrons. Claire está encostada no armário, com os braços cruzados para trás e as pernas também cruzadas. Brian é um homem branco com cabelos loiros curtos, ele veste uma blusa verde escura de mangas compridas, calças bege e um par de tênis azuis. Brian está encostado no armário, com a mão esquerda segurando seu pulso direito.
O clássico cult de John Hughes perdeu um pouco da sua essência nos dias atuais (Foto: Reprodução)

Vitória Silva

Sábado, dia 24 de março, 1984

Há pouco mais de 36 anos, cinco adolescentes foram convocados para um sábado de detenção na escola. Entre eles, uma patricinha, um atleta, um nerd, uma esquisitona e um rebelde. Cinco jovens com cinco personalidades totalmente distintas, e mais coisas em comum do que eles poderiam imaginar.

O filme que conta essa história foi lançado somente em 1985, 35 anos atrás, e assinado pelo diretor e roteirista John Hughes. Dono de outras grandes produções oitentistas, como Gatinhas e Gatões e Curtindo a Vida Adoidado, o legado do cineasta se consolidou, de fato, com O Clube dos Cinco, que se tornou um clássico cult anos depois.

Claire (Molly Ringwald), Andrew (Emilio Estevez), Brian (Anthony Michael Hall), Allison (Ally Sheedy) e John (Judd Nelson). Todos destinados a cumprir um castigo escolar devido às suas atitudes. Além de passar o sábado na biblioteca da escola, eles tinham como principal punição escrever uma redação que refletisse sobre seus comportamentos individuais, com o tema: quem vocês pensam que são? E esse é o gancho que amarra The Breakfast Club do início ao final.

A imagem é de uma das cenas do filme, em que os personagens estão atrás de um portão dentro da escola. Na imagem, podemos ver, da esquerda para a direita, os personagens: Brian, John e Claire. Atrás deles estão Allison e Andrew.
Apesar de inovador para a época, o roteiro do filme demorou apenas dois dias para ser escrito (Legenda: Reprodução)

As personalidades e trejeitos de cada um dos cinco não foram escolhidos à toa, já que representam os estereótipos mais presentes em tramas adolescentes, e bem característicos da época. Ao colocar estudantes totalmente distintos em um filme de quase um cenário só, Hughes não buscou criar nenhuma narrativa extraordinária, e sim, uma produção baseada no diálogo e interações entre os personagens. O resultado disso é uma série de reflexões existenciais acerca da juventude. 

A trama é ambientada majoritariamente na biblioteca do colégio, onde eles tem que passar as horas de sua detenção em silêncio, apenas escrevendo a redação. A presença de John Bender é a grande responsável por movimentar a história. As provocações do valentão com cada um dos personagens instiga o diálogo entre eles e, aos poucos, vemos suas carcaças se desfazendo. Ao final do filme, o nerd e o atleta não possuem muitas diferenças para além de suas roupas e acessórios. 

A imagem é de uma das cenas do filme. Nela, podemos ver os personagens Andrew e Claire na biblioteca. Andrew está sentado em uma cadeira, com os braços apoiados em cima da mesa. Enquanto Claire está sentada em cima da mesa, com os braços apoiados para trás, ela está boquiaberta.
Uma das musas dos anos 80, hoje, Molly Ringwald faz pontas em outras produções adolescentes, como Riverdale e A Barraca do Beijo (Foto: Reprodução)

O ambiente escolar é como uma selva. Ao adentrar aquele espaço, você já tem seu destino traçado apenas pela forma que anda, fala ou se veste. As famosas tribos se formam a partir de pessoas que encontram gostos em comum, ou que se forçam a encontrar. E é assim que a selvageria se inicia. De um lado, as patricinhas e os atletas, com boas condições financeiras, boas roupas e muitas festas. Do outro, os nerds e os esquisitões, aqueles que se recusam a entrar nos padrões estabelecidos, ou apenas não se encaixam mesmo, e acabam sendo deixados de lado.

O roteiro de Hughes estoura todas essas bolhas. De nada adiantam as aparências de cada um nos corredores da escola se, em suas casas, os problemas paternais que sofrem são os mesmos. A pressão para ignorar suas questões pessoais, a fim de não fugir do personagem a que eles mesmos se destinaram, cria jovens superficiais, em que a única preocupação é manter a sua reputação. 

O comportamento do Sr. Vernon (Paul Gleason), responsável por fiscalizar a detenção, é símbolo da dificuldade de se romper com os padrões que lhes são impostos. Como Brian Johnson afirma na redação Você nos vê como você nos quer ver”. E essa máxima influencia não só o comportamento dos estudantes, mas também o de diversas autoridades no meio escolar, que tem como única resposta a punição para aqueles que não se enquadram no sistema estabelecido.

A imagem é de uma das cenas do filme, em que os personagens estão sentados no chão da biblioteca, em um semi-círculo. Claire e John estão encostados em uma pilastra, um de frente para o outro. Enquanto Brian, Andrew e Allison estão do outro lado da roda. Todos estão rindo.
A cena dos personagens conversando em roda no chão da biblioteca, um dos momentos de maior vulnerabilidade no filme, não tinha falas no roteiro (Foto: Reprodução)

O Clube dos Cinco é uma narrativa sobre as pessoas que mostramos ser, para esconder quem realmente somos. Assim é colocado em uma de suas frases mais memoráveis Somos todos bem bizarros, alguns de nós são apenas melhores em esconder isso”.  Por mais que falar sobre reputação escolar pareça um pouco batido nos dias atuais, é um roteiro que se encaixa perfeitamente quando vamos para o mundo das redes sociais. Hoje, os corredores da escola se ampliaram para o feed do Instagram. Talvez seja isso que o faça ser um filme tão aclamado e querido até mesmo pelos millennials, que se enxergam nas fraquezas de cada um dos membros do clube. 

No entanto, a trama não se mantém com um teor tão atemporal assim. Uma narrativa que tem como enfoque apenas dizer como os populares sofrem os mesmos problemas que os esquisitões acabou se tornando um tanto rasa, ainda mais em uma realidade que olha cada vez com mais seriedade para os problemas da juventude. Produções como Euphoria e Sex Education tem uma abordagem muito mais profunda e precisa quando se trata das questões adolescentes nos dias atuais, envolvendo não só as pressões escolares mas também as psicológicas. E, com todo respeito, dão uma aula em qualquer filme do Hughes. 

A imagem é uma fotografia dos personagens na biblioteca. Nela, John está em cima de uma estátua. Claire e Brian estão encostados na mesma estátua. Allison está sentada, do lado esquerdo da estátua. E Andrew, também do lado esquerdo, está sentado em uma cadeira, com as pernas apoiadas na estátua.
É impossível ver histórias que se passam na detenção e não lembrar de The Breakfast Club (Foto: Reprodução)

E este é somente um dos motivos para se dizer que O Clube dos Cinco envelheceu como leite. O comportamento completamente abusivo de John com Claire, que rendeu uma cena quase explícita de assédio, é algo que não cabe hoje em dia. Convenhamos, a temática do bad boy que vive às custas de perturbar os outros, e ainda consegue conquistar a mocinha, já se tornou mais que ultrapassada. 

O filme também possui uma contradição irreparável. Após uma longa narrativa que trata sobre a importância de ser quem você é, o destino da personagem Allison é, nada mais nada menos, que mudar toda a sua aparência para conquistar o atleta Andrew Clark. Algo que apenas evidencia um pensamento machista da época, que não foi possível de ser ofuscado nas entrelinhas do roteiro.

Não fosse por isso, O Clube dos Cinco talvez ainda se mantivesse como um clássico intocável, digno de atravessar gerações com seus ensinamentos. Nesse caso específico, um remake do filme pode ser algo bem defensável, a fim de adequar a obra para as questões da atualidade.

A imagem é uma fotografia dos personagens do filme. Na imagem, Claire está deitada de lado, com a cabeça apoiada em seu braço esquerdo. Atrás dela, estão, da esquerda para a direita: Allison, Brian e Andrew. Allison está ajoelhada, com os dedos das mãos entrelaçados. Brian está com o corpo virado para à direita, com os braços em volta dos joelhos. Andrew está de frente, com a mão esquerda apoiada em sua perna esquerda. Atrás deles, está John, com o corpo virado para a direita, e o cotovelo direito apoiado em sua perna direita.
A icônica pose do pôster de divulgação é uma das referências mais marcantes que o filme nos deixou, junto com as dancinhas na biblioteca (Foto: Reprodução)

Talvez O Clube dos Cinco tenha ficado pequeno demais para a diversidade que nos abrange nos dias atuais. Mas, de certa forma, John Hughes precisou andar para que muitas tramas adolescentes pudessem correr. De nada seriam os filmes e séries que buscam se aprofundar no interior dos adolescentes se esses cinco jovens não tivessem se reunido naquele sábado de detenção. Cada um de nós continua sendo um nerd, um atleta, uma esquisitona, uma patricinha e um rebelde. 

Um comentário em “35 anos depois, O Clube dos Cinco não é mais tão bizarro assim”

  1. Essas ideias de remake para consertar “problemas” da trama é a coisa mais besta, mas infelizmente comum, hoje em dia!

    Assistam os originais, nada de remake!!

    Dizer que uma personagem que se livra de uma casca que a mantém isolada e se abre para o amor é algo machista é uma completa bobagem e se preocupar com isso mascara o verdadeiro machismo existente.

    Filme bom, com uma ótima mensagem.

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