Melhores discos de Janeiro/2018

Alexandre Goulart e Chiquinho, o gato mais estileira do Brasil: a vibe de janeiro (Foto: O Globo)

De modo geral, o mainstream musical foi melancólico em janeiro. Mortes de grandes músicos, polêmicas bobas, álbuns decepcionantes e, claro, a chatice anual do Grammy (tanto a cerimônia como as problematizações posteriores). Felizmente, o underground ofereceu boas pedidas para começar o ano com tudo. Teve de tudo, como você pode conferir abaixo:

Cupcakke – Ephorize

trap, pop rap

Com flow agressivo, letras com temática sexual/LGBT explícita e persona cartunesca, a jovem rapper entrega seu melhor registro até o momento. Embora algumas poucas bases não façam jus a sua abordagem, as batidas transitam entre bangers trap e faixas pop mais coloridas, em um tracklist consistente. Polêmica e irreverente, cupcakKe é aposta certa no hip hop em 2018. – Nilo Vieira


JPEGMAFIA – Veteran

hip hop industrial

Barrington Hendricks, o JPEGMAFIA, é um produtor dos Estados Unidos. Veteran, seu segundo disco cheio, é um divertido desfile de beats fora da caixinha. Títulos como “Baby I’m Bleeding”, “Libtard Anthem” e o grande destaque “I Cannot Fucking Wait Until Morrissey Dies” dão conta da irreverência do álbum.

Como rapper, Hendricks se parece com um MC Ride (Death Grips) menos furioso, mas não menos pungente em sua mensagem. Confira! – Gabriel Leite Ferreira


Jonny Greenwood – Phantom Thread

música erudita, trilha sonora

A parceria do guitarrista do Radiohead com o diretor Paul Thomas Anderson sempre rendeu bons frutos, e aqui não é diferente. Os arranjos são orquestrados sem nunca pender para a pomposidade; a influência do lendário pianista Bill Evans (parceiro de Miles Davis) é notável, e só incrementa no intimismo proposto por Greenwood.

Mesmo separado de Trama Fantasma, que só estreia no Brasil no próximo dia 22, o fundo musical para o último filme do excelente ator Daniel Day-Lewis funciona como álbum. Isso aumenta as expectativas para o longa-metragem, mas também entristece os mais realistas com a vindoura cerimônia do Oscar: que tristeza é imaginar esta bela trilha perdendo para os drones exagerados de Hans Zimmer em Dunkirk…. – Nilo Vieira


MC Xuxu – Senzala

funk carioca

A internet tem memória curta. Quatro anos depois de viralizar com “Um Beijo”, saudação dedicada a suas amigas travestis, a funkeira de Juiz de Fora reforça a lembrança e seu recado é pesado demais para ser esquecido. A estreia de Mc Xuxú passa longe do politicamente correto e é desbocada até a última consequência. Pajubá e irreverência completam o combo, que só peca por ser acabar cedo demais.

Na maçaroca musical de Senzala cabe de tudo: Mulher Pepita, Elza Soares e mangue beat, entre outras referências, com o funk carioca (que já é do mundo todo) assumindo o protagonismo da produção e fundindo o gênero que mais amamos ouvir com a realidade que precisamos entender. – Leonardo Teixeira


No Age – Snares Like a Haircut

rock alternativo

Essa dupla californiana não reinventa roda alguma – a parede de guitarras e sintetizadores, o vocal preguiçoso e os andamentos punk são a cartilha noventista. Contudo, a fluidez do primeiro disco pela gravadora Drag City é coisa bonita de se ver.

Snares Like a Haircut saiu pela Sub Pop (coincidência?!), e alterna faixas quase punk e peças instrumentais com naturalidade. 39 minutos de suaveira guitarrística ou seu dinheiro de volta. – Gabriel Leite Ferreira


Portal – ION

death metal cavernoso

Cinco anos após Vexovoid (2013), relativamente acessível no parâmetros do Portal, a banda australiana retorna com seu melhor disco desde Outré (2007) – que os elencou entre os grupos mais peculiares do underground extremo da década passada.

A fórmula não mudou muito, com o foco ainda nas camadas densas de guitarra e, claro, o vocal abissal de The Curator (os integrantes atendem por pseudônimos e se apresentam mascarados) e suas letras lovecraftianas. O diferencial aqui são os riffs recortados em maior destaque, que fornecem maior dinâmica sem nunca tornar a música do Portal menos impenetrável. Com apenas 37 minutos de duração, é daqueles álbuns que melhoram a cada replay. – Nilo Vieira


Yhdarl – Loss

black metal atmosférico, doom metal de funeral

Abram as portas do inferno!; aí vem o Yhdarl. O duo belga manteve uma produtividade invejável entre 2007 e 2012 (foram 7 discos em 6 anos!), e retorna agora com a pedrada Loss.

As três faixas denunciam um conceito, inclusive pelos títulos: “Ignite – Ashes”, “Despise – Pity” e “Sources – Nihil”. Pela mão de Déhà, que toca todos os instrumentos, e pelos vocais de seus convidados, ele nos entrega uma obra hermética e pesada. Pense num meio-termo entre Transilvanian Hunger e Sunbather, e você chegará perto da proposta. – Gabriel Leite Ferreira

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