Melhores discos de Fevereiro/2017

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E mais um mês incansável para nossa curadoria! Para evitar gafes iguais a do Oscar 2017, passamos o carnaval debulhando discos para trazer só a nata para você. Dentre sons na medida para quem não curte sambar e álbuns certeiros para mandar aquele passinho, nossos favoritos de fevereiro:

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Children of Alice – Children Of Alice

colagem, ambient, ???

Em mais um bom lançamento da toda poderosa Warp Records, a qualidade sonora se mostra muito acima de rótulos. Em 43 minutos divididos em apenas quatro suítes, encontramos desde os tons misteriosos do Boards of Canada até ambientações psicodélicas que remetem ao krautrock de grupos como Can e Neu!. Difícil de definir mas muito fácil de apreciar, é uma boa pedida de trilha sonora para momentos entediantes do cotidiano. (NV)


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Future – FUTURE/Hndrxx

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Um dos rappers mais influentes da atualidade, o sujeito é simplesmente uma máquina de produção industrial: além de figura carimbada como participação especial (o leque vai de Ariana Grande ao Maroon 5), o super trapper de Atlanta lança ao menos dois discos por ano desde 2010.

Nesse fluxo tão constante, é evidente que os erros acabam marcando mais que os acertos. Por isso, surpreende que estes dois novos álbuns – ambos de 17 faixas, lançados no intervalo de apenas uma semana – sejam tão consistentes. Ao passo em que o homônimo volta seu olhar para as bangers típicas de suas mixtapes, Hndrxx aposta em uma sonoridade mais suave, baseada no pop rap de Drake e no r&b de The Weeknd – este segundo álbum, aliás, reserva uma surpresa para os brasileiros na faixa “Fresh Air”. É dar o play e curtir de boa, seja sozinho ou numa festa. (NV)


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Jens Lekman – Life Will See You Now

indie pop

10 anos depois de seu Night Falls Over Kortedala, o sueco mantém em seu novo álbum o tradicional twee pop agridoce, mas incorporando uma série de influências, principalmente entre o disco e ritmos latinos. Essa mistura encorpa o trabalho do músico, gerando um álbum colorido e vibrante, apesar do conteúdo melancólico. (MF)


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Sampha – Process

r&b alternativo

O álbum é de estreia, mas o produtor passa longe de ser um iniciante: Beyoncé, Drake e Solange são só alguns dos nomes com quem o londrino já colaborou.

Com um currículo tão grandioso, não seria surpresa se Sampha investisse em uma direção mais megaproduzida e ambiciosa em seu debut. No entanto, ele opta pelo oposto e nos entrega um registro intimista, onde os experimentos com sua voz dividem o protagonismo com o piano. Mais uma confirmação do poder do r&b atual, este é o disco que James Blake deveria ter lançado ano passado. (NV)


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Stormzy – Gang Signs & Prayer

grime

Popularizado a partir de um freestyle lançado no Youtube, Stormzy é um dos principais representantes da nova geração do grime, o hip-hop britânico, que conquistou Yeezy, Drake e A$AP Rocky. Em seu debut, Gang Signs & Prayer, o rapper vai além das bangers tradicionais do gênero, bem representadas aqui com “Shut Up” e “Big for your Boots”, se aventurando em baladas e até música gospel, enquanto lida com temas como a depressão.
Gang Signs & Prayer peca na duração, erro comum da era do streaming, também não é o novo Boy In Da Corner, disco de Dizzee Rascal que dominou o mainstream em 2003. Ainda assim, junto de outros discos recentes, como Konnichiwa, do Skepta, e Godfather, do veterano Wiley, é a melhor visão do que o gênero significa na contemporaneidade. (MF)


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The Other People Place – Lifestyles Of The Laptop Café

downtempo, techno, afrofuturism

The Other People Place é mais um heterônimo do produtor James Stinson vindo, sem surpresas, da consagrada cidade de Detroit, berço mundial do techno. Junto ao também produtor musical Gerald Donald, Stinson possui uma larga discografia sob o nome de Drexciya que, com as suas batidas feitas aparentemente por alienígenas ou ainda por alguma civilização aquática destruída, redefiniu os padrões do até então do anfetaminado techno dos anos 80.

Através de uma petição feito pelos fãs que não aguentavam mais encontrar cópias em vinis desse disco com preços que chegavam aos exorbitantes 185 Euros (o equivalente a 600 Reais), a Warp – gravadora responsável pelos direitos de nomes similares tais quais Aphex Twin e Autechre – reimprimiu o disco no último mês de Fevereiro. O hype do disco também se consolidou, infelizmente, pela morte prematura de James Stinson, um ano após o lançamento do disco, em 2002.

Porém, o LP de apenas 8 faixas possui qualidades próprias que asseguram sua importância. Diferentemente dos enigmas e a obscuridade que permeiam bastante suas outras obras, Stinson entrega em Lifestyles Of The Laptop Café fragmentos musicais bastante claros, limpos e otimistas.

Há desde cenas dançantes que flertam com o electro (“Let Me Be Me”) até melodias calmas e etéreas (“Moonlight Rendezvous”, “It’s Tour Your Love”). Outras ainda já nos proporcionam uma visão enevoada (“You Said You Want Me”, “Sunrays”), mas que também não deixam de dar a saída através de vozes e teclados mostrando, claramente, a dimensão das possibilidades transcendentais que Stirson nos deixou. (AA)


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Thundercat- Drunk

neo-soul

Em seu terceiro disco, o virtuoso baixista norte-americano, conhecido por suas colaborações com Kendrick Lamar e Flying Lotus, leva o som da Brainfeeder ao limite em sua mescla de soul, funk, hip-hop e eletrônico.

Thundercat recebe uma série de convidados como Pharrell, Wiz Khalifa e o já mencionado K-Dot, em 23 faixas curtas de ar etéreo e noturno. (MF)


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Xiu Xiu – FORGET

noise pop

Cada um tem suas tragédias e sua maneira de lidar com elas. Dentre as tantas modalidades artísticas, a música é uma das mais eficientes nesse quesito. Jamie Stewart sabia muito bem disso quando formou o Xiu Xiu, seu projeto pessoal por excelência, em 2002. Não à toa ele cita o período entre os dois primeiros discos do grupo como um dos piores da sua vida.

Quinze anos depois, as coisas não parecem ter melhorado muito. FORGET, o décimo terceiro álbum da trupe, aposta na mistura esquizofrênica, porém acessível, de synthpop, industrial e rock alternativo já comum para os fãs. Incomum é a interpretação de Stewart, que parece ser propositalmente afetada a fim de diminuir (ou aumentar?) a tristeza de seus versos. O saldo é positivo; viva a ironia! (GF)

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