Remixes de músicas consagradas são muito polêmicos. Imagine então uma coletânea de novas versões para as canções imortais de Rita Lee, qual a chance de dar certo? Spoiler: deu e muito. Em Abril, fomos presenteados com o interessante Rita Lee & Roberto – Classix Remix Vol. l, idealizado pelo filho do casal, João Lee. É claro que as novas roupagens nem se comparam com a genialidade original da cantora, mas não é nenhum desastre, e sim um disco muito divertido de se ouvir.
Falando em clássicos, esse é um instantâneo: DUDA BEAT, tesouro nacional, está de volta com o maravilhoso Te Amo Lá Fora. A pernambucana queridinha do Brasil com certeza estará em muitas listas de melhores do ano. Os donos do sertanejo universitário também trouxeram novidades em Tudo em Paz, mostrando que 15 anos de carreira não foram suficientes para esgotar a arte da dupla Jorge & Mateus, que segue encantando os fãs com sua música.
Por aqui também tivemos POCAH descobrindo durante uma festa enquanto ainda estava no BBB que sua música com Lia Clark, Eu Viciei, tinha sido lançada. O funk, assinado pelo trio Hitmaker, entra para a lista de músicas que teriam bombado em todas as festas se não fosse a pandemia. Ludmilla e Xamã também colocaram no mundo uma ótima parceria: Gato Siamês deixa claro que Lud também nasceu para cantar R&B. Em Abril, rolou até uma colaboração internacional: Luísa Sonza e Bruno Martini foram convidados para um remix de Cry About It Later, de Katy Perry.
Nos States, assistimos Demi Lovato colocar seu coração nas canções de Dancing With The Devil… The Art of Starting Over, e estabelecer o disco como o melhor trabalho de sua carreira, com viciantes faixas pop e um desabafo sincero de alguém que quase nos deixou mas conseguiu recuperar sua vida. Taylor Swift também fez história em sua carreira ao lançar a primeira das regravações de seus álbuns antigos, que estão encaminhadas para sair nos próximos meses. Depois de ter sido impedida de comprar os masters de suas músicas, a artista decidiu voltar ao estúdio e regravar cada um de seus discos. Fearless (Taylor’s Version) já está entre nós, e que venham os outros!
Doja Cat finalmente foi libertada do cativeiro Say So e já começou a divulgar seu novíssimo álbum, Planet Her. O primeiro single escolhido é a contagiante Kiss Me More, ao lado de SZA. Twenty One Pilots também fez seu comeback cor-de-rosa e azul bebê. Choker e Shy Away são uma indicação que teremos uma era mais pop ainda do duo, e com uma vibe retrô. BROCKHAMPTON retornou iluminando toda sua criatividade em seu novo disco, enquanto Rina Sayama e Elton John se juntaram para uma parceria e regravaram Chosen Family, de Rina. No ano passado, Elton John declarou que SAWAYAMA era seu álbum favorito de 2020.
No Reino Unido, ao lado das drag queens A’Whora, Tayce e Bimini Bon-Boulash, que participaram da segunda temporada de Drag Race UK, as meninas do Little Mix lançaram seu primeiro trabalho em formação de trio. A nova versão de Confetti também contou com a colaboração da rapper Saweetie. Falando em girlbands, as sucessoras naturais do Little Mix nos apresentaram seu primeiro EP. As integrantes da Boys World estão apenas começando a trilhar seu caminho, e aos poucos estão construindo uma discografia promissora e empolgante, como a perfeita Girlfriends.
Olivia Rodrigo, o rostinho da Geração Z, continua fazendo muito barulho mesmo tendo apenas duas músicas lançadas em sua carreira solo. Dessa vez foi deja vu que explodiu no streaming e viralizou no TikTok. O debut da cantora, SOUR, nem viu a luz do dia ainda, mas já acumula mais de 1 bilhão de streams. Billie Eilish também está se preparando para lançar seu segundo álbum. As faixas que já pudemos ouvir, my future, Therefore I Am e, agora, Your Power, só aumentam as expectativas desse próximo trabalho de Billie. Com uma atmosfera mais adulta sem perder a essência Eilish, a pergunta que já começa a aparecer é: será que vem mais um AOTY aí?
No assunto bedroom pop, temos Ryan Woods. O jovem cantor alternativo é também produtor de suas canções, e colocou no mundo seu primeiro EP, King of the Basement. Nos distanciando um pouco mais do mainstream, dois trabalhos se destacaram com aclamação da crítica. O primeiro é Vulture Prince, obra-prima de Arooj Aftab que encontra um lugar entre a tradição da música oriental e a contemporaneidade dos sons do ocidente para atingir a universalidade da experiência do luto e processamento da dor. Longe da serenidade da musicista paquistanesa radicada em Nova York, está o barulho do hardcore divertido de The Armed em ULTRAPOP.
Abril também foi o mês de celebrar o maior evento do Cinema que encontra uma graça especial em suas performances musicais. No terraço do Museu da Academia, quatro das músicas indicadas a Melhor Canção Original foram brilhantemente entoadas, mas a honra da dimensão musical do Oscar foi dela, literalmente. Aos 26 anos, H.E.R. já tem estatuetas do Grammy e Oscar na prateleira de casa, e seu novo disco, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2021, promete.
Para um mês recheado de novidades, retornos e expectativas, a Editoria e os colaboradores do Persona prepararam o seu guia mensal que abriga tudo o que rolou no mundo da música num só lugar. Conecte seus fones de ouvido para passear conosco pelos sons que nos encontraram através dos CDs, EPs, singles, clipes e performances no Nota Musical de Abril de 2021.
CDs
Demi Lovato – Dancing With The Devil… The Art of Starting Over
Desabafo é a palavra que descreve o novo álbum de Demi Lovato. Em toda a sua carreira, ela nunca se arriscou dessa forma e o resultado não poderia não ser espetacular. Tudo aquilo que estava preso na garganta, ela soltou em Dancing With The Devil… The Art of Starting Over.
Seu pedido de socorro já começa na primeira faixa, Anyone, a qual ela declama com todas as palavras que ela precisa de alguém. Ela percorre seus sentimentos mais sinceros por todas as faixas, desde o complicado relacionamento com o pai até sobre seus transtornos alimentares. Agora, revigorada e com uma voz de dar inveja, sua sobriedade californiana está “cansada de ser conhecida pela minha doença” e pronta para mostrar seu devido valor. – Júlia Paes de Arruda
Rita Lee & Roberto de Carvalho – Classix Remix Vol. I
Rita Lee é um fenômeno inegável da Música Popular Brasileira. A cantora, dona de pelo menos um hit em cada década desde dos anos 60, é estrondosa desde sua banda Os Mutantes, mas conquistou seu maior reconhecimento e o auge de sua carreira ao lado de seu glorioso marido Roberto de Carvalho. Juntos, eles tiveram três filhos e marcaram toda uma geração com suas polêmicas e dançantes músicas. Idealizado pelo filho do casal, João Lee, o Classix Remix é uma releitura feita por DJs, das maiores canções da dupla.
Mania de Você, a música mais marcante da discografia de Rita, ganhou um delicioso remix de Dubdogz & Watzgood e outro mais noturno de Harry Romero. Lança Perfume foi assinada pelo francês The Reflex, que soube aproveitar a sonoridade original do clássico. Tropkillaz também está presente no projeto, trazendo um som mais contemporâneo pra inigualável Saúde. Trabalhar com remix é sempre um tiro no escuro, mas o tato de João Lee fez com que o alvo fosse acertado em cheio. – Ana Júlia Trevisan
Charlotte Cardin – Phoenix
É hora de conhecer Charlotte Cardin. A cantora e compositora canadense surgiu nos holofotes da música como uma das finalistas do La Voix (versão do programa de calouros The Voice de Québec) em 2013, aos 19 anos. Seu primeiro EP, intitulado Big Boy, foi lançado em 2016, seguido por Main Girl, em 2017. Com esses trabalhos, a artista recebeu duas indicações para o Juno Awards, o ‘Grammy canadense’, em 2018, como Artista Revelação do Ano e Compositora do Ano. Desde então, muitos singles nasciam vez ou outra preparando o terreno para seu primeiro álbum, que depois de dois anos de produção, chega até nós com o nome de Phoenix.
A inauguração da discografia da artista de 26 anos conserva suas raízes e influências culturais e musicais passeando entre o inglês e o francês, o pop, electro e jazz. O resultado impresso em Phoenix é de um electro-jazz e pop-soul que flerta com um R&B carregado de contemporaneidade, já que das canções mais dançantes às baladas, Cardin está à vontade na plenitude da energia da juventude, tanto em seus pontos de celebração, quanto de frustração. Mesmo trabalhando com a obviedade das desilusões amorosas, autoconhecimento e desabafos enraivecidos de quem busca entender a si mesmo e seu lugar no mundo, Phoenix ainda é vertiginoso e enigmático.
Existe a segurança e o preço de se trabalhar com clichês, mas se Cardin ainda ensaia o acabamento de suas composições, como intérprete não guarda hesitação alguma. O vozeirão da vocalista de Phoenix é plenamente valorizado junto da arquitetura sonora do disco. Ouça os singles Passive Aggressive e Meaningless para se compreender o potencial de seu pop e Sex To Me para se viciar nele, Anyone Who Loves Me para topar com seu controle vocal excepcional, Je quitte para se embalar no jazz francês, e Sad Girl para conhecer a identidade de Charlotte Cardin e não esquecer mais dela. – Raquel Dutra
Taylor Swift – Fearless (Taylor’s Version)
Taylor Swift sempre foi dona de suas próprias narrativas, e nem mesmo a venda de sua discografia a impediu de tentar. Após quase dois anos de espera, ela reconquista seus direitos autorais com seu décimo álbum de estúdio, Fearless (Taylor’s Version). Além das 20 faixas da obra original, ela traz seis novas canções como parte do side de inéditas chamado The Vault. Mr. Perfectly Fine é a cartada clássica de Swift sobre um término abrupto e That’s When (feat. Keith Urban) é a colaboração masculina essencial que seus primeiros álbuns nunca tiveram.
É quase impossível colocar em palavras o impacto de Fearless (Taylor’s Version). O disco consegue trazer as mesmas emoções que criou no imaginário popular treze anos antes, seja no universo shakespeariano de Love Story ou no romance adolescente de You Belong With Me. Poucos artistas conseguem se conectar com sua audiência de forma tão gloriosa como Taylor Swift – a longevidade de suas composições é imensurável. Escutar Fearless é uma jornada cheia de anacronismos que nos leva aos lugares que, junto com Taylor, já visitamos antes. – Laís David
BROCKHAMPTON – ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE
JOBA, um dos vocalistas da boyband BROCKHAMPTON, ao ser perguntado em vídeo promocional qual seria o lugar ideal para ouvir ROADRUNNER, responde algumas coisas: em um parque, parado no acostamento de uma estrada à noite, olhando para as estrelas, “apenas em algum lugar aí fora”. É curioso como, em um disco como ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE – que tem como principal proposta a fuga de uma existência afligente, ao encontro de uma utopia, ou senão, à procura de uma catarse –, a banda nos convide a também exercer essa fuga, a absorver a obra fora da rotina, em um ambiente que realce nosso aspecto absorto, longe de qualquer coisa que remeta à realidade impiedosa em que vivemos.
O que, é claro, não significa que o grupo de rap não encare essa realidade em momento algum no álbum. Junto a momentos agitados e vívidos, mas que sempre carregam também um ar de confusão, questionamento e incômodo, nos deparamos com verdadeiros manifestos trágicos e indigestos, que escancaram com crueza os tormentos pessoais de cada um dos integrantes como em THE LIGHT e THE LIGHT PT. II, e com statements potentes sobre a violência institucionalizada dos Estados Unidos contra grupos raciais e LGBTQ+ em DON’T SHOOT UP THE PARTY. Sua sonoridade é colorida, diversa e dinâmica, atravessando desde momentos mais poderosos e afrontosos como BUZZCUT, BANKROLL e CHAIN ON, até músicas mais brandas que remetem a aspectos clássicos de boyband como COUNT ON ME, OLD NEWS e I’LL TAKE YOU ON, e experimentações mais ousadas como o coral gospel de DEAR LORD e o indie rock guiado por guitarras inspiradas de WHAT’S THE OCCASION?.
Enquanto a trilogia SATURATION, trabalho que consolidou a banda no mainstream, abraça a contradição ao se apropriar de características e elementos do status quo para assim criticá-lo, ROADRUNNER se afasta ao máximo de qualquer coisa que possa aludir à normalidade ou à ordem vigente e, mesmo que não ofereça a solução para todas essas opressões e violências, ele dá o primeiro passo. Encara a realidade como ela é, com o fim de libertar-se dela. Pode até ser que o novo lançamento da BROCKHAMPTON não lhe entregue todas as respostas que precisa, mas com certeza será um espaço de acolhimento. É a proposta de um exercício de identificação e empatia que, talvez, seja exatamente o que estamos precisando. – Enrico Souto
DUDA BEAT – Te Amo Lá Fora
Se você vive no Brasil, com certeza já ouviu Bixinho em algum momento nos últimos três anos, seja numa festinha, na rádio ou até cantado pelos protagonistas do BBB21. DUDA BEAT é um fenômeno nacional: se lançou independente, entregou conceito, poesia pop e ritmos brasileiros em seu debut e em pouco mais de um ano já estava até abrindo show para a gigante britânica Lily Allen.
Em Te Amo Lá Fora, DUDA prova mais uma vez ser um tesouro nacional. Se Barões da Pisadinha fosse synthpop, eles com certeza teriam lançado Meu Pisêro. A primeira faixa de trabalho do disco já mostrou qual seria o propósito desse CD, misturar a sonoridade que explodiu no Nordeste com um pop puxado para o alternativo, tudo isso em uma embalagem visualmente impecável. O resultado é surpreendente e absolutamente delicioso, e já torna o segundo álbum de DUDA um dos melhores de 2021. – Jho Brunhara
The Armed – ULTRAPOP
A capa colorida e o título enganam: ULTRAPOP não é um álbum espirituoso e/ou facilmente digesto e The Armed não é próximo grupo a estourar nas rádios e dancinhas do TikTok. Trata-se do quarto disco da misteriosa e mutável banda de hardcore punk, que faz sim uso de efeitos vibrantes e divertidos, mas que não deixa de se jogar no peso das guitarras, sintetizadores, baterias, guturais e críticas políticas agudas.
A quebra de expectativa para quem não conhece o trabalho do grupo já acontece nos primeiros minutos. A abertura com a faixa-título apresenta elementos de pop melódico misturados ao caos arquitetado do post-hardcore que explode no single ALL FUTURES e na seguinte MASUNAGA VAPORS. Nessa mistura, o álbum não se torna em momento algum algo obscuro, vide a jovialidade de WHERE MAN KNOWS I WANT e a loucura de REAL FOLK BLUES.
ULTRAPOP também guarda algo para os punks mais tranquilos. AN ITERATION e AVERAGE DEATH são rocks mais limpos e BAD SELECTION é a mais básica da tracklist – e aqui isso não é de forma alguma um defeito. Ao final, tudo parece se encontrar em THE MUSIC BECOMES A SKULL, que segue mais leve mas não perde a urgência e ensaia algo mais dark em looping com a primeira faixa, confirmando que ULTRAPOP é coisa de doido e uma experiência e tanto. – Raquel Dutra
Flock of Dimes – Head of Roses
Os instrumentos de apoio levitam Jenn Wasner, a voz por trás do Flock of Dimes, ao longo de quarenta minutos, oscilando o miraculoso eu-lírico da americana pelo segundo disco do projeto. Nada novata no meio, Wasner, que coleciona créditos com a banda Wye Oak, com o grupo Bon Iver e também em registro solo, dessa vez se banha nas dores de um término amoroso, criando melodias angustiantes, mas belamente adornadas pelo processo criativo da pandemia e do isolamento social.
Ouvir Head of Roses é como entrar em um quadro histórico, imagine molhar os pés no lago de Ophelia, de John Everett Millais. A cantora modela o Universo nas próprias cordas vocais. A faixa de abertura, 2 Heads, começa com uma Wasner perdida, sem saber justificar sua reflexiva e difusa voz. O trabalho encerra em Head of Roses, com a artista relegada a nunca encontrar sua bússola moral. “Eu não posso te contar o que não sei”, ela declama, e nós sentimos cada sílaba desse ardor. – Vitor Evangelista
Febem – JOVEM OG
Em seu novo álbum, Felipe Desiderio, o Febem, relata como é ser mais um JOVEM OG na Vila Maria, Zona Norte de São Paulo. O artista paulistano que é ex-integrante do extinto grupo de rap ZRM, é conhecido por ter um estilo diferenciado no meio do rap nacional, trazendo referências do grime, rap old school, trap e até funk, uma mistura que faz com que Febem seja um dos rappers mais versáteis do cenário. Nesse álbum, o músico expressa seus sentimentos, vivências, reflexões e satisfações da forma mais pura possível. Suas letras destacam-se pelas temáticas e se diferenciam em cada música, com linhas sarcásticas, críticas e combativas. Ao ouvir cada faixa do disco, você percebe as diferentes vertentes do rap presentes, músicas que causam o sentimento de nostalgia, outras com um estilo moderno e outras que você quer até dançar.
As histórias contadas sobre vivências na rua como em Crime e Vai Pensando se completam, a faixa Jovem traz um aprofundamento ainda maior nas questões sobre abuso policial e discriminação, mas também empodera o próprio cantor. O que é de se destacar são as incríveis participações desse álbum. Na faixa Área de Risco as gêmeas Tasha e Tracie foram impecáveis em cada rima, com empoderamento e sarcasmo. Na música Balla, Kyan e Febem deram um show de trocadilhos. Em Sem Tempo, Jean Tassy conseguiu entrar num grande contraste com Febem, mesmo tendo um estilo de canto bem diferente. Na faixa Marcha, Vulgo FK tem muito destaque por conta de sua incrível voz. Na última música do álbum, Me Paga, a participação ficou por conta do mineiro Djonga que casa muito com o estilo do Febem, ao mesmo tempo que a letra traz um sentido de combate e protesto, também engrandece as conquistas deles.
A versatilidade do disco não se dá só sobre as letras e participações, mas também por seu fiel produtor CESRV, que produziu nove das dez faixas do álbum em que entram em destaque OG e México com temáticas e efeitos totalmente diferentes. O álbum traz diversas reflexões, abordagens e diferentes tipos de entendimento para o ouvinte, que fica com cada vez mais vontade de escutar. JOVEM OG mostra a nítida evolução de Febem ao decorrer dos anos e comparado à seus antigos álbuns, esse é o mais brilhante. – Matheus Braga
Arooj Aftab – Vulture Prince
Vulture Prince é tão lindo quanto sua capa, quanto sua criadora e quanto seu nome. O terceiro disco da musicista paquistanesa radicada em Nova York é uma peça musical delicada e forte sobre luto, dor e superação dedicada ao seu irmão mais novo, falecido recentemente no seu país natal, que passava por “onda crescente de ódio e conflito” e agora, como todo o resto do mundo, luta “para lidar com uma pandemia global” e seus efeitos, como a própria Arooj Aftab diz.
Assim, a partir de suas vivências pessoais, Aftab transcende qualquer barreira para nos convidar a visitar processos que têm sido universalmente experienciados nos últimos meses. Mergulhada nas cordas e sopros da música oriental combinadas a influências contemporâneas do jazz, soul e rock clássico, a artista encontra vazão para seus sentimentos de forma tão sincera e bem organizada que uma única coisa sobre Vulture Prince é certa: a música do álbum é capaz de te atingir. E é bom estar preparado.
O centro de Vulture Prince é o ghazal, gênero do sul da Ásia que se aproxima do que conhecemos por blues. Na música de Aftab, o som tem pulsões existenciais em composições íntimas e declamações de poesia que formam sete canções, mais que suficientes para a artista fazer sua mágica acontecer. Todas têm mais de cinco minutos e a maioria delas não tem percussão, deixando a condução musical apenas para o sentimento de sua intérprete, que mesmo suave, ainda é carregada de sentimento. Não ouso nomear destaques e fragmentar a beleza da obra completa de Vulture Prince, apenas recomendo que ouça. – Raquel Dutra
Birdy – Young Heart
A passarinha está de volta com Young Heart. Quem conhece Birdy sabe que as melodias calmas e aconchegantes da cantora estão sempre presentes, e nesse novo disco somos relembrados disso. A poesia das canções se funde às cordas e somos embalados em uma viagem por seus sentimentos e confissões.
Aqui, Young Heart encanta mas infelizmente cansa. As 16 faixas não ajudam na certa monotonia do disco, e parece que não houve um crivo mais assertivo de quais músicas deveriam ou não entrar para a tracklist. Mesmo assim, esse não é, de longe, um trabalho ruim. O que escancara o talento da britânica, que não comete erros, apenas meio-acertos. – Jho Brunhara
Jorge & Mateus – Tudo em Paz
Finalizando abril com chave de ouro, Jorge & Mateus lançaram seu novo álbum, intitulado Tudo em Paz. Depois de 15 anos de carreira, a dupla só comprova que cada vez mais seu talento se aprimora e alcança degraus inestimáveis dentro do sertanejo. Cinco músicas já haviam sido apresentadas em janeiro num EP de mesmo nome, só para dar um gostinho do que estava por vir. De imediato, era perceptível que Lance Individual seria o single desse recente trabalho, o qual detém cerca de 100 milhões de reproduções no Spotify.
Uma novidade deste projeto é uma parceria com a rainha da sofrência, mas seu poderoso e marcante alcance vocal acaba não sendo destacado. Contudo, a serenidade acústica é o que predomina na grande parte das faixas, tendo as notas do violão como a base segura da emoção. Eu que achava que já tinha visto de tudo, só sei sentir amor por essa nova fase que Jorge & Mateus tem construído. – Júlia Paes de Arruda
girl in red – if i could make it go quiet
3 anos, 2 EPs e muitos singles depois do sucesso de i wanna be your girlfriend, a cantora e multi-instrumentista girl in red coloca as cartas na mesa e reflete sobre as próprias expectativas e inseguranças, relacionamentos e fama em seu álbum de estreia if i could make it go quiet. Na onda das produções caseiras e selos independentes do bedroom pop, a norueguesa continua a compor, produzir e cantar sobre a juventude em seus diferentes perrengues e sentimentos, mas, mais madura e sincera, não cai na repetição de sucessos anteriores.
As letras menos românticas e metafóricas e mais diretas revelam uma evolução na mensagem e até nos sentimentos da artista: já se falou sobre as primeiras paixões e sobre a aceitação da sexualidade, agora é a hora das desilusões, desejos e vacilos no amor, como em Did You Come?, midnight love e .; da solidão e das consequências da fama, como em hornylovesickmess; e dos sentimentos confusos e inseguranças com que estamos familiarizados, como em Serotonin, Body and Mind e Apartment 402. A sonoridade também é uma evolução: as guitarras indie pop das canções já são conhecidas, mas não ficam repetitivas acompanhadas de pianos e batidas eletrônicas. Ao mesmo tempo em que a artista mantém uma identidade, ela explora ritmos e instrumentos.
É complicado ser jovem e lidar com tantos sentimentos e contradições e o primeiro álbum da girl in red, assim como seus trabalhos anteriores, mostra que tem mais alguém lidando com essa imensidão e essa bagunça que existe dentro da gente. if i could make it go quiet funciona como um desabafo tão identificável que é como encontrar as palavras para os nossos próprios desabafos. – Vitória Lopes Gomez
Sharon Van Etten – epic Ten
A cantora Sharon Van Etten é o nome certo para aqueles dias onde a calma e sensibilidade são necessárias. Famosa por sua atuação na série The OA, sua nova produção epic Ten possui a dose certa de ousadia e tranquilidade, características marcantes da artista americana, mesmo que o destaque do trabalho não seja ela própria. O álbum traz releituras corajosas de canções importantes em sua carreira, semelhante à proposta de Adriana Calcanhotto em Nada Ficou no Lugar (2019), Sharon optou por convidar outros artistas a interpretarem suas palavras.
O destaque do trabalho ficou a cargo da última faixa, Love More, cantada por ninguém menos que Fiona Apple, sendo essa uma boa oportunidade para lembrar dela antes de mais um desaparecimento iminente. Mas, outros nomes igualmente entregaram interpretações incríveis das músicas originais de Van Etten, a experiente Lucinda Williams trouxe um belo cover de Save Yourself. Enquanto St. Panther oferece uma versão moderna de One Day, a banda britânica IDLES optou por recriar a poderosa Peace Signs numa versão completamente diferente da original, trazendo um pouco de rock à canção.
Onze anos após o lançamento de Epic, seu segundo álbum de estúdio, a cantora e compositora teve a humildade de nos oferecer novas vozes em letras tão especiais para ela. Mas, apesar dos novos lançamentos serem maravilhosos por si só, é difícil desapegar das músicas na tonalidade agradável e tranquila de Sharon. Para aqueles que não conheciam o trabalho da artista, como eu, vale a recomendação de gastar uma tarde ouvindo a produção original de 2010, e aproveitando a onda de bons pensamentos e emoções evocadas sem nenhuma pretensão pela obra. – Isabella Siqueira
Julia Michaels – Not In Chronological Order
Você com certeza conhece Julia Michaels. Ou pelo menos, uma parte dela. Antes mesmo da artista viver a recepção positiva de Not In Chronological Order, seu primeiro álbum, ela já passou pelos lugares mais badalados do pop através de suas palavras. No passado, a compositora colaborou com Justin Bieber no hit absoluto Sorry, escreveu alguns dos maiores sucessos de Selena Gomez, está na boca de Demi Lovato em seu novo e grandioso disco e já teve suas letras cantadas também por Britney Spears, Dua Lipa, Ed Sheeran, Lady Gaga, dentre muitos outros artistas.
Assim, o primeiro álbum de Michaels (que já produziu dois EPs: Nervous System, de 2017, e Inner Monologue Part 2, de 2019) era um evento muitíssimo aguardado. A expectativa só cresceu com os singles promocionais extremamente bem acertados que já traduziam a identidade da artista em Not In Chronological Order: All Your Exes é um pop rock divertido, chiclete e crescente de um indie folk que encontra a interpretação perfeita na voz rouca de Julia; Love Is Weird, por sua vez, trabalha com a mesma base para explorar um pouco mais seus vocais e a capacidade de identificação de suas letras.
Dedilhados de violão, storytelling e um fundinho bem leve de country que às vezes dá espaço para mais instrumentos acústicos (oi, Taylor Swift) se estendem a History, Little Did I Know e That’s The Kind Of Woman, enquanto o pop melódico atraente de Michaels se mostra num timbre a là Lorde em Wrapped Around e brinca com os sons da música dos anos 90 em Orange Magic. O que significa tudo isso? Que, mesmo com os contratempos narrativos do amor em Not In Chronological Order, tem tudo o que a gente gosta no primeiro álbum de Julia Michaels. – Raquel Dutra
London Grammar – Californian Soil
O terceiro registro de estúdio do trio de trip hop London Grammar representa uma passagem de bastão. Na verdade, Californian Soil serve para colocar a vocalista Hannah Reid como a representante do grupo. Tomando seu espaço de direito, ela o faz graciosamente. Muito mais maduro que em seus trabalhos anteriores, o som dos músicos alcança a plenitude que a capa do disco reflete.
Sozinha e iluminada, Reid canta sobre a força da feminilidade e sobre vivências próprias enquanto mulher. Baby It’s You brinca com o destino, I Need The Night cresce em cima da figura feminina. Lord It’s A Feeling evoca o lirismo de Florence Welch, ao passo que a arte do London Grammar se eleva, flutua e alcança os Céus. – Vitor Evangelista
Paul McCartney – McCartney III Imagined
Depois de se isolar numa fazenda e dar a luz ao McCartney III no meio da pandemia, há quem pense que Paul McCartney estaria satisfeito. No auge de seus 78 enérgicos anos, o beatle gosta mesmo é de se atualizar nas tendências e reinventar seu próprio som, e foi daí que Macca resolveu convidar artistas da nova geração para criarem releituras das músicas que ele mesmo compôs e produziu em 2020. McCartney III Imagined reúne covers e remixes de Dominic Fike, EOB, Phoebe Bridgers, Anderson .Paak e outros nomes na indústria musical – o terror dos fãs da velha guarda que insistem que Paul deve manter a essência, mesmo que esta esteja parada no tempo.
O disco ganha traços alternativos e contemporâneos, provando que, enquanto o roqueiro respirar, ainda estará vivo como músico. Paul cede os vocais para Fike na romântica The Kiss of Venus e ganha um rearranjo por Beck em Find My Way. Se Bridgers assume Seize The Day, Women And Wives se torna uma experiência psicodélica nas mãos de St. Vincent. Brincando com riffs e explorando as próprias letras, as onze faixas de McCartney III Imagined assumem a identidade de seus convidados e a mesclam com a unicidade que só a carreira de meio século de Paul possui. – Caroline Campos
DJ Khaled – KHALED KHALED
Another one! de DJ Khaled. O 12º álbum de estúdio do rapper, produtor, hitmaker e orquestrador de encontros dos sonhos conhecidíssimo na música mainstream é a essência mais pura de seu trabalho: vibrante, maximalista e repleto de colaborações grandiosas. Nas 14 faixas de KHALED KHALED, pode-se ouvir, prenunciadas pela sua assinatura, as vozes de Drake, JAY-Z, Cardi B, Post Malone, Lil Wayne, H.E.R., Justin Bieber, Roddy Richh, Lil Baby, Megan Thee Stallion, Justin Timberlake, dentre muitas outras das mais conhecidas da música norte-americana.
O que eleva KHALED KHALED é também o que o derruba e a farra sonora do artista impressiona pelo que oferece e decepciona pelo que entrega. A dificuldade em amarrar tantas participações diferentes era esperada, mas parecia o trabalho perfeito para um dos nomes mais versáteis da indústria da música, que não deu conta de combinar toda a sua agenda de contatos no disco. Com tanto potencial impossível de ser explorado, o resultado é uma coletânea de canções rápidas e pouco memoráveis assinadas por artistas de peso que são capazes de entregar muito mais.
Assim, as faixas menores acabam por salvar a tracklist de KHALED KHALED. O rap solo de Drake é bem-sucedido em POPSTAR e GREECE, Cardi B voa em BIG PAPER e Justin Bieber trabalha bem com 21 Savage em LET IT GO. A aglomeração só funciona com a experiência de JAY-Z que traz uma pontinha de Beyoncé em SORRY NOT SORRY, cantada junto de Nas e James Fauntleroy. De resto, Khaled não deu conta de organizar a galera. – Raquel Dutra
EPs
Ryan Woods – King of the Basement
Existe uma mística inebriante nos lançamentos do bedroom pop, um subgênero que imprime a característica mais caseira à produções essencialmente simples e que discutem dramas adolescentes. A bola da vez é o jovem Ryan Woods, que debutou com o EP King of the Basement, um ode ao cômodo em que se descobriu e conseguiu transformar as dúvidas e os medos do Ensino Médio em quase vinte e seis minutos, distribuídos entre as 7 tocantes faixas do trabalho.
Ele revela que as canções não são todas sobre uma única pessoa, mas essa definitivamente é uma narrativa contínua. Não existe seguro para um coração quebrado, é claro, mas as emboscadas em que Woods se mete fazem valer seu tato artístico e o cuidado familiar que ele teve com cada arranjo, cada rima e cada música. O destaque repousa em Bad Texter, hino dos desengonçados com mensagens de texto.
Mas a originalidade do EP não morre por suas claras inspirações em Tame Impala, Billie Eilish e Harry Styles. King of the Basement mergulha no mundinho adolescente do pop do quarto (nesse caso, do porão) para demarcar Woods como um bom escritor e um ávido contador de histórias. Antes da friendzone, o cantor nos mostra o THE FRIEND SPACE. E, em abril de 2021, lugar mais interessante não há. – Vitor Evangelista
Teto – previas.zip
O menino das prévias finalmente lançou seu primeiro projeto. No dia 1 de abril, o trapper Teto liberou os sons que os fãs tanto pediram para ouvir oficialmente. O nordestino, que já acumula milhões de seguidores e milhões de visualizações em músicas vazadas no YouTube, marcou seu início com o EP previas.zip.
O trabalho tem 4 músicas, dentre elas o hit Paypal, que já era bastante conhecido, principalmente por se tornar viral no cobiçado TikTok. O fenômeno é realmente impressionante, a música Manha, por exemplo, já tinha 13 milhões de visualizações no YouTube, um feito que nenhum trapper da cena nacional conseguiu atingir com uma prévia. Dia Azul e Fashion também cumprem com o que ele prometeu e são extremamente viciantes, assim como as outras duas que estão no compilado.
Além do tremendo sucesso nas plataformas e redes sociais, o cantor ainda é disputado por duas das maiores produtoras do trap nacional: 30PRAUM e Hash Produções. As duas já trocaram farpas entre si por conta de Teto, mas o menino permanece na 30, ao que tudo indica, sendo guiado por Matuê. É fato de que nunca se sabe o que esperar do nordestino, mas o sucesso está sempre garantido. – Giovana Guarizo
dodie – I Kissed Someone (It Wasn’t You)
Se você passeou pelo YouTube em 2013, já deve ter esbarrado com milhares de cantores que começaram sua carreira lançando vídeos de covers e canções originais. No meio dessa multidão estava a tímida Dodie Clark, que aos poucos se soltava e compartilhava os detalhes mais sinceros da sua vida por meio das músicas, das redes sociais e até de um livro. Anos depois, pode-se perceber a evolução daquela garota para uma mulher que constantemente supera suas inseguranças e que se sente livre para soltar suas emoções ao mundo em forma de música, conquistando cada vez mais espaço na indústria cultural e criando sua própria marca como dodie, cantora e compositora.
Todos que a conheceram na época do seu primeiro single, Sick of Losing Soulmates, esperam pelo grande momento em que dodie lançará seu primeiro álbum. E finalmente, em 2021, isso acontecerá: Build a Problem estará disponível a partir de 7 de maio, e para promover algumas canções do debut, a cantora lançou o EP I Kissed Someone (It Wasn’t You), com quatro músicas que ganharam o privilégio de serem lançadas antes da obra completa. Através delas, já é possível notar que a poesia continua introspectiva e espontânea, sem medo de falar diretamente sobre sentimentos ruins – como o arrependimento e a insuficiência – , enquanto a produção musical evolui na composição instrumental.
A primeira canção, homônima ao EP, traz à superfície aquela sensação de tentar esquecer alguém em outros beijos, mas acabar sentindo ainda mais falta e lamentando o quão inútil foi a promiscuidade. Como de costume, dodie compôs as músicas pensando no cenário onde esses pensamentos acontecem; no caso de I Kissed Someone (It Wasn’t You), a cantora afirmou em entrevista que os versos estão em uma mentalidade bêbada, sombria e triste. Seguida por Hate Myself, ela constrói uma paisagem comum dentro de suas estrofes: a dificuldade de se relacionar em sociedade e de se conectar com outras pessoas que são tão complexas quanto nós mesmos. A terceira canção, Rainbow, volta para as raízes da compositora que escreveu 6/10 e que se sente ordinária e que deseja a aprovação das pessoas ao redor. Por fim, Cool Girl conversa diretamente com o monólogo de Garota Exemplar e finaliza o EP confirmando a mensagem de que dodie não é como as outras garotas. – Carol Dalla Vecchia
Boys World – While You Were Out
O EP de estreia do grupo Boys World (sendo o “Boys” um acrônimo para Best Of Your Self), While You Were Out, chegou para fazer vontade em todos: a partir do momento em que você escuta, quer rapidamente reunir amigos para cantar músicas pop enquanto se diverte, como um grande karaokê ou um show que você faz para si mesmo. Elana, Lilian, Makhyli, Olivia e Queenie são as amigas que sempre quisemos ter.
Girlfriends, o primeiro single do grupo, funciona como um tributo direto a Wannabe das Spice Girls. O pop orgulhosamente chiclete faz você dançar e gritar aos quatro ventos que se por algum acaso uma das minhas amigas não gostar de você, claramente não vai dar certo, desculpe. Já Wingman, o segundo single, possui um baixo viciante, e tem o poder de fazer com que qualquer um que ouça se sinta no mínimo em uma passarela de um grande desfile, sendo o mais confiante possível.
A mais sóbria Tiptoe foi um single promocional para gerar expectativas sobre o Extended Play; e foge um pouco do som mais anos 90/2000 das músicas anteriores, apresentando o primeiro rap dentro das músicas do grupo. Relapse é uma balada que mostra o quão diversos e poderosos são os vocais das cinco garotas, enquanto Touched by an Angel é um grande “olha só o que você perdeu”, mas em um ritmo divertido de acompanhar. É difícil dizer se elas serão a nova grande girlband dos EUA (já que ninguém tem forças o suficiente para lutar por este título desde o anúncio da pausa do Fifth Harmony em 2018), mas elas com certeza merecem. As redes sociais com certeza estão do lado delas, então por favor, TikTok, faça alguma coisa! – Layla de Oliveira
Foxes – Friends In The Corner EP
A cantora britânica Foxes (Louisa Rose Allen) lançou no início do mês o EP Friends In The Corner, que compila todos os seus singles lançados desde o ano passado e inclui duas faixas inéditas, Dance e Courage, assim como a versão acústica de Kathleen. A falta de novas músicas é decepcionante, mas a decisão de lançar essas músicas como um EP só reforça a integridade do novo pop da artista e a promessa de seu novo álbum de estúdio.
Das músicas já lançadas, o destaque fica para Love Not Loving You e Hollywood, dois singles que revelam lados completamente diferentes de Foxes. Se por um lado o som de Love Not Loving You (sua primeira adição musical em quase quatro anos) remete ao seu antigo pop elétrico e doce, em Hollywood vemos uma artista mais amadurecida, cantando sobre desilusão e fragilidade com confiança, com uma melodia que fica progressivamente mais intensa.: “Bem vindo à parte em que eu tenho um colapso/Sentado no escuro, lá está você/E talvez você estivesse certo”.
Das novas adições, Courage é a que mais marca presença, casando ambos os lados com uma letra assertiva e reveladora. No entanto, a falta de conteúdo novo continua como um grande ponto negativo, por mais promissora que suas novas notas sejam. Com um novo projeto anunciado ainda para este ano, vai ser interessante ver que cartas a britânica ainda guarda na manga. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Trixie Mattel – Full Coverage Vol. 1
De surpresa, Trixie Mattel, uma drag queen mundialmente famosa e com paixão pela arte de maquiagem, lançou o EP Full Coverage Vol. 1. O trabalho consiste em 4 covers da Super Estrela Drag: ela começa cantando Video Games, de Lana Del Rey, dando o toque country que é sua marca registrada. Além do sucesso da cantora indie, Mattel grava uma nova versão da clássica Believe, de Cher, unindo ícones gays ‘antigos’ com os mais recentes.
Também acabou no EP sua brilhante interpretação de Blister In The Sun, originalmente da banda Violent Femmes, e que ela já havia liberado com um clipe cheio de identidade e humor. O Vol. 1 de Full Coverage fecha com a parceria ao lado de Orville Peck, Jackson, dueto original de Johnny Cash e June Carter Cash. Mattel vem conquistando louros em todas as áreas em que se arrisca. A vencedora do All Stars 3 e coproprietária do UNHhhh é a maior Ru-Girl mesmo, e não tem discussão. – Vitor Evangelista
Justin Bieber – Freedom.
Após um retorno nada grandioso em 2020, Justin Bieber tirou o ano de 2021 para desenvolver diferentes aspectos de sua carreira. Pouco depois de ter lançado seu álbum Justice e a versão Deluxe do mesmo, e ainda em meio a uma sequência de performances de seus últimos singles – incluindo até uma pontinha na última festa do BBB 21 -, o cantor surpreendeu com o anúncio de mais uma produção musical. No domingo de Páscoa, Bieber liberou o EP Freedom., sem divulgações prévias, apenas com publicações nas redes sociais.
Revelando uma das capas mais preguiçosas dos últimos tempos, a produção conta com seis faixas, em que cinco delas são parcerias, com nomes como Tori Kelly, Chandler Moore e Pink Sweat$. Entre os convidados também está o pastor Judah Smith, que colaborou com citações de versículos bíblicos em meio às canções; ele comanda a igreja Churchome, da qual Bieber faz parte, e vem acompanhando a trajetória do cantor nos últimos anos.
Nessa nova produção, o canadense se abre por completo em relação a sua fé e espiritualidade, da qual já tivemos uma pequena prévia com o single Holy. Se arriscando em um estilo gospel mais voltado para o rap, Justin cria monólogos tratando sobre suas crenças religiosas e as mudanças que a religião teve em sua vida, relembrando até o seu passado rebelde repleto de polêmicas. E, assim, segue criando a sua narrativa de redenção e mudança de sua imagem, que vem sendo elaborada desde o lançamento da sua série documental Seasons. – Vitória Silva
Músicas
Olivia Rodrigo – deja vu
Viagens à Malibu, sorvete de morango, dividir jaquetas, assistir reprises de Glee: são experiências comuns como essas que envolvem o ouvinte no novo single de Olivia Rodrigo, deja vu. Se afastando da melancolia de seu sucesso massivo drivers license, aqui ela se aventura em melodias mais vibrantes e composições mais coloridas. Misturando diversas sonoridades, a produção de Dan Nigro traz a freneticidade esperada de uma adolescente como Rodrigo sem deixar sua marcante identidade de lado. Extasiada, ela grita: “Tudo é reutilizado/eu sei que você sente deja vu’’.
Seguindo os passos de sua veterana Taylor Swift, Rodrigo utiliza da ponte de suas faixas como o clímax de sua composição, e deja vu não fica de fora. Por mais que sua experiência amorosa na faixa seja bem específica, é impossível não se envolver com a indignação delirante da artista ao se queixar com seu ex-namorado: “Quando você vai contar para ela/Que nós fazíamos isso também?/Ela acha que é especial’’. Não há dúvidas que seu álbum de estreia vai consolidar seu nome na indústria musical e revolucionar o caminho para um teen pop menos superficial. – Laís David
Regard, Troye Sivan e Tate McRae – You
Letras chorosas acompanhadas por batidas dançantes já são marca registrada de Troye Sivan. E foi apenas isso, um pouco mais do mesmo, que o cantor entregou em seu último lançamento, You. Troye, que tinha o plano de produzir um álbum ano passado mas por conta da pandemia acabou por fazer apenas um EP, estreia seu 2021 com uma parceria: o DJ e produtor Regard e a cantora Tate McRae se juntam ao garoto para a construção da faixa que entrou nas plataformas na madrugada de 16 de abril.
Apesar da letra clichê e da produção similar com algumas músicas de In A Dream, You traz a combinação de duas vozes que casam perfeitamente. O queridinho do indie pop e a artista revelação que vem crescendo na indústria tem estilos musicais parecidos e acabaram por se mostrar uma dupla promissora. Se forem trabalhar juntos novamente no futuro, é bom torcer para que ousem um pouco mais. Ambos possuem talento para se arriscar e presentear seus fãs com algo ainda melhor que You. – Mariana Chagas
Ludmilla e Xamã – Gato Siamês
Em 21 de janeiro, Ludmilla e Xamã lançaram uma parceria junto do DJ Dennis canetada pelos compositores Gabriel Cantini, Gabriel de Ângelo, Xamã e o próprio Dennis. A canção Deixa de Onda foi um enorme sucesso, protagonizando grandes momentos nas festas do Big Brother Brasil e morando no top 20 das 50 mais tocadas no Brasil pelo Spotify. Embarcando no sucesso, Lud e Xamã apostaram numa nova colaboração, desta vez numa música com um ritmo mais lento e apostando no sex appeal dos dois artistas, o resultado? Gato Siamês.
Numa pegada meio R&B – ritmo não tão estourado no Brasil – e mais romântica do que o hit anterior, Gato Siamês é composta pela dupla e produzida pelo multi-instrumentista Malak. Lançada em 16 de abril, a música é cativante. Talvez não seja o melhor trabalho lírico da funkeira e nem do rapper, mas em conjunto com a melodia e o clipe, conseguem vender a ideia de sensualidade que ambos exalam. Logo de cara algumas inspirações ficam explícitas, na letra por exemplo, o trecho “sexo comigo é incrível” nos faz lembrar imediatamente de Sex With Me da cantora Rihanna.
O videoclipe monocromático é protagonizado por cenas quentes entre os dois artistas e também possui referências óbvias. É como se Rihanna viesse para o Brasil e relançasse uma nova versão audiovisual de Kiss It Better mesclando elementos do clipe de Rocket da estrela Beyoncé. Mas dando louros para a cena brasileira, a obra dirigida por João Monteira – que já trabalhou antes com Lud em Verdinha – fez juz aos modelos citados. Não cabe comparar Gato Siamês com Deixa de Onda, são propostas e sonoridades diferentes, provando que a dupla consegue transitar com sucesso em sonoridades diversas. – Giovanne Ramos
MARINA – Purge The Poison
O pop rock não morreu depois que Demi Lovato lançou La La Land, e MARINA está aqui para provar isso. Brincadeiras à parte, Purge The Poison é uma surpresa abençoada. Depois do terrível LOVE + FEAR e da promissora Man’s World, a britânica parece estar retornando às suas raízes no melhor tom possível. Purge é como se a acidez e as críticas sociais de The Family Jewels se juntassem com o rock de garagem de FROOT, nos dando uma deliciosa e assertiva canção.
Se tem algo que a música não é, é sutil. Porém, estamos em tempos que não pedem sutileza: é preciso gritar, em letras garrafais, a verdade. E mesmo assim alguns não vão ouvir. É nessa filosofia que MARINA entrega Purge The Poison, passeando por questões polêmicas e projetando um futuro que muito possivelmente não terá futuro. Estamos na era do ‘pop apocalíptico’, e se o fim dos tempos eventualmente chegar, MARINA com certeza estará nas playlists do fim do mundo. – Jho Brunhara
CHVRCHES – He Said She Said
O dia finalmente chegou! Após três anos salpicados por um feat. com o DJ Marshmello e uma curiosa adição à trilha sonora do jogo Death Stranding, voltamos à igreja do synthpop de Lauren Mayberry e o resto da banda escocesa CHVRCHES. He Said She Said é o primeiro single do novo álbum, e chega após uma repaginada no visual do trio que remete à estética de filmes de terror dos anos 80 e uma nova e misteriosa conta no Letterboxd dedicada quase exclusivamente a tal gênero.
A nova música não rompe com os padrões estabelecidos em Love Is Dead (2018), mas reforça suas melhores qualidades, particularmente o talento do grupo para criar batidas intensas refletidas nas letras. “Eu sinto como se estivesse ficando louca”, Lauren repete ao longo da faixa, acompanhada pelos sintetizadores de Iain Cook e Martin Doherty, reforçando os temas de um relacionamento abusivo se repetindo e fazendo com que ela duvide de si mesma e vá aos poucos se apagando.
O videoclipe da nova música foi dirigido pelo artista multidisciplinar Scott Kiernan, que tem trabalhado bastante com a banda para a reformulação dos visuais da nova “era”. O clipe captura belamente a letra e as batidas da canção e até mesmo as eleva, com visuais metafóricos e provocantes que imploram uma interpretação aprofundada, mas que entregam claramente a mensagem de dor e manipulação que o trio quis passar. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Rina Sawayama e Elton John – Chosen Family
Que coisa linda é a harmonia que pode surgir de um encontro de gerações completamente diferentes através da música, e que preciosidade é a nova versão de Chosen Family. Ao lado de Elton John, Rina Sawayama transforma seus versos sensíveis sobre laços de amizade e reconhecimento, originalmente alocados numa identidade mais futurista, num som suave e glorioso que flui das mãos mais famosas do pop.
A música é um dos destaques de seu primeiro álbum, SAWAYAMA, que foi lançado com avaliações positivas da crítica em abril de 2020, transformando Rina em uma estrela em ascensão. Elton, por sua vez, nunca deixou de apoiar as novas gerações, e Chosen Family é o lugar perfeito para a lenda da música apreciar o trabalho da jovem artista. Com sensibilidade, uma mensagem tocante e marcando um encontro icônico, a canção é um deleite especial oferecido por dois artistas brilhantes que certamente são parte da nossa família escolhida. – Raquel Dutra
The Cast of RuPaul’s Drag Race Season 13 – Lucky
Número de encerramento dos episódios competitivos da 13ª temporada de Drag Race, Lucky é a melhor música de RuPaul em anos. As quatro finalistas se dividiram em cômodos monocromáticos, entregando versos individuais acompanhadas de dançarinos socialmente distanciados. Gottmik, de azul, abriu o número: “garotos, garotas, e aqueles no meio, é hora de coroar sua Rainha”. Kandy Muse, vestida de amarelo, cantou sem inspiração rimando palavras repetidas, mas deu o nome no episódio.
Obviamente com lingerie cor-de-rosa, Rosé cantou até rap em sua composição, citando o sonho americano e o grande amor da família escocesa. Symone finalizou Lucky, sua cor era laranja e cactos (err) enfeitavam o cenário. A Encantadora do Ébano acabou vencendo a temporada, alguns episódios depois, provando que sorte dada a ela por Lucky não era passageira. – Vitor Evangelista
Grace VanderWaal – Repeat
O raio mileycyruszador fez mais uma ‘vítima’: Grace VanderWaal. Com uma sonoridade e um visual totalmente distante de qualquer outro momento de sua carreira, como Ur So Beautiful, a estadunidense de apenas 17 anos passou por um makeover total. Cabelo curtinho, som puxado pro rock, e um clipe repleto de micro-rebeldias, isso é mais que o suficiente para escancarar a vontade de mudança.
Repeat, como o próprio nome já sugere, facilmente mora na função repetição dos players de música. VanderWaal canta: “eu não preciso de mais uma lição”. Aqui, é prazeroso assistir e ouvir sua liberdade de se expressar transbordando durante a juventude, ainda mais através de uma música viciante. A garotinha de America’s Got Talent não está mais entre nós, e como já vimos antes, se permitir ser livre só traz benefícios a longo prazo. – Jho Brunhara
Doja Cat e SZA – Kiss Me More
Que a última era de Doja Cat foi um sucesso, todo mundo sabe. Say So, Streets e outros hits foram um marco na carreira da cantora, que explodiu graças a viralização de suas músicas no TikTok. Depois de uma temporada bem sucedida, Doja começa a trabalhar no seu terceiro álbum de estúdio. E a primeira parceira na sua nova viagem é SZA.
A escolha da colaboração não poderia ter sido outra. Em entrevista para a Apple Music, Doja Cat conta que escreveu a faixa pensando na cantora, e que se o objetivo inicial era apenas ser uma música sobre beijo, SZA levou para um nível mais profundo. A sintonia das duas no clipe é de se perguntar como não haviam trabalhado juntas antes, e de ficar na torcida para que esse não seja seu único feat.
Produzida por Yeti Beats, Kiss Me More é o collab que não só estreia o Planet Her, mas mostra um pouco da estética que Doja escolheu seguir no álbum: a construção de um planeta próprio. O clipe dirigido por Warren Fu mostra um mundo em tons rosas, sedutor e traiçoeiro, onde a dupla parece comandar. E se a cantora seguir dominando as paradas como vem fazendo, sua dominação promete não ficar apenas em um universo fictício. – Mariana Chagas
Katy Perry, Luísa Sonza e Bruno Martini – Cry About It Later
Não é segredo para ninguém que Luísa Sonza está cada vez mais dominando o mundo, mas agora a gaúcha foi ainda mais além e conseguiu um remix com Katy Perry, artista a qual Luísa é fã desde pequena. Porém, o feat da faixa Cry About It Later, presente no álbum Smile de Katy, não foi o que se esperava.
Apesar de Luísa servir com vocais e um inglês impecável, a música se torna uma mera eletrônica. O remix fica a cargo do DJ Bruno Martini, que usa uma batida nada inovadora e um formato um tanto quanto comum. O que se esperava era um pouco mais de brasilidade, talvez versos em português ou uma batida mais típica do país. Bruno já tem um remix da música 911 de Lady Gaga, um orgulho, mas que também esbarra nos mesmos problemas de Cry About It Later.
Ter um feat com divas internacionais é sim uma tremenda responsabilidade e motivo de comemoração, porém, a pretensão deve ser a mais autêntica possível. Não foi dessa vez que Luísa e Bruno agradaram ao público nacional e internacional, porém, nada muda o fato dos dois merecerem esse tremendo feito. Contudo, não é uma experiência agradável. – Giovana Guarizo
Lia Clark & POCAH – Eu Viciei
A participação de POCAH no BBB21 rendeu um veredito: o Brasil gosta é da POCAH cantora. A participante do reality show, a gente prefere fingir que nem existiu. Já Lia Clark é uma drag queen até que bem conhecida no meio LGBTQ+, mas teve aqui uma nova chance de destaque entre o público mais geral e mainstream. A participação, lançada durante o Big Brother para aproveitar o buzz, valeu a pena.
Eu Viciei é um daqueles funks lançados durante a pandemia que dói no coração da gente não poder ouvir em uma festinha legalizada e sem vírus. Com produção assinada pelo trio de peso Hitmaker, a qualidade já estava praticamente garantida. O jeito é rebolar de casa mesmo, e ficar sonhando com o dia que vamos poder olhar e sentar num rolêzinho. – Jho Brunhara
Aly & AJ – Symptom of Your Touch e Don’t Need Nothing
Na reta final do lançamento do seu novo álbum, as irmãs Aly e AJ Michalka estão trabalhando à todo vapor na divulgação de seus novos sons, nos presenteando com dois singles no mês de abril: a balada de ânsia amorosa Symptom of Your Touch e a contagiante Don’t Need Nothing, que carrega o coro que dá nome ao disco, “A touch of the beat/Gets you up on your feet/Gets you out and then into the sun.”
Lançada no começo do mês, Symptom of Your Touch é talvez a que mais remete aos EPs anteriores da dupla, Ten Years e Sanctuary, carregando um forte som eletrônico envolvendo os versos de Aly e enaltecendo a voz de AJ no coro. Tematicamente, a letra é similar a Slow Dancing, o primeiro single do álbum, só que com batidas mais entusiasmadas, mas não menos dramáticas: “É um sintoma do seu toque/Sintoma do seu toque/Se é tão bom/Por que dói tanto?”
Já a animada Don’t Need Nothing chega como uma última espiada dentro do novo álbum antes do dia 7 de maio. Finalmente fazendo jus à promessa de seu gigantesco título, Aly & AJ provam que sim, um toque da batida te deixa de pé, te faz sair em direção ao Sol. Se Don’t Need Nothing é a música que sintetiza todos os sons do novo trabalho delas, podemos esperar um disco revigorante e eletrizante que sabe exatamente quando letras são ou não necessárias para que uma música te toque. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Twenty One Pilots – Shy Away e Choker
Quase 3 anos após o lançamento do seu álbum de estúdio Trench, o Twenty One Pilots está de volta. Com um retorno anunciado apenas por mensagens subliminares em suas redes sociais e cartazes de divulgação espalhados pelo mundo, algo que já se tornou característico da banda, eles revelaram o single Shy Away na primeira semana do mês. A estética de tons escuros de suas últimas produções deu lugar a um azul e rosa vibrantes, que se refletem na sua nova sonoridade, com batidas oitentistas e mais agitadas. O videoclipe também aposta nessa mesma estética, ainda tendo a apresentação de elementos fantásticos, como o dragão azul, que é uma marca registrada dessa nova era.
A dupla já aproveitou para engatar em um segundo lançamento, a faixa Choker, que encerrou o mês de abril. Essa última ainda retoma um pouco da musicalidade que deu início a banda, com versos de Tyler Joseph concluindo a música e que rememoram o final de Taxi Cab, presente no primeiro disco do grupo, ainda em sua formação antiga. Isso tudo sem perder o teor subjetivo de suas letras, que continuam soando como um desabafo do vocalista sobre questões pessoais e psicológicas, ao mesmo tempo que podem ser interpretadas como críticas à indústria como um todo.
Como tudo que envolve Twenty One Pilots não costuma se resumir apenas a música, diversas teorias já são especuladas sobre as formas que esse novo lançamento pode se conectar com o universo que vem sendo criado desde o Blurryface, após notarem várias referências à fictícia cidade de Dema. Em tempos de isolamento social, a dupla resolveu aproveitar para expandir a experiência dos fãs, oferecendo uma plataforma interativa com oportunidades exclusivas para quem comprar os ingressos para a live de lançamento do disco, intitulado Scaled and Icy, no dia 21 de maio. – Vitória Silva
Billie Eilish – Your Power
Recente vencedora de mais dois Grammys, Billie Eilish anunciou seu próximo álbum, Happier Than Ever, para ser lançado no dia 30 de julho. Deixando o cabelo verde neon de lado, a cantora assumiu um visual diferente como entrada para essa nova era, que parece revelar um lado cada vez mais maduro. A produção incluirá as faixas Therefore I Am e my future, lançadas no ano passado, além de Your Power, seu single mais recente.
Com uma sonoridade acústica e que abandona os sintetizadores característicos de suas músicas, a jovem cantora em ascensão entrega uma de suas letras mais fortes até então. Ao clamar para que alguém não abuse do seu próprio poder, Billie remete a um episódio de abuso sexual, situação mais do que presente no cotidiano e indústria em que ela está inserida: “Ela disse que você era um herói, e você fez esse papel. Mas você a arruinou em um ano. Não aja como se fosse difícil”.
O videoclipe que acompanha a faixa faz alusão ao mesmo caso, em que a cantora é enforcada por uma cobra ao longo da música. Após se abrir por completo, tanto no aspecto pessoal quanto profissional, em seu documentário The World’s A Little Blurry, a artista sai de canções que se relacionam apenas com as vivências de sua adolescência para apostar em temas mais sérios, com a profundidade e tratamento que apenas Billie Eilish sabe entregar. – Vitória Silva
Anitta – Girl From Rio
E lá vamos nós… Falar sobre Anitta é sempre complicado. É claro que eu torço por ela, por seu sucesso, e para que represente o Brasil lá fora. Mas não acho que sua estratégia seja das melhores. Depois de dezenas de singles avulsos, feats de justificativa duvidosa e uma imagem desconfiada por parte do público brasileiro, Anitta quer cantar sobre sua origem, o Rio. Em cima da melodia de Garota de Ipanema. Ótimo! Em inglês. Com a produção sendo um trapzinho saturado. Opa…
A estratégia de Girl From Rio é conquistar o mercado estadunidense. Porém, Anitta precisa reconquistar o mercado brasileiro antes. Quando Shakira estourou no exterior cantando em inglês, ela era amada incondicionalmente pelos colombianos e tinha emplacado diversos sucessos recentes cantando na sonoridade que seus fãs a conheciam. Depois do terrível Kisses e as polêmicas de 2018, Anitta deu hasta la vista para o Brasil e foi explorar o espanhol na América Latina. Por aqui, lançou uma ou outra em português, quase sempre como convidada, ou através de feats. Não tem imagem que se sustente dessa forma.
A cantante do Rio tem a qualidade de estrela necessária para tudo que ela almeja, mas precisa trazer os pés de volta ao chão. O Brasil não reconhece mais a Anitta que amou um dia. E o mundo é impiedoso com artistas internacionais, ainda mais sem apoio: se nem a América Latina aceita nossos sucessos direito, quem dirá um país como Estados Unidos, fechado em seu próprio umbigo. Girl From Rio é apenas a primeira música de trabalho de seu novo disco, inteirinho em inglês e espanhol. Espero estar muito errado em tudo que falei aqui, e que essa ou alguma outra canção vingue. Porém, se não acontecer – o que é, infelizmente, provável -, que Larissa saiba que o Brasil estará sempre esperando por ela. – Jho Brunhara
The Weeknd e Ariana Grande – Save Your Tears (Remix)
Mais de 1 ano após o lançamento do grandioso álbum After Hours, essa nova era de The Weeknd não parece estar tão perto de acabar. E, como forma de dar continuidade a ela, o cantor anunciou, na última semana do mês, um remix de seu single Save Your Tears, com a cantora Ariana Grande. A coletânea já conta com outras parcerias remixadas, como Blinding Lights, com a cantora ROSALÍA, e In Your Eyes, com Doja Cat.
Em conjunto, foi liberado um videoclipe animado para a faixa, que retrata o personagem criado por The Weeknd criando uma boneca semelhante à cantora. Não é a primeira colaboração da dupla, visto que já fizeram a viciante Love Me Harder e, mais recentemente, repetiram a parceria na faixa off the table, que integra o álbum Positions, de Ariana. A combinação das duas vozes do pop não poderia ter uma sintonia mais ideal, o que já reflete em seus resultados, em que alcançou o topo das paradas da Billboard. – Vitória Silva
WILLOW e Travis Barker – t r a n s p a r e n t s o u l
Enquanto seu irmão caminha cada vez mais em direção ao pop e ao rap, a jovem WILLOW vai em um sentido totalmente oposto. Dois anos após o lançamento de seu último álbum, a cantora decidiu lançar o single t r a n s p a r e n t s o u l, com toques totalmente irreconhecíveis para a mesma voz que deu origem ao hit Whip My Hair anos atrás.
Em parceria com o baterista Travis Barker, WILLOW aposta em uma sonoridade pop-punk para sua nova faixa, que se assemelha muito ao estilo da banda Paramore. O videoclipe ainda relembra a estética emo dos anos 2000, tanto pelo visual da cantora quanto pela filmagem. Resgatar essa musicalidade é um grande ato para alguém, até então, adaptada a um estilo mais alternativo, e parece que irá render apenas bons frutos para a caçula da família Smith. – Vitória Silva
Clipes
Little Mix e Saweetie – Confetti
Para quem pensou que a saída de Jesy Nelson, em dezembro de 2020, desestabilizaria o Little Mix se enganou. No ano das comemorações de 10 anos de formação, a girlband foi consolidada com o single #1 Sweet Melody na primeira semana do ano e surpreendeu ao público, e a crítica, com o lançamento do remix da faixa-título do álbum lançado no último novembro.
Confetti sempre foi uma das faixas preferidas de Jade Thirlwall, Leigh-Anne e Perrie Edwards, principalmente, já que ela sugeriu o título para o nome do álbum. Mas, a música ainda era mal compreendida por parte de alguns fãs. Com a vontade de iniciar uma nova era, como um trio, mas sem querer dizer adeus a mal explorada, por conta da pandemia, era Confetti, o Little Mix adicionou um rap a faixa-título e entregou um clipe impactante para o single, marcando-o entre os fãs.
As meninas surpreenderam não só ao remanejarem todas as lines de Jesy e trazerem uma nova produção sonora de MNEK, mas também entregaram um clipe de respeito ao se transformarem numa boyband no clipe, criando um filme, divertido e bem feito, para Confetti. Mandando aquele “shade” aos britânicos machistas que ainda duvidam de seu sucesso, elas vestiram barbas e looks masculinos e provaram que são dignas do queridinho BRITs Awards e ainda trouxeram as estrelas do RuPaul’s Drag Race UK, A’Whora, Tayce e Bimini Bon-Boulash, que adicionaram mais ainda o tom do deboche ao clipe. Não só isso, Saweetie adicionou o tom comercial que faltava na música e, assim, o hit estava pronto para ser consolidado. – Larissa Vieira
Tessa Violet & lovelytheband – Games
Se você, assim como eu, é crepusculete de carteirinha, mal pode esperar para essa música de Tessa Violet e lovelytheband. Depois do lançamento tão aguardado de Sol da Meia-Noite, os ávidos fãs da saga Crepúsculo saíram enfervescidos dos seus esconderijos para demonstrar seu amor pelos vampiros da família Cullen. Tessa foi um deles.
Filmado de forma panorâmica, o clipe Games recria a icônica cena de baseball no primeiro filme, a qual se deparam com os “The Black Eyed Peas” James, Victoria e Laurent. Assim como no original, filtros azuis nas filmagens contribuem para o olhar de frieza e preocupação ficar em evidência. Do mesmo jeito que os Cullen se sentem incomodados e receosos com a nova adesão no clã, Tessa canta uma desconfiança num relacionamento conturbado. Apesar dos jogos que o “companheiro” faz, o eu-lírico reconhece que algo não está certo. Num ritmo mais agitado, mas ainda na pegada indie, a música garante aquela sensação nostálgica e uma surpresa emocionante (com direito a altos surtos!). – Júlia Paes de Arruda
Performances
Rina Sawayama no Tiny Desk
O límpido céu azul que se ergue atrás de uma Rina Sawayama é majestoso e convidativo para o espetáculo de 15 minutos que acontecerá dentro de instantes. A popstar nipo-britânica se veste com o terno estiloso de uma dona de império, ou melhor, de uma Dinastia. Ela solta a voz, primeiro modesta, rodeada por sua banda e um quarteto de cordas nesse cenário corporativo, cantando 3 sucessos de seu potente álbum, SAWAYAMA, marcado a primeira vez que eles performam ao vivo canções do trabalho.
Dynasty é sucedida por XS, marcando o momento em que Rina nos agarra com a garganta, implorando para cantar essa seleção no concerto mais lotado do mundo, por favor. A cantora finaliza a curta participação no Tiny Desk com o belíssimo novo arranjo de Chosen Family, lançado ao lado de Elton John. Você também faz parte de nossa família escolhida, Rina. – Vitor Evangelista
Leslie Odom, Jr. no Oscar
Speak Now pode não ter ganhado o Oscar 2021, mas recebeu uma performance divina de Leslie Odom, Jr. um pouco antes da cerimônia começar. A música escrita por Leslie a pedido de Regina King e seu Uma Noite em Miami… já é poderosa por si só, mesmo entoada de dentro de um estúdio. Agora, prestigiar o ator em um palco multicolorido no Museu da Academia é o equivalente a flutuar pelas nuvens de gelo seco que montaram ao seu redor. A sutileza vocal do intérprete de Sam Cooke ao vivo não é surpresa, visto que Leslie é dono de algumas das melhores performances de Hamilton com seu Aaron Burr, mas o artista parece ter ciência do equilíbrio perfeito que é necessário para declamar Speak Now – infelizmente, esse ano as performances não acontecerem ao vivo no palco da premiação.
Mesmo sem dançarinos ou outros músicos no palco, Leslie Odom, Jr. conseguiu realizar uma apresentação tocante no meio do suave jogo de luzes que refletia em seu terno branco e o transformava na fonte principal de seu show. “Onde Leslie Odom, Jr. acaba e Sam Cooke começa?”, há quem pergunte. Depois da versão de A Change Is Gonna Come para o longa de King, Speak Now foi o que deu o tom que guiou a espetacular trilha sonora de Uma Noite em Miami…, e Leslie Odom, Jr. soube carregar sua importância naquele palco circular na noite do dia 25 de abril. Impossível não ficar impressionado com o talento do ator, cantor e compositor. – Caroline Campos
Celeste e Daniel Pemberton no Oscar
As apresentações musicais que geralmente ocorriam durante a noite do Oscar, na premiação de 2021 foram diferentes. Previamente gravados, os shows foram transmitidos antes da cerimônia e a entrega de estatuetas começar. E dentre os convidados a participar, Celeste se juntou a Daniel Pemberton para performar Hear My Voice, canção da dupla escrita para o filme Os 7 de Chicago.
Vestindo Gucci, a cantora iniciou o espetáculo com nada além de sua voz tão bela e potente. Em cima do terraço do Museu do Oscar, a compositora britânica, com apenas uma luz a destacando na escuridão, foi fascinante. Passou então a ser acompanhada pelo piano nas mãos de Daniel Pemberton, co-escritor da música indicada a Melhor Canção Original. Os artistas, junto à sua equipe de músicos, provaram o mérito da obra de ser indicada à premiação. Nós ouvimos a sua voz, Celeste. E ainda bem que ouvimos. – Mariana Chagas
Molly Sandén no Oscar
“A música perfeita não é aquela que vence, mas a que vem do coração”. Isso quem diz é o protagonista de Festival Eurovision da Canção, filme que já nasceu clássico e indicou Savan Kotecha, Fat Max Gsus e Rickard Göransson ao Oscar 2021 na categoria de Melhor Canção Original. Husavik não ganhou, mas brilhou no Into the Spotlight, o pré-show da Academia.
Diretamente da Islândia, mais precisamente da cidade de Husavik, um coral de crianças abriu a apresentação, cantando o refrão no idioma nativo europeu. Molly Sandén, embrulhada num confortável vestido azul, explorou todo seu gogó, finalmente aparecendo nos holofotes, visto que no longa, ela dubla as notas que saem dos belos lábios de Rachel McAdams. Depois do estonteante número, tenho certeza que Husavik tem lugar guardado no coração de cada amante de Cinema. – Vitor Evangelista
H.E.R. no Oscar
Vencedora da Canção do Ano do Grammy 2021 com I Can’t Breathe, a cantora H.E.R. é a voz mais potente na luta social, e principalmente racial, nesse ano. Com apenas 23 aninhos, H.E.R. conquistou – além do gramofone – a Academia, com Fight For You, canção composta originalmente para o necessario longa Judas e o Messias Negro.
Na performance que antecedeu o tapete vermelho, a cantora se mostrou uma artista completa. Iniciando com ela na bateria, H.E.R. logo apresenta seu magnífico vocal que traz uma força ancestral à canção. Com intensa presença de palco, ela se destaca toda de dourado ao lado de seus bailarinos que vestiam preto. No show temos também o vídeo do discurso de Fred Hampton, ativista e líder dos Panteras Negras, representado em Judas. Todos os componentes da apresentação se entrelaçam causando impacto e emoção. – Ana Júlia Trevisan
Laura Pausini e Diane Warren no Oscar
A primeira indicação ao Oscar de uma das mais tradicionais estrelas do pop internacional teve a glória que o evento merecia. Laura Pausini encantou em sua apresentação de (Seen) Io Sí, canção composta junto de Diane Warren (essa conhecidíssima da Academia, acumulando 11 indicações) que foi uma das indicadas a Melhor Canção Original de 2021.
A dupla não levou a estatueta mas preencheu o anoitecer do terraço do Museu da Academia com a maravilha da canção. Lá, Laura Pausini reluziu como o objeto mais brilhante do céu de verão ao lado do piano vermelho de Warren combinando com os demais instrumentistas que pareciam corações espalhados pelo palco. Harpas e violinos completaram a emoção da música que traduz a sensibilidade de Rosa e Momo para os nossos ouvidos. – Raquel Dutra