Persona Entrevista: Dani Rosenberg

Diretor de “A Morte do Cinema e do Meu Pai Também” destrincha o caráter biográfico da obra

Arte vermelha retangular. No canto superior direito, há o nome do entrevistado, Dani Rosenberg. A foto dele está na parte inferior central da arte e ele é um homem branco, com cabelo curto e barba. Ele está vestindo uma jaqueta jeans e a fotografia está em preto e branco. Ao lado direito dele, o pôster de seu filme, A Morte do Cinema e do Meu Pai Também, que mostra dois homens no chão, um está deitado e outro sentado, olhando para ele. Do lado esquerdo da imagem, foi adicionado o texto "Persona Entrevista" várias vezes, de forma perpendicular à orientação da imagem.
O Persona entrevista Dani Rosenberg, diretor e roteirista de A Morte do Cinema e do Meu Pai Também (Foto: Reprodução)

João Batista Signorelli 

Dando continuidade à série de entrevistas realizadas pelo Persona durante a cobertura da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o entrevistado da vez é o diretor israelense Dani Rosenberg. Rodando festivais ao redor do mundo com seu seu segundo longa A Morte do Cinema e do meu Pai também, e inclusive marcando presença na Seleção Oficial do Festival de Cannes, o diretor compartilhou um pouco do seu processo de criação, que mistura documentário e realidade para construir um relato pessoal sobre perda e memória familiar. 

O diretor narrou sua trajetória desde sua graduação na Jerusalem Film School, passando pela produção e circulação de seu filme, chegando às dificuldades criativas decorrentes do momento atual de pandemia. De maneira muito simpática e empolgada, ele se abriu para falar tanto sobre as questões familiares pessoais retratadas no filme, quanto sobre sua paixão e influências no cinema. 

Cena dos bastidores do filme. 5 pessoas brancas estão reunidas, e no canto direito da foto está a câmera.
A narrativa passou por diversas transformações até que adquirisse sua forma final (Foto: Dani Rosenberg)

Tendo se formado há aproximadamente 10 anos na faculdade, além de curtas, Dani realizou duas séries de TV. “A televisão estava no seu pico com a chegada da HBO e da Netflix um pouco depois. Todos diziam que a televisão era o futuro, e eu queria fazer parte do futuro.” Ainda assim, não tardou muito para que ele descobrisse que sua ambição era outra: “Depois de um tempo, eu entendi que o cinema estava no meu coração, então eu voltei para fazer este filme [A Morte do Cinema e do meu Pai também]”.

Com uma narrativa metalinguística que transforma em ficção suas experiências pessoais, Dani conta como ao longo do processo de produção, ele foi encontrando a história que queria contar. “Ele foi feito em camadas, e os fatos ocorreram de modo bem parecido ao que é visto no filme.” O roteiro foi escrito para seu pai que estava com câncer e poucos meses de vida pela frente. “Meu pai viveria o protagonista junto com a minha própria família. (…) seria sobre esse homem que tenta salvar sua família de uma guerra contra o Irã”.

“Nós filmamos por alguns dias até que meu pai caiu, ele estava doente e com dor, então paramos a gravação” relata o diretor. “Depois eu parei a filmagem, eu tentei filmá-lo com a câmera que já tínhamos, mas ele não quis como você vê no filme.” Após o falecimento do pai, ele tentou novamente fazer o filme com outro protagonista, mas não via mais sentido em produzir o filme sem o pai. 

5 pessoas estão reunidas às margens do oceano, uma delas está mais afastada à esquerda, o mar é azul e o céu é azul mais claro
“Para o protagonista, enquanto o cinema estivesse vivo, o seu pai estaria vivo, essa era ideia por trás do título” (Foto: Dani Rosenberg)

Diante da dificuldade de prosseguir com uma história, e talvez influenciado por Charlie Kaufman e seu filme Adaptação (2002), sua reconhecida fonte de inspiração, Dani resolveu transformar suas próprias dificuldades em contar uma história em história. “Então eu reescrevi o roteiro do rascunho, contando o que havia acontecido: seria sobre um filho que tenta fazer um filme com o pai adoecido, ao mesmo tempo que lida com o relacionamento com sua esposa que está para ter um filho.”. 

Perguntado sobre o processo de transformar suas próprias experiências em ficção, ele responde que mas também criou situações que ele havia imaginado com o seu pai, mas que não ocorreram realmente. É o caso da cena em que os dois encenam o assassinato de um primeiro ministro, em um momento de aproximação entre pai e filho.Eu não tinha proximidade com o meu pai, então foi algo bom de se criar.” Além disso, também conta que tentou entender o lado e dar voz à personagem que representava a sua ex-esposa, e lhe dar voz. 

Concluído o filme, ele não sentiu como se o filme estivesse completo. “Eu não gostava do filme, parecia um círculo sem centro“, conta. “Então eu entendi que esse centro eram as imagens reais que eu gravei com o meu pai”. Passando a colaborar com a editora veterana Nili Ferrer, que trabalhou no vencedor do Oscar Valsa com Bashir, eles trabalharam com o material durante um ano para encontrar o equilíbrio entre documentário e ficção. 

Cena de arquivo: imagem quadrada, tom sépia quente e um casal de idoso está na mesa da cozinha, ele usa camiseta preta e óculos, e tem cabelos brancos, ela veste camiseta clara e tem cabelo preto
Em meio a uma narrativa fragmentada, Dani Rosenberg adiciona trechos de curtas metragens rodados por ele mesmo quando era mais jovem (Foto: Dani Rosenberg)

Sobre a distribuição e a exibição do longa em festivais, ele lamenta nunca ter visto o filme com uma audiência, que teve exibições virtuais em festivais, e até chegou a ter algumas projeções em salas de cinema. Ele comenta a situação atual dos cinemas fechados em meio à pandemia: “Quando eu dei o título ‘A Morte do Cinema’ não era isso que eu estava esperando”, brinca. Ao mesmo tempo, Dani Rosenberg também se mostra empolgado em dialogar com o público do mundo todo pela internet, que se tornou sua única conexão com a audiência. 

Carregando referências do Cinema Iraniano, como Abbas Kiarostami e Samira Makhmalbaf, além de mestres europeus como Pier Paolo Pasolini, Dani não pretende parar com A Morte do Cinema e do Meu Pai Também. Ele já conseguiu dinheiro e tem o roteiro pronto para seu próximo projeto. Porém, diante da pandemia, sente que o texto precisa de um novo norte: “É um roteiro bem fechado, mas eu sinto que atualmente não há muito sentido em narrativas fechadas pois não parecem haver respostas, não há uma conclusão”.

 

A Morte do Cinema e do Meu Pai Também está sendo exibido em festivais ao redor do mundo. 

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