Cineclube Persona – Agosto de 2021

Destaques de Agosto de 2021: Falecimento de Tarcísio Meira, Gossip Girl, O Esquadrão Suicida e The Green Knight (Foto: Reprodução/Arte: Larissa Vieira/Texto de Abertura: Gabriel Gatti)

Agosto passou voando, mas ainda assim trouxe grandes marcos para esse ano. As Paraolimpíadas, que se iniciaram no final do mês, levaram um holofote para atletas incríveis que trouxeram várias medalhas para o Brasil. Além disso, os preparativos para o Emmy 2021 continuam a todo o vapor, com a cobertura do Persona rolando aqui no site e nas redes sociais. Também neste mês, sentimos a morte do ator Tarcísio Meira e de Paulo José, duas perdas enormes para a teledramaturgia. Entre esses acontecimentos, diversos filmes e séries foram lançados e o Cineclube Persona se reúne para comentar o que saiu de melhor e pior no mês de Agosto de 2021

O oitavo mês do ano se destacou com o lançamento de cinebiografias. Respect é um longa que retrata a história da cantora Aretha Franklin e já aponta  uma possibilidade, mesmo que remota, de indicar Jennifer Hudson ao Oscar 2022 . Quem também ganhou um filme sobre sua vida foi o ator Val Kilmer, representado no longa Val, disponível no Amazon Prime Video. Ainda em agosto, o Globoplay revisitou a história do Brasil com a biografia Doutor Gama, narrando a história de Luiz Gama, um advogado negro que libertou mais de 500 escravos. Além disso, não faltou representatividade LGBT com os documentários Pray Away, produzido por Ryan Murphy, e Luana Muniz – Filha da Lua, sobre a travesti Rainha da Lapa, que o Persona assistiu com exclusividade antes do lançamento e ainda entrevistou os diretores.

Agosto proporcionou dramas para a Sétima Arte, como CODA, comédia dramática sobre uma adolescente ouvinte filha de adultos surdos, que ganhou o Festival de Sundance 2020 e agora está disponível na Apple TV+ nos EUA. Outra novidade deste mês é Stillwater, que teve sua estreia em Cannes e tem como diretor Tom McCarthy, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original em 2016 por Spotlight. Além dos dramas, as animações também se destacaram. A Jornada de Vivo, por exemplo, disponível na Netflix, nos apresenta ao jupará apaixonado que viaja para entregar uma canção, contando com a participação do Lin-Manuel Miranda. Nesse mês, foram lançados alguns animes, como The Witcher: Lenda do Lobo, sobre um bruxo convencido a caçar criaturas por dinheiro, e Evangelion: 3.0+1.0 Thrice Upon a Time, quarto e último filme da série Rebuild of Evangelion, baseado no anime Neon Genesis Evangelion.

Mas nem só de dramas e biografias foi feito o mês. O Esquadrão Suicida, “continuação” do filme fracassado de 2016, agora conta com James Gunn na direção, dessa vez do lado da DC, depois de sua demissão pela Marvel por tweets antigos com pedofilia. Lisa Joy, uma das criadoras de Westworld, foi responsável pela direção de Reminiscence, que retrata um investigador particular da mente que ajuda seus clientes, até uma delas mudar sua vida. Esse mês ainda teve outros lançamentos, como A Nuvem e The Green Knight, baseado no romance Sir Gawain e o Cavaleiro Verde do século 14. O longa, produzido pela A24, foi protagonizado pelo ator Dev Patel e foi dirigido por David Lowery, responsável por A Ghost Story.

Agosto também teve espaço para as produções água com açúcar. O longa Ele é Demais (He’s All That), sobre a transformação de um menino desengonçado no rei do baile, é uma nova versão do filme Ela é Demais, mas que traz os gêneros dos personagens invertidos. Os últimos trinta dias  ainda foram o palco do fim da trilogia de Joey King e Jacob Elordi, A Barraca do Beijo 3, que encerrou sua trama com Elle se preparando para fazer tudo que ainda deseja antes de ir para a faculdade.

O lançamento de Você Nunca Esteve Sozinha, série original do Globoplay, conta a vida da Juliette antes e após vencer o BBB. Ainda aqui na América Latina, foi lançada também Todo va a estar bien (Everything Will Be Fine), uma comédia com o Diego Luna. Na falta de Killing Eve, Sandra Oh assume o comando de The Chair, produzida pela Netflix. Seguindo pelas comédias dramáticas, Kevin Can F**k Himself, original da AMC e distribuído pelo Amazon Prime Video, é o primeiro trabalho da Annie Murphy depois de vencer o Emmy por Schitt’s Creek, em 2020. 

Outra sitcom de agosto foi Grace & Frankie, com a Netflix lançando como degustação quatro episódios da sétima e última temporada, que só chegará na íntegra em 2022. A Apple TV+, por sua vez, se destacou esse mês no humor com Schmigadoon!, uma sátira musical, e Physical, com Rose Byrne. Numa dobradinha entre Nota Musical e Cineclube, Selena Gomez aparece por aqui protagonizando Only Murders in the Building,  ao lado de Steve Martin e Martin Short. A série do Hulu lançou seus primeiros episódios em Agosto, mas só aparecerá na íntegra aqui no Persona quando acabar sua exibição, nos próximos meses.

Já mais voltado para o público adolescente, acompanhamos  o lançamento de Cruel Summer no Amazon Prime Video, e o fim da primeira parte da nova Gossip Girl, com protagonistas da Geração Z no HBO Max. Como uma campanha para o Emmy 2021, o Hulu lançou o episódio Pen15 Animated Special, que faz parte da segunda temporada da série. Outra série animada deste mês é Divirta-se em Casa com o Pateta, formada por curtas com o personagem da Turma do Mickey disponível no Disney+. Em agosto, a nostalgia do revival de iCarly, sem a Sam, chegou ao fim da sua primeira temporada.

O terror também teve espaço nesse mês, com a série da Netflix Brand New Cherry Flavor, que mistura Cinema, sexo e horror, com o pragonismo da Rosa Salazar, e com o fim de American Horror Stories, um spin-off de AHS com uma história diferente a cada episódio. Outra antologia de agosto é a segunda temporada de Modern Love, disponível no Amazon Prime Video, que conta com Kit Harington, de Game of Thrones, e Anna Paquin, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, em 1994. 

Um dos maiores destaques do mês é a primeira temporada de The White Lotus, nova produção da HBO que mostra a rotina de um resort no Havaí, com o abuso dos funcionários por parte dos hóspedes ricos e com uma morte suspeita. E falando em riqueza, a Netflix estreou a série Cozinhando com Paris, em que a socialite traz seus convidados para jantar, como a Kim Kardashian.

Caminhando por diversos gêneros e streamings, o Persona segue isolado em casa e apresenta as novidades audiovisuais do mês de agosto. Entre  algumas produções muito bem feitas e outras nem tanto, a Editoria e os Colaboradores comentam de tudo um pouco do que acabou de sair do forno do Cinema e da TV no oitavo mês de 2021.

Em entrevista, Tarcísio Filho foi direto: “Meu pai tinha problemas renais, pulmonares, minha mãe está bem por causa da vacina” (Foto: TV Globo)

Falecimento de Tarcísio Meira

Marco Antônio, Alexandre, Betinho, Juan Galhardo, João Coragem, Dom Pedro I, Juca Pitanga, Seu Ptolomeu, César Toledo, Zé Carlos Tedesco, Frederico Copola, Lorde Williamson, Tarcísio Meira. Essa lista não cita nem ¼ das personagens de um dos maiores gênios da teledramaturgia brasileira, que faleceu no dia 12 de agosto, sendo mais uma vítima das complicações da covid-19.

Tarcísio foi gigante. Um dos maiores galãs do Brasil, o ator começou seu trabalho na TV Tupi em 1961 e um ano depois firmou o matrimônio com Glória Menezes, com quem esteve ao lado, por 59 anos, até o fim. Juntos, eles contracenaram em teleteatros e em dezenas novelas, como Um Pires Moderno (1961), 2-5499 Ocupado (1963), Irmãos Coragem (1970), Guerra dos Sexos (1983) e Beijo do Vampiro (2002).

O ator multifacetado deixa um legado brilhante e uma saudade imensa. São mais de 60 projetos, apenas na Globo, que constroem a história de um dos maiores decoradores de textos. Tarcísio transmitia verdade em cada um de seus papéis, se entregando ao caráter da personagem e deixando sua assinatura, que sempre foi de uma postura firme. Toda a história da televisão brasileira em algum momento passa pelo ator, que esteve presente na primeira telenovela diária. A última novela do ator foi a global Orgulho e Preconceito (2018), onde interpretou o inglês Lorde Williamson. Aos 85 anos, Tarcísio Meira tinha problemas renais e fazia diaĺise, a morte dele não abre brecha para questionar a eficácia da vacina. – Ana Júlia Trevisan


 A imagem é uma fotografia do ator Paulo José tocando piano. Paulo é um senhor branco, de barba e cabelos grisalhos, ele veste uma camisa branca, um terno e calça social em tom marrom claro, e também usa um óculos de grau e um chapéu branco.
Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Paulo José fez história nos palcos e nas telas (Foto: TV Globo)

Falecimento de Paulo José

Antecedendo à morte de seu colega de profissão Tarcísio Meira, o ator e diretor Paulo José faleceu no dia 11 de agosto, aos 84 anos de idade. Há mais de 20 anos, ele sofria de Mal de Parkinson, e veio a óbito em decorrência de uma pneumonia. Nascido em Lavras do Sul (RS), Paulo José Gómez de Sousa se consolidou em todas as dimensões que abrangem a arte da atuação. 

Sua carreira amadora iniciou-se na década de 60, entrando para a história do Teatro de Arena. Saindo dos palcos, começou sua trajetória no Cinema, em 1965, com o clássico O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade. Grande defensor pela valorização de sua profissão, Paulo enfrentou os anos de chumbo e marcou presença no Cinema Novo, estrelando filmes como Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos Oliveira, e Macunaíma, em que repetiu a parceria com Joaquim Pedro de Andrade. Sua estreia nas telinhas veio com a novela Véu de Noiva, de Janete Clair, em 1969, mas teve como grande marco de sua carreira o personagem mecânico-inventor Shazan, dupla de Xerife, interpretado pelo também já falecido Flávio Migliaccio, em O Primeiro Amor, de Walther Negrão.

Mais recentemente, desfrutou de outras importantes participações no Cinema, nas obras Saneamento Básico, O Filme e O Palhaço – que aqui eu considero como duas grandes preciosidades da nossa cinematografia. Paulo José foi muitos, foi vários, foi até mesmo Todos os Paulos do Mundo, documentário que homenageia seus 60 anos de carreira. Fez história em frente e por trás das câmeras, que felizmente puderam eternizar a leveza com que exercia a arte. Hoje, se junta a outros grandes nomes da sua geração, que também nos deixaram há pouco: Nicette Bruno, Eva Wilma e Tarcísio Meira. Nas palavras de seu fã e admirador Selton Mello, “Sua passagem por aqui foi brincante”. – Vitória Silva


Cinema

Cena do filme Respect, que mostra Aretha, personagem de Jennifer Hudson, cantando em um palco iluminado. Ela é negra, alta, tem cabelo preto e usa um vestido claro, segurando o microfone com a mão esquerda.
Jennifer Hudson com fome de Oscar (Foto: MGM)

Respect: A História de Aretha Franklin (Respect, Liesl Tommy)

O advento das cinebiografias musicais parece ter pegado Hollywood de jeito, visto que, nos últimos anos, uma avalanche delas foi produzida e premiada. Depois de Bohemian Rhapsody, Judy e Estados Unidos VS Billie Holiday esgotarem o “gênero” em narrativas enfadonhas e engessadas, Respect: A História de Aretha Franklin não surpreende em nada, somando ao hall dos filmes ruins brindado por ótimas atuações (salvo a dentadura que rendeu um Oscar à Malek, que de atuação boa não tinha nada).

Dirigido pela novata no Cinema Liesl Tommy, Respect coloca o protagonismo nos ombros da já vencedora do prêmio da Academia, Jennifer Hudson, escolhida pela própria Aretha, antes de sua morte. Com gogó para dar e vender, Hudson imprime sua verdade incontestável nas cenas que lhe requerem o canto, mas o problema está em todo o resto. Se tratando da biografia de uma das maiores vozes e artistas que já passou por esse planeta, o filme é desinteressante, formulaico e, o pior, imemorável. Aretha merecia mais respeito. – Vitor Evangelista


Te amo, Caça-Ratos 2 (Foto: Warner Bros Pictures)

O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, James Gunn)

Depois do fiasco horrendo de 2016, que gerou aquela trama bizarra de somos-uma-família-mesmo-que-acabemos-de-nos-conhecer dirigida por David Ayer, finalmente os vilões e anti-heróis mais tapados do Cinema foram repaginados em uma segunda chance. Responsável pela migração das lutas coloridas de James Gunn para a DC, O Esquadrão Suicida é um daqueles filmes que te deixam tão extasiados quanto um garrafão de energético.

Irreverente e divertido, o longa traz de volta o charme absoluto de Margot Robbie como Arlequina e a assustadora Amanda Waller de Viola Davis, mas não sem apresentar novos personagens capazes de integrar o hall de melhores adaptações de qualquer fã de quadrinhos. Tem John Cena de cueca, tem rato dando tchau, tem tubarão gigante fingindo que sabe ler, tem assassinato em massa de passarinhos, tem cachorro-lobisomem e tem ele: Starron, o Conquistador – o vilão mais injustiçado dos últimos anos.

Mesmo assim, O Esquadrão Suicida de Gunn não consegue deixar a papagaiada intervencionista dos EUA de lado, o que transforma sua trama política em cinzas e serve apenas para fazer o espectador revirar os olhos. Não que esperássemos um aprofundamento político-social muito grande de um filme com um personagem que chama Homem-Bolinha, mas não custa tentar. – Caroline Campos


Cena do filme Doutor Gama. Na imagem encontra-se o personagem Luiz Gama, um homem negro, barbudo, trajado com um terno acizentado, calça no mesmo tom e uma gravata mais escura. Ele está com as mãos levantadas, como sinal de rendição, e em uma delas segura uma arma. Ele está em pé. Abaixo dele, sentado na charrete preta, está o escravo Santos. Ele veste uma blusa surrada em tom escuro, é um homem negro de mais idade, possuindo cabelo e barba brancas.
Doutor Gama resgata a importante história de um ícone abolicionista negro brasileiro (Foto: Globoplay)

Doutor Gama (Jeferson De)

Doutor Gama é uma obra de resgate a um importante personagem da abolição brasileira. Narrado durante três períodos da vida de Luiz Gama, o filme retrata desde sua vida através dos caminhos que fizeram com que ele se tornasse um famoso advogado e defensor dos direitos das pessoas negras no país. Inicialmente, acompanhamos a sua infância, sendo vendido pelo próprio pai aos 10 anos como escravo. Durante sua adolescência, ele aprende a ler e consegue se libertar da escravidão, descobrindo que, por lei, já havia nascido livre. Já adulto, apresentando grande prazer em estudar, passa a advogar e defender sua principal causa. Acredita-se que por meio de seu trabalho como advogado, Luiz Gama tenha conseguido libertar mais de 500 escravos. 

O filme, disponível no Globoplay, é uma aula sobre esse personagem importante do cenário nacional e que por muito tempo foi silenciado dos livros de História, bem como outras grandes figuras negras. As escolhas narrativas do diretor Jeferson De demonstram o cuidado na escolha de como retratar as fases da vida do personagem e como valorizá-lo por sua real contribuição. As cenas finais do longa narram a difícil defesa de um escravo que matou seu patrão. Em todo o julgamento, nas posturas e falas do personagem, conseguimos encontrar a personificação da luta deste ícone abolicionista. O filme é uma excelente obra de resgate e valorização do grande abolicionista Doutor Gama. – Ma Ferreira


Cena do filme A Lenda do Cavaleiro Verde. Vemos um cavaleiro medieval andando a cavalo por uma floresta. O homem tem pele morena, barba cheia e cabelo preto grande. Veste uma malha cinza e tem um cachecol amarelo ao redor do pescoço.
Dev Patel dá vida a um clássico personagem dos contos arturianos em A Lenda do Cavaleiro Verde (Foto: A24)

A Lenda do Cavaleiro Verde (The Green Knight, David Lowery)

O novo filme de David Lowery (Sombras da Vida) é baseado nas lendas arturianas e conta a história de Sir Gawain (Dev Patel). Sobrinho do Rei Arthur, ele embarca numa aventura desafiadora para confrontar o Cavaleiro Verde, uma criatura gigante conhecida por testar a coragem dos homens. 

A obra consegue construir uma atmosfera de épico fantasioso bastante imersiva e prende a atenção do espectador graças à beleza da fotografia de Andrew Droz Palermo. É um excelente filme que oferece uma experiência densa não pela história – que é bem simples – mas pela força de suas imagens e gestos. – Caio Machado


Cena do filme A Nuvem. Na imagem, em um primeiro plano ao lado esquerdo, vemos a silhueta embaçada da cabeça da protagonista Virginie de costas. Ao fundo, vemos uma janela de vidro com gafanhotos por trás
Antes da aquisição pela Netflix, A Nuvem foi selecionado para a Critics Week de Cannes 2020 (Foto: Netflix)

A Nuvem (La Nuée, Just Philippot)

Apesar da sinopse sugestiva, o terror de A Nuvem vai além do ‘criaturas e monstros’ da classificação na Netflix. Na trama, Virginie (Suliane Brahim) obtém o sustento da família com a criação de gafanhotos, que vai de mal a pior. Isso até que ela descobre que os insetos desenvolveram um gosto por sangue e que, quando saciados, melhoram a produção. Daí pra frente, a situação escala e o suspense se mescla ao drama.

Mãe solo, o trabalho na fazenda ausenta Virginie da vida dos filhos e cria uma atmosfera ainda mais tensa e urgente no decorrer do filme. Em seu longa de estreia, o diretor francês Just Philippot avança aos poucos, mas na medida certa. Em um ritmo crescente que explora mais do que só a sede por sangue dos gafanhotos e a necessidade da protagonista de saciá-los, a abordagem impulsiona o horror ao combiná-lo com os conflitos familiares e a urgência.

Porém, por mais incontrolável que a situação esteja, quando cai a ficha dos minutos finais ainda tinha o que piorar e a conclusão parece precoce e apressada. O ápice do filme é interrompido, a escalada para em seu ponto mais alto, mesmo tendo no que avançar. Ao final, a sensação que fica é que A Nuvem poderia ter feito mais. – Vitória Lopes Gomez


Cena do filme A Barraca do Beijo 3. Na imagem estão Elle, Noah, Lee e Rachel na varanda da casa de praia da família Flynn, nessa ordem, os 3 primeiros estão felizes e Rachel está com expressão de confusão. Elle é uma mulher branca de baixa estatura, cabelos castanhos e está vestindo uma blusa regata de crochê listrada de azul e vermelho, e shorts jeans. À sua direita e em pé está Noah, um homem branco alto, de cabelos castanhos claros, ele usa uma camiseta verde. À direita de Noah está sentado Lee, um homem branco de cabelos castanhos claros na altura dos ombros que usa uma camiseta listrada de verde. À direita de Lee está Rachel, uma mulher branca de cabelos castanhos escuros, ela usa uma blusa azul de mangas e uma saia rosa bebê. Bem ao fundo deles há o mar, e em volta deles há mesas, cadeiras, palmeiras e um pequeno rancho à esquerda, com balcão, copos e frutas.
A Barraca do Beijo 3 finaliza com chave de ouro mais uma trilogia boba que deveria ter parado no primeiro filme (Foto: Netflix)

A Barraca do Beijo 3 (The Kissing Booth 3, Vince Marcello)

A amada trilogia da Netflix chega ao fim desesperada em ser um pouco mais do que um fútil romance adolescente, mas não é. Depois do chorume do segundo volume – com seu mundaréu de machismo e o problemão que é estar dividida entre dois caras -, A Barraca do Beijo 3 mira na despedida dos melhores amigos Elle (Joey King) e Lee (Joel Courtney) e uma visão madura para o futuro, e acerta em outro filme vazio.

Vince Marcello percebeu aos 45 do segundo tempo que depois de 2 filmes, a trama nunca falou de Elle individualmente, sem estar circundada pelos irmãos Flynn. Então o diretor criou um final impopular, curto e mal feito, na tentativa de deixar a protagonista se descobrir sozinha e terminando seu chatíssimo amor com Noah (Jacob Elordi). Nada além de mais do mesmo foi feito para fechar a trilogia, mas triste foi assistir Elle se despedir da infância e das memórias da mãe que moravam na casa de praia da família Flynn, mesmo que isso tenha durado menos de 5 minutos. – Nathália Mendes


Imagem retangular, em desenho, do filme Evangelion: 3.0+1.01 Thrice Upon a Time, consistindo em cinco adolescentes reunidos em uma praia de areia branca. Primeiro, à esquerda, vemos Asuka: uma garota asiática, de cabelo ruivo preso em presilhas vermelhas, que veste um vestido azul e branco. Sua mão direita toca a sua bochecha e ela olha para a câmera com um sorriso singelo. Ao lado dela, mais à direita, vemos Mari: uma garota asiática, de cabelo roxo preso em maria-chiquinha. Ela usa um óculos de armação retangular no rosto, veste uma camisa branca, uma gravata azul e um vestido xadrez verde e vermelho. Ela está descalça, com os braços levantados e seus sapatos nas mãos, esboçando um sorriso contagiante. Ao lado dela, à direita, está Shinji: um garoto asiático, de cabelo preto e corte curto. Ele veste uma camisa branca que fica por dentro de sua calça preta. Por baixo da camisa, ele usa uma camiseta azul. Ele olha para a câmera com um sorriso tímido. Um pouco afastado dele, à direita, está Rei: uma garota asiática, de cabelo curto da cor azul. Ela veste um vestido azul e branco e olha séria para a câmera com um semblante vazio. Por último, ao lado dela, à direita, está Kaworu: um garoto asiático, de cabelos brancos em um corte curto e desarrumado. Ele usa uma camisa branca que fica por dentro de sua calça preta. Por baixo, ele usa uma camiseta cinza. Ele está virado para o lado, com as mãos nos bolsos da calça, e olha para a câmera com um semblante convencido.
Hideaki Anno se despede de Evangelion nove anos depois do filme anterior da série Rebuild of Evangelion (Foto: Amazon Prime Video)

Evangelion: 3.0+1.01 A Esperança (Shin Evangelion Gekijôban, Hideaki Anno, Kazuya Tsurumaki, Katsuichi Nakayama e Mahiro Maeda)

Evangelion sempre esteve fortemente atrelado à saúde mental de Hideaki Anno, criador da série e dos filmes. E, desse modo, é interessante observar como todas as obras que envolvem os Evas se relacionam de forma reativa. Nunca é uma reconstrução alienada do que veio antes, sempre é uma reação. À exemplo de The End of Evangelion como uma resposta direta à reação violenta e acalorada dos fãs na época, e não como um substituto do final do anime. E, agora, a série Rebuild of Evangelion, não como uma sequência de obras isoladas que descartam as produções de 1995 e 1997, mas como um exercício de revisitar o passado e o enxergar através de outras lentes. Desde Neo Genesis Evangelion, Anno tem procurado paz através da arte e, em Evangelion: 3.0+1.01, o último filme do remake, essa paz finalmente chega.

Entre a sua mitologia complexa de subtexto religioso e as batalhas pitorescas entre mechas, o que realmente sustenta a saga e sua alcunha de ‘obra prima’ são as relações entre personagens, seus dramas e conflitos. Evangelion 3.0+1.01 entende isso e separa grande parte do tempo de tela para o desenvolvimento de seus protagonistas e coadjuvantes. A noção de ritmo do longa, por consequência, é espetacular, manipulando a energia da trama com esplendor e transformando a experiência na mais dinâmica de todos os filmes Rebuild.

E, no caso de Thrice Upon a Time, lançado este mês no ocidente pelo Amazon Prime Video, lapidar esse elemento era crucial. Isso porque ele se propõe não apenas a fechar o ciclo da saga de Rebuilds, mas também a encerrar todo o arco de Evangelion; fechar de uma vez por todas o grande ciclo que se iniciou em 95. Esse filme é um abraço e um aconchego, tanto para nós espectadores, quanto para os personagens que, depois de tantos traumas, são contemplados com a possibilidade de redenção. É uma despedida doce que, assim como o título brasileiro expõe, é um atestado de esperança e de que, sobretudo, nenhuma dor dura para sempre. – Enrico Souto


Cena do filme Val exibe uma gravação antiga na qual um homem branco, com cabelo curto penteado para a esquerda, segura uma câmera grande e filma um espelho. Vemos que ele está num camarim de um teatro. Ao fundo, há um espelho iluminado por lâmpadas na moldura e uma penteadeira cheia de vários objetos em cima.
Val Kilmer foi a primeira pessoa de seu círculo social a comprar uma câmera (Foto: A24)

Val (Idem, Ting Poo e Leo Scott) 

Val Kilmer, conhecido por seus papéis em Top Gun e Batman Eternamente, saiu dos holofotes de Hollywood após ter perdido a voz em decorrência de um câncer na garganta. Em Val, somos convidados a examinar a vida do artista desde a infância, a partir de um extenso arquivo de filmagens pessoais gravadas pelo ator ao longo dos anos. 

Com o auxílio de uma narração escrita pelo próprio Val Kilmer e feita por seu filho, Jack, Leo Scott e Ting Poo elaboram um retrato poético e emocionante da carreira de uma celebridade que já não é tão popular quanto era décadas atrás. As filmagens que Val conseguem resgatar exibem momentos preciosos, nos quais conseguimos ter um vislumbre dos sentimentos e questionamentos que se passavam na cabeça do ator quando ele não estava em frente às câmeras.  

Mais do que outra biografia de um famoso, Val utiliza o Cinema como ferramenta para transformar uma vida intensa e turbulenta numa linda contemplação sobre como estar vivo é um processo de transformação constante. Por mais que existam dificuldades, há sempre espaço para a felicidade. – Caio Machado.


Foto em paisagem de Luana Muniz. Luana é uma mulher branca, de 56 anos, que usa um acessório como uma coroa dourada na cabeça. Ela está de frente ao espelho, mas só podemos ver seu reflexo, já que sua forma está borrada. Ela se encara com as mãos apoiadas no queixo. Luana usa esmalte vermelho, batom vermelho e sombra dourada, que combina com os anéis em seus dedos.
O Casarão Rosa da Av. Mém de Sá, nº 100, perdeu sua matriarca em 2017 (Foto: Guaraná Conteúdo)

Luana Muniz – Filha da Lua (Rian Córdova e Leonardo Menezes)

Transgressora e revolucionária. Encantadora e subversiva. Luana Muniz foi muitas coisas, mas a alcunha que Rian Córdova e Leonardo Menezes escolheram para representá-la em seu documentário foi única: Filha da Lua. Antes de ficar famosa pela mídia por gritar “travesti não é bagunça” ou por tirar uma foto ao lado do Padre Fábio de Melo, a artista já era uma guardiã para a comunidade LGBTQIA+ da região da Lapa, no Rio de Janeiro. 

Em Luana Muniz – Filha da Lua, a dupla de diretores utiliza dos próprios relatos da protagonista para construir uma história potente e decidida, mas sem a melancolia emotiva das biografias post-mortem. Muito pelo contrário, já que o choro vem naturalmente nos créditos finais, depois do peso de, em 78 minutos, retratar um pouco do que foi a Rainha da Lapa. – Caroline Campos


Pray Away mostra a fundo um lado sombrio da religião (Foto: Netflix)

Pray Away (Idem, Kristine Stolakis)

A falácia da terapia de reversão ou cura gay é a realidade de muitos LGBTs. Essa realidade traumática já foi retratada diversas vezes longas, como Boy Erased: Uma Verdade Anulada, porém sempre adotando como foco aqueles que se opuseram às violências da cura. Em contraposição a essas produções, o documentário da Netflix, Pray Away, surge com o propósito de mostrar a história desses grupos sob a ótica de quem se denomina como “ex-gay”. O conceito parece risível, no entanto, a condução dos depoimentos pela diretora Kristine Stolakis, revelam uma experiência devastadora.

O principal objetivo retratado no documentário é mostrar como esses processos de reversão, comumente atrelados a grupos religiosos, destroem a saúde mental das vítimas. Como ponto focal de Pray Away está a organização Exodus, um grupo cristão responsável pela realização das terapias. A adoção desse objeto de estudo permitiu com que o longa desenvolvesse uma narrativa didática quanto aos prejuízos desse processo retrógrado. No entanto, o documentário adota o problema sob um ponto de vista regional, perdendo a oportunidade de demonstrar a realidade de outros pontos do mundo, o que deixou o desenrolar monótono.

Entre mais altos do que baixos, Pray Away entrega uma narrativa coesa sobre uma realidade negligenciada por muitos. Desse modo, o documentário, que teve Ryan Murphy como produtor em colaboração com o estúdio Blumhouse, se mostra necessário para a conscientização dos danos que a terapia de reversão provoca em suas vítimas. O longa atingiu uma aprovação de 93% do público no Rotten Tomatoes e, ainda, foi indicado ao Festival de Cinema de Tribeca, perpetuando a narrativa da diretora Kristine Stolakis. – Gabriel Gatti


Cena do filme Stillwater. A imagem mostra uma família de quatro pessoas sentada à mesa, dando as mãos em oração. A fotografia os captura de lado, com foco para a personagem do ator Matt Damon, à esquerda, e para a personagem de Camille Cottin, à direita. Matt Damon, um homem branco, de cabelos curtos loiros e de olhos verdes, é Bill Baker, e veste uma camisa xadrez verde de mangas curtas. Ele está de cabeça baixa, orando, e segura a mão da personagem de Virginie, personagem de Camille Cottin. Ela está à direita da imagem e é uma mulher branca, de cabelos curtos lisos castanhos claros e olhos verdes, e veste uma camisa em tom de rosa queimado. Ela está olhando para Bill com um sorriso leve. As outras duas pessoas da família aparecem sem foco, no canto esquerdo e direito da imagem. Eles estão numa sala de jantar durante o dia, e no meio de Bill e Virginie existe uma janela de vidro aberta, por onde entra a luz do dia.
Além de Abigail Breslin, os destaques de atuação de Stillwater vão para Camille Cottin e Lilou Siauvaud (Foto: Focus Features)

Stillwater (Idem, Tom McCarthy)

Aclamado e polêmico, como de costume. Assim foi a estreia do novo filme de Tom McCarthy, que se deu com uma salva de palmas de cinco minutos no Festival de Cinema de Cannes 2021 enquanto cercado por controvérsias quanto a sua concepção e divulgação. Depois de vencer o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2016 com Spotlight: Segredos Revelados, o cineasta volta a criar seu momento mundo afora com Stillwater. A história parte de Bill Baker (Matt Damon), um trabalhador petrolífero desempregado de Oklahoma que viaja sazonalmente para visitar sua filha Allison (uma brilhante Abigail Breslin) em Marselha, na França, onde ela cumpre uma pena controversa pelo morte de sua namorada quando ambas frequentavam a universidade na cidade. 

Acontece que essa é também a história de vida de Amanda Knox, a estadunidense que protagonizou um dos casos criminais mais famosos do mundo, passando quatro anos numa prisão italiana antes de ser absolvida do caso de assassinato de uma colega de quarto. Agora conhecida mundialmente pela repercussão da investigação, ela não gostou de ver um drama muito parecido com a sua vida pessoal sendo aplaudido sem a sua devida consideração. Mas mesmo com essa discussão envolta, o caso da jovem Allison não é o ponto principal do filme, que distancia-se de um suspense criminal como pode ser vendido por aí.

Stillwater é muito mais um drama que versa sobre o reencontro do personagem quebrada de Damon numa nova vida, conforme ele segue o elemento que traz o ritmo viciante do filme, existente na possibilidade de reabertura do caso da filha e, por consequência, sua absolvição e declaração de inocência. Assim, diante das polêmicas, McCarthy insiste que  seu filme é algo ficcional, assumindo a influência de elementos da realidade, e que se concentra na verossimilhança de Bill Baker. O protagonista é um herói errante, que subverte a narrativa esperada de uma jornada para um ciclo de antecipações e ações impensadas diante de um cenário implacável. Uma espécie de experiência espiritual para Matt Damon, que trouxe transformações de comportamento ao ator, completando o circuito de polêmicas de Stillwater abafando os pontos positivos do filme . – Raquel Dutra


Cena do filme Caminhos da Memória. Vemos um homem branco observando a imagem de um projetor. Ele tem cabelo curto, barba por fazer e veste uma camisa branca com gravata. Ao fundo, vemos duas pessoas ofuscadas pela luz do projetor.
Nem Hugh Jackman consegue salvar o esquecível Caminhos da Memória (Foto: Warner Bros.)

Caminhos da Memória (Reminiscence, Lisa Joy)

Lisa Joy é co-criadora da série Westworld, junto com Jonathan Nolan. Caminhos da Memória é seu primeiro trabalho na direção e acompanha Nick Bannister (Hugh Jackman), um investigador particular que ajuda seus clientes a acessarem memórias perdidas. Sua vida muda quando ele atende uma nova cliente, Mae (Rebecca Ferguson), e descobre uma conspiração violenta. 

O filme decepciona bastante, pois desperdiça suas ótimas ideias iniciais numa execução desengonçada, cansativa e que tem vergonha de expressar emoções. Parece mais interessado em vomitar diálogos expositivos do que mostrar o funcionamento daquele mundo na prática. Por mais que o elenco se esforce para tirar leite de pedra, falha em ser um bom filme de ficção-científica, romance ou mesmo ação. – Caio Machado


Imagem do filme Ele é Demais. Na imagem, à direita, uma mulher branca, de cabelos castanhos, usa um vestido regata de paetês pratas, com uma pluma bege sobre os ombros. Seu cabelo está preso em um coque baixo e ela ainda usa uma faixa de prata brilhante na testa. Com as mãos cruzadas à frente ela segura um celular. Ao seu lado direito, um homem branco, de cabelos pretos penteados para trás, usa um paletó preto, listrado em branco, gravata borboleta e está com as mãos apoiadas em uma câmera que está pendurada em seu ombro por uma faixa preta. Ao fundo, podemos ver pessoas vestidas com roupas de época, em tons de bege.
He’s All That é um reboot que conseguiu errar mais do que a história original (Foto: Netflix)

Ele é Demais (He’s All That, Mark Waters)

Na premissa de que um reboot seria a melhor opção para a grande estreia do mundo TikTok no Cinema, a Netflix errou e errou muito com Ele é Demais. A trama? Nada inovadora; a popular da história, Padgett (Addison Rae) leva um grande pé na bunda de seu ex-namorado famosinho e aposta com sua amiga que tem capacidade de transformar um garoto feio, Cameron (Tanner Buchanan, de Cobra Kai), no grande rei do baile. Claro que então, no meio do caminho a gente vê as “camadas” (rasas, claro), e o casal inimaginável se apaixonando. Além disso, ainda tem os clichês do ex-namorado se mostrar cada vez mais lixo e a amiga popular se rebelar contra ela e se tornar sua maior inimiga, mas isso com certeza você já viu em outros filmes. 

Podemos listar, além da história ultrapassada, os diversos erros da produção. Tudo bem que o filme é um reboot (que merece um prêmio pela fidelidade ao anterior) mas será que não tinha como tornar a história mais inclusiva e bem menos problemática? A ideia de transformar homem feio em homem bonito já torna a trama ridícula por si só. Além disso, o filme ainda continua pecando quando falamos em diferentes preconceitos implícitos, afinal o que são aqueles implantes de bochecha muito mal colocados que somem magicamente quando ele se torna o rei do baile? O roteiro bem mal escrito segue, por toda sua extensão, desenvolvendo algo raso e nada interessante. O que é frustrante, já que em pleno 2021 o filme é a grande atração entre o público infanto-juvenil, que acaba não percebendo as nuances equivocadas da produção.  

Assim, por fim, elencamos a falta de talento do elenco. A estreia da terceira tiktoker mais seguida do mundo é rasa, fraca e não agrada nem ao menos os seguidores da plataforma. Mas pior que ela, ainda há até mesmo Madison Pettis, que diferente do brilhantismo que vimos em Treinando Papai logo quando criança, entrega algo totalmente superficial e falido. Se quisermos destacar algo que deixa ao menos o filme um pouco interessante é ver as referências ao filme anterior, como as músicas, ou até mesmo a antiga protagonista, Rachel Leigh, atuando como mãe da nova estrela. – Larissa Vieira


Cena do filme The Witcher: Lenda do Lobo. Vesemir (Theo James) está caindo enquanto desfere um golpe com sua espada. Ele é causasiano, possui cabelo preto raspado nos lados e uma barba preta. Ele usa uma armadura preta por baixo de um manto felpudo preto. Por cima da armadura, vemos seu medalhão de bruxo: um colar prateado circular com a efígie de um lobo. Sua mão esquerda se aproxima da câmera e sua direita está levantada, segurando a espada. Só vemos o cabo da lâmina, oculta pelo resto do corpo de Vesemir. Atrás dele, um céu azul com restos de nuvens brancas.
A fluidez do movimento de suas animações é o grande trunfo da prequela da série The Witcher (Foto: Netflix)

The Witcher: Lenda do Lobo (The Witcher: Nightmare of the Wolf, Kwang Il Han)

Antes que a segunda temporada da adaptação dos livros de Andrzej Sapkowski chegue às telas da Netflix, fomos presenteados com o filme animado The Witcher: Lenda do Lobo. Estilizado e vendido como um anime, o longa explora o passado de Vesemir (Theo James), o bruxo que treinou Geralt (interpretado na série por Henry Cavill) e um dos personagens que será apresentado nos próximos episódios (onde será interpretado por Kim Bodnia) da série criada por Lauren Schmidt Hissrich, que produz ambas as obras.

Como sempre, o cenário de The Witcher é descrito como um mundo em guerra consigo mesmo. Quando os elfos não apresentam mais ameaça, os reinos humanos viram seus olhos para os bruxos e começam a se perguntar se os mutantes são realmente necessários. Em meio à toda essa tensão, um jovem e galante caçador de monstros recebe uma oferta para caçar uma besta que ninguém viu antes, e que o levará à uma verdade que ameaça colocar todos em perigo.

Apesar do roteiro de Beau DeMayo se movimentar num ritmo agradável e a história de Vesemir ser engajante, as grandes estrelas do show são claramente às sequências de ação, que fazem uso completo do formato de anime, e entregam lutas acrobáticas que não seriam possíveis na série e aproveitam da classificação +18. Graças aos talentosos animadores do Studio Mir, The Witcher: Lenda do Lobo é um espetáculo sangrento e fluído (à la Castlevania), além de um aperitivo delicioso do que está por vir, e prova de que o universo fictício do Continente ainda tem muitas surpresas reservadas para o futuro. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Graças aos esforços da atriz Marlee Matlin, os personagens surdos são todos interpretados por artistas surdos (Foto: Apple TV+)

No Ritmo do Coração (CODA, Siân Heder)

Ser a única não surda numa família de quatro pessoas e ainda nascer com um dom que não pode ser apreciado por eles: o canto. Essa é a premissa de CODA (Children of Deaf Adults, em tradução: filhos de pais surdos), um dos filmes mais emocionantes do ano e vencedor dos prêmios de Melhor Filme por público e júri do Festival de Sundance 2021.

CODA conta a história de Ruby Rossi, a filha mais nova de um casal de surdos. Porém, a garota não nasceu com a mesma condição, se tornando a intérprete de seus pais e seu irmão mais velho. Os entraves se iniciam na adolescência, na ânsia de estar convivendo em sociedade e o contraponto de sua família que é excluída por ela. Ruby se junta ao grupo de coral da escola, se destacando em meio aos seus colegas e vendo a oportunidade de tentar uma bolsa de estudos na Universidade de Música Berklee. CODA é sobre Música e sobre silêncio. Os momentos de canto são substituídos pelos momentos de linguagem de sinais com a família de pescadores e nada cativa mais do que quando os dois universos colidem. Assistam, fiquem apreensivos e se emocionem. – Ana Júlia Trevisan


Cena da animação A Jornada de Vivo. No centro da imagem estão Gabriela e Vivo em uma jangada de madeira com uma vela azul com enfeites de raios. Gabriela é uma menina de cabelos roxos mais compridos na esquerda, olhos castanhos e pele morena. Ela usa óculos quadrados azuis, uma camisa rosa vibrante, com uma gravata quadriculada branca e preta, um colete jeans com botões dourados por cima, uma saia colorida rosa, verde, amarela e laranja e botas pretas com cadarços amarelos. Vivo é um jupará amarelo, com rosto, mãos, pés e ponta da cauda acinzentados. Ele está usando um chapéu bege com uma faixa verde e um lenço verde no pescoço. Junto a eles na jangada também temos a mochila de Gabriela, que é azul clara com adesivos coloridos. Ao fundo temos uma mata bastante verde e fechada.
A animação traz cores e detalhes que exaltam as peculiaridades de seus personagens e conversam com os números musicais que eles performam (Foto: Netflix)

A Jornada de Vivo (Vivo, Kirk DeMicco)

Vivo é um jupará, mamífero da floresta tropical que foi perdido em Cuba quando filhote e resgatado por Andrés, um homem que ganha a vida cantando pelas ruas de Havana. Quando seu grande amigo morre, Vivo deve honrar seu último desejo e entregar sua composição para o grande amor da juventude de Andrés, a famosa cantora Marta Sandoval. O grande problema é: Marta agora mora em Miami e para chegar até lá, Vivo conta com a ajuda de Gabriela, sobrinha-neta de Andrés, com uma personalidade um tanto quanto peculiar para o gosto de Vivo.

Apesar das diferenças e dificuldades, Gabriela e Vivo vivem uma aventura emocionante na jornada para a capital da Flórida, regada de muita música e reviravoltas. O filme conta com dublagens de grandes vozes da música latina, como Gloria Estefan, Juan de Marcos González e, é claro, Lin-Manuel Miranda que além de estrelar no papel de Vivo, também assina a trilha sonora, com notas que já são marca registrada do astro, a mistura da música latina e diversos ritmos diferentes. – Marcela Zogheib

 

 

TV

Cena da série Gossip Girl. A cena mostra o interior de um teatro, com 3 personagens sentados um ao lado do outro. À esquerda, está Audrey, branca e loira, ao meio está Max, branco e de cabelos pretos e terno amarelo, e à direita está Aki, asiático e de cabelo raspado rosa. Max está com as mãos nas coxas dos dois.
Gossip Girl está de volta, XOXO (Foto: HBO Max)

Gossip Girl (Parte 1 da 1ª temporada, HBO Max)

A primeira qualidade da nova Gossip Girl é a série não se tratar de um reboot gratuito ou um remake qualquer. Em uma Nova York moderna, pós-pandemia e impregnada pelas demandas da Geração Z, a produção original do HBO Max passa seus seis episódios iniciais testando o terreno e brincando com o vai-e-vem dos estudantes do colégio. Aqui, o Instagram fala mais alto e o mundo do blog ficou no passado. Todos sabem a identidade da antiga Garota do Blog, todos superaram o dramalhão da era de Serena e Blair, menos, é claro, os professores do Ensino Médio, que criam um novo perfil da GG, metendo o louco para cima de adolescentes de 16 anos.

Criminoso? Não resta dúvida. Mas a Gossip Girl de 2021 sabe usar sua premissa imbecil para instigar o espectador a sintonizar no Max toda quinta, sedento para ver qual será a próxima pataquada, escrita e dirigida com a seriedade de quem almeja o Cinema moderno, mas acerta, no máximo, na versão gourmet da CW. Julien (Jordan Alexander) é a Rainha da Colmeia, mas governa com o poder da benevolência. Com a chegada de sua irmã perdida Zoya (Whitney Peak), J coça a cabeça frente à possibilidade de perder seu império. É uma pena que GG não consiga fazer ninguém se preocupar com o plot principal que, além de datado, não é bem roteirizado ou desenvolvido. 

O charme, como de costume em séries adolescentes, está no elenco. Obie (Eli Brown) é o único panaca completo, ao passo que Max (Thomas Doherty) sacaneia todo mundo, Audrey (Emily Alyn Lind) não se decide qual papel quer prestar e Luna (Zión Moreno) sofre para se sobressair para além de sua trama enfadonha. O destaque dos “adolescentes” é o interessante mas subaproveitado Aki (Evan Mock). A segunda parte está marcada para voltar em novembro, e a promessa é: mais absurdos, mais professoras sem noção e um tantinho mais da narração irresistível de Kristen Bell. – Vitor Evangelista


Cena do documentário Você nunca esteve sozinha. Na imagem, a ganhadora do BBB21, Juliette Freire, está ao centro, encostada na janela de um ônibus e olhando para a paisagem do lado de fora. Juliette é uma mulher branca de cabelos castanhos compridos, usa um vestido de alças finas laranja, e sua expressão é de felicidade e admiração ao observar a paisagem. Ela está sentada e sua mão direita está apoiada na janela que mostra uma rodovia e muitas árvores. Acima de sua mão há um pequeno colante em formato de pássaro. Abaixo de sua mão há um vaso com cactos. O fundo mostra parte do ônibus com paredes de madeira.
O fenômeno Juliette não perdeu tempo em se estender para um documentário na Globoplay (Foto: Globoplay)

Você nunca esteve sozinha – O doc de Juliette (Minissérie, Globoplay)

Juliette Freire é um fenômeno desde que apareceu na tela da Globo. A ganhadora do BBB 21 já havia quebrado recordes mundiais de interação nas redes sociais e agora lançou sua carreira de cantora, já arrebatando o maior número de streamings do Spotify Brasil nas primeiras 24 horas de seu EP no ar. A empreitada na Indústria Musical contou com mais um episódio para integrar o documentário Você nunca esteve sozinha – O doc de Juliette, e compartilhar a maneira particular e divertida que a paraibana enxerga o mundo. 

Cheio de cor, música e presença nordestina, o documentário de Juliette é emocionante e mostra partes da história real por trás da febre que o Big Brother Brasil criou. Contar a história da irmã Julienne e trazer Gil do Vigor e Lucas Penteado foram cruciais para desenhar a veracidade no trabalho da diretora Patricia Carvalho – bem diferente de A Vida Depois do Tombo. Apesar de apelar com participações musicais demais e zoom em lágrimas – que se secar, borra – os episódios são uma delícia de assistir, e lembram a todos, com prazer, de que o Nordeste é a melhor parte do país. – Nathália Mendes


Cena da série The White Lotus. Na imagem, vemos dois funcionários do resort. O senhor da direita é grisalho, veste um terno de cor cereja e uma camisa azul clara, e está segurando uma pasta preta nas mãos; a moça ao lado dele é uma haitiana, de cabelos compridos escuros e amarrados em um rabo de cavalo, ela veste uma camisa rosa e segura uma bandeja com algumas toalhas brancas enroladas, com um estojo preto em cima. Eles estão ao ar livre, em frente a algumas árvores, e está de dia.
Os funcionários, interpretados por Jolene Purdy e Murray Bartlett, recepcionam os hóspedes do resort (Foto: HBO)

The White Lotus (1ª temporada, HBO)

A sátira criada e dirigida por Mike White (Enlightened, Escola de Rock), se tornou um completo sucesso em audiência desde seu lançamento pela rede americana HBO, tanto que já tem sua segunda temporada encomendada para o próximo ano, em um formato de antologia, com personagens e histórias diferentes. Toda trama de The White Lotus se passa num resort de luxo no Havaí, de mesmo nome da série, e tem como protagonistas três grupos de pessoas, com algo predominante entre elas: são todas ricas e brancas.

Inicialmente, tudo parece ir às “mil maravilhas”. Os funcionários do resort dão as boas-vindas ao grupo, sempre sorridentes. Porém, o que vemos inicialmente não é a realidade. Os funcionários, de classe social inferior, entre eles se destaca o gerente Armond (Murray Bartlett), são obrigados a deixarem seus problemas de lado, e satisfazer os caprichos dos hóspedes de classe alta, como Shane Patton (Jake Lacy), recém-casado com Rachel (Alexandra Daddario), em suas condições de total servidão. Um exemplo disso é quando Belinda (Natasha Rothwell), gerente do spa, tem dor nas costas após um dia de trabalho, mas precisa massagear Tanya McQuoid (Jennifer Coolidge), uma senhora rica, que vive no ócio o dia todo. A série não só trabalha em torno dos personagens, mas também é notável uma crítica em torno da elite e dos explorados.

Os personagens são muito bem elaborados e entram em conflito simultaneamente, de modo que há uma sincronia entre suas ações e comportamentos, e tudo é acompanhado com excelência pela constante trilha sonora, que muda com o ritmo dos acontecimentos. Também vale salientar que muitas das ações dos personagens principais causam certo desconforto no espectador, que pode se visualizar cometendo os mesmos erros deles. Porém, ao fim do sexto episódio, chegamos a conclusão de que o mundo é desta forma, cheio de injustiças e diferenças, e para mudá-lo precisamos bem mais do que discursos em redes sociais. Sabrina G. Ferreira


Duas mulheres idosas estão sentadas em cadeiras dando risada. A mulher da esquerda tem cabelos grisalhos na altura do ombro, ela é branca, está usando um colar de pedras verdes, um vestido-túnica azul e amarelo claro, pulseiras de pedras azuis e anéis também de pedras. No seu colo segura uma pequena bolsa marrom e sua cadeira é feita de palha. A sua direita está uma mulher branca e loira de cabelos curtos, ela está usando um tricô bege com uma blusa bege escura por baixo e uma calça jeans preta, na sua mão direita está segurando uma caixa branca de comprimidos e na esquerda está usando um relógio prateado. Ao fundo temos uma mesa redonda com cadeira, um corrimão de madeira e uma janela branca.
Depois de conquistar o mundo dos vibradores geriátricos, a dupla persiste no novo empreendimento: a privada Rise Up (Foto: Netflix)

Grace e Frankie (Grace and Frankie, Parte 1 da 7ª temporada, Netflix)

A Netflix resolveu surpreender os fãs de Grace e Frankie ao lançar, sem avisos, a primeira parte da sétima e última temporada da série. O show, que acompanha a vida de duas idosas que descobrem um caso entre seus maridos e passam de inimigas mortais a amigas eternas, teve suas gravações bastante adiadas por conta da pandemia de covid-19, principalmente porque grande parte do elenco faz parte do grupo de risco.

Nessa primeira parte da temporada conseguimos realmente ver o impacto que uma teve na outra, temos uma Grace mais segura de si, que abraça a chegada da idade e as mudanças que vêm com ela. E Frankie está cada vez mais independente, conseguindo buscar mudanças na sua vida que não envolvem agradar a todos à sua volta.

O restante do seriado terá 12 episódios e só será lançado em janeiro de 2022. E apesar de ter sido uma boa surpresa, a liberação de apenas quatro episódios pela Netflix deixou esse recorte em um limbo de espera pelo que vem no final do que se tornará a série mais longa já produzida pela plataforma. – Marcela Zoghei


Imagem de divulgação da série Divirta-se em Casa com o Pateta. Ela mostra três frames dos três episódios dispostos como fotografias. Na primeira delas, o Pateta, cão antropomorfizado com traços cartunescos, olhos grandes, focinho alongado, luvas brancas e orelhas compridas, abre um plástico transparente contendo uma máscara sanitária azul. Ele veste uma jaqueta laranja claro sobre uma blusa laranja-escuro. Na segunda foto, ele está em uma cozinha, com um chapéu de cozinheiro e colocando uma assadeira no forno. Ele veste uma blusa verde e calça azul, e tem a boca aberta em um grande sorriso. A terceira foto mostra de frente o pateta sentado em uma poltrona em uma sala, com os pés de meia com remendos estendidos sobre um puff. Ele veste roupas roxas, com uma faixa verde na barriga, e olha atentamente, com a boca aberta, em direção a uma televisão implícita. As fotos se encontram dispostas sobre uma textura de tecido, na qual se encontra bordada no canto inferior direito a imagem de uma casa em uma paisagem natural e próxima a uma plantação.
Se depois de mais de um ano de pandemia, você ainda não aprendeu a se virar na cozinha ou usar uma máscara, agora não tem mais desculpas (Foto: Disney +)

Divirta-se em Casa com o Pateta (Goofy in How to Stay at Home, 1ª temporada, Disney+)

Existe professor melhor do que o Pateta? Desde sua primeira aparição em 1932, o cão desengonçado já nos mostrou como praticar todas as modalidades esportivas imagináveis, e deixou as aulas teóricas da autoescola bem menos entediantes ao nos ensinar como dirigir. Pois no meio do 2021 pandêmico, ele está de volta em uma série de três curta-metragens que trazem de volta toda a glória de seus traços clássicos para um mini-guia de sobrevivência para aqueles que estão ficando em casa. O projeto encabeçado por Eric Goldberg, animador veterano da renascença da Disney, ressuscita o espírito e o humor dos curtas clássicos da década de 40, adaptando-os à contemporaneidade sem abrir mão de sua essência.

Em Como Usar Máscara, Pateta evoca o tiozão que não consegue cobrir com a mesma máscara o queixo e o nariz, mas em defesa do cachorro, o focinho complica bastante a situação. Já em Aprendendo a Cozinhar, ele encarna o clássico universitário tentando bancar o chef de cozinha sem saber ao menos fritar um ovo. Ambos são engraçadinhos apenas, mas a verdadeira pérola da série é Maratonas na TV, onde ele prova que é capaz de realizar todas as suas tarefas domésticas sem parar sua maratona de série, com um humor físico surreal que só a animação é capaz de proporcionar. – João Batista Signorelli


Cena da série Kevin Can F**k Himself. A cena mostra Kevin, branco, de moletom azul, abraçando sua esposa Allison, por trás, ela é loira, branca, usa roupa verde e segura um cesto de roupas que é de cor branca.
O Kevin que se foda (Foto: Amazon Prime Video)

Kevin Can F**k Himself (1ª temporada, AMC/Amazon Prime Video)

Annie Murphy venceu o Emmy por Schitt’s Creek e, para se desligar da imagem da personagem que viveu por seis anos na série canandense, ela mergulhou de cabeça na visceral sitcom dramática Kevin Can F**k Himself. Original da AMC e disponibilizada no Brasil pelo catálogo do Amazon Prime Video, a produção conta a história de Allison (Murphy), uma esposa frustrada, que vive à mercê de seu marido Kevin (Eric Petersen).

O diferencial está na abordagem temática da série, que é filmada de maneiras gritantemente opostas. Quando Kevin está em cena, a criação de Valerie Armstrong vira um formato de sitcom, com múltiplas câmeras, iluminação carregada e a trilha de gargalhadas da audiência. Quando Allison se afasta dele, a paleta fica cinza, a trilha sonora sobe e a vibe dramática inunda as temáticas, que vão de depressão, à morte e ao assassinato.

Allison então, planeja se livrar do estúpido marido, ao mesmo tempo em que lida com a vizinha Patty (Mary Hollis Inboden), o novo chefe Sam (Raymond Lee) e o próprio Kevin, que fica cada vez mais repugnante, graças ao trabalho louvável de Petersen. As modulações de sitcom e drama começam promissoras, com viradas e transgressões espertas, mas com o decorrer dos oito episódios de 45 minutos, o formato se ajoelha perante à temática, virando nota de rodapé. Com a promessa de uma nova temporada, Kevin Can F**k Himself sacrifica o que seria um final perfeito para aventuras inéditas a partir de 2022. – Vitor Evangelista


Duas mulheres em uma cozinha. Na esquerda temos Paris Hilton, ela é uma mulher branca, de cabelos compridos e loiros, com as raízes um pouco mais escuras. Ela está usando um vestido branco de cetim, com as mangas compridas e um decote profundo. Ao seu lado direito está Kim Kardashian, uma mulher armênia de pele morena, com os cabelos também morenos, mas com luzes um pouco mais claras. Seu cabelo está em um rabo de cavalo bem alto. Ela está usando uma blusa estampada marrom e bege, com uma gola “v” e botões na direita, nas suas mãos está com luvas azuis descartáveis. As duas mulheres estão rindo olhando para as mãos de Kim. Atrás das mulheres, na cozinha, há uma bancada de mármore com enfeites e armários de nox e pretos com puxadores dourados. Uma janela grande com uma cortina branca, seguindo para a direita armários iguais aos da bancada. Na frente das duas encontramos outra bancada com apetrechos de cozinha, espátulos, cumbuca transparente com morangos, a parte de baixo de um liquidificador preto e algumas embalagens.
Em conversa com Kim, Paris fala sobre sua vida de festas e fama e o que espera da nova fase que está vivendo (Foto: Netflix)

Cozinhando com Paris (Cooking with Paris, 1ª temporada, Netflix)

Os anos 2000 estão de volta e com isso não poderia faltar o retorno da rainha da década, princesa do entretenimento do início do século, ditadora das maiores tendências da cultura pop: Paris Hilton. A socialite volta aos holofotes com seu novo programa da Netflix: Cozinhando com Paris, onde ela recebe diversos convidados e dá o seu melhor em um ambiente que não costumamos vê-la, a cozinha.

Apesar do nome e da premissa de ser um show de culinária, se você for com o caderninho de receitas esperando aprender segredos da cozinha de Paris, irá se decepcionar. A ideia aqui lembra um outro programa de grande sucesso da socialite: The Simple Life – As patricinhas na fazenda, em que ela e sua velha amiga Nicole Richie passavam por situações muito diferentes das que estavam acostumadas, convivendo com pessoas com uma vida mais simples.

O atrativo aqui é acompanhar a extravagância absurda de Paris, com suas idas ao supermercado vestida inteira de brilhos, seus acessórios de cozinha cravejados com cristais e as conversas sobre sua vida com seus convidados. A série é, acima de tudo, divertida, mas se apoia bastante no peso dos participantes, incluindo Kim Kardashian, e da eterna obsessão que todos temos por Paris. – Marcela Zogheib


Foto da série Schmigadoon!. À direita, vemos quatro homens em fileira, todos brancos e usando terno coloridos. O da frente está com um chapéu cor de palha em suas mãos. Ao lado deles, uma mulher está de pé, olhando para a câmera. Ela usa um vestido comprido roxo escuro e segura uma Bíblia com as duas mãos. Seus cabelos sãoo castanhos e ajeitados em um penteado, e ela usa um chapéu roxo. Ao fundo, vemos uma cidade com o céu azul e grama bem verde.
A Glinda tá diferente… (Foto: Apple TV+)

Schmigadoon! (1ª temporada, Apple TV+)

Bem-vindos a Schmigadoon! Onde o Sol brilha de julho a junho e a vida é como um musical dos anos 50. Bem, na verdade, a vida é um musical dos anos 50 – e o casal em crise Josh Skinner e Melissa Gimble tropeçaram de cara nele. Com seis curtíssimos episódios e milhares de referências à musicais clássicos, Schmigadoon!, de Cinco Paul e Ken Daurio, é 8 ou 80: fãs do gênero, encarem sem receio; haters, passem bem longe.

A cidadezinha mágica depois da ponte abriga todos os clichês que o Cinema e a Broadway já usaram e abusaram, mas é o absurdo da situação em pleno 2021 que deixa a trama irresistível. Pegando título e conceito emprestado de Brigadoon, de 1954, a série da Apple TV+ não poupa esforços com sua direção de arte impecável e coreografias que poderiam ser facilmente encenadas em cima de um palco. 

O elenco é encabeçado pela dupla Cecily Strong e Keegan-Michael Key, mas são as vozes conhecidas dos coadjuvantes que rendem as melhores performances. Tribulation, interpretado pela incomparável Kristin Chenoweth, grita Wicked com pitadas de Newsies; Enjoy the Ride dá o gostinho de vagabundo-da-cidade para o veterano Aaron Tveit; até Dove Cameron encanta como Betsy e seu pudim de milho. Mas uma coisa é certa: Maria von Trapp deve estar orgulhosa da aula ginecológica de Melissa. – Caroline Campos


Modern Love, o incrível caso da série que é melhor que o livro (Foto: Amazon Prime Video)

Modern Love (2ª temporada, Amazon Prime Video)

Modern Love chegou em 2019 encantando os assinantes do Prime Video com suas histórias reais de amores e desamores. Inspirada na coluna de mesmo nome, que também gerou um livro, a série se destaca por sua narrativa que fica na linha tênue entre o simples e o elaborado. O livro Modern Love traz apenas relatos pontuais das pessoas que escrevem. A série consegue ir além, cria cenários e sensações, introduz o espectador na vida das personagens, faz torcer e chorar na mesma intensidade.

Com oito episódios e novos atores, a segunda temporada de Modern Love segue o ritmo de sua estreia. Tão emocionante quanto a primeira, a série não traz finais fechados para seus capítulos, deixando a gente sonhar com o melhor para aqueles personagens. O maior exemplo é o episódio três, única história não presente no livro, situado no contexto pandêmico, encerrado bem em seu ponto alto apenas resta torcer para que o casal tenha se reencontrado. – Ana Júlia Trevisan


Na falta de criatividade, American Horror Stories recicla a trama de Murder House até a exaustão (Foto: FX)

American Horror Stories (1ª temporada, FX on Hulu)

American Horror Story é uma das séries mais famosas de terror, conduzida pelo showrunner Ryan Murphy. O show ganhou notoriedade por adotar o formato de antologia, além de ser palco de um elenco formidável, que nos apresentava um modelo único de horror. Depois de uma longa trajetória, as narrativas não tinham tanto fôlego quanto as temporadas iniciais. Para simplificar a trama, foi anunciado um spin-off que contaria uma história diferente a cada episódio. Com esse propósito em mente nasceu American Horror Stories.

Apesar do nome parecido, o spin-off herdou pouco da originalidade e da personalidade da série original. Os dois primeiros episódios apelam para a nostalgia de Murder House, mas nem de longe atingem o impacto da primeira temporada. As tramas seguintes, que se desprenderam um pouco de American Horror Story, seguiram ladeira abaixo com um roteiro fraco e mal desenvolvido e atuações medianas. A antologia mostrou sua primeira narrativa interessante com Feral, que conta a história de um menino pequeno desaparecido durante uma viagem de acampamento com seus pais. Mesmo com algumas falhas, o episódio se desenrola bem dentro da curta duração e, ainda, foge do padrão de protagonistas adolescentes assim como seus antecessores.

Com mais pontos baixos do que altos, as lendas de terror de American Horror Stories não foram o suficiente para agradar tanto os especialistas quanto a audiência, que avaliaram negativamente o show. O fator mais crítico da produção é que essa não se desprende da sua série-mãe, chegando até a escalar o elenco original de Murder House para fechar a temporada. Mas apesar disso, o espetáculo dos horrores se renovou por mais um ano. Até lá, como não dá para imaginar o que o Ryan Murphy está planejando, só nos resta esperar que o showrunner seja agraciado com um pouco de criatividade. – Gabriel Gatti


Poster da primeira temporada do reboot de iCarly. Em um estúdio, o elenco está de pé olhando para a frente. Na esquerda, Jaidyn Triplett aparece olhando para a direita. Ela veste uma blusa verde e seus cabelos cacheados estão presos para cima. Jaidyn é uma criança negra. A seu lado, Nathan Kress segura uma ring light com as duas mãos e veste uma blusa azul. Nathan é um homem branco e tem cabelos castanhos e curtos. No centro, Jerry Trainor aparece com uma blusa amarela. Jerry é um homem branco de cabelos médios da altura de suas orelhas. No centro, Miranda Cosgrove aparece com uma blusa preta com bolinhas e moletom branco. Miranda é uma mulher branca de cabelos pretos e longos. No canto direito, Laci Mosley aparece com um macacão jeans e ela segura duas roupas em seus cabides. Laci é uma mulher negra e seus cabelos estão sobre tranças box braids. Um cabideiro cheio de roupas aparece atrás de Laci.
A primeira influencer da Geração Z está de volta (Foto: Paramount+)

iCarly (1ª temporada, Paramount+)

Em cinco, quatro, três, dois, e… ela está de volta. Depois de quase dez anos do final da série original, iCarly voltou para mais uma divertida temporada pela Paramount+. Sem o retorno de Jennette McCurdy e a icônica Sam Puckett, a série nos leva novamente para a vida de Carly, Freddie e Spencer e o retorno de iCarly, que estava desativado desde a ida da protagonista até a Itália. Se a premissa inicial do programa era mergulhar na cultura dos influencers dentro do webshow, o que acabou chamando mais atenção foram as adversidades do grupo ao se adaptarem à vida adulta. 

Seja na desastrosa vida amorosa de Carly ou no fracasso profissional de Freddie, iCarly tenta se desvencilhar dos limites do humor adolescente e, com dificuldade, sucede. O verdadeiro destaque da temporada é a nova melhor amiga de Carly, Harper (Laci Mosley). Longe de ser uma réplica desinteressante de Sam, a estilista conquista facilmente o telespectador com sua personalidade indiscreta e seu guarda-roupa impecável. Quem não agrada é a péssima filha adotiva de Freddie, Millicent (Jaidyn Triplett), que não soa (nem um pouco) como uma adolescente. 

O revival pode até não agradar o consumidor ávido de séries de comédia, mas é um doce presente para os fãs que valorizam uma bela nostalgia. Com um início moderado, a série consegue se consolidar na metade da temporada: em uma disputa entre um humor adolescente e o uso ocasional de piadas adultas, iCarly parece ter encontrado sua fórmula final. Agora, basta saber se a segunda temporada vai conseguir seguir o mesmo ritmo. – Laís David


Cena do episódio animado de Pen15, Jacuzzi. A foto é um desenho no cais de uma praia e mostra Anna e Maya sentadas no cais. Está de dia, Anna é branca e loira e usa blusa laranja, enquanto Maya é asiática, tem cabelos pretos e curtos e usa roupa azul.
Como parte da campanha de Pen15 para o Emmy 2021, o Hulu finalmente continua a segunda temporada do show (Foto: Hulu)

Jacuzzi (Episódio Animado de Pen15, Hulu)

Em Pen15, as criadoras, roteiristas e diretoras Anna Konkle e Maya Erskine vivem versões delas mesmas na puberdade. A primeira parte da segunda temporada, que foi indicada a 3 prêmios no Emmy 2021, foi lançada no ano passado e, desde então, a história de Anna e Maya ficou em suspense. Com as duas atrizes grávidas ao mesmo tempo, era inviável que nossos capítulos fossem gravados, ainda mais no meio da pandemia.

A saída foi Jacuzzi, que serve como oitavo episódio da segunda temporada, e é a primeira investida animada da série de comédia. Com pouco menos de 40 minutos, Anna Konkle escreve e dirige esse standalone das amigas, que viajam e aprontam uma atrás da outra na Flórida. O humor depreciativo e “cringe” é elevado à enésima potência, com as protagonistas sendo desenhadas como caricaturas grotescas, exibindo do lado de fora a maneira exata que as adolescentes enxergam a si mesmas. Com sorte, Pen15 deve voltar lá para o fim do ano, e continuar a saga, em live action, das amigas destrambelhadas. – Vitor Evangelista


Cena da série Todo va a estar bien. A imagem mostra Julia e Ruy, personagens de Lucía Bracho e Flavio Medina deitados numa cama, olhando para Andrea, personagem de Isabella Morales, que está sentada, de costas para a câmera e de frente para os dois. Ruy, do lado esquerdo,é um homem branco, de cabelos e barbas castanhos meio grisalhos, veste uma camiseta com estampa surrada e está de braços cruzados, olhando para a menina enquanto fala. Ao lado dele, na direita, está Julia, uma mulher branca de cabelos castanhos curtos bagunçados, que veste um pijama estampado amarelo e também olha para a menina à sua frente com desconfiança. Todos eles estão numa cama, em lençois e travesseiros cinzas, na frente de uma pintura abstrata colorida. A fotografia é iluminada por abajures.
De Star Wars, a Narcos e Carrossel, Diego Luna agora dirige a nova dramédia familiar da Netflix (Foto: Netflix)

Todo va a estar bien (1ª temporada, Netflix)

Diego Luna está fazendo TV! Através de Todo va a estar bien, o ator mexicano estreia na direção do mundo das séries da melhor maneira possível, assinando a nova dramédia da Netflix. Depois de estrelar Narcos: Mexico e o programa de entrevistas Pan y Circo, no Amazon Prime Video, Luna parece se sentir em casa na televisão e vive o momento de conhecer sua assinatura enquanto diretor numa história que tem aquele gosto especial e familiar das casas latinoamericanas.

A produção nos coloca para acompanhar o dia a dia de Julia (Lucía Uribe Bracho) e Ruy (Flavio Medina), um casal divorciado que decide continuar morando junto para cuidar da filha Andrea (Isabella Vazquez Morales). Em oito episódios, Todo va a estar bien vivencia os altos e baixos do trio conforme explora a individualidade de seus personagens, que procuram se reconhecer na nova configuração da casa. Compondo um retrato realista, simpático, delicado e divertido, a primeira série de Diego Luna é um delicioso compilado de crônicas de uma família moderna. – Raquel Dutra


Cena da série Cruel Summer. Duas mulheres loiras com roupas de banho. A esquerda uma mulher branca, de cabelos loiros presos de lado um pouco abaixo dos ombros formando um cacho. Ela está com o corpo virado para a direita, usando um maiô rosa e uma bolsa nude no braço direito. Seus olhos são azul claro e ela está usando um brinco de brilhante na orelha. Ao seu lado está uma mulher mais jovem, branca de olhos castanhos. Ela também tem o cabelo loiro e está usando ele com a parte de cima presa para trás com uma scrunchie. Seu maiô é listrado verticalmente, deixando uma listra azul e uma roxa nas alças. Ela está carregando uma bolsa grande azul com detalhes azul escuro e uma alça de couro preto. Ao fundo temos árvores e vegetação com tons escuros e claros de verde, e entre as duas mulheres está um caro vermelho com teto solar preto.
O show tem produção de Jessica Biel, protagonista da primeira temporada da série The Sinner (Foto: Amazon Prime Video)

Cruel Summer (1ª temporada, Amazon Prime Video)

Cruel Summer acompanha paralelamente o caso do desaparecimento de Kate, uma adolescente popular em uma cidade pequena no Texas em 1993, e a acusação de Jeanette, uma colega de escola excluída de Kate, de estar envolvida no caso. A história é contada alternando entre os anos de 1993, 1994 e 1995, em diferentes pontos dos acontecimentos.

Com as mudanças entre os anos, a ambientação da série muda drasticamente, trazendo para a tela o sentimento vivido pelos personagens e apesar de não parecer um enredo tão original de início, a trama surpreende e se desenvolve rapidamente ao longo dos episódios. Além disso, são abordados temas bastante pesados que causam um certo desconforto, mas ainda sim trata-se de uma série teen, criando um contraste que prende o espectador em cada cena. – Marcela Zogheib


Cena da série Physical. Vemos uma mulher branca parada num escritório. Ela tem cabelo castanho cacheado, na altura dos ombros. usa brincos de argolas grandes e usa um colar. Veste uma roupa de ginástica e carrega uma bolsa pequena no ombro esquerdo. A boca dela está levemente aberta, mostrando os dentes, como se estivesse se preparando para fingir um sorriso.
Rose Byrne mostra a excelente atriz que é ao interpretar Sheila em Physical (Foto: Apple TV+)

Physical (1ª temporada, Apple TV+)

Os anos 80 continuam sendo usados em várias produções estadunidenses, seja para homenagear a década ou utilizá-la como ambientação para a história. No caso de Physical, a série da Apple TV+ aproveita o período, tão cheio de mudanças e exageros, para fazer uma ótima sátira do mundo dos vídeos de aeróbica e da cultura da magreza. 

Na trama, acompanhamos Sheila Rubin (Rose Byrne), uma dona de casa atormentada que vive na San Diego dos anos oitenta. Apesar de aparentar estar calma, ela luta contra um vício e uma voz interior que a torturam constantemente. Tudo muda quando ela descobre a aeróbica e mergulha numa jornada de empoderamento e sucesso. 

O que destaca Physical diante de outras séries ambientadas nesse período, como Glow, é a excelente atuação de Rose Byrne. Os outros atores se esforçam, mas não chegam nem perto da aura poderosa que a atriz emana. É ela quem joga luz na crítica que a série faz ao culto nocivo do “corpo perfeito” e nos faz devorar a temporada inteira, ansiosos por mais. – Caio Machado


Cena da minissérie Vingança Sabor Cereja. Lisa Nova (Rosa Salazar) a câmera com um sorriso maníaco, filmando-a com uma outra câmera antiga, segurando-a com as duas mãos e pressionando ela contra o lado esquerdo de seu rosto. Lisa é branca, tem cabelos pretos puxados para trás com alguns fios escapando, usa uma jaqueta preta que está fora de foco. A câmera em seu rosto está distorcida e fora de foco, e o cenário atrás dela está obscurecido.
A câmera por trás das câmeras de Vingança Sabor Cereja é talvez seu elemento mais horripilante (Foto: Netflix)

Vingança Sabor Cereja (Brand New Cherry Flavor, Minissérie, Netflix)

Baseada no livro de Todd Grimson, Vingança Sabor Cereja é uma narrativa surreal no coração podre da Los Angeles dos anos 90, estrelada por Rosa Salazar (Alita: Anjo de Combate, Undone) e criada por Nick Antosca (Channel Zero) e Lenore Zion. Na trama, a cineasta Lisa Nova (Salazar) tem seu curta-metragem roubado pelo produtor ganancioso Lou Burke (Eric Lange), e agora está disposta a fazer qualquer coisa para destruir sua vida.

É fácil ver como a estética lynchiana de Vingança Sabor Cereja se inspira em trabalhos como Cidade dos Sonhos para dar vida e textura às partes mais feias da Cidade dos Anjos; através de sua protagonista desiludida, acompanhamos essa metamorfose de olhos abertos, absorvendo cada detalhe do mundo, esperando ansiosamente que todas as peças se encaixem e que, por fim, justiça seja obtida. Mas não é assim que a banda toca e, até o último momento, a série mantém o suspense brilhante entre o que a audiência sabe e o que ela acha que sabe. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Cena da série The Chair. Na imagem, Joan, Yaz e Ji-Yoon estão reunidas em uma sala tomando vinho, enquanto as três observam algo do outro lado da cena. Joan é uma mulher idosa branca, com cabelos loiros em corte chanel, usa óculos de aro redondo, uma blusa preta e colar de pérolas. À sua direita está Yaz, uma mulher negra de cabelos cacheados semi presos que usa um vestido estampado de azul floral e verde. À direita de Yaz está Ji-Yoon uma mulher asiática com cabelos presos em um coque acima da cabeça, e blusa pink de gola alta e mangas compridas. A expressão das mulheres é de curiosidade. Ao fundo há duas grandes janelas de vidro e cortinas brancas.
A parte complexa e interessante da trama de The Chair tem um ar leve demais (Foto: Netflix)

The Chair (1ª temporada, Netflix)

Sandra Oh estreou na Netflix prometendo comédia, romance e uma crítica cirúrgica ao meio acadêmico. No entanto, The Chair só serviu para mostrar que, mesmo criado e produzido por mulheres, o romance gosta da ladainha de arruinar protagonistas incríveis por causa de homens fracassados. Nem todo o carisma e talento da atriz que deixou saudades aos amantes de Grey’s Anatomy pode escapar da armadilha de uma personagem que escolhe seu amado.

A premissa de The Chair veio impecável: Kim Ji-yoon é a nova chefe do Departamento de Inglês em uma universidade de prestígio. Mulher e não-branca, a protagonista tem uma pluralidade de pautas possíveis, inclusive na abordagem da trama sobre a “substituição” de professores conforme o tempo e o medo do apagamento de cursos e faculdades. Mas a produção escorregou e passou seus 6 episódios com uma crítica tímida demais, até perder o espaço para (mais um) incrível, só que não, homem. – Nathália Mendes

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