Entre presente e passado, a terceira temporada de Cobra Kai nos lembra que “ser fodão não é o mesmo que ser um babaca”

Dois amigos ao centro tirando uma selfie, fazendo sinal de rock n’ roll com as mãos e mostrando a língua. Ao fundo, um grupo de pessoas aproveitando um show de música
Miguel e Johnny tirando uma selfie (Foto: Reprodução)

Victória Rangel

Cobra Kai está de volta como um presente de ano novo para seus fãs! Lançada pela Netflix em janeiro de 2021, a terceira temporada da série baseada no filme Karatê Kid (1984) traz de volta importantes personagens do passado. E, se você, como eu, não se lembrou de alguns detalhes da série, não se preocupe! A gente tem um texto especial aqui no site e a Netflix também oferece um breve resumo da segunda temporada antes da próxima começar.

Tudo começa de onde parou: Miguel (Xolo Marieña) está no hospital, Johnny Lawrence (William Zabka) bebendo, desolado e à procura de encrenca (exatamente como no começo da primeira temporada). O esquema original da série permanece igual. Flashbacks com cenas originais das sequência Karatê Kid, referências divertidas sobre outros filmes e programas de TV e a finalização dos episódios com mensagens motivacionais, a fórmula de Cobra Kai é a mesma.

Gif de homem vestindo roupa preta de caratê, falando em Tradução livre do inglês: “A fraqueza é inaceitável".
Tradução livre do inglês: “A fraqueza é inaceitável”, John Kreese no dojô Cobra Kai (Gif: Reprodução)

O que vem de novo é a história de sensei Kreese. Com cenas de sua experiência lutando pelos EUA na Guerra do Vietnã, tudo indica que existe um elemento motivador que transformou John Kreese (Martin Kove), um jovem soldado, no sensei vilão que ele é hoje. É nesse momento, também, que entendemos a razão de seu dojô se chamar Cobra Kai. Vale pontuar, ainda, que a guerra é representada pelo ponto de vista norte-americano, o que nos fornece a imagem parcial de vietnamitas como inimigos inescrupulosos.

Outro passado que ressaltamos é o de senhor Miyagi. Daniel (Ralph Macchio), para lidar com um grande problema de sua empresa (a concessionária LaRusso), vai ao Japão. Em Okinawa, terra natal de seu sensei, reencontra figuras importantes que conheceu quando visitou a ilha pela primeira vez, em 1985. Dentre elas, estão Kumiko, uma bailarina por quem se Daniel se apaixonou quando jovem, e Chozen, um inimigo carateca com quem lutou nos anos 80. Agora, LaRusso aprende com eles duas lições que serão imprescindíveis para entender a linha narrativa dessa temporada de Cobra Kai: que a defesa tem muitas formas, e que se espalhar o bem pelo mundo, “ele voltará para você”.

Adultos sentados nas cadeiras de um auditório, olhando para a frente
Johnny, Kreese e Daniel no conselho escolar sobre a grande luta da 2ª temporada (Foto: Reprodução)

Johnny Lawrence, por sua vez, continua em sua busca para tentar se reerguer na vida. É importante lembrar que, nas primeiras temporadas, o sensei representou uma importante figura paterna para seu aluno Miguel e, agora, tenta ajudar a custear uma cirurgia necessária ao adolescente. Para isso, participa de entrevistas de empregos (daquelas famosas que começam bem e dão comicamente errado no final) e até recorre à família de seu padrasto, a quem detesta. Nessa empreitada, acaba deixando seu filho biológico, Robby (Tanner Buchanan), de lado, e o menino segue desaparecido desde o acidente na escola.

Johnny é uma personagem engraçada e cheia de falhas que ajuda a dar certo dinamismo à série. Na terceira temporada, o sensei é introduzido ao mundo do flerte online – todos nos lembramos bem das dificuldades de Johnny com computadores e a internet. E ele permanece o mesmo, chegando a colocar uma pergunta típica de muitas avós internautas da nossa geração: “Quanto tempo demora para uma mensagem chegar no Facebook?”.

Dois adolescentes com vestimentas típicas dos anos 80, olhando uma foto de cabine fotográfica. Ao fundo, uma cabine fotográfica.
Daniel e Ali, namorados em 1984, no filme original Karatê Kid (Foto: Reprodução)

Lembram daquela jovem loira que ficava com Johnny e acabou namorando Daniel no fim do primeiro filme, em 1984? Ali (Elizabeth Shue), uma das motivações para a inimizade entre Lawrence e LaRusso, também reaparece. Sua presença, agora como uma mulher independente e recém-divorciada, nos faz imaginar como seria a vida de Johnny a seu lado, caso os dois ficassem juntos afinal.

Robby continua fugindo após ter sido responsável por empurrar Miguel na icônica luta que finalizou a segunda temporada – aquela iniciada por Tory, a namorada de Miguel e aluna de sensei Kreese, que via em Sam uma inimiga dos dojôs e da vida amorosa. Cabe aqui comentar que a personagem de Tory, interpretada por Peyton Roi List, é quase que afetada demais. Veja bem, a gente sabe que ela é uma das vilãs da produção, mas talvez isso poderia ser colocado em uma atuação mais sutil.

Falando em atuações, a de Jacob Bertrand, que interpreta Hawk, por outro lado, é de tirar o chapéu. O aluno do Cobra Kai vai se tornando um vilão inveterado, que até lidera um grupo de bullies que usam o caratê para intimidar seus alvos – e é curioso lembrar de quem era o jovem era no começo da produção, antes de assumir seu cabelo moicano e mudar de apelido.

À frente, dois adolescentes praticando karatê de uniforme branco. Ao fundo, outros alunos imitando-os.
Tory e Hawk treinando no dojô Cobra Kai (Foto: Reprodução)

Essa temporada de Cobra Kai tem de tudo, até perseguição de carro! Tem também muitas cenas de luta e cortes de cena bem precisos. Um exemplo desse último se dá quando Kreese insinua amputar o dedo de um oponente na guerra e, na sequência, Miguel aparece cortando uma salsicha, provocando certa inquietação em quem está do outro lado da tela. Outro detalhe que merece atenção é a clássica trilha sonora dos anos 80, que continua seguindo a linha da primeira e da segunda temporadas. Mötley Crüe, W.A.S.P. e The Moody Blues compõem a sonoplastia, junto a outros diversos artistas de rock, heavy metal e pop.

Um dos pontos que garantem o humor da série são suas referências a outros elementos do audiovisual norte-americano. Por conta da luta que colocou Miguel em coma, a escola organiza um conselho para sugerir a proibição da prática do caratê na cidade. É nessa hora que Daniel, um dos muitos pais presentes na reunião, se opõe e rebate a ideia, sugerindo que aquela situação se assemelhava a um Footloose do caratê. Outra menção divertida se dá quando os rivais reencontram sua namorada da juventude, e Johnny e Daniel são comparados a Friends e Seinfeld, duas sitcoms sobre um grupo de amigos de Nova York.

Dois adultos mostrando o punho um para o outro, insinuando uma briga.
Cena de luta entre Johnny e Daniel LaRusso na 2ª temporada (Foto: Reprodução)

A ideia de gerações mais jovens ensinando às mais velhas que existe preconceito em palavras usadas corriqueiramente também continua presente. Como quando Lawrence chama um grupo de asiáticos de “os chinas” e é corrigido por um de seus alunos, que o ensina sobre o teor inapropriado do termo. Na hora de fazer bullying (uma prática recorrente em todos os episódios), contudo, muitas personagens ainda recorrem a velhas e inconvenientes piadas machistas.

Talvez porque a empolgação inicial já não é a mesma, ou porque é tanto alto e baixo ao longo da história, fica um pouco difícil de maratonar essa temporada. Afinal, agora surgem 3 dojôs rivais e as personagens são muitas. Em certos momentos, a gente até pensa “ué, cadê tal pessoa?”, e ela provavelmente voltará somente no próximo ou daqui a dois ou três episódios.

Mas não desanime, viu? Independente de qualquer crítica, os 10 episódios valem a pena só pelo final da temporada! Reviravoltas emocionantes de arrepiar nos fazem querer sair lutando caratê pela sala, e nós aprendemos que o inimigo do nosso inimigo é, na verdade, nosso amigo. Cobra Kai deixa a promessa de continuar e trazer, consigo, um possível grande torneio de karatê.

Deixe uma resposta