Close nos aproxima da dor das rupturas

Cena do filme Close. Rémi e Léo estão olhando um para o outro. Léo é um garoto branco loiro de olhos azuis, ele está vestindo uma camiseta branca e tem uma mochila azul marinho nas costas. Rémi é um menino branco de cabelos e olhos castanhos, ele veste uma camiseta bordô e usa uma mochila verde musgo. Ambos têm feições sérias
Close é uma coprodução belga, holandesa e francesa, e concorre na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2023 (Foto: A24)

Jamily Rigonatto 

Ceder a pressão social é fácil, quase um instinto do ser humano em busca de aceitação e, por vezes, sobrevivência. O ponto é que tudo pode ser desfigurado para que possamos caber nas caixas ditas como certas: roupas, cabelos e até mesmo os amores. Em Close, filme lançado em 2022 sob a direção de Lukas Dhont, os protagonistas figuram o ato de cortar os laços mais profundos como se fossem uma linha fina – rompem-se com facilidade, mas ficam as pontas esfarrapadas. 

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60 anos depois, ainda queremos saber: O Que Terá Acontecido a Baby Jane?

Cena em branco e preto do filme o que terá acontecido a baby jane que apresenta uma senhora branca, de meia idade, com cabelos escuros presos, usando um vestido longo preto. Ela está sentada em uma cadeira de rodas e apresenta expressões de sofrimento. Ao fundo, no canto direito da imagem, há outra mulher de meia idade, loira, usando um vestido branco. Ela está apoiada numa cama e expressa um olhar de indiferença. Ambas estão em um quarto mal iluminado com móveis antigos.
Carreiras fracassadas e uma estrutura familiar abalada são o pivô do caos de O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (Foto: Warner Bros.)

Gabriel Gatti

O confronto pelo papel de destaque em obras cinematográficas não é novidade. Porém, a inveja por sua irmã ter se destacado no cinema enquanto sua carreira declina pode contribuir para desavenças familiares profundas, como é o caso da trama de O Que Terá Acontecido a Baby Jane?. Dirigido e produzido por Robert Aldrich, o filme contou com Bette Davis e Joan Crawford no elenco, duas atrizes largadas às traças por Hollywood, que retornavam às telonas para um thriller audacioso para seu ano de lançamento e icônico para a história do Cinema após 60 anos de sua estreia.

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A morte é corporativa em Plano 75

Com uma menção especial do prêmio Camera d’Or na seção Um Certo Olhar do Festival de Cannes, Plano 75 integrou a Competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Loaded Films)

Bruno Andrade

Em um Japão não muito distante, na tentativa de lidar com o envelhecimento da sociedade e aliviar o sufocamento econômico promovido pela política neoliberal, é criado um programa que encoraja cidadãos idosos a serem voluntários de eutanásia. A política em torno do projeto é simples: encurtar institucionalmente a vida dessas pessoas, oferecendo uma recompensa de 100 mil ienes pelo sacrifício, que podem ser gastos livremente com o objetivo de fornecer o necessário para um “último desejo”. Esse é o enredo de Plano 75 (Plan 75), a distopia necropolítica dirigida e roteirizada por Chie Hayakawa, que integra a Competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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O Estranho Caso de Jacky Caillou tropeça ao tentar espetacularizar o comum

Cena do filme O Estranho Caso de Jacky Caillou. Da esquerda para a direita na imagem, Loïc segura uma ovelha para Gisèle e Jacky Caillou cuidarem. A fotografia captura os três por inteiro. Loïc é um menino branco de cabelos e olhos claros, ele veste um colete azul sobre uma camiseta amarela e uma calça jeans. A ovelha tem a pelagem curta. Gisèle é uma mulher branca de cabelos e olhos claros, ela veste uma manta vermelha. Jacky é um homem branco de cabelos e olhos claros, ele veste uma jaqueta azul e uma calça cinza. Ao fundo, o cenário é um celeiro durante o dia.
O Estranho Caso de Jacky Caillou foi disponibilizado gratuitamente na plataforma do Sesc Digital durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, como parte da seção Competição Novos Diretores (Foto: Best Friend Forever)

Nathalia Tetzner

Jacky Caillou é o protagonista ingênuo e pouco convincente do primeiro longa-metragem do diretor Lucas Delangle, O Estranho Caso de Jacky Caillou. Ambientado nos Alpes, a obra participa da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo na seção Competição Novos Diretores e, anteriormente, foi exibido no Festival de Cannes 2022. O filme francês, parte do rol nada seleto de títulos que se iniciam com “O Estranho Caso”, baseia a sua narrativa no poder de cura popular e na explicação do fantástico pela natureza, fato que o afasta do extraordinário e somente o aproxima do comum. 

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Deus e o Diabo na Terra do Sol: Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e o Cinema Brasileiro nas costas

Cena do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol. Nela temos o personagem de Corisco. Com roupas típicas de cangaceiro, ele ergue uma espingarda para o céu, enquanto range os dentes. Ele está em um terreno descampado com uma vegetação rasteira ao fundo. A imagem é em preto e branco.
Em caráter de Apresentação Especial, o primeiro embate entre o Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro é revisitado na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Copacabana Filmes)

Guilherme Veiga

Falar em Cinema Brasileiro é naturalmente evocar Glauber Rocha. E é inevitável falar sobre Glauber Rocha sem lembrar de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Isto está longe de ser uma máxima unicamente brasileira, pelo contrário: indo de Martin Scorsese, adentrando em Godard, passando por Bong Joon-Ho e chegando em Quentin Tarantino; todos exaltam a importância do cineasta e do Cinema Novo para a Sétima Arte, às vezes, mais do que nós mesmos. Após a restauração do longa no Festival de Cannes deste ano, a obra retorna ao seu país de origem, na Apresentação Especial da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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Um Homem: dores e masculinidade em pauta

Cena do filme Um Homem. No centro da imagem, temos o ator Dylan Felipe Ramirez olhando sua reflexão em um espelho. Dylan é um jovem pardo, de cabelos pretos escuros, tatuagens perto das orelhas e olhos castanhos. Ele está vestindo uma jaqueta azul escura com detalhes em branco, em cima de uma camiseta também azul escura. O espelho é revestido de madeira marrom, provavelmente embutido a um guarda roupa da mesma cor. O cenário é uma parede esverdeada e desgastada. A cena acontece durante o dia.
Um Homem é um dos participantes da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo na Competição Novos Diretores (Foto: Cercamon)

Nathan Nunes

A premissa de Um Homem , que participa da Competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é simples. Carlos (Dylan Felipe Ramiréz) quer comemorar o Natal junto de sua família, da qual ele é separado por viver em um abrigo para jovens no centro de Bogotá, na Colômbia. O problema é que cada um dos três integrantes está em um lugar diferente: sua mãe está distante e sua irmã trabalha como prostituta para pagar uma dívida que nem mesmo o jovem tem condições de quitar. Assim, acompanhamos o protagonista em seu dia a dia de angústia e sofrimento, forçado a se enquadrar em um perfil de masculinidade com o qual ele claramente não se identifica. 

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A ode à memória dos Anos do Super 8: Annie Ernaux se lembra

Presente na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo na seção Perspectiva Internacional, Os Anos do Super 8 foi exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes (Foto: Les Films Pelleas)

Vitória Gomez

Um dos nomes mais falados da Arte no momento, Annie Ernaux chegou à 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. A escritora francesa recentemente venceu o Prêmio Nobel de Literatura e, ainda em 2022, estende sua atuação à indústria cinematográfica com Os Anos do Super 8, presente na seção Perspectiva Internacional do festival. Ao lado de David Ernaux-Briot, seu filho e co-diretor, Ernaux torna as fitas caseiras da família, registradas em uma câmera Super 8, um documentário maior do que sua vida, se debruçando sobre a essência da memória e da juventude.

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Magdala: os últimos dias de Maria Madalena foram monótonos e sensíveis

Cena do filme Magdala. Da esquerda para a direita na imagem: Jesus Cristo, um homem branco de cabelos escuros e Maria Madalena, uma mulher negra de cabelos escuros. A fotografia capta os dois somente a partir do pescoço, no entanto, é notável que ambos estão desnudos. Jesus e Madalena se olham enquanto encostam as faces. O cenário é a natureza verde.
Magdala foi disponibilizado gratuitamente na plataforma do Sesc Digital durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, como parte da seção Perspectiva Internacional (Foto: Best Friend Forever)

Nathalia Tetzner

Pecadora e santa. Prostituta e apóstola dos apóstolos. São inumeráveis os adjetivos antagonistas que constroem a imagem sagrada de Maria Madalena, a principal devota de Jesus Cristo. Atordoado pelo devaneio sobre os seus últimos dias de vida, o diretor francês Damien Manivel coloca em perspectiva a personalidade mais misteriosa e discutível do Novo Testamento no filme Magdala, participante da seção Perspectiva Internacional na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e, previamente, exibido na seção L’ACID do Festival de Cannes 2022.

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Os mil tentáculos de A Criada

Cena do filme A Criada. Na imagem da esquerda para a direita, Sook-hee e Hideko, duas mulheres asiáticas de cabelos escuros. Sook-hee veste cinza e Hideko veste branco. Hideko segura Sook-hee pelos braços. Ao fundo, a mata verde com flores.
A Criada tem mil tentáculos que enlaçam o público e a história de suas duas protagonistas (Foto: CJ Entertainment)

Nathalia Tetzner

Oito longos tentáculos presos no aquário de um medonho porão: o polvo nunca foi uma figura tão imponente quanto em A Criada (2017), filme sul-coreano assinado por Park Chan-Wook. Inspirado no romance Na Ponta dos Dedos, da escritora Sarah Waters, o longa traz o protagonismo lésbico da Era Vitoriana britânica para o contexto da Coreia ocupada por japoneses. Erótico e poético, o espectador perde o fôlego com as cenas menos sensuais enquanto se esquiva das leituras fetichizadas, acompanhadas por xilogravuras lascivas como O Sonho da Mulher do Pescador, em que a forma feminina é sexualmente devorada por dois moluscos marinhos. 

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O otimismo inabalável de Belle

Cena do filme animado Belle. Belle (Kaho Nakamura) é vista de perfil, olhando para a esquerda enquanto sorri e leva as mãos ao peito. Belle é uma mulher magra, asiática, de longos cabelos rosa-claros e grandes olhos azuis. Ela possui uma linha de sardas vermelhas embaixo dos olhos e maquiagem rosa nas bochechas, entrecortada por padrões retos e brancos. Em seus cabelos, flores vermelhas estão presas acima das orelhas e seu vestido também é recheado delas. Ao fundo, vemos outras flores de várias cores e luzes amarelas cintilando contra um fundo escuro.
Apesar de não ter sido selecionado para concorrer ao Oscar, Belle é um testamento ao poder da animação como meio (Foto: Studio Chizu)

Gabriel Oliveira F. Arruda

Por mais que seja tentador reduzir o mais recente filme do cineasta Mamoru Hosoda à uma reinterpretação moderna de A Bela e a Fera, esse simples elevator pitch não faz jus à complexidade temática e emocional da nova animação do Studio Chizu. Belle (Ryû to sobakasu no hime, no original em japonês) passa bem longe de ser uma “versão anime” do clássico francês e, ao invés disso, se utiliza da familiaridade de suas dinâmicas para contar sua própria história de amor transformativo na era das redes sociais e realidades virtuais, num semi-musical de escopo glorioso e, ao mesmo tempo, íntimo.

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