The Survivalist: uma experiência não verbal muito além dos filmes de sobrevivência

Adriano Arrigo

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Na Era da Informação, a tal da transmídia possibilitou que as narrativas transcendam seu lugar comum para povoar outros meios de comunicação. As linguagens de cada um desses meios também foram adaptadas para poderem serem deslocadas. Assim, houve uma convergência das linguagens que podem ser vistas, por exemplo, nos jogos Heavy Rain ou Last of Us que possuem roteiros claramente cinematográficos.

Nessa interseccionalidade das linguagens que fazem as plataformas de comunicação elevaram e modernizarem suas formas de contar história, ainda há uma certa força única e intrínseca à cada uma delas. Assim,  pode-se dizer que há algo em The Survivalist (2015) que nos lembra o porquê do cinema, em sua essência, ainda ser uma experiência única.

É através dos rangidos de madeira, das caminhadas na selva e na ausência de diálogos que a narração de The Survivalist flui. O estreante diretor Stephen Fingleton usa esses elementos não verbais típicos da linguagem cinematográfica para construir seu clímax intimidador em um mundo pós-apocalíptico.

Sobre esse mundo, a única explicação fornecida é que, em algum momento da humanidade, a produção de petróleo entrou em colapso junto com o crescimento populacional (é interessante dizer que isso é mostrado de forma muito inteligente, através de um gráfico que  substitui os letreiros iniciais do filme). A partir disso, só sabemos que há um homem (Martin McCann) vivendo no meio da selva e cuidando de sua horta como forma de subsistência, até o aparecimento de uma mãe (Olwen Fouere) e sua filha (Mia Goth) que lhe pedem abrigo em troca de sementes.

Além de serem elementos essenciais para compreender a narrativa, a horta e as sementes também são elementos figurativos usados por Fingleton. Seu personagem principal (ele não tem nome) é inexpressivo (e isso também é elemento figurativo), para, justamente, o ambiente falar por ele. Já o ambiente é retratado a partir de muitos enquadramentos, jogos de luz e de câmeras para que, através da atenção e uma boa aptidão para abstrair os elementos propostos (um ninho, uma cachoeira, uma lâmina, uma barba), o espectador possa compreender esse rico microcosmo que mascara interpretações muito mais profundas (esse modelo também pode ser visto no também excelente thriller Um Estranho no Lago).

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Através dessas composições, é também possível perceber um pouco de A Bruxa em The Survivalist. Também é interessante observar que esses dois filmes passaram despercebidos no circuito de cinema aberto, mas são um dos filmes que mais bem apropriam-se da linguagem cinematográfica enquanto suspense. Para isso, não foi necessário desperdiçar computação gráfica afim de prover  sentimentos que encontramos facilmente e quase de forma naturalista na falta de expressão (proposital?) de Mia Goth ou no excesso de olhares de Olwen Fouere, por exemplo.

Para o diretor Stephen Fingleton, uma pequena horta sob o comando de uma família não convencional é o suficiente para criar uma distopia sem que, para isso, seja necessário cair na redoma dos recursos esdrúxulos que esse tipo de gênero geralmente requer.  Assim, The Survivalist é uma obra enxuta, mas possui os elementos necessários para encapsular o declínio da sociedade contemporânea.

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