A opressão do amor em Tudo Que Imaginamos Como Luz

Cena do filme Tudo Que Imaginamos Como Luz. A imagem está em plano detalhe, captando apenas do ombro para cima das personagens. No centro está Prabha observando algo que Anu está segurando. Ela está atrás de Anu. Anu está segurando e observando uma air fryer vermelha.
Uma Noite Sem Saber Nada é o primeiro filme de Payal Kapadia (Foto: Petit Chaos)

Guilherme Moraes

Vencedor do Grand Prix no Festival de Cannes, Tudo Que Imaginamos Como Luz chegou com muita expectativa na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, ao ponto de lotar as sessões. Dirigido por Payal Kapadia, o longa, que fez parte das seções Foco Índia e Competição Novos Diretores, fala sobre a opressão do amor de diferentes formas nos grandes centros urbanos indianos.

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Em Nova Deli, dois irmãos curam Tudo o Que Respira

Cena do documentário Tudo o Que Respira. Na imagem, vemos Salik Rehman de frente com um milhafre-preto, uma ave de rapina preta com o peito branco, e os dois se encaram. Ambos estão dentro de um depósito, que serve como um espaço de trabalho. O animal está em cima de uma bancada com vários utensílios utilizados pelos homens que se dedicam ao cuidado dessa espécie. Salik tem cabelos e barba na cor preta e veste uma camisa social preta com listras brancas e óculos de grau.
Com estreia no Festival Sundance de Cinema, Tudo o Que Respira é o segundo documentário do cineasta indiano Shaunak Sen (Foto: Submarine Deluxe)

Raquel Freire

Tudo o Que Respira começa com uma paisagem escura enquanto uma câmera se move sobre o solo repleto de lixo na cidade de Nova Deli. Enquanto outros animais se espreitam no fundo, a imundície da rua serve como alimento para os ratos que se apressam em uma moldura desfocada, e o barulho que eles fazem fica mais alto à medida que mais deles se alimentam. Ao que o ruído faminto cresce em volume, os faróis dos carros ficam mais brilhantes à distância – um sinal de humanidade que impacta diretamente a existência deles, e a cena termina ao passo que é dominada pela ultrapassagem de uma luz branca. Essa é apenas a primeira de muitas imagens de tirar o fôlego que estão presentes no mais recente documentário de Shaunak Sen.

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RRR faz o colonialismo dançar ao som da Revolta, Rebelião e Revolução indiana

Cena do filme RRR. Da esquerda para a direita na imagem, o protagonista Komaram Bheem enfrenta um tigre. A câmera captura ambos cara a cara, a partir do busto e da mandíbula, respectivamente. Bheem é um homem indiano de cabelos e olhos escuros, ele aparece todo ensanguentado vestindo apenas um artefato tradicional de seu povoado no pescoço. Tanto Bheem quanto o tigre estão com a boca aberta. O tigre, por sua vez, tem dentes longos e afiados. O animal também está com a pelagem branca, preta e amarela ensanguentada. Ao fundo, o cenário é uma floresta repleta de verde.]
Naatu Naatu concorre ao Oscar 2023 pela estatueta de Melhor Canção Original, feito inédito para um longa indiano (Foto: Pen Studios)

Nathalia Tetzner

Das raízes do imperialismo inglês, a ocupação, exploração e opressão floresceram em uma árvore de tronco imponente. Neste cenário, a violência permitiu o sequestro da cultura de comunidades nativas, porém, incoerentemente, os frutos venenosos dos caules suculentos alimentaram a Revolta, Rebelião e Revolução indiana que colocou fim ao período conhecido como o “Raj Britânico” na primeira metade do século XX. 

Da luta pela independência, líderes se tornaram seres mitológicos para o povo e, em 2022, dois deles ganharam as telas do Cinema com RRR. O longa tollywoodiano dirigido por S. S. Rajamouli não somente surpreendeu pela leitura épica de um evento histórico, como também fez história ao emplacar a indicação de Melhor Canção Original no Oscar 2023, dádiva alcançada pelo feito de M.M Keeravaani e Chandrabose em colocar o colonialismo para dançar com a eletrizante Naatu Naatu.

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A beleza de Pedro repousa no retrato bruto da vida

Cena do filme Pedro. Na imagem, o personagem Pedro, um homem indiano de cabelos e olhos escuros, aparece contemplando algo com um olhar longínquo. A suas vestes são tecidos de cores neutras como o marrom. O cenário é um matagal verde iluminado por uma chama no período noturno. A fotografia captura a cintura, sentado no matagal onde apoia as mãos para trás.
Originário da Índia, Pedro participa da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo na seção Perspectiva Internacional (Foto: Rishab Shetty Films)

Nathalia Tetzner

Obra do Cinema indiano, Pedro conta a história de um homem de casta inferior que se vê perdido ao acidentalmente matar uma vaca, símbolo sagrado da sua cultura. O ato somente ocorre porque o protagonista tenta incessavelmente encontrar o responsável pelo assassinato de seu cachorro e fiel escudeiro, em uma das tragédias envolvendo animais mais tristes desde a cadela Baleia de Graciliano Ramos. Estreia do diretor Natesh Hegde frente a longa-metragens, a obra foi exibida no festival IndieLisboa e, agora, participa da seção Perspectiva Internacional na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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A revolução será escrita com fogo

Cena do documentário Escrevendo com Fogo. A cena mostra uma mulher indiana filmando algo com o celular apontado para cima.
Escrevendo com Fogo é o primeiro documentário indiano a ser indicado ao Oscar (Foto: Music Box Films)

Raquel Dutra

Em Uttar Pradesh, estado do norte da Índia que é um dos mais populosos do mundo, níveis endêmicos de violência atravessam a vida das mulheres que ali habitam. No sistema de castas que define a organização social do país e reforça suas profundas desigualdades, elas estão com os Dalits, o extremo inferior da hierarquia de classes da cultura indiana ainda vigente, estabelecido 1500 anos antes de Cristo. Da população que compõem a interseção das maiores opressões do país, surgiu, em 2002, uma forma de expressão urgente através do jornal Khabar Lahariya com uma expectativa de fracasso. Mas ao invés disso, ele resiste, 20 anos depois, Escrevendo com Fogo uma revolução social, política e cultural através das mãos mais rejeitadas da sociedade indiana.

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Pedregulhos e o poder silencioso dos oprimidos

Cena do filme Pedregulhos. A imagem mostra um homem e um menino, ambos indianos, em pé sobre um chão de areia, a uma certa distância um do outro. No fundo há uma pequena cabana com diversos produtos pendurados. O cenário é seco, mas com verde nas copas de algumas árvores.
Pedregulhos integra a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Rowdy Pictures)

João Batista Signorelli

Um pai, um filho, e uma árida paisagem. Estes são os três protagonistas de Pedregulhos, longa indiano selecionado para representar o país na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, e que está em exibição na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O filme parte de um pai alcoólatra que retira o filho da escola, forçando-o a acompanhá-lo na procura da mãe, que fugiu de casa devido à violência doméstica sofrida pelas mãos do marido. 

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O Tigre Branco nos mostra a Índia das carteiras cheias e barrigas vazias

A imagem retangular é uma montagem do filme O Tigre Branco. Da esquerda para direita vemos três pessoas encarando a câmera, com um filtro em preto e branco. Centralizado e à esquerda, Priyanka Chopra, uma mulher indiana de cabelos lisos e curtos e possui um semblante sério. Ela usa um vestido decotado com um cinto na altura da cintura, além de usar um relógio em seu pulso direito e apoiar sua mão direita nos ombros de Adarsh Gourav. À sua direita e centralizado na foto, vemos Adarsh Gourav sentado, ele é um homem indiano de cabelo liso e jogado para o lado com um bigode longo e barba rala. Ele sorri enquanto utiliza uma camisa social clara. À sua direita centralizado à direita da foto vemos Rajkummar Rao, um homem indiano de topete liso com um semblante sério. ele usa uma jaqueta longa e aberta com uma camiseta por baixo. O plano de fundo da foto é um azul vibrante e sobre a cabeça de Adarsh há uma montagem de uma coroa amarela.
O Tigre Branco abocanhou uma indicação na categoria de Melhor Roteiro Adaptado no Oscar 2021 (Foto: Netflix)

Vitor Tenca

O sistema de castas sócio-religiosas perdura em território indiano há mais de 2600 anos. A estranha e embaraçada divisão populacional configura uma sociedade baseada em preconceito e desigualdade, que acaba por perpetuar um privilégio às castas superiores em detrimento da injustiça e regressão às inferiores, independente do fato desses costumes  terem sido erradicados por lei desde 1950. O Tigre Branco, produção original da Netflix dirigida por Ramin Bahrani, nos mostra essa realidade de uma Índia que vive na luz e nas trevas ao mesmo tempo.

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