Estante do Persona – Setembro de 2024

Imergindo no universo literário, o Persona marcou presença na maior edição dos últimos dez anos da Bienal Internacional do Livro de São Paulo (Texto de Abertura: Jamily Rigonatto / Arte: Aryadne Xavier)

Chegando a sua 27ª edição, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo –  o maior evento literário da América Latina – ocorreu dos dias 06 a 15 de Setembro de 2024. A editoria do Persona esteve presente no primeiro domingo, 08/09, para conferir lançamentos, estandes e discussões que compuseram a programação do dia. Os integrantes acessaram o espaço credenciados como Imprensa para realizar a cobertura.

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Os sonhos arruinados dos Garotos do Ninho são o norte de Longe do Ninho

 Capa do livro Longe do Ninho, de Daniela Arbex. O fundo da capa é preto. Nesse fundo, há brilhos vermelhos representando estrelas. No centro da capa, em vermelho, há o nome da escritora Daniela Arbex. Logo abaixo, no centro, vem o título: Longe do Ninho. Por fim, ainda no centro: há a continuação do título: Uma investigação do incêndio que deu fim ao sonho de dez jovens promessas do Flamengo de se tornarem ídolos no país do futebol. Em torno desses dizeres há os bustos das dez vítimas: acima, da esquerda para direita, aparece Pablo Henrique (menino negro de , Vitor Isaías e Jorge Eduardo. Do lado direito, de cima para baixo, há Samuel Rosa e Rykelmo. No lado inferior, da esquerda para a direita, encontram-se Athila, Bernardo e Christian. Do lado esquerdo, de cima para baixo, há Gedson e Arthur. No centro superior direito aparece a logo da Intrínseca em vermelho.
Longe do ninho é um livro triste, mas necessário (Foto: Intrínseca)

Marcela Lavorato

Lançado cinco anos depois do incêndio no CT do Flamengo, que matou dez jogadores da base em Fevereiro de 2019, Longe do ninho: Uma investigação do incêndio que deu fim ao sonho de dez jovens promessas do Flamengo de se tornarem ídolos no país do futebol é um livro que honra as memórias daqueles se foram e dos dezesseis jovens que sobreviveram. Daniela Arbex, jornalista investigativa, não falha em trazer – assim como em  Holocausto Brasileiro (2013), Cova 312 (2015) e Todo dia a mesma noite (2018) – o desrespeito dos responsáveis pelo incêndio que vitimou Arthur Vinícius, Athila Paixão, Gedson Santos, Pablo Henrique de Souza, Vitor Isaías, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Jorge Eduardo dos Santos, Samuel Rosa, Rykelmo de Souza e seus sonhos. 

Com uma escrita impactante, a autora se debruça em dez mil folhas de arquivos sobre o caso para trazer à tona a imprudência da instituição do Flamengo e seus dirigentes. Durante as 266 paginas, acompanhamos a reconstituição do caso e nos é revelado que o local de ‘moradia’ – contêineres totalmente inadequados nunca deveriam ser chamados pelo termo –, localizado no centro de treinamento do Flamengo, Ninho do Urubu, não tinha alvará como alojamento. Determinado como estacionamento em um dos documentos, as famílias confiaram seus filhos à instituição, pensando que a mesma iria tratá-los com respeito e decência, mas o que é mostrado indica o contrário. 

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O que Ser Jornalista no Brasil tem a ver com a Bienal do Livro?

A 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo exaltou a democracia brasileira ao possibilitar um painel que discutiu a importância do livre exercício jornalístico (Foto: TV Globo)

Nathália Mendes 

No segundo sábado da 26ª Bienal Internacional do Livro, dia 9 de julho de 2022, em São Paulo, três mulheres foram convidadas para falar no painel Ser Jornalista no Brasil. Ainda que Miriam Leitão, Ilze Scamparini e Daniela Arbex sejam notórias escritoras, não parecia ser aquele o objetivo de trazê-las ao debate. Enquanto apresentavam seus formidáveis projetos no mundo dos livros, centenas de olhos e ouvidos aguardavam atentamente por outra discussão: por que diabos suas profissões jornalísticas tinham ganho destaque numa das maiores feiras literárias da América Latina?

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Estante do Persona – Dezembro de 2021

A terceira edição do Estante do Persona foi orientada pela leitura coletiva de A filha perdida, drama sobre maternidade que leva a assinatura misteriosa de Elena Ferrante (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de Abertura: Raquel Dutra)

“Contamos histórias a nós mesmos a fim de viver.”

– Joan Didion

Pois é, 2021 chegou ao fim. Depois de 12 meses envolto em cada movimento do universo cultural, o Persona inicia as despedidas do ano ao pé de sua Estante e conclui a terceira edição de seu Clube do Livro. Este que, no mês de dezembro, teve a oportunidade de conhecer a Literatura de uma das autoras mais relevantes da atualidade, e de admirar o legado deixado por duas das mais importantes escritoras dos últimos tempos. É que em meio à leitura coletiva de A filha perdida e ao mistério aclamado que existe ao redor do nome best-seller de Elena Ferrante, o Persona se juntou ao resto do mundo para a despedida de bell hooks e Joan Didion

No dia 15, eternizamos bell hooks como a artista, professora, teórica, pesquisadora e escritora, que dedicou mais de 50 anos de sua vida a estudos e políticas interseccionais sobre educação, gênero, raça, classe e economia. Referência do feminismo negro, ativista antirracista e estudiosa do amor, o pseudônimo de Gloria Jean Watkins nasceu no interior de um Estados Unidos segregacionista e morreu num planeta que ainda tem muito o que superar, mas que, através de sua existência, tem muito mais conhecimento sobre como fará suas revoluções.

Já no dia 23, o mesmo era lembrado sobre Joan Didion, quando reconhecemos a necessidade de compreender o mundo em que vivemos e os humanos que o habitam. Ao usar seu olhar e suas palavras para registrar e interpretar as transformações culturais e políticas da sociedade norte-americana na segunda metade do século XX, a californiana construiu uma carreira de mais de 60 anos, que entre muitos ensaios, alguns romances e outros roteiros, transformou o Jornalismo e a Literatura para todo o sempre.

Assim, o contexto literário de dezembro se tornou grandioso, mas Elena Ferrante deu conta de o acompanhar. No embalo do lançamento da adaptação cinematográfica – já muito celebrada pela direção da estreante Maggie Gyllenhaal, que chegou à Netflix no último dia do mês -, o Clube do Livro do Persona decidiu mergulhar nas praias do sul da Itália junto de Leda (vivida no Cinema por Olivia Colman) e nos dramas profundos de A filha perdida.

Para o último mês de 2021, reverenciamos o trabalho de mulheres que tanto fizeram pelo nosso passado, presente e futuro, e introduzimos a edição de dezembro do Estante do Persona. Entre as indicações literárias da nossa Editoria e o comentário sobre a leitura do mês, vibra a honestidade visceral de uma história cuja autora tem coragem de dizer o que nós não temos – em perfeita harmonia com o poder revolucionário das vozes que vieram antes dela.

“O coração da justiça é dizer a verdade, vermos a nós mesmos e ao mundo como somos, em vez de como gostaríamos que fôssemos.”

– bell hooks

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Colônia: a tocante releitura de Holocausto Brasileiro

Cena da série Colônia. Na imagem aparecem os personagens Gilberto e Eliza centralizados entre outras duas figuras que estão desfocadas nos cantos. Todos usam a camisola cinza do hospício e tem aparência cansada, a imagem está em preto e branco.
Colônia foi lançada no dia 25 de junho e está disponível na plataforma Globoplay (Foto: Globoplay)

Jamily Rigonatto

Livremente inspirada no livro-reportagem Holocausto Brasileiro de Daniela Arbex, Colônia é a nova aposta do Canal Brasil. A série produzida e dirigida por André Ristum é um retrato sensível sobre o hospício em Barbacena, Minas Gerais, que vitimou mais de 60 mil pessoas no último século. Dividida em 10 episódios, a produção explora personagens ficcionais que reconstroem o horror vivido pelos internos do maior manicômio do país.

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Daniela Arbex nos relembra da tragédia na Boate Kiss em Todo dia a mesma noite

A imagem é um mosaico com várias fotografias de pessoas jovens. Essas pessoas são as vítimas do incêndio da Boate Kiss. No canto inferior da imagem há a frase “Todo dia a mesma noite” escrita na cor preta.
O livro se aprofunda na tragédia que aconteceu em Santa Maria (Foto: Reprodução)

Ana Beatriz Rodrigues

242 mortes, 680 pessoas feridas, dor e saudades marcam o dia 27 de janeiro. Isso porque nessa mesma data, em 2013, Santa Maria (RS) e o Brasil presenciaram o segundo maior incêndio do país em número de vítimas fatais. A tragédia da Boate Kiss deixou feridas e cicatrizes que são impossíveis de serem esquecidas. O medo e o desespero dos pais, sobreviventes, bombeiros, e todos os envolvidos no incêndio não deixou de existir quando o outro dia começou, e aquela noite é assistida milhares de vezes por todos que presenciaram os resultados do incêndio. Intencionada a não deixar essas histórias apagadas, a jornalista Daniela Arbex lançou em 2018 o livro Todo dia a mesma noite – A história não contada da Boate Kiss

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