Lispectorante é um espetáculo espectral

Cena do filme Lispectorante. Vista aérea de duas pessoas deitadas no fundo de um barco pequeno, com pintura verde central e madeira clara nas laterais. À esquerda está Glória, uma mulher de meia-idade, de cabelos curtos e ondulados, vestindo uma blusa escura e shorts vermelhos. À direita está Guitar, um homem branco com cabelo raspado dos lados e mais longo em cima, usando uma camisa aberta e calça dourada, exibindo uma expressão relaxada. Objetos como cordas e um salva-vidas branco estão espalhados ao redor. A água ao fundo e o verde vibrante da pintura evocam uma sensação de tranquilidade e liberdade.
Assim como a protagonista, a diretora do longa-metragem também é uma artista plástica (Foto: Amora Filmes)

Henrique Marinhos

Em competição na seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Lispectorante se destaca como um delírio surrealista, cheio de luzes esverdeadas e paralelos poéticos. A diretora Renata Pinheiro nos entrega um Recife que é mais do que um cenário – é um ser vivo, em estado de abandono e renascimento.

Continue lendo “Lispectorante é um espetáculo espectral”

Em A Hora da Estrela, Macabéa representa a busca da própria identidade

Foto da atriz Marcélia Cartaxo, uma mulher branca de cabelos cacheados e castanhos. Ela está correndo e usa um vestido branco. A foto está em preto e branco.
Marcélia Cartaxo dá vida à Macabéa, protagonista do livro e da adaptação cinematográfica de A Hora da Estrela (Foto: Sessão Vitrine Petrobras)

Guilherme Machado Leal

A Hora da Estrela, filme de 1985 baseado no livro homônimo escrito por Clarice Lispector, conta a história da datilógrafa Macabéa, que pouco da vida conhece, mas vive com o mínimo porque foi ensinada dessa maneira. Dirigido por Suzana Amaral, o longa-metragem ganhou uma nova versão remasterizada com o apoio da Sessão Vitrine Petrobras como distribuidora e foi lançado nos cinemas em 2024, sendo a chance do público brasileiro conhecer ou revisitar uma das histórias nacionais mais emocionantes já feitas. 

Continue lendo “Em A Hora da Estrela, Macabéa representa a busca da própria identidade”

Estante do Persona – Abril de 2024

No mês de uma data comemorativa importante para a literatura, o Persona comemora com dicas especiais (Texto de abertura: Jamily Rigonatto/ Artes: Raíra Tiengo)

Dizem que ler é uma viagem capaz de alcançar mundos e planos além do físico. Nas páginas de um livro, a fantasia, a realidade, o suspense, a aventura, o grotesco, o romântico e muitas outras facetas se encontram e desembocam em linhas poéticas. O Estante do Persona de Abril vem para contemplar essa pluralidade com uma lista de exemplares recheados de possibilidades. 

Com o Dia Mundial do Livro  e do Direito de Autor tendo sido comemorado em 23 de Abril, fica uma reflexão sobre a importância do hábito da leitura. Além de necessário para o desenvolvimento cerebral e manutenção da boa memória em idades variadas, o consumo de livros é capaz de despertar emoções, suscitar a curiosidade e ainda se comportar como um aparato educacional. 

É também um momento oportuno para homenagear e reconhecer o trabalho de autores nacionais e internacionais, que, mesmo em um mercado desvalorizado, continuam se empenhando por um trabalho original e de qualidade. Em completa resistência diante da digitalização e da facilidade de distribuição de conteúdo pirata no universo online, os escritores seguem mantendo um legado admirável e extremamente humano.

Nas dicas na nossa editoria, você encontra um pouco mais do que essas produções culturais são capazes de causar nas pessoas que as leem. Em uma seleção de obras especiais e significativas, os gêneros, autores, formatos, histórias e demais elementos contemplados pelos escritos se tornam os grandes protagonistas. Escolha o seu favorito e boa leitura!

  Continue lendo “Estante do Persona – Abril de 2024”

A Paixão segundo G.H. é um passeio por nós mesmos

A imagem é uma arte com fundo vermelho com a capa do livro A Paixão segundo G.H. ao centro e um selo escrito Clube do Livro Persona no canto direito inferior e o logo do Persona no canto esquerdo superior. A capa tem um fundo na cor creme com linhas de distorção, é possível ver no canto superior direito dunas de areia e edifícios que remetem à arquitetura árabe. Abaixo, está escrito Clarice Lispector em letra cursiva e na cor vermelha e o título do livro em caixa alta e na cor bege. No canto inferior esquerdo, abaixo do título, há o desenho de uma moça branca, com cabelos castanhos longos presos em um rabo de cavalo baixo; ela veste uma blusa azul clara de mangas compridas.
Com 165 páginas, A Paixão segundo G.H. foi a primeira leitura do Clube do Livro do Persona (Foto: Reprodução/Arte: Jho Brunhara)

Vitória Silva

Nascida em 1920, Clarice Lispector é um dos nomes intocáveis da nossa Literatura. A ucraniana, batizada como Haya Pinkhasovna Lispector, chegou ao Brasil aos dois meses de idade, com seus pais de origem judaica que fugiram do país devido à perseguição durante a Guerra Civil Russa. Inicialmente residente em Maceió, em sua infância e pré-adolescência, a autora passou por Recife e pelo Rio de Janeiro, e, por onde trilhava seu caminho, carregava consigo sua paixão pelos livros. 

Após ingressar na Faculdade Nacional de Direito, em 1941, trabalhou como redatora da Agência Nacional e, posteriormente, do jornal A Noite, dando seus primeiros passos no universo da escrita. Não demorou muito para que mergulhasse de vez nele, e publicou seu primeiro romance em 1944, com o título Perto do Coração Selvagem. A obra estreante retrata uma perspectiva sobre o período da adolescência e, logo de cara, fez com que Clarice abrisse novos horizontes na Literatura nacional. 

Quebrando todo e qualquer paradigma literário da época, Lispector abandona noções de ordem cronológica e funde um lirismo único a sua forma de representar ações e emoções humanas, traços que se tornaram mais do que característicos de toda a sua carreira. Não à toa, a produção foi agraciada pelo Prêmio Graça Aranha, e, mais tarde, a autora colecionaria outros títulos de referência, como Laços de Família (1960) e A Hora da Estrela (1977), em que este último ainda ganhou uma adaptação para as telonas, em 1985.

Continue lendo “A Paixão segundo G.H. é um passeio por nós mesmos”

Estante do Persona – Outubro de 2021

Arte retangular com fundo vermelho. Ao centro há uma estante de livros branca em formato retangular. Acima dela está escrito ESTANTE em fonte preta. Na primeira prateleira, na divisória esquerda, há o símbolo do Persona (desenho de um olho com a íris vermelha e um símbolo de play no lugar da pupila) ao lado da palavra DO em fonte preta. Na divisória da direita, está escrito PERSONA em fonte preta. Na segunda prateleira, há três divisórias, em que, na do meio, há a capa do livro A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector. Na terceira e última prateleira, também há 3 divisórias, em que, na da ponta direita, há um troféu com o formato do símbolo do Persona.
A primeira edição do Estante do Persona discute a obra A Paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, e traz indicações dos membros do Clube do Livro (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan e Jho Brunhara/Texto de Abertura: Vitória Silva)

“Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante.”

–  Carlos Drummond de Andrade

Para poder valorizar cada vez mais a Literatura, parte tão importante e fundamental da cultura do nosso e de qualquer outro país, o Persona começa, agora, a preencher sua própria estante. 

O mês de outubro marcou o início do nosso Clube do Livro, formado por membros da Editoria, que tem o intuito de promover a leitura compartilhada e encontros para discussão de alguma obra sugerida. Ao final do mês, o Clube ainda se reúne para montar o Estante do Persona, com um comentário que sintetize as ideias sobre a leitura realizada e uma playlist de músicas que se relacionem com a mesma, além de uma indicação de cada membro sobre algum livro marcante ou que mereça ser compartilhado.

Como primeira leitura, o Clube do Livro teve a honra de poder prestigiar uma das maiores autoras da Literatura brasileira. A Paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, é narrado em primeira pessoa pela personagem que tem suas duas iniciais presentes no título da obra. Uma mulher, moradora do Rio de Janeiro, que, ao desempenhar a tarefa de limpar o “quartinho dos fundos” de seu apartamento, mergulha em um fluxo de pensamento contínuo simbolizado por um monólogo de reflexões existencialistas, uma das grandes marcas da escrita da autora. 

E nada mais simbólico do que estrear essa publicação especial num mês com acontecimentos tão marcantes para o meio literário. Além de no dia 29 de outubro ser celebrado o Dia Nacional do Livro, as semanas anteriores também foram marcadas por grandes eventos. No dia 7, ocorreu a cerimônia de entrega do Nobel de Literatura 2021, que foi concedido ao autor Abdulrazak Gurnah. Nascido na ilha de Zanzibar, atual Tanzânia, em 1948, o escritor é especialista em Literatura pós-colonial e na temática de refugiados, colecionando em sua carreira títulos como Paradise e Afterlives

Mais ao final do mês, no dia 20, foi realizada a entrega do Prêmio Camões, para a moçambicana Paulina Chiziane. Tão simbólica quanto a vitória de Gurnah, Chiziane é a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, Balada de Amor ao Vento, em que o fez depois da independência. Com a figura da mulher moçambicana e africana no centro de sua escrita, a autora dedica-se a explorar os problemas enfrentados pela mesma no meio social, e tem como uma de suas obras de maior prestígio Niketche: Uma História de Poligamia, em que uma mulher decide conhecer as outras esposas de seu marido.

No clima desse mês repleto de grandes feitos na Literatura, você confere as indicações do Clube do Livro na primeira edição do Estante do Persona.

Continue lendo “Estante do Persona – Outubro de 2021”

Phoebe Bridgers e a loucura racional de Punisher

Capa do álbum Punisher. Mostra Phoebe Bridgers em pé e olhando para o céu, de perfil, com um macacão preto que imita um esqueleto. Ela está em um lugar cheio de pedras e ao fundo há uma montanha. O céu está estrelado e em azul escuro forte, enquanto o resto do quadro está sendo iluminado por uma luz vermelha.

Ana Laura Ferreira

A melhor parte de entrar em contato com gêneros, ritmos e cantores que não estamos acostumados a escutar é ter uma experiência totalmente nova, que se intensifica de acordo com nossa entrega. E nada seria mais intenso do que Punisher, de Phoebe Bridgers. O disco que concorre a Melhor Álbum de Música Alternativa no Grammy 2021 é uma descoberta transcendental de entrega e história, embalada pela mais perfeita melodia. Novo, fresco e autêntico, ele encanta por elevar a todas as potências sem perder a mão.

Continue lendo “Phoebe Bridgers e a loucura racional de Punisher”