Falta um herói para o Punho de Ferro

iron fist netflix marvel

João Pedro Fávero

A série Punho de Ferro é a quarta empreitada feita pela Netflix em conjunto com a Marvel Studios. Aqui, mais um novo herói que participará de Os Defensores, futura série que unirá os personagens donos de cada título lançado pela parceria, nos é apresentado. Diferente dos seus futuros companheiros, porém, Punho de Ferro ficou com a pesada tarefa de apresentar e explicar toda a trama que servirá de pano para Os Defensores, e acabou se esquecendo de se confirmar como um título singular acima de tudo.

Depois de sofrer um acidente de avião com sua família e ser o único sobrevivente, que o levou a um treinamento na cidade mística de K’un-Lun, Danny Rand (o próprio Punho de Ferro, vivido por Finn Jones) retorna para Nova York . Ele quer retomar a empresa que leva seu sobrenome e que foi aberta em conjunto com a família Meachum, que agora comanda a corporação, além de descobrir conspirações envolvendo o grupo conhecido como Tentáculo, previamente citado na série do Demolidor.

Como resultado da trama, a área de Nova York exibida na série é bem diferente dos bairros menos abastados mostrados em Demolidor e Luke Cage e também o objetivo central do herói parece egoísta em comparação a esses mesmos heróis. Matt Murdock veste sua máscara para livrar o bairro em que mora de toda a máfia que a circula, ao passo em que Jessica Jones lutava contra seus próprios demônios após um relacionamento abusivo, além de se submeter ao vilão a fim de proteger pessoas próximas. Já Luke Cage tenta se redimir com o seu passado, ao mesmo tempo em que protege seus vizinhos do crime organizado que os cerca, enquanto Danny quer retomar uma montanha de dinheiro e “seu nome”, sem nem ao menos explicar o que isso significa  em um sentido mais profundo – afinal, o que o dinheiro de uma multinacional deveria significar para alguém que treinou em um monastério no Tibet, por 15 anos, vestindo apenas um quimono e dormindo no chão?

A imaturidade mostrada pelo personagem principal vai além do próprio desenvolvimento dele, visto que, em inúmeras vezes, os diálogos fazem Danny Rand parecer uma criança birrenta, contrapondo novamente com toda a sabedoria que ele supostamente aprendeu durante seu treinamento e que esbanja no começo da série, distribuindo provérbios para qualquer um com quem interage.

Isso parece ser um problema ao adaptar os quadrinhos originais que foram lançados durante os anos 70, o auge dos filmes de artes marciais e onde a grande estrela era Bruce Lee. O orientalismo apropriado aqui não é demonstrado de uma forma convincente, sendo que a estética esperada para uma série que tem como fonte um material que homenageia os filmes de kung-fu não é demonstrada, faltando uma coreografia remetente ao gênero e um número maior de atores asiáticos com importância no enredo.

O Punho de Ferro no traço de David Aja, na excelente Imortal Punho de Ferro #1 (2006)

Além disso, a falta de um vilão de peso em Punho de Ferro faz falta, até mesmo para um melhor desenvolvimento da figura do herói. Apenas o nome “Tentáculo” serve como antagonista, sem uma figura cativa para centralizar e fazer o espectador sentir todo o mal que a organização deveria emanar, e é nesse lado que estão a maioria dos atores orientais: prontos para levar uma surra do Punho de Ferro. A falta de um vilão para ser focado também atrapalha o ritmo da série, que em vários pontos repete cenas, diálogos e te lembra o tempo todo o que está acontecendo, dando a sensação de tapa-buraco e prejudicando ainda mais sua fluência, principalmente devido ao modo em que foi disponibilizada, pronta para o binge-watching.

Apesar de tudo, Punho de Ferro tem seus prós com Colleen Wing (Jessica Henwick), a ajudante da vez, que recebe quase a mesma atenção de Danny e em vários momentos é mais interessante que o personagem principal, juntamente de Rosario Dawson, reprisando seu papel como Claire Temple.

Por fim, Punho de Ferro parece algo desnecessário, até mesmo para compreender o que acontecerá em Os Defensores. Os únicos momentos em que se segura como uma produção independente é quando Finn Jones faz suas poses de tai-chi e joga algumas filosofias budistas, que nem ele mesmo segue. Quem sabe se esforçaram mais para a próxima série, que ainda deve estrear em 2017 e já está com as filmagens concluídas.

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