20 anos do Enema of the State, o álbum que atingiu a maioridade junto com a geração emo

 

(Foto: Reprodução)

Lara Ignezli e Maria Carolina Gonzalez

No primeiro dia de junho, o terceiro álbum do Blink-182, Enema of the State, completou 20 anos. O disco foi responsável por impulsionar a banda formada, até então, por Mark Hoppus, Tom DeLonge e Travis Barker e é, sem dúvidas, seu maior e o melhor trabalho. Mais do que um divisor de águas do pop-punk, Enema of the State é considerado uma bíblia para os adolescentes intrincados do final dos anos 90 e começo dos anos 2000.

Antes mesmo do Enema ser lançado, o Blink-182 já colhia os louros de “Dammit” – primeiro hit da banda presente no álbum Dude Ranch (1997), que marca sua estréia em uma grande gravadora. Mas claro que um single não vale por um álbum inteiro. Para ajudá-los na missão de fazer ‘músicas para as rádios’ e melhorar o som cru dos trabalhos anteriores, a banda contou com o produtor Jerry Finn, já conhecido pelo seu trabalho com o Green Day em Dookie (1994), considerado o álbum número 1 do pop-punk.

Para acompanhar o sucesso, o grupo ganhou um membro de peso e que ficaria marcado na sua formação clássica: Travis Barker. Substituindo Scott Raynor, o som inconfundível da bateria de Travis foi a inspiração que Mark Hoppus e Tom DeLonge precisavam e a força que faltava para o Enema of the State surgir. E foi assim que aconteceu. Três meses de estúdio que trouxeram para o mundo 12 faixas, 35 minutos e uma banda de rock memorável.

Mark Hoppus, Tom DeLonge e Travis Barker com a atriz pornô Janine Lindemulder, a famosa enfermeira da capa do álbum. (Foto: Reprodução)

A virada de 1999 para 2000 foi um momento de agitação na música. A fórmula bem trabalhada do Enema garantiu um bom espaço para o blink em pleno período de explosão das boy bands e glória das divas pop. O resultado é visto nas 15 milhões de cópias vendidas pelo mundo todo e singles consagrados no melhor estilo MTV dos anos 90.

“Dammit” até carrega o título de primeiro hit da banda, mas foi com “What’s My Age Again?” que o blink se tornou mundial. O primeiro single do álbum é um hino à imaturidade adulta, mostrando que podemos sim ficar mais burros a cada ano que passa. “All the Small Things” é um single que também nasceu na onda de marmanjos idiotas. No videoclipe da música, Tom, Mark e Travis fazem paródias com artistas que estavam em alta, como os Backstreet Boys e Britney Spears, embora eles mesmo já podiam ser considerados ‘astros’.

Naquele momento, o Blink-182 se tornou cool. Antes de qualquer discussão desnecessária sobre bandas que se vendem por conta do sucesso, é importante lembrar sobre o quê os caras cantavam e para quem cantavam. As notas da crítica musical para o Enema foram medianas, algumas até bem baixas. Mas para aqueles que estavam na adolescência e se tinham a obrigação de amadurecer, o álbum foi fundamental. Não é um exagero dizer que ele salvou a vida de vários jovens que queriam e precisavam ser levados a sério.

Ser estranho nos anos 2000 era simplesmente d+

Ah, a adolescência! Hormônios explodindo descontrolados, adultos que não entendem, muitas coisas acontecendo pela primeira vez, mudanças internas e externas o tempo todo e o pior de tudo: ninguém que entenda pelo que você está passando. Até que você encontra uma banda que canta exatamente sobre o que você quer falar e não sabe como e nem com quem.

E foi aí que uma geração de adolescentes completamente frustrados encontrou o que procurava. Além de poder gritar o que estavam sentindo sem ter que assumir que eram as próprias palavras com Blink-182, My Chemical Romance, Panic! At the Disco, Paramore, The Killers e muitas outras bandas de pop punk que surgiram nessa época, eles podiam pertencer com orgulho a um grupo que não pertencia a lugar nenhum.

Isso porque a sociedade que queria ditar as regras era composta das pessoas que causavam os problemas, então porque obedecer? As instituições estavam todas falidas, começando pelos pais que de repente podiam se divorciar do nada. Tudo que era considerado certo estava desmoronando, então o legal era ser o errado.

O problema do divórcio dos pais, que ainda era um acontecimento raro e tema de inúmeros singles do pop punk, é explicitado em “Adam’s song”. Além de disso, a música ainda fala sobre depressão, solidão e pensamentos suicidas, tudo muito emo.

Na música, “I couldn’t wait ‘til I got home, to pass the time in my room alone” se tornou o trecho que resumiu toda a geração que consumia o gênero musical. Um geração de adolescentes frustrados e emocionais, que não podiam esperar para chegar em casa e ficarem sozinhos no quarto, digerindo tudo.  

E o divórcio voltou a ser tema das músicas em 2001, com o single “Stay Together for the Kids” do álbum Take Off Your Pants and Jacket. (GIF: Reprodução)

E o que os adolescentes escutam hoje?

Não há um gênero que tenha substituído o emo atualmente. As músicas mais escutadas entre os adolescentes da classe média (que eram o público principal das bandas pop punks) são funks, quando consideramos a música nacional, e pop, quando falamos da estrangeira.

Mas a verdade é que não há produções específicas para os adolescentes, que tenham um recorte tão nítido quanto antes. Aparentemente, quando estão tristes, eles escutam o pop mainstream mesmo. Os públicos jovem, jovem/adulto e adulto se fundiram, e a frustração gerada pelo medo da vida adulta foi substituída por uma ânsia de crescer logo.

Qual é a idade do álbum de novo?

É difícil criticar o Enema por questões técnicas. Hoje é possível ver várias músicas problemáticas, como o Tom falando que queria uma garota que ele pudesse treinar em “Dumpweed” e basicamente a letra inteira de “Party Song”.

Se estivesse ouvindo o álbum pela primeira vez, provavelmente odiaríamos a banda e os condenaria pelo machismo explícito e inegável. Mas, infelizmente, não tem como.

Blink-182 é, pra nós, um amigo de infância. É verdade que crescemos e seguimos caminhos diferentes, mas não conseguimos não amá-los. Eles estiveram conosco quando ninguém mais conseguia entender, colocaram nossos sentimentos em palavras quando não conseguimos, formaram grande parte da nossa personalidade.

O Enema of the State é como nos sentíamos quando era adolescente, e isso nunca vai mudar. Não importa o quanto o que sentimos mude, quando escutamos esse álbum, lembramos como é bom ser EMOcional. E não, mãe, não é apenas uma fase.

I can’t wait till I get home to pass the time in my room alone (Foto: Reprodução/Twitter)

 

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