A Ordem: A Versão Americana dos Mutantes

(Foto: Reprodução)

Ana Laura Ferreira e Rayanne Candido

Após receber uma generosa bolsa de estudos na Faculdade Belgrave, o que Jack Morton (Jake Manley) mais deseja é participar da lendária sociedade da qual ouviu falar toda sua infância: A Ordem Hermética da Rosa Azul. A Ordem, nova aposta da Netflix, apresenta um mundo em que a magia e o sobrenatural se misturam à uma história de vingança. Entretanto, a produção que almejava ser uma junção de O Mundo Sombrio de Sabrina e Supernatural, acabou se transformando em uma versão gringa de Os Mutantes.

Logo na primeira semana de aula, a Faculdade é assolada por uma ameaça não identificada que parece perseguir um grupo específico de pessoas. A partir desse momento, o protagonista se vê obrigado a começar uma investigação e desvendar o mistério que rodeia o campus. Porém, toda vez que os problemas aparentam estarem resolvidos, mais enigmas surgem em seu caminho. A magia é introduzida aos poucos, e com ela vem um preço. Numa tentativa de se manter interessante, a trama se desenrola muito rapidamente. Sem que tenhamos tempo para digerir todos os acontecimentos, a série se torna uma grande sequência de confusas consequências.

Com uma boa proposta e muito potencial, A Ordem desejava ser a nova Riverdale propondo uma temática sobrenatural e investigativa que agrada o público jovem. Porém, sua extensa e confusa base mitológica acaba podando a ideia. Inserindo elementos que vão desde a mitologia grega até o folclore norte-americano, o roteiro tenta colocar o máximo de informações possíveis, sobrecarregando os episódios. Esse complexo e caótico cenário também prejudica o desenvolvimento das personagens, que terminam presas em um emaranhado de referências sem sentido, impossível de sair. A série abusa de diálogos rasos e infantis que quebram a tensão das cenas. Por mais de uma vez, a direção de Shelley Eriksen e Dennis Heaton se perde em meio às suas densas camadas, apelando para um alívio cômico que não funciona. Isso, atrelado a personagens sem carisma, faz dela uma produção C da Netflix; uma versão sobrenatural de Malhação, até.

As máscaras e as vestimentas da sociedade secreta carregam um ar de mistério, incitando a curiosidade e o interesse do público (Foto: Reprodução)

Com o objetivo de trazer uma roupagem original para a antiga e clichê história de lobisomens, A Ordem aposta em uma nova dinâmica. Aqui, o processo para se tornar um lobo é mais seletivo. Fugindo da ideia de epidemia e aleatoriedade presente na maioria das produções, como Teen Wolf. O método para se tornar um Cavaleiro de São Patrício requer um diferencial: são as peles dos antigos cavaleiros que escolhem seus novos paladinos.

Tendo nos lobisomens seu melhor núcleo, A Ordem apresenta o líder centrado e metódico Hamish (Thomas Elms), a violenta e explosiva garota do grupo Lilith (Devery Jacobs), e Randall (Adam DiMarco), o engraçado melhor amigo de Jack e a ponte entre ele e os cavaleiros. Entretanto, o que fazem destes os melhores personagens do seriado são seus aprofundamentos psicológicos e dinâmica como grupo. Nesta sociedade eles se tratam como família, confiando e protegendo uns aos outros independente de tudo. Ao contrário de outros personagens da série, os lobos apresentam problemas pessoais que moldam seu modo de agir, coesos durante toda a narrativa.

 

A Ordem Hermética da Rosa Azul, por outro lado, apresenta uma estrutura interna confusa e desorganizada. Em uma tentativa de enriquecer o roteiro, o criador Dennis Heaton expande seu universo místico num solavanco. Bagunçando seu desenvolvimento e sem muitas explicações, a narrativa insere e retira personagens aleatoriamente sem que eles sejam devidamente utilizados, fazendo com que todo o elenco pareça descartável e sem importância. Já as atuações funcionam bem quando em grupo, geralmente com uma grande tensão envolvida, fazendo os atores se destacarem e explorarem seu potencial; coisa que nos parâmetros individuais não acontece.

Templos, florestas e esconderijos marcam presença na série. Lugares ideais para que a trama se desenvolva. Objetos característicos dão vida aos cenários: livros antigos, grimórios, poções e itens amaldiçoados se tornam alvos de desejo e disputa ao decorrer da história. O que acentua a fotografia da série, possibilitando que faça jus à proposta; nos rituais mágicos são colocados apenas os pontos de luzes necessários, reforçando a aura do mistério.

As criaturas sobrenaturais possuem características que se assemelham às dos clássicos da literatura (Foto: Reprodução)

Com uma vasta base mística, um roteiro desequilibrado, tramas desconexas entre si e um potencial não tão explorado, A Ordem, peca por tudo isso e por sua falta de ousadia. O telespectador é apresentado à um eterno piloto – em que há a apresentação dos elementos, mas sem nenhum aprofundamento – tendo que tentar adivinhar onde aquilo tudo vai dar. Para aqueles procurando se divertir, mas sem muito comprometimento, essa é uma boa escolha. Se este não for o caso, é melhor investir em uma outra produção.

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