O negócio é o seguinte: High School Musical virou série. Mas nada de reboots preguiçosos ou remakes nada inspirados, High School Musical: The Musical: The Series vai além do comum na hora de dar sequência à trilogia de filmes dos anos 2000. Cheia de metalinguagem, recursos de pseudodocumentários e um humor afiado na bobeira, a produção original do Disney+ é diferente de todos os revivals sem graça que pipocam toda semana na Netflix.
Chegar aos nossos objetivos é algo bem complicado, e fica ainda mais difícil quando encontramos outras pessoas no nosso caminho. O mundo guiado por competição faz parte da realidade, mas também é retratado na ficção. Essa corrida pela vitória já foi mostrada em diversos ambientes diferentes, e no cenário das artes isso também acontece. Possuindo algumas semelhanças com o famoso Cisne Negro, a nova série da Netflix, O Preço da Perfeição (Tiny Pretty Things) mostra uma realidade sobre o universo competitivo e cheio de dificuldades do Balé de Elite de Chicago.
Menos de duas semanas antes do fim da segunda temporada de The Mandalorian, a Disney+ anunciou 10 novas séries originais do universo Star Wars. O furor com as novas produções, com os nomes inéditos e antigos sendo divulgados, teasers e teorias agitaram as redes sociais por dias, o que poderia distrair a excitação para a finale da pioneira dos live-action. Felizmente, a série prova, mais uma vez, que é grandiosa e se consolida como uma das melhores produções da franquia bilionária criada por George Lucas.
A pandemia, que descarrilou a indústria do entretenimento, fez um estrago estrondoso no cinema. A TV, entretanto, conseguiu segurar as barras e teve até a premiação do Emmy meio virtual, meio presencial, mas inteiramente inovadora. Lá, Schitt’s Creek fez história: a única série a vencer todas as 7 categorias principais de comédia. Junto do hit canadense, Zendaya venceu Melhor Atriz em Drama, se tornando a ganhadora mais jovem da categoria. No campo das minisséries, narrativas fortes com enfoque em figuras femininas ditaram o tom. Teve a heroica avalanche de Watchmen, a comovente Nada Ortodoxa e a avidez de Mrs. America.
Fora dos prêmios, O Gambito da Rainha se tornou a minissérie mais assistida da história da Netflix. A série da enxadrista Beth Harmon, papel taciturno de Anya Taylor-Joy, é parte do panteão de 2020. O streaming muito se beneficiou das pessoas estarem trancadas em casa: os números de acesso e visualizações estouraram a boca do balão. Dark se encerrou com a maestria que prometeu, e The Crown finalmente nos mostrou a Lady Di. Na HBO, Michaela Coel retornou mais poderosa que o de costume com I May Destroy You, um soco no estômago empacotado em 12 episódios quase autobiográficos, discutindo o valor do consentimento e as consequências do abuso.
Steve McQueen encontrou na Amazon o lar para sua poderosa Small Axe, antologia de filmes que lidam com racismo e luta por direitos, obras de vital importância nesse momento político em que vivemos. O sucesso foi tanto que uma porção de sindicatos da crítica está premiando Small Axe como Melhor Filme de 2020 (vai entender). Aqui no Brasil, a Rede Globo mostrou serviço produzindo, à distância, a antologia Amor e Sorte e o especial Plantão Covid, parte da fantástica Sob Pressão. Com todo esse parâmetro em mente, a Editoria do Persona se reuniu com nossos colaboradores para elencar o que de melhor a televisão nos ofereceu em 2020.
Pela primeira vez em 2020, Drag Race premiou quem mereceu a Coroa desde o dia um. Não contestando as brilhantes vitórias de Jaida Essence Hall e Shea Couleé, nem mesmo a coroação de Priyanka, mas o que mudou em Drag Race Holland foi o favoritismo avassalador que a estonteante e belíssima Envy Peru exerceu na órbita de suas concorrentes. A drag queen latina clamou para si o título de Primeira Super Estrela Drag da Holanda, numa temporada com mais altos do que baixos, e que definitivamente colocou o público numa montanha-russa emocional.
Para alguém que sempre odiou a própria expressão de gênero e a maneira com que se comporta, assistir We Are Who We Are foi um alívio. Quase um fardo sendo descarregado, eu respirava aliviado pelo menos uma hora na semana, momento em que os longos episódios da criação de Luca Guadagnino tomavam parte. Junto dos jovens habitantes de uma base militar italiana, revisitei o Ensino Médio, os julgamentos e as cobranças da adolescência e os corações partidos. Acima de tudo, enxerguei em Fraser (Jack Dylan Grazer) um espelho do que sempre quis ser, ou melhor, assistir.
Em Lovecraft Country, é constante o diálogo entre passado e futuro. “Quando meu neto nascer, ele será minha fé transformada em carne e osso”, uma personagem diz, em um dos muitos climaxes da trama. Aqui, ícones e referências da cultura negra dão liga a uma trama sobre ancestralidade. Não só sobre as qualidades e ensinamentos passados de mãe para filha, mas também as feridas. A inspiração na obra de um babaca eugenista, em uma história protagonizada por pessoas pretas, adiciona mais força ao texto, que explora a monstruosidade como característica inerente ao ser humano.
Se você está já terminou de assistir as seis temporadas de Grace and Frankie e não vê a hora da próxima ser lançada, O Método Kominsky é uma ótima opção pra matar a saudade dessa vibe cômica. Mas cuidado, as chances de se apaixonar pela série são muito grandes. Criada em 2019 por Chuck Lorre, nome que assina os grandes sucessos Two And A Half Men eThe Big Bang Theory, Kominsky conta a história de amizade entre Sandy Kominsky e Norman Newlander. Encarando os desafios e os questionamentos da terceira idade, como crises existenciais, o medo da morte, a perda de amigos e pessoas amadas, doenças inesperadas e questionamentos sobre a vida.
A primeira temporada de Canada’s Drag Race terminou mais amarga do que deveria. Apesar do início extremamente promissor e dos episódios que facilmente desbancam as edições mais recentes da versão americana, o cansaço causado pelos apresentadores de primeira viagem e a constante imitação dos trejeitos de RuPaul Charles mostram que o problema do sequilho só é parcialmente pela quantidade de goiabada. A falta de consistência do trio da bancada não foi um empecilho só para as competidoras. Dez episódios depois, a franquia nos relembra que Drag Race premia muito mais o barulhento e chamativo do que o melhor histórico.
Não tinha outro jeito. Quando Shea Couleé entrou no ateliê, a Coroa, o cetro e o quadro do Hall da Fama já estavam com nome e sobrenome estampados. Quem chegasse na competição depois já não era importante, ou sequer relevante. 5 edições à dentro dessa corrida (quatro, se desconsiderarmos o terrível All Stars 1), o jogo já não tem mais tantas nuances. Ao passo que as nove queens restantes retornavam para a disputa do título e do cheque, Shea não tinha com o que se preocupar. Oito episódios depois, a conta veio.
Muito mais uma manobra de redenção, por vezes autoinfligida, a escolha de RuPaul parece levar em conta o passado e o prestígio em detrimento do agora. Assim, a questão que fica é a seguinte: essa competição virou um acerto de contas ao invés de uma congratulação e reconhecimento por mérito? A resposta definitiva não existe, Shea Couleé não venceu por pena ou migalhas, mas a narrativa dessa 5ª temporada abre margem para discussões mais profundas quanto ao papel da corrida secundária pela coroa. Está na hora do All Stars acabar.