O réquiem de Castlevania

Cena da quarta temporada de Castlevania. Isaac Adetokumboh M’Cormack) luta com Carmilla (Jaime Murray) em um salão coberto de sangue, enquanto são observados por Criaturas da Noite. Isaac, vindo pela esquerda, é um homem negro, magro e careca, usando robes azuis claros e uma calça azul escura. Carmilla, vindo pela direita, é uma mulher branca e magra, de cabelos longos e brancos e pele pálida, usando um vestido vermelho e saltos dourados. Ela ataca Isaac com uma espada longa e vermelha, que vai de encontro a uma adaga segurada por Isaac com as duas mãos, que também brilha vermelha. Atrás de Isaac, uma Criatura da Noite humanóide o ajuda a segurar a força do impacto. A Criatura possui asas demoníacas e pele branca e pálida, exceto nas pernas e nas asas, que são negras. Em sua cabeça, há chifres curvilíneos que vão para trás, onde sua pele tem um tom rubro e carnoso. Outras criaturas assistem a luta, de costas para grandes janelas que se erguem do chão ao teto e deixam entrever o céu noturno e chuvoso.
Entre sangue, monstros, vampiros e controvérsias, Castlevania se despede com ferocidade (Foto: Netflix)

Gabriel Oliveira F. Arruda

É bem possível que estejamos entrando em um período de ouro para as adaptações de videogames na Televisão: embora o Cinema ainda sofra para traduzir narrativas interativas para filmes de duas horas, vemos cada vez mais exemplos de como estruturas serializadas são capazes de realizar essa transição incólumes. Arcane, da Netflix, conseguiu transformar a poderosa mitologia de League of Legends em uma das melhores séries do ano, construindo uma trama emocionante sobre desigualdade e opressão em cima de um jogo de estratégia competitivo, enquanto a versão de The Last of Us para a HBO promete estar na vanguarda da temporada de premiações de 2023.

Porém, ainda em 2021 tivemos um novo e último capítulo para a série que provavelmente deu início à essa moda. Na quarta temporada de Castlevania, diversos arcos são concluídos e a busca de seus protagonistas para acabar com o mal de uma vez por todas chega ao seu final climático. A adaptação da icônica franquia de jogos da Konami que empresta parte do nome ao gênero metroidvania foi desenvolvida pelo estúdio Powerhouse, que desde então vem provando sua excelência no meio com projetos como O Sangue de Zeus e Mestres do Universo: Salvando Eternia. Após uma humilde primeira temporada com apenas quatro episódios, a trama do seriado rapidamente se expandiu para uma verdadeira saga de poder e mitologia vampírica.

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Cineclube Persona – Maio de 2021

Destaques de Abril de 2021: 5ª temporada de This Is Us, Cruella, BBB 21 e o legado eterno de Paulo Gustavo (Foto: Reprodução/Arte: Larissa Vieira/Texto de Abertura: Vitor Evangelista)

Como todo 2021 até agora, Maio foi um mês difícil. Dentro de casa, é impossível medir o tamanho da perda que foi o falecimento do brilhante Paulo Gustavo e das tantas vítimas da pandemia, ainda descontrolada no país. Partiu também a atriz Eva Wilma, face marcante da arte nacional, em decorrência de um câncer de ovário. Outra presença marcante e histórica do mês foi o centenário de Ruth de Souza, a primeira brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema (Melhor Atriz em Veneza, por Sinhá Moça) e primeira atriz negra a atuar no Theatro Municipal. 

Revelando o caráter frágil da manutenção da Arte no Brasil, a Suíça nos incluiu em um fundo para cineastas de países com democracia ameaçada, lado a lado com Sudão, Ucrânia, Irã, Iraque, Síria e Turquia. Enquanto o Governo tenta liquidar qualquer opinião que não concorde com a sua, o Cineclube Persona de Maio de 2021 segue na cruzada de defender a Arte e suas diversas manifestações. No texto abaixo, a Editoria e seus Colaboradores mergulharam no Cinema e na TV deste que é o último mês de elegibilidade para o Emmy, marcado para acontecer no meio de setembro.

Com fome do prêmio máximo das telinhas, a Netflix apostou em algumas frontes distintas. Halston retomou a parceria do streaming com Ryan Murphy, de praxe dando a Ewan McGregor o flamboyant necessário para elevar o drama histórico que entrelaça fama e Moda. Special finalizou sua sorridente trama, O Método Kominsky fechou as portas sem sua dupla dinâmica completa e Master of None deu um cavalo-de-pau e entregou uma trama diferente e ainda mais madura, com direito a subtítulo chique (Moments in Love) e um foco principal na personagem de Lena Waithe

No Amazon Prime Video, Barry Jenkins se dedicou à The Underground Railroad, uma minissérie exorbitante, polida e bem cuidada, encabeçada por uma novata de ouro e um elenco de apoio que sustenta a trama violenta e poética. A HBO apostou em Mare of Easttown, seu programa semanal de domingo, que finalizou sua rodagem no fim do mês. Tem Kate Winslet, Jean Smart e a receita para ficar na boca do povo por um bom tempo. O suprassumo da TV ainda investiu em Oslo, telefilme com o charmoso Andrew Scott, também de olho no Emmy.

A parte 2 da temporada cinco de Lucifer finalmente foi disponibilizada, reafirmando o poder da Netflix em explodir em audiência suas franquias mais famosas. O gênero do true crime encontrou novidades em Os Filhos de Sam: Loucura e Conspiração e The Circle US ganhou uma nova leva de capítulos Castlevania continua impressionando no quarto ciclo, e o Volume 2 de Love, Death + Robots foi menor que o esperado, mas sem perder a acidez característica da antologia. 

Na TV aberta dos Estados Unidos, This Is Us chutou a porta com o gancho que encerrou a quinta temporada, fazendo com que a audiência não pare de pensar em quem vai casar até 2022, data marcada para o retorno do sexto e último ano das crônicas da Família Pearson. Zoey e Sua Fantástica Playlist continua crescendo em audiência e falatório, carregada pelo talento de Jane Levy. O elenco de Friends se reuniu por quase duas horas, chorou o que tinha para chorar e deu adeus, ao lado dos mais diversos convidados, indo de Justin Bieber à BTS (vai entender).

Na parte de filmes, o Amazon Prime Video montou seu time de Vingadores do Rock em What Drives Us e reuniu Manu Gavassi e seus amigos em um drama nacional que transforma a quarentena em personagem principal. Dua Lipa levou a Nostalgia do Futuro para o Globoplay, Gia Coppola platinou o cabelo de Andrew Garfield e Michelle Pfeiffer jurou por Deus que o marido morto reencarnou em seu gato. 

O sucesso do mês foi a Cruella de Emma Stone, espevitada e elétrica, um show de qualidades e de looks icônicos. A Netflix acertou com o dramático Monstro, e errou feio com o Frankenstein A Mulher na Janela (Amy Adams, pisque duas vezes se você não estiver bem, por favor). Na correria de Maio, sobrou tempo para Zack Snyder brincar com zumbis e Angelina Jolie fugir de fogo.

No Brasil, teve produção excelente (Onde Está Meu Coração) e teve o fim do infinito Big Brother Brasil 21. O Persona dá um geral em tudo que teve de mais impactante nos últimos trinta e um dias, revelando os destaques e as bombas, com espaço reservado para o enaltecimento da melhor figura que 2021 nos deu: volte sempre, Gil do Vigor. 

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As Melhores Séries de 2020

A imagem é uma arte com fundo laranja. No canto superior direito, há um retângulo com fundo preto e escrito na cor laranja a frase "AS MELHORES SÉRIES DE 2020". No canto inferior direito, há o logo do Persona, que é o desenho de um olho aberto, no qual a íris possui a cor laranja e no lugar da pupila há um botão de "play" na cor preta. No canto esquerdo, há personagens de algumas séries organizados em duas fileiras. Na fileira superior, da esquerda para a direita, estão: a personagem Lúcia do seriado Amor e Sorte, interpretada por Fernanda Torres, que é uma mulher branca de cabelos castanhos escuros na altura dos ombros, Fernanda está sorrindo e veste uma blusa cinza; a personagem Marianne da série Normal People, interpretada por Daisy Edgar-Jones, que é uma mulher branca de cabelos castanhos claros compridos e franja, Daisy está com o olhar voltado para a direita; a personagem Hilda da série Hilda, que é um desenho animado de uma menina branca com cabelos longos e azuis, Hilda veste um cachecol amarelo e uma blusa vermelha de manga compridas, ela está sorrindo e com as mãos apoiadas na cintura; e o personagem David Rose da série Schitt's Creek, interpretado por Daniel Levy, que é um homem branco de cabelos castanhos escuros em formato de topete, Daniel está com uma feição assustada e veste um suéter cinza e preto. Na fileira inferior, da esquerda para a direita, estão: a personagem Devi Vishwakumar da série Eu Nunca..., interpretada por Maitreyi Ramakrishnan, que é uma jovem de traços indianos e cabelo preto comprido, Maitreyi está com o rosto virado para a esquerda e com um leve sorriso, ela veste uma regata listrada, um colar e um casaco laranja; a personagem Beth Harmon da série O Gambito da Rainha, interpretada pela atriz Anya Taylor-Joy, que é uma mulher branca com cabelos ruivos curtos e franja, Anya está com o olhar voltado para a direita, veste um casaco cinza e segura um jornal em suas mãos; a personagem princesa Margaret da série The Crown, interpretada por Helena Bonham Carter, que é uma mulher branca com cabelos castanhos escuros presos em um coque alto, Helena está com um olhar sério e usa uma coroa em sua cabeça, um colar em seu pescoço e um vestido rosa e branco; e a personagem Arabella Essiedu da série I May Destroy You, interpretada por Michaela Coel, que é uma mulher negra com cabelos rosa em tom pastel na altura dos ombros, Michaela está com um olhar sério para a frente, ela veste uma camiseta cinza e um casaco branco e vermelho.
Os destaques de 2020: Amor e Sorte, Normal People, Hilda, Schitt’s Creek, Eu Nunca, O Gambito da Rainha, The Crown e I May Destroy You (Foto: Reprodução)

A pandemia, que descarrilou a indústria do entretenimento, fez um estrago estrondoso no cinema. A TV, entretanto, conseguiu segurar as barras e teve até a premiação do Emmy meio virtual, meio presencial, mas inteiramente inovadora. Lá, Schitt’s Creek fez história: a única série a vencer todas as 7 categorias principais de comédia. Junto do hit canadense, Zendaya venceu Melhor Atriz em Drama, se tornando a ganhadora mais jovem da categoria. No campo das minisséries, narrativas fortes com enfoque em figuras femininas ditaram o tom. Teve a heroica avalanche de Watchmen, a comovente Nada Ortodoxa e a avidez de Mrs. America.

Fora dos prêmios, O Gambito da Rainha se tornou a minissérie mais assistida da história da Netflix. A série da enxadrista Beth Harmon, papel taciturno de Anya Taylor-Joy, é parte do panteão de 2020. O streaming muito se beneficiou das pessoas estarem trancadas em casa: os números de acesso e visualizações estouraram a boca do balão. Dark se encerrou com a maestria que prometeu, e The Crown finalmente nos mostrou a Lady Di. Na HBO, Michaela Coel retornou mais poderosa que o de costume com I May Destroy You, um soco no estômago empacotado em 12 episódios quase autobiográficos, discutindo o valor do consentimento e as consequências do abuso. 

Steve McQueen encontrou na Amazon o lar para sua poderosa Small Axe, antologia de filmes que lidam com racismo e luta por direitos, obras de vital importância nesse momento político em que vivemos. O sucesso foi tanto que uma porção de sindicatos da crítica está premiando Small Axe como Melhor Filme de 2020 (vai entender). Aqui no Brasil, a Rede Globo mostrou serviço produzindo, à distância, a antologia Amor e Sorte e o especial Plantão Covid, parte da fantástica Sob Pressão. Com todo esse parâmetro em mente, a Editoria do Persona se reuniu com nossos colaboradores para elencar o que de melhor a televisão nos ofereceu em 2020. 

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A Castlevania de Netflix é um brinde de sangue às séries animadas

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Adriano Arrigo

Existe uma linha de desenhos animados que foram esquecidos na virada do século mas que parecem ter sido recuperados em Castlevania, a nova série do Netflix, baseada na série homônima de games iniciada em 1986. Tratam-se de obras televisas vindas principalmente do Japão, como Angel Cop (1989) e Gynocyder (1993). Nesses desenhos, qualquer deslize besta da protagonista é motivo para que seu cérebro possivelmente exploda e espirre em uma parede banhada com seu próprio sangue. Continue lendo “A Castlevania de Netflix é um brinde de sangue às séries animadas”