Os dois morrem no final é uma jornada pela linha tênue entre a celebração da vida e aceitação da morte

Ilustração da capa do livro Os dois morrem no final. A imagem apresenta dois jovens de costas caminhando lado a lado com mochilas nas costas, sombreados em tons de azul escuro ao lado de uma grade. O chão em que os jovens pisam é branco e possui a sombra dos rapazes. Atrás da grade há prédios pintados em tons de azul escuro iguais aos dos jovens e acima dos prédios há um céu pintado por um azul mais claro. No canto superior direito há uma lua cheia na cor branca. Ao centro da ilustração consta o nome do livro em letras maiúsculas na cor branca, na parte superior do livro o nome do autor com a mesma fonte e cor. Por fim, no canto inferior direito há o logo da editora do livro intrínseca na cor de fundo preta com o nome escrito em branco.
O livro Os dois morrem no final está sendo adaptado para uma série audiovisual (Foto: Editora Intrínseca)

Luana Brusiano

Imagine receber um recado da Central da Morte informando que, a qualquer momento nas próximas 24 horas, você irá morrer e não há nada que possa ser feito para reverter essa situação. Essa é exatamente a premissa de Os dois morrem no final. Escrita por Adam Silvera, a obra narra o último dia de vida de Mateo Torrez e Rufus Emeterio que, em 5 de Setembro, recebem a infeliz ligação: aquele será o último dia de vida deles. Na tentativa de aproveitar ao máximo seus últimos momentos vivos, os caminhos de Mateo e Rufus se cruzam, levando-os a embarcar em uma jornada para viver uma vida inteira em um único dia.

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Croma Kid sintoniza a expressividade dos anos 1990 em uma tela fantástica e analógica

Cena do Filme Croma Kid. Na imagem está um garoto branco coberto por um pano verde com dois furos em seus olhos castanhos e abertos. Parte de suas sobrancelhas aparecem nas formas ovais. Ao fundo uma parede verde como chroma key de um estúdio.
Croma Kid esteve na 47ª Mostra de Cinema Internacional em São Paulo e também na seção Bright Future do Festival Internacional de Cinema de Roterdã (Foto: Aurora Dominicana)

Henrique Marinhos

Marcado pelo domínio da tecnologia analógica no cenário audiovisual, Croma Kid é uma viagem estonteante aos anos 1990. Dirigido por Pablo Chea e presente na seção Competição Novos Diretores da 47ª Mostra de Cinema Internacional em São Paulo, a ficção nos leva a acompanhar o encantador pré-adolescente Emi (Bosco Cárdenas), em todas as suas rebeldias e pensamentos inquietantes sobre sua família, que o envergonha por sua veia artística e televisiva.

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A partir do afrofuturismo, Dirty Computer mantém seu impacto político intacto mesmo após 5 anos

Capa do álbum Dirty Computer. Nela está a cantora Janelle Monáe, uma mulher negra de cabelos curtos que veste uma burca feita de joias brilhantes interligadas por correntes. Apenas seus olhos não estão cobertos. A burca é de metal e vazada. Sua pele é iluminada por uma forte luz vermelha enquanto ao fundo está um círculo que se assemelha a um planeta com árvores ao redor de sua cabeça. Este é preenchido por um degradê que vai do vermelho ao amarelo. Ao fundo, tons de azul que se assemelham a nuvens e à esquerda o texto Janelle Monáe - Dirty Computer.
Dirty Computer foi anunciado com um trailer, exibido nas sessões do filme Pantera Negra (Foto: Bad Boy Records)

Henrique Marinhos

Baseado em uma história distópica que transforma aqueles que não se conformam em computadores sujos, Dirty Computer é o terceiro álbum de estúdio da cantora, compositora e atriz Janelle Monáe. Lançado em 2018, a obra-prima não se destaca apenas por sua sonoridade, mas também por sua narrativa visual e conceitual, unidas em um audiovisual de 48 minutos emocionante.

Desde o lançamento de seu primeiro álbum, The ArchAndroid, em 2010, Monáe tem sido aclamada pela crítica e pelos fãs por sua originalidade e inovação na Música. Ela mistura elementos de R&B, soul, funk e rock, além de ser conhecida por suas performances energéticas e hipnotizantes, que cativam a audiência em seus shows ao vivo. Hoje, ela pode comemorar a realização de um manifesto impactante que comemora cinco anos de existência.

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RRR faz o colonialismo dançar ao som da Revolta, Rebelião e Revolução indiana

Cena do filme RRR. Da esquerda para a direita na imagem, o protagonista Komaram Bheem enfrenta um tigre. A câmera captura ambos cara a cara, a partir do busto e da mandíbula, respectivamente. Bheem é um homem indiano de cabelos e olhos escuros, ele aparece todo ensanguentado vestindo apenas um artefato tradicional de seu povoado no pescoço. Tanto Bheem quanto o tigre estão com a boca aberta. O tigre, por sua vez, tem dentes longos e afiados. O animal também está com a pelagem branca, preta e amarela ensanguentada. Ao fundo, o cenário é uma floresta repleta de verde.]
Naatu Naatu concorre ao Oscar 2023 pela estatueta de Melhor Canção Original, feito inédito para um longa indiano (Foto: Pen Studios)

Nathalia Tetzner

Das raízes do imperialismo inglês, a ocupação, exploração e opressão floresceram em uma árvore de tronco imponente. Neste cenário, a violência permitiu o sequestro da cultura de comunidades nativas, porém, incoerentemente, os frutos venenosos dos caules suculentos alimentaram a Revolta, Rebelião e Revolução indiana que colocou fim ao período conhecido como o “Raj Britânico” na primeira metade do século XX. 

Da luta pela independência, líderes se tornaram seres mitológicos para o povo e, em 2022, dois deles ganharam as telas do Cinema com RRR. O longa tollywoodiano dirigido por S. S. Rajamouli não somente surpreendeu pela leitura épica de um evento histórico, como também fez história ao emplacar a indicação de Melhor Canção Original no Oscar 2023, dádiva alcançada pelo feito de M.M Keeravaani e Chandrabose em colocar o colonialismo para dançar com a eletrizante Naatu Naatu.

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David Grossman gargalha até doer a barriga em A Vida Brinca Muito Comigo

O Persona também pode esboçar um riso frente ao pranto da vida graças a parceria com a editora Companhia das Letras (Foto: Companhia das Letras/Arte: Ana Cegatti)

Nathalia Tetzner

Sabe aquela pessoa que, quando está calma, os trovões de tempestade podem ser ouvidos ao longe? Que tem o prazer de encher os teus pulmões, mas também sufocá-los? Ela é a perfeita personificação da vida em seu estado mais bruto. Alguns a conhecem precocemente, outros, no tempo certo, e há ainda aqueles que preferem ignorar a sua face áspera e se resumem a dizer “ah, ela é brincalhona assim mesmo”. Na trama de A Vida Brinca Muito Comigo, de David Grossman, três gerações de mulheres procuram digerir as consequências do encontro fúnebre com a origem de tudo.

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Na obra de Roberto Bolaño, a memória é o nosso Amuleto

Com tradução de Eduardo Brandão, Amuleto, de Roberto Bolaño, foi a leitura do Clube do Livro do Persona em Agosto de 2022 (Foto: Companhia das Letras/Arte: Nathália Mendes)

Bruno Andrade

“Soube que tinha de resistir. De modo que me sentei nos ladrilhos do banheiro das mulheres e aproveitei os últimos raios de luz para ler mais três poemas de Pedro Garfias, depois fechei o livro, fechei os olhos e disse para mim: Auxilio Lacouture, cidadã do Uruguai, latino-americana, poeta e viajante, resista” (pág. 29).

À primeira vista, Roberto Bolaño é lembrado por dois romances – possivelmente os mais importantes da Literatura na América Latina no final do século XX e início do novo milênio: Os detetives selvagens (1998) e 2666 (2003). O último – uma espécie de testamento do autor chileno, lançado postumamente e com quase mil páginas – desfez a ideia de que o apocalipse ocorrerá sob sirenes e explosões; na verdade, o fim do mundo já começou, e é tão silencioso quanto os assassinatos constantes e sigilosos dos jovens latino-americanos. Por outro lado, com seu romance de 1998, Bolaño deu vida à aura libertária das revoltas deste lado da América, sob uma perspectiva idealizada que, não obstante, é ela mesma rechaçada no livro. Ainda assim, é em Amuleto (1999), lançado entre uma obra e outra, que o autor concentra magistralmente seus temas principais: a poesia, a política e a violência.

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A comunidade queer invade sua mente em Sense8

Cena da série Sense8. Na imagem, os oito protagonistas da série estão um ao lado do outro se abraçando e com expressões de carinho e felicidade. Todos estão na faixa dos 30 anos. Da esquerda para a direita: Capheus é um homem queniano, negro, é careca e veste uma camiseta cinza de mangas azuis, e está com a cabeça encostada em Nomi. Nomi é uma mulher americana, branca, seu cabelo é loiro na altura abaixo dos ombros e usa um óculos quadrado preto. Acima de Nomi, está Will, que também é americano, branco, está vestindo uma camiseta marrom e tem o cabelo loiro. Ao lado de Nomi está Sun, que é uma mulher coreana, veste uma regata preta de gola alta e com detalhes amarelos, e tem o cabelo preto na altura do queixo. Riley é uma mulher islandesa, veste uma regata que não é possível identificar a cor pois outra pessoa está na frente, e seu cabelo é loiro na altura do pescoço. Abaixo, está Kala, que é uma mulher indiana e está de costas para a foto, podendo ser possível ver apenas seu cabelo preso em um rabo de cavalo e um brinco de várias argolas unidas na orelha. Lito é um homem mexicano, está vestindo uma camiseta de manga curta com estampa militar e seu cabelo é curto e castanho escuro. Por último, Wolfgang é um homem alemão, veste uma camiseta de manga curta cinza e seu cabelo é curto e castanho claro. A iluminação é muito forte e amarelada, eles estão contra a luz. Ao fundo, é possível ver um cemitério vertical, com várias gavetas enfeitadas com guirlandas de flores.
O apoio e compreensão dos amigos nunca foram tão necessários quanto em Sense8 (Foto: Netflix)

Maria Vitória Bertotti 

Compartilhando as mentes uns dos outros e vivendo experiências de maneira onipresente, a série estadunidense Sense8 inova na ficção e nos mostra que o espaço é apenas um detalhe para se viver inteiramente. Lançada em junho de 2015, a produção trouxe a temática LGBTQIA+ para o mundo do streaming, o que chocou parte do público da Netflix. Por essa razão, tantas pessoas se renderam à trama revolucionária dos sensates e suas habilidades de conexão mental.

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Bobbi amava Frances que ama Nick que ama Melissa

Moldura vermelha retangular. No canto superior esquerdo e no canto inferior direito, vemos o logotipo do Persona, o desenho de um olho com um símbolo de play ao centro. Ao centro do retângulo, vemos a capa do livro Conversas entre amigos. A capa tem o fundo verde azulado. Na parte superior central, vemos a palavra "conversas" em uma fonte branca sem serifa, alinhada à esquerda. Abaixo, vemos a palavra "entre" na mesma fonte, alinhada à direita. Abaixo, vemos a palavra "amigos" centralizada. Centralizada na capa, vemos as palavra "Sally Rooney", na mesma fonte, na cor preta. Na parte inferior da capa, vemos uma mulher branca de cabelos castanhos lisos, de costas, à esquerda. À direita, vemos uma mulher branca de cabelos pretos presos em um rabo de cavalo e usando óculos rosa, de perfil.
Lançado em 2017, Conversas entre amigos completa 5 anos no mês de lançamento da série adaptada (Foto: Editora Alfaguara)

Vitória Lopes Gomez

Frances e Bobbi são melhores amigas que já namoraram. Frances tem uma queda por Nick, e Bobbi, por Melissa. Nick e Melissa são casados. É partindo desse emaranhado que Sally Rooney, em seu livro Conversas entre amigos, encontra terreno fértil para dissecar relacionamentos contemporâneos e seus envolvidos, assim como as dinâmicas sociais e de poder das relações interpessoais modernas. Se a irlandesa escreve, essencialmente, sobre pessoas normais vivendo sua realidade – mesmo que seja uma realidade inventada, somente baseada na vida real da autora ,- essa obra de estreia  mostra que, mesmo antes do fenômeno Pessoas normais, Rooney já mostrava a potência de suas histórias fictícias reais.

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O Mapeador de Ausências e a memória como preenchimento do vazio

Arte da capa do livro O Mapeador de Ausências. Na imagem, há um fundo vermelho, com a capa do livro ao centro da imagem, possuindo uma sombra de cor amarela. Na capa, há o desenho de uma mulher negra com diversos tecidos coloridos. Esses tecidos são de cor vermelha, azul, amarela, branca, rosa e verde. Ao centro, está escrito Mia Couto em fonte de cor branca, com a grafia do próprio autor, e abaixo escrito O Mapeador de ausências, também em fonte de cor branca. Acima do seu nome está o logo da editora Companhia das Letras. Na parte superior esquerda da imagem, há a ilustração de um olho com a íris de cor azul. Na parte inferior direita, está o símbolo do Time de Leitores da editora Companhia das Letras, composto por um círculo de cor azul escrito Grupo companhia das letras em fonte de cor branca, envolto de um círculo branco com os escritos Time de leitores 2021, em fonte de cor azul.
O Mapeador de Ausências, 11º romance de Mia Couto, traz o autor revisitando o próprio passado em meio aos paradoxos da colonização de Moçambique (Foto: Companhia das Letras/Arte: Jho Brunhara)

Bruno Andrade

“Nestes dias, caminhei pelos lugares da minha infância como quem passeia num pântano: pisando o chão com as pontas dos pés. Um passo em falso e corria o risco de me afundar em escuros abismos. Eis a minha doença: não me restam lembranças, tenho apenas sonhos. Sou um inventor de esquecimentos.”

Na icônica cena de Um bonde chamado Desejo (1947), escrita pelo dramaturgo norte-americano Tennessee Williams, a personagem Blanche DuBois entoa: “Eu não quero realidade. Eu quero magia”. Parece que essa afirmação espelha a carreira literária de Mia Couto, cuja diferença consiste em enxergar na existência toda a magia necessária para encarar a vida. Segundo o próprio escritor, “não há somente uma realidade, mas várias”. Como fruto da parceria com a editora Companhia das Letras, o Persona teve acesso a seu novo romance, O Mapeador de Ausências, participando de um evento exclusivo com o autor. A obra, publicada no início de setembro de 2021, traz como protagonista Diogo Santiago, poeta e professor universitário na cidade de Maputo, que parte em uma viagem física e metafísica à Beira, sua cidade natal. 

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A fantasia de uma Despedida

A imagem é uma cena do filme Despedida. Nela, há o horizonte de um rio, em que é possível uma lua cheia coberta pela metade ao fundo. No centro dela, há um barco com um cachorro à esquerda e uma menina à direita.
A produção nacional é uma das participantes da seção Mostra Brasil na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Elo Company)

Vitória Silva

Despedida é o toque de imaginação que faltava na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Em um feriado de Carnaval, Ana (Anaís Grala Wegner) viaja com a mãe (Patricia Soso) para uma cidadezinha no interior do Sul do Brasil. Mas o tom colorido e animado da data comemorativa é tomado pela frieza e escuridão do luto, ao ter como destino principal o funeral da avó (Ida Celina), que tinha fama de bruxa da cidade. Assim se inicia toda uma aventura por trás do que parecia ser um simples adeus.  

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