Young Lungs renova os ares da Alunte Lounge

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Foto: Lucas Mendes

Bárbara Alcântara e Gabriel Leite Ferreira

O show da Young Lungs começou quase pontualmente neste domingo. Por volta das 21h, João Ricardo Ribeiro, Guilherme Abramides e Joyce Rodrigues se distribuíam pelos instrumentos, dispostos na parte da sala da Alunte que foi reservada como palco. À medida em que eles iam assumindo suas posições, as pessoas se aproximavam, intrigadas. Essa foi a primeira vez que o espaço abriu as portas para uma banda de rock local, e o resultado dessa experiência foi um público bem diversificado – muito diferente das outras edições que acabaram se estendendo apenas à galera do rolê do hip hop.

Foto: Lucas Mendes
Foto: Lucas Mendes

A história da Alunte é simples: alguns jovens artistas de Bauru, que moravam juntos em uma república no centro da cidade, decidiram literalmente abrir as portas de casa para outros artistas da região. No maior estilo D.I.Y. (ou faça-você-mesmo, no português), eles começaram a organizar festas, cedendo aparelhos de som para quem quisesse tocar, e paredes para quem quisesse pintar. O intuito era criar um ambiente propício para a divulgação de qualquer manifestação de arte, independentemente da plataforma utilizada.

Os esforços para dar visibilidade à cena independente da cidade ficaram ainda mais visíveis nesta, que foi a quinta edição do evento “Alunte Lounge”. Pelas paredes, estavam espalhadas colagens, ilustrações e um telão com projeções de artistas locais, além de banquinhas com fanzines, k7s e cds de projetos autorais. Todas (ou quase todas) as produções estavam à venda e o mais interessante é que a maioria delas não tinha um preço fixo: para levar algo pra casa, era só contribuir com o quanto achasse justo.

Não que tudo isso tenha sido novidade  – o intuito da própria festa, Lounge, é apoiar a cena local e as paredes estão sempre repletas de materiais artísticos, desde a primeira edição. Mas é que a diversidade de apresentações neste domingo fez com que, de fato, eles conseguissem unir tribos: da discotecagem do Dj Big para a exibição do curta “Parte Da Rua”, passando pela performance “Culpa” das artistas Isabela Rosa e Ana Evaristo, chegando então na Young Lungs.

Todo esse espectro de influências e interesses se refletiram no conteúdo do material que estava sendo veiculado por lá. Fanzines com temática política eram intercaladas por algumas poesias com (ou sem) um certo teor de contestação social; o mesmo acontecia com as ilustrações. A subcultura punk convivendo com o hip hop – uma coisa linda de se ver.

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Galera checando uma das exposições, que tinha como temática a menstruação (Foto: Lucas Mendes)

Foi então que entrou a Young Lungs. Capitaneada pelo guitarrista e vocalista Guilherme Abramides, ela tem uma trajetória intermitente desde 2006. Guilherme começou compondo e tocando sozinho, ao melhor estilo indie de quarto, e, a partir de 2012, o projeto se tornou uma banda, no sentido tradicional do termo. O show na Alunte foi a estreia da nova formação, com seu parceiro de longa data João Ricardo no baixo e Joyce na bateria.

Com um EP e um álbum no currículo, o trio tem uma identidade bem marcada: indie tímido – porém dançante – com guitarras à frente. A influência do medalhão Pavement é explícita na interpretação lânguida e nos riffs criativos de Guilherme, enquanto a dupla Joyce e João entregam algo próximo do pós-punk oitentista. A fórmula acessível agradou os presentes, e a banda se manteve vigorosa na pouco mais de uma hora de show. Algo interessante de se ouvir em tempos em que indie brasileiro remete a nomes inofensivos como O Terno e Selvagens à Procura de Lei; a principal crítica vai para as letras pouco inspiradas, cantadas num inglês simplista.

Por mais que a presença de Joyce na bateria não tenha sido um ato premeditado, foi de extrema importância. Existem bandas compostas por mulheres, é claro, mas é difícil vê-las saindo do underground. Tem evento quase todo fim de semana com bandas femininas, mas ainda assim a quantidade de mulheres ainda é ínfima se comparada à quantidade de homens em posse de instrumentos. É reconfortante poder ver uma mulher segurando as baquetas e tocando com toda a tranquilidade do mundo no meio deles.

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(Foto: Lucas Mendes)

Um evento que era para ter sido mais um entre as outras tantas tentativas de divulgação de artistas independentes acabou por se tornar uma experiência enriquecedora para quem estava lá. A fusão de subculturas, vivências e caminhadas, convivendo todas com muito respeito, mostrou que a cena underground artística de Bauru tem muito a oferecer – e a aprender, uns com os outros. Que venham mais eventos com a mesma temática.   

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