La Pampa não desacelera nem nas curvas mais sinuosas

Cena do filme La Pampa. Amaury Foucher e Sayyid El Alami interpretam Jojo e Willy, respectivamente. Os dois estão de frente um para o outro, com as testas encostadas, transmitindo uma conexão forte e íntima. Amaury, com cabelo loiro e expressão suave, olha diretamente nos olhos de Sayyid, que sorri levemente. A luz natural e o fundo desfocado ressaltam o foco na interação entre os personagens, evidenciando um momento de cumplicidade e afeto.
O longa-metragem foi exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes (Foto: Agat Films)

Henrique Marinhos

Em competição na seção Novos Diretores da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Antoine Chevrollier nos conduz, em alta velocidade, pelos caminhos poeirentos do amor e luto em La Pampa. Ao contrário de Close (2022) e O Segredo de Brokeback Mountain (2005), aqui, a protagonista é a juventude – imprudente, vulnerável e, tragicamente, exposta às crueldades do mundo. A combinação da direção de Fotografia de Benjamin Roux e a montagem de Lilian Corbeille nos deixam em estado de alerta constante, mesmo confortáveis em uma cadeira de cinema.

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Em Something To Give Each Other, Troye Sivan celebra a liberdade

A fotografia retrata Troye Sivan sorrindo, de olhos fechados e entre as pernas de um homem branco, com uma expressão de êxtase. Troye é um homem branco e loiro, com traços finos e nariz angulado.
Em um ritmo dançante, o australiano vive os altos e baixos da vida com intensidade (Foto: Universal Music)

Fábio Gabriel Souza

A Arte precisa sempre ser inovadora? Essa pergunta guiou a discussão de muitos fãs, especialistas e entusiastas de cultura pop ao escutarem Something To Give Each Other. Troye Sivan, em seu terceiro álbum de estúdio lançado em Outubro de 2023, nos leva a uma viagem dançante, eletrizante e intimista, que celebra a liberdade de expressão queer. Longe de ser inovador e revolucionário, o álbum é o que se propõe a ser: pop

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A câmera de Delicada Atração como testemunha de desejo e medo

Cena do filme Delicada AtraçãoNa imagem, o personagem Jamie faz massagens nas costas de Ste, que está deitado de bruços na cama. Jamie é um garoto branco na faixa dos 18 anos, de pele clara e cabelos loiros. Ele veste uma camiseta amarela com estampa vermelha. Ste é um garoto branco na faixa dos 18 anos com o cabelo curto e liso, na cor escura. Ele veste uma camiseta branca e uma samba canção azul e cinza. O quarto é todo azul, paredes, cortinas e lençol de cama. Nas paredes há várias fotos coladas.
O filme foi inspiração para o músico Johnny Hooker compor a canção Flutua (Foto: Film4 Productions)

Davi Marcelgo

Os apartamentos de um subúrbio londrino são palco de opressão e violência. Dentro das paredes de um quarto azul, habita a tranquilidade e doçura de um romance púbere entre dois garotos: Ste (Scott Neal) e Jamie (Glen Berry). No mundo confortável de ambos, dedos passeiam através da pele e a câmera do longa de estreia da diretora Hettie MacDonald (Normal People) revela muito mais do que palavras conseguem. Delicada Atração (Beautiful Thing, no original) é um retrato cru de vivências homoafetivas, mas que não abandona o otimismo. 

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Entre encontros e reencontros, The L Word: Geração Q retoma o significado do amor entre mulheres

Cena de The L Word: Generation Q. Na imagem vemos parte do elenco da série reunido e se abraçando pelas laterais. Da esquerda para a direita encontra-se Finley, Shane, Alice, Bette, Dani, Sophia e Micah, respectivamente. Finley, mulher branca de cabelos curtos, usa calça marrom clara e camiseta listrada preta, vermelha e verde. Shane, mulher branca de cabelos castanhos curtos, veste uma regata branca e jaqueta de couro preta, em seu pescoço carrega um colar. Alice, mulher branca com cabelos loiros, usa um macacão jeans claro. Bette, mulher biracial de cabelos castanhos cacheados, veste uma calça marrom e uma camiseta social na cor branca que encontra-se com alguns botões desabotoados. Dani, mulher branca de cabelos castanhos escuros compridos, usa um cropped branco com uma amarração na frente com listras pretas e calça preta. Sophia, mulher negra de cabelos pretos cacheados, usa uma camiseta branca florida azul e uma jaqueta preta. Micah, homem de pele branca e cabelos pretos curtos, veste uma camiseta de botão na cor roxa estampada com desenhos em formato de V. Todos estão com sorriso no rosto. Ao fundo é possível ver uma placa azul “Welcome to SilverLake Sunset Junction” escrita em letras brancas e árvores verdes com flores rosas. O céu está na cor amarela e azul claro.
The L Word: Generation Q aborda temas presentes na comunidade LGBTQIA+ (Foto: Showtime)

Vitória Borges

Desde sua estreia em 2004, The L Word estabeleceu-se como um marco na representação LBGTQIA+ na Televisão. A série, que durou até o ano de 2009, conta a história de um grupo de amigas lésbicas e bissexuais que vivem na cidade de Los Angeles. O seriado tem dramas quentes, provocativos e repleto de diálogos inteligentes e personagens ricamente desenhados.

Aclamada por alguns e odiada por outros, The L Word: Generation Q (no original) nasce como uma continuação do seriado icônico. A obra, lançada quase 15 anos após a primeira, retoma sua narrativa e retorna com personagens excepcionais como Bette Porter (Jennifer Beals), Alice Pieszecki (Leisha Hailey) e Shane McCutcheon (Katherine Moennig).

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Para além de um desenho: A Casa da Coruja nos deixa na terceira temporada, mas marca com sua representatividade

Imagem final do desenho A Casa da Coruja. Nela se encontram grande parte dos personagens reunidos para a despedida da série. Os personagens principais, Luz, King, Eda, Amith, Camila, Willow, Gus e Hunter estão no plano principal. A foto se passa no período noturno e tem um tom arroxeado
A personagem Tinella Nosa é uma caricatura de Dana Terrace, dublada e pensada por ela mesma (Foto: Disney+)

Juliana Craveiro Fusco

Mais um ciclo chega ao fim, um que foi forçado a terminar antes da hora. Nós sabemos que uma hora tudo vai acabar, mas é sempre mais triste quando precisamos nos despedir mais cedo. E assim, The Owl House  – A Casa da Coruja, em português – se encerra, antes da hora e deixando saudades, mas mostrando como uma animação tem capacidade de tocar profundamente seu público.

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O final de Sex Education tocou nos pontos certos e chegou lá

Cena da quarta temporada de Sex Education. Na imagem, à esquerda, vemos o personagem Eric, um homem negro com cabelo rente à cabeça e que veste uma camiseta de tricô verde, um colete amarelo com flores rosas e carrega uma mochila com a alça marrom nas costas. Ele olha levemente para sua direita enquanto ri com a mão direita em cima de seu peito. À direita, vemos o personagem Otis, um homem branco com cabelos pretos que veste uma camisa xadrez vermelha, uma jaqueta nas cores bege, vermelho e azul, e carrega uma mochila com a alça marrom nas costas. Assim como Eric, ele olha levemente para sua direita enquanto ri com sua mão esquerda dentro do bolso da jaqueta. O fundo da imagem está desfocado; à esquerda, há uma construção e, à direita, algumas árvores.
A quarta e última temporada de Sex Education chegou ao catálogo da Netflix em Setembro de 2023 (Foto: Netflix)

Raquel Freire

Ambientada em uma visão extremamente colorida do ensino médio, Sex Education sempre ancorou sua narrativa em um ditado simples, mas poderoso: o sexo e toda a ansiedade que o envolve são fundamentais para o senso de identidade de cada adolescente. Ao abraçar sem pudores o potencial didático de sua premissa, cumprindo a promessa provocativa do título em cada um de seus episódios, a quarta e última temporada da série encerra organicamente o ciclo e enfatiza que seu espaço no topo foi conquistado desde o início, o que muitos já sabiam.

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Nimona ri na cara do perigo, da Disney e de qualquer um que não aceita quem é diferente

Cena de Nimona. Nimona, uma garota jovem branca de cabelo rosa raspado na nuca, com cota de malha e túnica também rosa está no centro da imagem com semblante feliz e braços levantados comemorando. A menina está cercada por animais em que ela pode se transformar, todos na cor rosa também. Da esquerda para a direita há uma baleia, cavalo, rinoceronte, rato, raposa, urso, tubarão, passarinho, lontra, peixe, tatu, gato, gorila, dragão, veado e ema.
Nimona é um rinoceronte, um dragão e, só às vezes, uma menina (Foto: Netflix)

(Alerta de gatilho: O texto a seguir contém discussões sobre tópicos sensíveis  abordados no filme, como homofobia, transfobia e ideações suicidas)

Iris Italo Marquezini

“A todas as garotas monstros” é a sensível dedicatória que abre a graphic novel Nimona, vencedora de um Prêmio Eisner em 2016. Essa frase já de cara recepciona e prepara o leitor para o que vai vir: uma história feita para enaltecer pessoas enérgicas que definitivamente não se encaixam. Ao longo dos anos, cada vez mais pessoas foram descobrindo o quadrinho de ND Stevenson e se apaixonando pelo jeito frenético e violento da metamorfa mais pilantra dos últimos anos. A adaptação, lançada pela Netflix, fez a personagem cair no gosto popular de vez e com absoluta razão: é um filme fantástico e mágico em todos os aspectos.

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Do começo ao fim, há vida: a cultura Ballroom do nascimento ao presente

A capa é uma colagem de várias fotos de Mothers, figuras lendárias e muito respeitadas na cena da Ballroom por serem fundadoras de casas que acolhiam outras pessoas. A esquerda, Crystal LaBeija, uma pessoa negra, em um vestido vermelho com acessórios combinando e cabelo castanho volumoso e bem arrumado. Ao lado, em um recorte em preto e branco, está Angie Xtravaganza, com um elegante vestido, desfilando em uma das passarelas da Ballroom. Ao centro acima, uma parte da capa do documentário “Paris is Burning”. Logo abaixo, uma foto de Pepper LaBeija, uma pessoa também negra, em uma ball, com roupas douradas brilhantes e muita elegância. No topo direito está Paris Dupree, uma pessoa branca de cabelos loiros e olhos claros, usando uma boina e roupas pretas brilhantes que, na foto, está em uma pose de Voguing. Abaixo, Willi Ninja, um homem negro e um dos maiores nomes do Voguing de todos os tempos, considerado por muitos como o fundador do estilo amplamente conhecido, que na foto está parado em uma pose até meio contorcionsita, usando um boné azul e uma camisa parcialmente aberta.
Sendo um símbolo de resistência, falar sobre e dar os devidos créditos a Ballroom por suas contribuições é mais do que um resgate histórico: é um ato político (Arte: Aryadne Xavier)

Aryadne Xavier

“Você pensou que eu deitaria e morreria?/Oh não, eu não. Eu vou sobreviver/Enquanto eu souber como amar/Eu sei que permanecerei viva/Eu tenho minha vida toda para viver/Eu tenho meu amor todo para dar e/Eu vou sobreviver, eu vou sobreviver” 

– I Will Survive (Gloria Gaynor)

O ser humano pode não nascer programado para certos comportamentos, mas os aprende tão cedo que pode sentir, em seu íntimo, que as coisas apenas são dessa maneira. O desejo de pertencer, resquício fundamental do desenvolvimento em grupos, é tão latente que se transforma em uma vontade dupla de ser aquilo que é aceitável ou ao menos parecer ser. Lançada ao mundo pela primeira vez há 130 anos, a revista Vogue imprime o que seu próprio nome diz. Registrando e, talvez, ajudando a ditar o que está em alta, a publicação estadunidense foi, por incontáveis vezes, inacessível a uma parcela da população, que podia apenas se projetar nela, como um sonho. 

Tal projeção se via em uma sombra, refletindo aquilo que brilhava, mas o objetivo nunca foi copiar fielmente. Ao imitar as poses das modelos da Vogue em uma espécie de duelo, o grupo que participava das balls se apropriou daqueles movimentos, criando algo único. O Voguing se tornou algo muito além da revista, mesmo que seus nomes ainda possam ser assimilados. Esse ato de reconstruir, verbo que sempre fez parte dessa cultura, foi o que reinventou e revolucionou o que é ser uma pessoa da comunidade LGBTQIA+ em sua época de fundação, trazendo identidade, força e conexão até o presente.

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Qual é o preço do Pedágio?

Cena do filme Pedágio, da diretora Carolina Markowicz. Imagem retangular e colorida. Nela, vemos Suellen, personagem interpretada por Maeve Jinkings, com o ombro escorado na coluna de um pedágio. Suellen é uma mulher branca, de cabelos lisos e olhos castanhos, que usa brincos de argola dourados nas orelhas e veste um colete verde. Ela tem uma feição apreensiva e olha para frente.
Antes de iniciar seu ciclo comercial, Pedágio também teve passagem na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na categoria Mostra Brasil (Foto: Paris Filmes)

Enrico Souto

Vivemos em um país em que os ecos da homofobia, institucionalizada e articulada pelas principais ferramentas de poder, podem afetar até mesmo a relação de uma mãe e um filho na periferia da Baixada Santista. Um discurso que está socialmente arraigado de tal forma, que é capaz de levantar entre eles uma barreira quase intransigível, em nome de uma luta que opera contra seus próprios interesses. Pedágio, filme nacional que chegou aos cinemas em Novembro, assume todas as facetas desse fenômeno, através de uma trama que não poderia irromper de outra forma, que não em um humor tragicamente mordaz. 

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O Essencial de Perigosas Sapatas é uma colher de chá para a solidão lésbica

Capa do livro O Essencial de Perigosas Sapatas. Fundo amarelo na parte superior e fundo rosa mais abaixo. Na parte superior, está o título do livro com “O Essencial de” escrito em preto e “Perigosas Sapatas” escrito em vinho. Abaixo do título, à esquerda, está o escrito “Da autora de Fun Home” na cor preta, e, à direita está escrito o nome da autora “Alison Bechdel” na cor preta. Ao centro, em destaque, aparecem Mo e sua namorada. Mo é uma mulher branca, jovem, tem cabelo curto e castanho, usa óculos redondos, está usando uma blusa listrada em preto e branco e uma calça jeans azul. Ela está com as mãos nos glúteos de sua namorada, que aparece de costas. A namorada de Mo é uma mulher branca, jovem, tem cabelo curto e loiro, usa óculos redondos, está usando uma blusa marrom de gola alta e uma calça branca. Do lado esquerdo da capa, está o escrito “Estrelando” em preto, seguido por 3 círculos, um embaixo do outro. Em cada círculo, há uma ilustração de uma personagem e seu respectivo nome. Na coluna do lado esquerdo, estão as personagens Toni, Harriet e Clarice. Na coluna do lado direito, estão as personagens Lois, Ginger e Sparrow. No canto inferior esquerdo, há a logo da editora Todavia.
O Essencial de Perigosas Sapatas apalpa regiões sensíveis do patriarcado (Foto: Todavia)

Ana Cegatti

Por que estamos lutando por um pedaço de torta se a torta está podre?

 – Alison Bechdel

O desastre de Chernobyl, a guerra Irã-Iraque e o corte mullet foram alguns episódios hediondos que fizeram dos anos 1980 um período inesquecível para o mundo. No entanto, o posto de maior atrocidade da década foi designado à Alison Bechdel, cartunista estadunidense que ousou ganhar as páginas dos jornais com tirinhas sobre uma ameaça maior do que qualquer explosão nuclear: lésbicas. Em uma singela homenagem, a editora Todavia publica uma coletânea, traduzida por Carol Bensimon, das principais histórias da série Perigosas Sapatas, cuja essência está em um grupo de amigas lésbicas praticando atos tenebrosos tais como trabalhar e lavar a louça. No fim, elas são perigosas para quem?

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