Jamily Rigonatto Desde seu surgimento, a humanidade tenta se fazer eterna de alguma maneira. De registros em paredes de cavernas a imagens perfeitamente impressas em papel filme, o objetivo é tentar manter um dos bens imateriais mais importantes vivo: a memória. No longa-metragem A Procura de Martina, exibido na seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, isso é amplificado com uma viagem particular pela lembrança que se universaliza para milhares de outras pessoas.
Estamos em Agosto de 2016. Depois de tanto pegar fogo, as grandes capitais percebem que lutar pela diminuição da tarifa dos circulares deu certo e decidem se engajar politicamente em outros espaços. O movimento amplificado em milhares de vezes chegou ao Congresso Nacional e a atual presidente, Dilma Rousseff, perde seu cargo por meio de um Impeachment feito às pressas e com consideráveis buracos constitucionais. O momento parece estranho, pessoas comemoram ativamente nas ruas e outras se preocupam. Estas, previam um futuro que sacrificaria muitos e, entre Arte e cotidiano, O Palhaço da Cara Limpa remonta uma partícula de pólvora dessa explosão catastrófica.
Com o lançamento de Continente, equipe e elenco falam sobre Cinema de gênero, linguagem e Terror
Davi Marcelgo
As terras gaúchas se transformaram em palco para sangue e suor no Halloween de 2024 com Continente, terceiro longa-metragem de Davi Pretto, vencedor do prêmio de Melhor Direção na Competição Novos Rumos do Festival do Rio 2024. O filme confronta as raízes do Brasil colonial com toques de vampirismo e com as influências de Glauber Rocha e Jacques Tourneur no DNA, este por quem Pretto diz ter uma “grande fixação, principalmente [por] Cat People e I Walked with a Zombie, que são dois filmes que eu acho absolutamente geniais”.
O que faz um artista ser reconhecido como transgressor? Caso seu pensamento tenha sido direcionado a elementos como roupas, maquiagens e outros compositores estéticos, repense todas as suas certezas, pois Sem Vergonha te mostra que o segredo está na alma livre. Estrelado por Maria Alcina, o musical biográfico fez parte da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Mostra Brasil, e, como a artista que o protagoniza, estabeleceu que limites não são uma opção válida. Afinal, se não for para ultrapassar as barreiras, de que vale fazer qualquer coisa nessa vida?
Imagine a sua adolescência, todos os mil sentimentos juntos e bagunçados, desde ‘Será que eu sou bonito?’ ou ‘Será que ela gosta de mim?’, até os comentários e palpites sobre aquela pessoa que está ‘ficando’ com quem você gosta. O início da vida adulta, junto ao amadurecimento e as descobertas sobre si mesmo, não são períodos fáceis. É nessa fase que muitas pessoas passam a experimentar coisas novas, como alguma aventura com amigos ou ser rebelde em casa. Para Leonardo (Ghilherme Lobo) – protagonista do premiado curta-metragem Eu Não Quero Voltar Sozinho, que, com seus infames 17 minutos de duração, encantou muita gente –, essa realidade nunca foi fácil.
Léo é um adolescente cego que descobre a sua sexualidade com a chegada de um novo aluno no colégio. Quatro anos depois, em 2014, o longa-metragem Hoje Eu Quero Voltar Sozinho foi lançado ao mundo por Daniel Ribeiro, diretor de ambas as obras. Sem perder a leveza da primeira obra, o filme pôde aumentar sua riqueza de detalhes, dando mais foco às personagens e suas particularidades. Ribeiro traz mais discussões referentes ao dia a dia do personagem para a trama, tornando-a muito mais do que apenas um filme com temática LGBTQIA+.
Vivemos em um país em que os ecos da homofobia, institucionalizada e articulada pelas principais ferramentas de poder, podem afetar até mesmo a relação de uma mãe e um filho na periferia da Baixada Santista. Um discurso que está socialmente arraigado de tal forma, que é capaz de levantar entre eles uma barreira quase intransigível, em nome de uma luta que opera contra seus próprios interesses. Pedágio, filme nacional que chegou aos cinemas em Novembro, assume todas as facetas desse fenômeno, através de uma trama que não poderia irromper de outra forma, que não em um humor tragicamente mordaz.
Viajamos, todos os dias, do passado ao futuro. Seja por meio de memórias, lembranças, fatos históricos ou até mesmo dentro de nossos planejamentos; desaparecemos em uma inércia pendular difícil de desvencilhar – nunca vivemos propriamente no presente. No entanto, a atriz brasileira Stella Rabello consegue parar por alguns momentos em algumas dessas duas realidades para ir em uma jornada que ultrapassa as fronteiras de nosso país, esbarrando em uma história sangrenta que, infelizmente, também nos pertence. Em Ana. Sem Título (2020), longa que integrou a Mostra Cinema é Direito do Persona no Sesc Bauru, a cineasta Lúcia Murat nos transporta para o passado latino-americano marcado pela ditadura militar, atrás, apenas, de uma resposta: onde está Ana?
Em 25 de Agosto de 1987, morreu Pixote. Fernando Ramos da Silva tinha 19 anos, era casado e pai de uma filha pequena quando foi morto por policiais militares, após ter supostamente assaltado uma empresa em Piraporinha, na região de São Bernardo do Campo. A família viveu para contestar a versão dos agentes, que foram apenas demitidos, mas nunca condenados.
Anos antes, em 26 de Setembro de 1980, Fernando estava alcançando fama e reconhecimento pelo seu desempenho no papel que dá título a Pixote, a Lei do Mais fraco, de Hector Babenco (Carandiru, 2003). O longa, que abriu a Mostra Cinema é Direito do Persona em parceria com o Sesc Bauru na quinta-feira, dia 2 de Março, não poderia ter se misturado à realidade de forma mais trágica, pois o que aconteceu com o intérprete de seu protagonista pouco se difere do descaso do Estado com a vulnerabilidade social denunciada pelos realizadores.
Para marcar a data em um ano tão simbólico como 2022, o Persona se juntou à ACI Faac para homenagear as mulheres que fizeram, fazem e farão a História do Cinema brasileiro.
Em um Brasil que ainda vende suas salas de cinema para blockbusters estadunidenses e faz de tudo menos proteger seu próprio Cinema – e seus próprios cineastas -, os artistas sempre impuseram resistência. A situação das mulheres na Sétima Arte ao redor do mundo, porém, não destoa tanto do que vemos hoje: a invisibilidade ainda as condena ao esquecimento e ao segundo lugar de profissionais homens – que cá entre nós, também não estão em um lugar muito melhor por aqui. Mas parando para pensar… de cabeça, quantas diretoras mulheres você consegue citar? No Dia do Cinema Brasileiro, tomamos esse momento para refletirmos: quem são as cineastas que construíram e continuam construindo a trajetória do Cinema no país?
Em um Brasil distópico, mas não muito distante da presente realidade, resgatar as origens deixa de ser uma opção e passa a ser uma lei. É diante desse bizarro cenário que Medida Provisória, primeiro longa dirigido por Lázaro Ramos, se desenvolve e quebra recordes de bilheteria nacional. O filme trata de uma tragicomédia, que aborda o que há de pior em nosso jeitinho brasileiro de mascarar problemas profundos dos porões racistas e cordiais, nos quais Gilberto Freyre de maneira dualista e polêmica tanto criticou em Casa Grande e Senzala.