Vitor Evangelista
Como é bom encontrar narrativas que fogem do senso comum em discussões quase que banalizadas pela modernidade. Suor, segundo filme do sueco Magnus von Horn, desvia de todos os clichês da vida dos influenciadores digitais, entregando um relato bruto e honesto sobre a frieza e o desalento da Sylwia, uma blogueira fitness do Instagram. O longa foi exibido na Competição Novos Diretores, da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
A dinâmica acalorada da rotina profissional de Sylwia não é harmoniosa com os outros campos de sua vida. Ela dá entrevistas, passa um tempão na academia, grava stories e recebe mimos, mas não consegue silenciar a solidão que a assola. Interpretada com o brilhantismo de Magdalena Koleśnik, a personagem é apaixonada pela fama e pela atenção, mesmo que quebre seu emocional, rachadura por rachadura.
O que fisga a atenção logo de cara é a maneira quase paranoica com que Suor (Sweat) não dá o mínimo de privacidade à sua protagonista loira padrão. A câmera de Michał Dymek só parece conhecer as funções de close-up e super zoom, com ângulos não convencionais e sempre se movimentando rente à mulher, fungando em seu cangote.
Fator esse que contrapõe com a dinâmica da edição do filme. Departamento assinado por Agnieszka Glińska, a montagem de Suor sutilmente antagoniza os momentos da vida corriqueira de Sylwia. As cenas mais íntimas, como levar o cão Jackson para passear, são construídas com cortes rápidos e ligeiros. Suor é um filme ansioso. A sequência no aniversário da mãe dá claustrofobia no espectador, enfiado num ambiente apertado, onde todos esbarram nos móveis e se apertam para sentar à mesa.
A privacidade de Sylwia é palco de diversos sentimentos negativos, ela se sente insegura, infeliz e incompleta. A saída disso é se intoxicar com a fama e a atenção. O roteiro do diretor von Horn sabe quais as intenções de sua protagonista, e não a constrói como indefesa ou fragilizada. Ela é sim atormentada por cobranças sentimentais e psicológicas, mas essa vida de blogueira não é uma obrigação ou penitência, ela está ali porque quer.
E Suor não é um filme sobre fugir das dores, ou sobre encontrar soluções fáceis como apagar a conta do Insta em um clique, muito pelo contrário. A ausência e abandono não são contados por frase de efeito ou choro no travesseiro, Sylwia sofre com mundanidades, sozinha quando quase não consegue fechar o zíper nas costas do vestido. São vislumbres quase imperceptíveis que gritam.
Contando com a atuação mais visceral do ano, na conta da protagonista Magdalena Koleśnik, essa coprodução entre Polônia e Suécia mergulha sem boias na piscina da modernidade líquida. Ainda bem que Magnus von Horn sabe escrever e dirigir Suor longe do piloto automático ou da pobreza narrativa que séries como Black Mirror adoram chamar de genialidade.