Melhores discos de Maio/2018

Egberto Santana Nunes, Gabriel Leite Ferreira e Leonardo Santana

Isso é uma cilada, Bino! O mês de maio não foi dos mais empolgantes. Apesar do barulho feito pela trupe de Alex Turner e da mais nova rivalidade do rap, o holofote ficou para a preocupante doideira em que o Brasil se encontra. Pra acalmar a alma, o Persona vem com o pouco que deu pra enxugar dentre os últimos lançamento do mundo da música. PS.: ouçam Daddy Yankee.

Amber Mark – Conexão EP

R&B, soul

Dançando com a tristeza. É esse o mood instaurado nos 17 minutos do segundo registro da americana, que tem bagagem multicultural e voz de sobra. Aqui, bossa nova, soul e dancehall dão as mãos numa cantiga mais do que bem-vinda, dando vazão a uma artista que soa madura apesar da carreira ainda curta. Ao fundo, as narrativas são de amor e perda.

Interessante como a evocação emocional de Amber se esgueira sutilmente, mas é violenta em seu ápice. O cover de “Love Is Stronger Than Pride”, do clássico grupo Sade, não deixa mentir. (LS)


Bali Baby – Baylor Swift

rap

Em entrevista recente para uma revista americana, a rapper de Atlanta afirmou que se inspira bem mais no pop rock radiofônico que ouviu durante a adolescência, passando longe do hip hop. E seu mais recente projeto é prova disso. Do timbre debochado à produção dançante, tudo grita os anos 2000 — com destaque para o movimento pop punk e Meninas Malvadas.

Mas não se engane: Baylor Swift é hip hop  pra caramba. O flow de Bali Baby é rápido e grudento, contribuindo com a persona flamboyante que ela assume. Adicione a isso uma dose de estranheza (comum a outras jovens artistas como Princess Nokia e Charli XCX) e temos um dos nomes mais promissores da cena. (LS)


Elza – Deus É Mulher

mpb, vanguarda paulista

Dois anos após o clássico moderno A Mulher do Fim do Mundo, a cantora do milênio segundo a BBC retorna certeira em Deus É Mulher. De cara, não há grandes diferenças em relação ao álbum de 2015: o núcleo de instrumentistas é o mesmo, bem como o produtor. A principal distinção se dá pelas letras mais descontraídas e pela predominância de sintetizadores.

“Banho”, o primeiro single, é um bom exemplo. A composição de Tulipa Ruiz versa sobre o sexo feminino de maneira sutil (“Quando tá seco, logo umedeço / Eu não obedeço porque sou molhada”) e tem como acompanhamento uma batida eletrônica angular, cortesia de Kiko Dinucci. Em “Eu Quero Comer Você”, o cavaquinho e os metais remetem ao Metá Metá, grupo de Kiko e influência primordial dessa nova fase da carreira de Elza.

O foco aqui é celebrar o feminino – o que não impossibilita críticas contundentes à mídia (“Hienas na TV”) e à escola (“Exu nas Escolas”), mas, ainda assim, a angústia e urgência de A Mulher no Fim do Mundo não marcam presença. Em vez disso, esperança: “Deus há de querer / Que tudo vá para melhor”, canta Elza na derradeira “Deus Há de Ser”. Amém. (GF)


Iceage – Beyondless

pós-punk blueseiro

Quarto álbum do grupo dinamarquês, Beyondless mescla a repetição etérea do pós-punk oitentista com vocais lânguidos, cortesia do guitarrista e principal compositor Elias Bender Rønnenfelt. Os ocasionais instrumentos de sopro aumentam a vibe boêmia do registro que, se não é dos mais originais, é um dos discos de rock mais divertidos dos últimos tempos.

Destaque para “Hurrah”, “Pain Killer” (com participação de Sky Ferreira), “The Day That Music Dies” e “Catch It”. (GF)


Pusha T – Daytona

rap

Finalmente, a espera acabou. Depois de tweets, especulações e “vazamentos”, o retorno Kanye West à produção musical teve seus resultados divulgados no lançamento de Daytona, quarto álbum de Pusha T, inteiramente produzido por Ye.

Kanye continua impecável: suas clássicas inserções de vocais de soul e jazz dos anos 80 nos beats encaixam muito bem com o flow de King Pusha. Em meio ao mumble rap de ostentação que tomou conta do gênero nos últimos anos, o ex-traficante de cocaína continua trazendo nas letras seu passado, sempre exaltando seu sucesso no ramo e o comparando com seu nome no topo da indústria musical hoje em dia.

Mas o destaque e surpresas vão para as duas últimas faixas, “What Would Meek Do?” e “Infrared”. A segunda coloca mais um capítulo na treta entre Pusha e Drake, que fez o rapper de Toronto lançar uma diss e ainda receber uma tréplica polêmica. Já a única faixa com Ye rimando tem ele respondendo todo o debate causado por sua volta ao Twitter, com direito a ironia com a prévia lançada do seu futuro álbum, o que só aumenta as expectativas. (ES)


Silva – Brasileiro

mpb, pop

O Brasil de Silva é escapista. É rosa e calmo. Viajando por referências típicas da nossa música — do samba de Clara Nunes à bossa nova, acenando ainda para a tropicália —, o compositor capixaba tece sua ideia pop e aconchegante da identidade brasileira.

Mas o som nunca fica novelesco demais, ainda que o foco aqui esteja em confissões pessoais e românticas. Isso graças a interferências eletrônicas pontuais, elementos que enfatizaram Silva na cena em 2012. Destaque para “Prova dos Nove”, que parece relembrar as parcerias entre Luiz Melodia e Gal Costa. (LS)

Deixe uma resposta