¡Ai, mami! Há 5 anos, Kali Uchis mostrou que un album como Isolation no lo encuentras en Europa

Foto da Cantora Kali Uchis. Uma mulher américo-colombiana que está vestindo lingeries vermelhas e jóias de ouro. Ela está deitada em lençóis azuis cintilantes e segurando sua cabeça enquanto olha para sua frente. Seu cabelo é longo e escuro. Em seus olhos marcados está uma sombra vermelha na cor de sua lingerie e seus lábios são marcados por um batom rosa. Sua pele é clara e bem iluminada.
Kali Uchis começou a fazer música no banco de trás de um Subaru Forester depois de ter sido expulsa de casa aos 17 anos (Foto: Universal Music)

Henrique Marinhos 

Em seu álbum de estreia, Isolation, lançado em 2018 pela Universal Music, a talentosa Kali Uchis se consolidou como uma das vozes mais interessantes e inovadoras do pop alternativo. Apesar da colaboração com artistas renomados, como Thundercat, Damon Albarn, Kevin Parker, Steve Lacy e Badbadnotgood, Uchis manteve sua identidade e brilho em destaque, recebendo elogios da crítica e do público. Não por menos, o trabalho foi indicado ao Grammy de Melhor Álbum de Música Alternativa em 2019 e certificado como ouro pela Recording Industry Association of America em 2020.

A ascendência de Uchis é uma das características mais marcantes em suas músicas. Ela nasceu nos Estados Unidos, mas é filha de imigrantes colombianos. Crescendo entre os dois países, suas inspirações se baseiam majoritariamente nas raízes latinas. Alternando entre o inglês e o espanhol, a cantora explora diferentes ritmos e influências musicais como o reggaetón, a cumbia e a salsa e, através de latinidades sensuais e apaixonadas, cria em Isolation um universo próprio onde pode viver seu amor sem interferências ou julgamentos.

Foto da Cantora Kali Uchis. Uma mulher américo-colombiana que está vestindo uma jaqueta rosa e um vestido quadriculado rosa-branco. Ela usa um cinto cintilante dourado com pingentes de estrelas, luas e corações. Seguindo seu brinco e pulseira do mesmo material. A cantora está sentada e seu braço direito alcança seu queijo com unhas longas. Seus cabelos são escuros na altura do busto e encaracolados. Ela usa um chapéu felpudo branco e ao fundo uma cor roxa sólida.
Uchis já é Grammy winner pela música 10%, composição conjunta com Kaytranada (Foto: Playboy)

Celebrando seus cinco anos de existência, a obra apresenta uma estética que mistura o vintage com o moderno e evoca a nostalgia e o romantismo de artistas à la Lana Del Rey e Amy Winehouse. A cantora também aborda questões sociais e políticas nas letras, como a exploração dos imigrantes e a luta pela igualdade e justiça. Em Isolation, Kali Uchis demonstra sua versatilidade e habilidade para transitar entre diferentes gêneros musicais, criando um som coeso e envolvente desde Body Language (Intro), que abre o álbum com uma atmosfera sensual e misteriosa, até Killer, que o encerra com um gosto de quero mais.

A faixa de abertura foi produzida por Thundercat e tem influências de funk e jazz. Ela serve magistralmente como uma introdução para o universo sonoro e temático do disco, explorando as diferentes formas de comunicação entre as pessoas através da linguagem corporal, verbal ou telepática – seu próximo álbum, Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞, que o diga. O debut é constituído por letras inteligentes e reflexivas ao abordar questões pessoais e universais, mas, sobretudo, sua visão de mundo como uma mulher latina no país mais explorador e racista da América do Norte. 

Foto da Cantora Kali Uchis. Uma mulher américo-colombiana que está em um mercado, vestindo calça e uma camiseta amarelas enquanto segura o carrinho em frente uma prateleira com vários produtos diferenciados. Seu cabelo é ondulado e volumoso e a foto apresenta um filtro vintage com cores saturadas e esmaecidas. Ela está à direita da imagem voltada para a esquerda em frente a prateleira. A imagem abrange a altura de sua cintura à sua cabeça.
A colaboração com Tyler The Creator é um sucesso recíproco para Uchis, com After The Storm (de Isolation) e See You Again (de Flower Boy) (Foto: Universal Music)

De modo geral, a artista aborda temas muito íntimos: a vida de imigrantes e o amor como forma de dominação e submissão, em colaboração com BIA e Jorja Smith, respectivamente nas faixas Miami e Tyrant. A primeira é uma de suas composições mais famosas, na qual recebemos uma crítica à sociedade estadunidense que valoriza o dinheiro e o status acima de tudo, marginalizando e explorando os imigrantes. A música também é um retrato dessas mulheres em busca por uma vida melhor nos Estados Unidos, em contrapartida à violência, ao preconceito e à solidão.

Sem esforço, a musicalidade de Uchis é uma expressão de sua personalidade e experiências de vida, com sua voz sendo um instrumento de contar histórias e transmitir emoções de maneira orgânica. A artista incorpora a paixão e a expressividade do espanhol com maestria, o que consequentemente resulta em uma obra que é ao mesmo tempo pessoal e universal, sabendo se conectar com seu público e criando uma experiência única. 

Em Just a Stranger, com Steve Lacy, encontramos um relacionamento superficial com um homem que só quer usá-la, em uma sátira ao estilo de vida materialista e vazio dos ricos e famosos, que se aproveitam das pessoas mais pobres e vulneráveis. A faixa também é uma forma de Kali Uchis afirmar sua independência e autoestima, dizendo que ela não precisa do dinheiro ou da atenção desse homem, pois ela sabe o seu valor. 

Seu desejo de fugir com seu amante para um lugar paradisíaco é contagiante. A cantora expressa uma fantasia romântica ao escapar da realidade cruel e encontrar a felicidade. A faixa Flight 22 é, principalmente, sobre se envolver em um relacionamento e não se importar onde isso vai acabar, se permitir fazer isso sendo quem é. O final sombrio, em alusão ao Boeing 727, para os passageiros do voo 22 é usado como uma metáfora para o destino do romance, sobre o qual ela insinua ao final: Pelo menos eu estou indo para baixo com você / Nossa bagagem pode estar muito cheia no voo 22”.

É impressionante o que a cantora realizou em seu álbum de estreia: a qualidade e originalidade se juntam às reivindicações pelo direito de ser dona de sua própria arte, e ela é vitoriosa em não se submeter aos interesses alheios ou precisar de eras para fazê-lo. Sem medo de expor suas vulnerabilidades e conflitos, há 5 anos Kali Uchis falou sobre amor, mas não de uma forma clichê ou romântica. 

Em Isolation, ela explorou as diferentes facetas e as consequências do sentimento, dualista entre a liberdade ou opressão, doce ou amargo, sonhador ou realista, fiel ou traiçoeiro. Mas, sobretudo, pontua o amor-próprio, essencial para se sentir bem consigo mesmo e com os outros. Ouvir o disco é um convite ao seu mundo, isolado e conectado, triste e alegre, simples e complexo.

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