Maju Rosa
“Pesquise no Google: como dar à luz?”. É assim que somos apresentados ao caótico episódio piloto da série teen do HBO Max, Genera+ion (escrita dessa forma mesmo). Lançado em março de 2021 (e em junho, no Brasil), é uma aposta para captar o público jovem LGBTQIA+, e levá-lo para a fase que todos passamos em algum momento: os dramas adolescentes sobre dificuldades adolescentes – e que apenas os adolescentes entendem. E apesar de ter conquistado um espectador que se identificou com a história de Chester, interpretado por Justice Smith (também protagonista de Detetive Pikachu e The Get Down), e seus novos amigos, a produção não foi renovada pelo streaming.
Assim como Katy Perry em 2008 e sua animação em ter beijado uma garota pela primeira vez, a ansiedade para a primeira relação, o entendimento da própria sexualidade e gravidez na adolescência são descobertas abordadas na série do HBO Max. A princípio, a fórmula de Genera+ion pode ser comparada à Sex Education (2019), da gigante Netflix. Porém, apesar das semelhanças, as duas tramas não chegam a ser concorrentes diretas. O ritmo e tom adotados nas narrativas possuem grandes diferenças quando analisadas. Enquanto encontramos uma tendência pacata e caricata na britânica, a estadunidense traz ao espectador uma visão mais real do que é ser jovem e enfrentar suas barreiras pessoais.
O elenco de Genera+ion não possui muitos nomes de peso, mas marca presença como tal. Apresentando como protagonistas um grupo de colegas que se conhece no Ensino Médio, a história mostra a importância de entender eventos a partir de outros pontos de vista. Apesar de confusa nas primeiras vezes, a técnica de repetir a mesma cena de diferentes ângulos, sob a perspectiva de vários personagens durante o episódio, se tornou uma forma de permitir o público digerir o que está acontecendo, sem precisar pausar e voltar alguns segundos.
A valorização da individualidade não se apresenta apenas na técnica dos pontos de vista: a pluralidade de vivências é um dos detalhes que mais enriquecem a trama, criando laços com o público, comoventes o bastante para conquistar torcidas e garantir o sucesso de todos os personagens. É perceptível o impacto positivo que essa abordagem traz para a trama. O roteiro provou ser fácil aproximar a ficção da realidade quando é apresentado para o espectador o passado de um personagem e sua evolução, tornando-o mais complexo e representativo.
Acompanhar os processos de cada um estabelece uma conexão direta com muitos jovens, que estão passando (ou já passaram) pelas mesmas situações. Um dos exemplos mais reais de Genera+ion é a contraposição entre o conservadorismo e o liberalismo, vista principalmente na relação entre Nathan (Uly Schlesinger), que atravessa a temporada entendendo melhor sua bissexualidade, e a mãe Megan (Martha Plimpton), extremamente religiosa e que demora alguns episódios para compreender o filho.
A série conta com uma temporada única de 16 episódios e é um retrato claro da Geração Z. Muitas discussões, que há poucos anos eram tratadas com certo receio, são apresentadas de forma natural, permitindo o espectador acreditar se tratar de uma cópia da realidade, e não apenas um conjunto de gravações roteirizadas. Além do discurso atualizado, a diversidade refletida nos diálogos não se limita a uma temática única.
A representatividade étnica e sexual é priorizada em todos os âmbitos de Genera+ion, garantindo que o público se identifique com traços e discussões do núcleo principal da história. Um palpite para a abordagem natural da contemporaneidade na produção está relacionado à mente por trás das câmeras: Zelda Barnz, a jovem de 19 anos que idealizou a série aos 15, idade propícia o bastante para se estar inserido nos assuntos que a trama traz.
Apesar de não ter defeitos aparentes, além dos rápidos 30 minutos de duração por episódio, as narrativas de Chester, Arianna (Nathanya Alexander), Naomi (Chloe East), Delilah (Lukita Maxwell), Greta, Nathan, e Riley não parecem ter dado o lucro esperado para a plataforma. Em setembro de 2021, foi anunciado que o HBO Max não seguiria a parceria com os criadores da série, frustrando muitos fãs que estavam ansiosos para agarrar o gancho do último episódio (inclusive a autora desse texto). Aparentemente a fluidez não rendeu, principalmente quando comparada ao reboot de Gossip Girl. Apesar dos 12 episódios extremamente cíclicos, que sempre redirecionam o espectador para certa lição de moral implícita, já possui 2ª temporada confirmada.
Genera+ion permite que seus personagens errem e se reergam, sempre firmados no entendimento de seus próprios sentimentos e reações aos golpes da adolescência. A série se mostrou um respiro em meio às narrativas adolescentes irreais, com seus elencos de 30 anos vestidos com uniformes escolares hiperssexualizados, que não cabem mais ao contexto atual. E mais do que tudo, é um prato cheio de representatividade para os jovens LGBTQIA+ passando por essa fase conturbada. Ou ainda aos mais velhos, que desejavam produções como essa durante a adolescência, e agora podem ver uma representação de jovens queer, retratados como pessoas aproveitando e conhecendo a vida, e não mais da forma problemática veiculada pela mídia até poucos anos atrás.