40 anos sem Cartola: deixe-me ir, preciso andar

Cartola em desfile pela Mangueira, 1978 (Foto: Aníbal Philot)

Caroline Campos

Ainda era cedo, amor, quando, em 30 de novembro de 1980, nos deixava Angenor de Oliveira, o nosso Cartola. Com apenas 72 anos, a maior referência do samba brasileiro e fundador da Estação Primeira de Mangueira perdeu a batalha contra o câncer, deixando apenas quatro discos-solo e um legado repleto de poesia. “Cartola não existiu. Cartola foi um sonho bom que a gente teve”, reflete Nelson Sargento, parceiro musical do cantor. E, mesmo 40 anos depois do seu falecimento, o sonho ainda vive fresco na memória da Música Popular Brasileira, como se nunca tivéssemos acordado.

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As expectativas e o amor em Tenki no Ko

O pôster do filme, com Hodaka e Hina, da esquerda para a direita (Foto: Reprodução)

Flora Vieira

Eu tenho uma ligação bem forte com Your Name, de 2016. Nele, Makoto Shinkai constrói um romance bastante convincente ao mesmo tempo que explora as diferenças entre o Japão antigo e o Japão moderno, resgatando a mitologia japonesa, que se envolve com o clichê da troca de corpos. Em Tenki no Ko ou Weathering With You (2019), seu mais novo trabalho, Shinkai retorna seus olhos para a dicotomia entre tradição e modernidade, dialogando ainda mais com os mitos que rondam o país, ao mesmo tempo que discute sobre aquecimento global e procura retratar uma Tóquio tão deslumbrante quanto a de Your Name, mas mais escura e melancólica.

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5 anos de 25 e da jornada interna de Adele

Capa de 25, o terceiro álbum da cantora inglesa Adele Laurie Blue Adkins (Foto: XL Recordings)

Vinícius Santos

“Hello. How Are You?” – ok, é um tremendo clichê, você está certo. Porém, um texto que fale sobre a era 25 de Adele não poderia começar de outro jeito. Considerado um dos álbuns mais aguardados do ano de 2015, 25 completa, nesse novembro de 2020, cinco anos. Data que poderia não ser comemorada, pois, constantemente, a cantora pensa em interromper sua carreira na indústria musical. Bem, todos nós temos delírios, e com Adele não poderia ser diferente. 

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Drag Race Holland é um teste para cardíaco

Na foto vemos quatro drag queens. Da esquerda para a direita: Miss Abby OMG está toda de preto, com um espartilho roxo, Ma'ma Queen usa uma roupa azul e verde, com plumas e asas que lembram o carnaval, seu cabelo é azul claro e ela tem um adereço na cabeça, Envy Peru está de preto com uma grande pluma na cabeça e Janey Jacké veste vermelho, um maiô com meia calça e asas de anjo no mesmo tom de vermelho.
Além do título e da Coroa, a vencedora de Drag Race Holland levou para casa um vestido horroroso, mas avaliado em milhares de euros (Foto: Reprodução)

Vitor Evangelista

Pela primeira vez em 2020, Drag Race premiou quem mereceu a Coroa desde o dia um. Não contestando as brilhantes vitórias de Jaida Essence Hall e Shea Couleé, nem mesmo a coroação de Priyanka, mas o que mudou em Drag Race Holland foi o favoritismo avassalador que a estonteante e belíssima Envy Peru exerceu na órbita de suas concorrentes. A drag queen latina clamou para si o título de Primeira Super Estrela Drag da Holanda, numa temporada com mais altos do que baixos, e que definitivamente colocou o público numa montanha-russa emocional.

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We Are Who We Are, por mais doloroso que seja

Na foto vemos dois jovens numa rua da Itália. Caitlin é uma menina negra, de 14 anos e cabelos raspados. Ela usa uma calça jeans escura e larga, um moletom cinza e uma jaqueta bege por cima. Fraser é um menino branco de 14 anos, ele tem o cabelo descolorido loiro e usa só roupas pretas. Eles se olham, e estão alguns passos distantes.
We Are Who We Are se passa na Itália no período da disputa eleitoral estadunidense entre Donald Trump e Hillary Clinton (Foto: HBO)

Vitor Evangelista

Para alguém que sempre odiou a própria expressão de gênero e a maneira com que se comporta, assistir We Are Who We Are foi um alívio. Quase um fardo sendo descarregado, eu respirava aliviado pelo menos uma hora na semana, momento em que os longos episódios da criação de Luca Guadagnino tomavam parte. Junto dos jovens habitantes de uma base militar italiana, revisitei o Ensino Médio, os julgamentos e as cobranças da adolescência e os corações partidos. Acima de tudo, enxerguei em Fraser (Jack Dylan Grazer) um espelho do que sempre quis ser, ou melhor, assistir.

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Isso Não É um Enterro, É uma Ressurreição: a marcha dos mortos e dos vivos

A beleza da cinematografia do longa que estreia no Brasil pela 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos

O luto é uma figura de muitas faces. Talvez exista um limite para o número de pessoas amadas que podemos perder sem passarmos a excomungar toda e qualquer força superior que rege a ordem natural da vida. Quando conhecemos Mantoa, protagonista de Isso Não É um Enterro, É uma Ressurreição, passamos a duvidar, junto com ela, da benevolência do Deus-Todo-Poderoso. Exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, a obra do diretor lesotiano Lemohang Jeremiah Mosese é um retrato duro e belo do clamor pela morte em harmonia com o direito à vida. 

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Na verdade, Casa de Antiguidades é um abatedouro

Depois de ‘passar’ por Cannes, o filme estreou em território nacional na 44ª Mostra Internacional de SP (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos e Vitor Evangelista

O burburinho que cercou Casa de Antiguidades não veio de graça. Considerando que temas como regionalismo e horror de mal estar estão em voga desde a explosão de Bacurau, em 2019, quaisquer obras que resvalem nesse espectro sem dúvidas chamariam atenção do público brasileiro. Parte da Seleção Oficial de Cannes 2020 e exibido com exclusividade na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o primeiro longa de João Paulo Miranda Maria se mune de um misticismo tupiniquim para desconstruir e metamorfosear a vida e a humanidade de Cristovam, um homem abandonado pelo tempo e rejeitado pela comunidade em que habita.

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Pai tem gosto de revolta

Nikola na sua caminhada presente na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos

Existem filmes que deixam um sabor amargo na boca. Pai, do diretor sérvio Srdan Golubović, com certeza se encaixa nessa categoria. Coproduzido por seis países – Sérvia, França, Alemanha, Eslovênia, Croácia e Bósnia-Herzegovina -, o longa cria uma trama complexa e contida que trabalha um único personagem a partir de sua realidade brutal. Exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, dentro da seção Perspectiva Internacional, há momentos que é quase impossível conter a raiva e os gritos diante de tanta dor e injustiça que Golubović imprime em tela. 

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Uivos São Ouvidos traz uma escalada constante

Fabi com seus olhos marcados na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos

É inevitável assistir a Uivos São Ouvidos, do diretor Julio Hernández Cordón, e não lembrar, mesmo que vagamente, de A Ghost Story. No entanto, enquanto o fantasma de Casey Affleck apenas observa impotente a vida ao seu redor, a figura do pai de Fabi, vestido em um lençol e com uma máscara bizarra que sussurra em seu ouvido, participa ativamente do filme todo. Exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e disponível gratuitamente no Sesc Digital, o longa mexicano é um curioso e estranho retrato dos dias de uma garota apaixonada pela bicicleta e pela liberdade.

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Desmistificando La Planta

O documentário de Beto Brant emplacou na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Vitor Tenca

A cannabis faz parte da história humana por milhares de anos e tem tremendas propriedades além de sua mera utilização recreacional. Seu papel central para a compreensão do sistema endocanabinóide e sua relação especial com o sistema químico corpóreo a torna única, e ainda há muito a se descobrir. O que você sabe sobre cannabis? É com essa pergunta que o documentário La Planta, exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, vem nos instigar de uma forma sensível, informativa e, o mais importante, afirmativa. 

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