A Procura de Martina busca a memória coletiva

 Cena do filme A Procura de Martina. Na imagem, está Martina, uma mulher branca de cabelos castanhos curtos. Ela tem mais de 60 anos e aparenta marcas de expressão no canto dos olhos e no entorno da boca. Usa um óculos dourado com um cordão também dourado e veste um casaco de frio bege de lona sintética. Ela está em frente a uma foto em preto e branco.
Pertencente à seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, A Procura de Martina faz um manifesto (Foto: Bretz Filmes)

Jamily Rigonatto

Desde seu surgimento, a humanidade tenta se fazer eterna de alguma maneira. De registros em paredes de cavernas a imagens perfeitamente impressas em papel filme, o objetivo é tentar manter um dos bens imateriais mais importantes vivo: a memória. No longa-metragem A Procura de Martina, exibido na seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, isso é amplificado com uma viagem particular pela lembrança que se universaliza para milhares de outras pessoas.

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Continente e sua perturbadora sede de sangue

Cena do filme Continente. Na imagem vemos o rosto de Amanda coberto de sangue. Amanda, mulher branca com olhos e cabelos castanhos, encontra-se boquiaberta e com muito sangue ao redor de sua boca. Ao fundo da foto está escuro.
Davi Pretto recebeu o prêmio de Melhor Direção na categoria Novos Rumos do Festival do Rio 2024 (Foto: Vitrine Filmes)

Vitória Borges

Exibida nos prestigiados Festival Internacional de Cinema de Munich e Festival do Rio, a produção brasileira Continente faz parte da seção Mostra Brasil na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O longa, que acompanha a história de um simples vilarejo nas planícies do Sul do país, mostra uma narrativa muito distópica que aborda o colonialismo, misturando drama com horror. 

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Às vezes, nós não Precisamos Falar…

Cena do filme Precisamos Falar. Na imagem vemos Sandra e Paulo pensando em algo. Sandra, mulher branca com cabelos castanhos, veste um top azul e corta-vento cinza, seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo. Celso, homem branco com barba e cabelos grisalhos, veste uma camisa de botão listrada branca e vinho. Ao fundo dos dois é possível ver uma geladeira.
Precisamos Falar aborda negacionismo e narcisismo (Foto: Conspiração Filmes)

Vitória Borges

Nenhuma visão de mundo é igual. É isso que a produção brasileira Precisamos Falar mostra. O longa, exibido na seção Mostra Brasil da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, aborda os limites da moralidade e acompanha as turbulências no relacionamento intrafamiliar de duas famílias do Rio de Janeiro. Inspirado no livro O Jantar, de Herman Koch, o filme mostra a reflexão sobre até onde os pais vão para proteger seus filhos.

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Qual é o preço do Pedágio?

Cena do filme Pedágio, da diretora Carolina Markowicz. Imagem retangular e colorida. Nela, vemos Suellen, personagem interpretada por Maeve Jinkings, com o ombro escorado na coluna de um pedágio. Suellen é uma mulher branca, de cabelos lisos e olhos castanhos, que usa brincos de argola dourados nas orelhas e veste um colete verde. Ela tem uma feição apreensiva e olha para frente.
Antes de iniciar seu ciclo comercial, Pedágio também teve passagem na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na categoria Mostra Brasil (Foto: Paris Filmes)

Enrico Souto

Vivemos em um país em que os ecos da homofobia, institucionalizada e articulada pelas principais ferramentas de poder, podem afetar até mesmo a relação de uma mãe e um filho na periferia da Baixada Santista. Um discurso que está socialmente arraigado de tal forma, que é capaz de levantar entre eles uma barreira quase intransigível, em nome de uma luta que opera contra seus próprios interesses. Pedágio, filme nacional que chegou aos cinemas em Novembro, assume todas as facetas desse fenômeno, através de uma trama que não poderia irromper de outra forma, que não em um humor tragicamente mordaz. 

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Mussum, o Filmis: o samba e o humor brasileiro agradecem

Maior estreia nacional em 2023, Mussum, o Filmis integrou a programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Downtown Filmes)

Vitória Gomez

Mussum, o Filmis chegou às telas em uma safra fértil para as personalidades brasileiras: alguns meses depois de Nosso Sonho, junto do documentário Elis e Tom, Só Tinha de Ser com Você e Meu Nome é Gal, e pouco antes de Meu Sangue Ferve por Você. Haja cultura e diversidade em um ano em que, independentemente dos desempenhos individuais de cada obra, o Cinema nacional mostrou a potência que é – e que poderia ser ainda maior com políticas públicas que verdadeiramente valorizassem esse potencial. Para melhorar, a envolvente cinebiografia do sambista, ator e comediante Mussum, eternamente conhecido pelo seu papel como um dOs Trapalhões, arranca risadas fáceis e, não por menos, estreou com seis Kikitos do Festival da Gramado na bagagem, além de passagens pelo Festival do Rio 2023 e pela 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Mostra Brasil.

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Here olha para o que ninguém vê

Cena do filme Here. A cena se passa em uma floresta, com o solo verde coberto por musgos e troncos de árvores ao fundo. Em um primeiro plano, os dois personagem estão mal iluminados e é possível ver, à esquerda, uma mulher adulta com cabelo preso em um coque, ajoelhada no chão, segurando uma planta na mão. À sua frente, à direita, é possível ver um homem curvado sobre uma pedra, encarando o que ela tem em mãos.
Here venceu os prêmios de Encounters e FIPRESCI do Festival de Berlim e participou do Festival do Rio 2023 na seção Expectativa (Foto: Rediance Films)

Vitória Gomez

Para Bas Devos, fazer filmes é uma desculpa para ser curioso. Here, seu quarto longa-metragem, usa essa curiosidade para observar a relação de dois estranhos consigo mesmos, um com o outro e com o país que habitam, estrangeiro tanto quanto eles mesmos ali. A produção desembarcou no Brasil no 25° Festival do Rio depois de conquistar dois troféus no Festival de Berlim e, olhando para o ordinário, torna até o comum fantástico. 

Na obra, o diretor belga segue Stefan (Stefan Gota), um trabalhador romeno da construção civil morando em Bruxelas, na Bélgica. Quando a temporada de obra acaba e ele e seus colegas – igualmente estrangeiros – poderão aproveitar as férias em seus países de origem, o protagonista encontra uma mulher que o fará pensar duas vezes se deve ou não voltar. O grande porém é que ela sequer sabe o nome dele.

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O Desencontrar de Vidas Passadas

Antes do sucesso nas telas de cinema, o longa-metragem foi aclamado pela crítica especializada no Sundance Film Festival e na 73ª edição do Berlinale (Foto: California Filmes)

Ludmila Henrique 

Na cultura sul-coreana, há um conceito conhecido como In-Yun, que pode ser lido como “destino” ou “reencarnação”. Em gênese, In-Yun é o pressentimento que nos arrebata quando entendemos que uma eventualidade estava predestinada em nossos acasos, desenhada em algum no campo cósmico, e que nada e nem ninguém, poderia ser capaz de interferir naquela factualidade. Em Past Lives, longa de estreia da cineasta Celine Song exibido no Brasil durante a 25ª edição do Festival do Rio, vemos o movimento de tempo entre dois melhores amigos e a maneira que seus destinos estão entrelaçados involuntariamente com suas vidas passadas. 

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Nada de Graceland: Priscilla mora nos detalhes

Cena do filme Priscilla. A cena mostra os dois atrás de uma mesa com um bolo de casamento. Priscilla, à esquerda, veste um vestido de casamento branco. Elvis, à direita, vestre um terno preto e fuma um cigarro. Os dois olham para a câmera.
Priscilla chegou ao Brasil pelo Festival do Rio 2023 e foi um dos filmes exibidos na Gala de Encerramento (Foto: MUBI)

Vitória Gomez 

Sofia Coppola é mestre em retratar mulheres jovens adultas enclausuradas em residências enormes sob o controle de terceiros. No entanto, se Maria Antonieta terminou com a cabeça na guilhotina, Priscilla Presley quebrou o ciclo de solidão e escapou de sua prisão em Graceland, a segunda casa mais famosa dos Estados Unidos. Em Priscilla, uma adaptação do livro de memórias Elvis and Me, a diretora e roteirista deixa o nome do Rei do Rock de lado para direcionar o olhar à personagem-título.

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Close nos aproxima da dor das rupturas

Cena do filme Close. Rémi e Léo estão olhando um para o outro. Léo é um garoto branco loiro de olhos azuis, ele está vestindo uma camiseta branca e tem uma mochila azul marinho nas costas. Rémi é um menino branco de cabelos e olhos castanhos, ele veste uma camiseta bordô e usa uma mochila verde musgo. Ambos têm feições sérias
Close é uma coprodução belga, holandesa e francesa, e concorre na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2023 (Foto: A24)

Jamily Rigonatto 

Ceder a pressão social é fácil, quase um instinto do ser humano em busca de aceitação e, por vezes, sobrevivência. O ponto é que tudo pode ser desfigurado para que possamos caber nas caixas ditas como certas: roupas, cabelos e até mesmo os amores. Em Close, filme lançado em 2022 sob a direção de Lukas Dhont, os protagonistas figuram o ato de cortar os laços mais profundos como se fossem uma linha fina – rompem-se com facilidade, mas ficam as pontas esfarrapadas. 

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A Menina Silenciosa tem muito a dizer

Cena do filme The Quiet Girl. Nela, há uma menina branca de olhos azuis e cabelos castanhos, lisos e longos. Ela usa um vestido amarelo listrado, com gola branca, e está em um carro. Ela olha para o lado esquerdo, onde se encontra a janela do veículo. Ao fundo, uma estrada de concreto.
Unindo estreias na direção, no roteiro e no elenco, The Quiet Girl foi lançado no 72° Festival Internacional de Cinema de Berlim e chegou ao Brasil pelo Festival do Rio, em Outubro de 2022 (Foto: Break Out Pictures)

Vitória Vulcano

Nos anos 80, em uma região campestre e isolada no mapa da Irlanda, uma garotinha responde aos estímulos mundanos com o silêncio. Ela não é incapaz de dialogar, nem decisivamente conformada a ponto de abrir mão das palavras, mas veste a capa da invisibilidade como tática de sobrevivência em uma casa apática e disfuncional. Essa é a premissa direta, dolorida e nada despretensiosa de The Quiet Girl, filme inspirado no conto Foster, de Claire Keegan, e dono de uma única e poderosa indicação ao Oscar 2023

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