Quais as formas existentes para explicar uma personagem? O que pode ser usado para defini-lo? Talvez, dizer que Andy (Anne Hathaway) de O Diabo Veste Prada (2006) é uma assistente e Woody (Tom Hanks) de Toy Story (1995) é um brinquedo. Afinal, em um mundo capitalista, narrativas e identidades são construídas por meio de profissão e utilidade. Em A Perfect Love Story (Where Nothing Goes Wrong or Does It…?) – (Uma História de Amor Perfeita Onde Nada dá Errado ou Dá…?, em tradução livre) –outras características vão definir as personagens desta história. Dirigido, produzido e escrito por Emina Kujundžić, o longa bósnio ganhou vida por meio de financiamento coletivo e doações privadas.
Franquias em Hollywood não faltam, tem para todo tipo e gosto. Mas o que acontece quando elas, ou até mesmo um gênero, se tornam um pesadelo? Quando em 1984, o primeiríssimo A Hora do Pesadelo estreou, mal sabia Wes Craven que, dez anos mais tarde teria, que desconstruir sua maior criação: Freddy Krueger. O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger (1994) completa 30 anos em 2024 com muita coisa a ensinar ao Cinema, principalmente ao de super-heróis.
Desde Sally (Marilyn Burns) de O Massacre da Serra Elétrica (1974) até Grace (Samara Weaving) de Casamento Sangrento (2019), a final girl é praxe no Terror, principalmente no slasher. É ela quem vence o assassino, sobrevive e, de quebra, aparece nas continuações. Mas para Christine Brown (Alison Lohman), do grotesco Arraste-Me para o Inferno (2009), já faz 15 anos que ela está perpetuada nos confins da Terra. O aniversariante que não é um filme de mascarados empunhando facas, sem dúvidas garante uma curiosa discussão sobre mulheres no gênero.
Aviso: o texto contém spoiler e aborda temas sensíveis.
Davi Marcelgo e Guilherme Machado Leal
O Cinema de Walter Salles se concentra em temáticas semelhantes, principalmente em Terra Estrangeira (1995) e Central do Brasil (1998), histórias sobre memória, esquecimento e a relação de suas personagens com o Brasil. No primeiro, Fernanda Torres interpreta Alex e, no segundo, é a sua mãe, Fernanda Montenegro, quem dá vida à professora Dora. Em 2024, com Ainda Estou Aqui, adaptação de livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, o diretor retoma a parceria com as atrizes para abordar um outro período da história: a Ditadura Militar brasileira. Ambientado no Rio de Janeiro da década de 1970, o longa-metragem acompanha a vida de Eunice Paiva (Fernanda Torres) e seus filhos após o desaparecimento de Rubens Paiva (Selton Mello), ex-deputado engajado na luta contra o regime ditatorial.
Muitos têm medo de filmes de terror. Produções gráficas de violência, sangue, sustos em formato jumpscare, gore e outras possibilidades da linguagem audiovisual acumulam fãs e haters por todo o mundo, mas, e na Literatura? O que o horror é capaz de fazer? O Estante do Persona de Outubro vem te responder essa pergunta e, como de costume, fazer indicações, dessa vez, horripilantes.
O relato escrito de horror existe há muito tempo, com os primeiros registros sendo as gravuras nas paredes de cavernas e espaços afins, que já faziam uma espécie de documentação dos mitos e folclores que assustavam os homens muito antes dessa espécie de narrativa ser categorizada. O fluxo seguiu com menção a monstros, acontecimentos fantásticos, eventos sanguinários e muito mais ocupando diários, crônicas e, inclusive, textos religiosos.
Durante o século XVIII, a materialização de textos voltados para o terror começa a aumentar. A incidência da teoria do pensamento lógico impulsiona a popularização de histórias que exploram o sobrenatural com menos enfoque na vontade divina. Nesse período, ocorre o lançamento de O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole, considerado o primeiro romance gótico.
No século seguinte, clássicos do gênero caem no gosto da população e se tornam lendas imortais. Entre os mais famosos estão Frankenstein (1818), de Mary Shelley, Drácula (1897), de Bram Stoker, e a coletânea de livros de Edgar Allan Poe. Estes, já sendo considerados inspirações inesgotáveis para diversas estórias de monstros, além de base para suas versões cinematográficas, lançadas com mais de 50 anos de diferença.
Desse momento para frente, a ruptura promove uma revolução, com autores do mundo todo explorando os mais diversos aspectos do terror e horror. Nomes como H.P. Lovecraft, Stephen King, Shirley Jackson, Charles Beaumont, Neil Gaiman e incontáveis outros se tornaram referências para produções macabras com subcategorias e muita profundidade – algumas até questionáveis. De caça às bruxas a pequenas meninas que entram em portais macabros, a Horror Literature cria mundos ou narra o real com garras afiadas, suspense e imprevisibilidade.
Esse texto não contempla nem metade das possibilidades que o gênero criou no universo literário e deixa, inclusive, de passear pelos frutos suculentos do cenário nacional. Por isso, a palavra fica agora com nossos redatores e suas indicações para lá de frescas, com veias fartas e cheias de sangue novinho… Quer dizer, criatividade, isso mesmo, criatividade e só! Agora, é sua vez de aproveitar e tirar um tempinho para adentrar esse imaginário, mas, por favor, deixe de fora o alho, as tochas e a caça aos monstros.
No momento em que o diretor Marcelo Caetano filmou ‘Baby’ (João Pedro Mariano) – ainda Wellington naquela cena – na FEBEM, um nome ecoava de dentro da cela: Héctor Babenco, seja nas ideias, estilização em cores, Fotografia ou iluminação. Ainda assim, Baby transpira personalidade e dor. Selecionado para a seção Mostra Brasil, o filme faz parte da programação da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Marco Dutra é conhecido por suas colaborações com Juliana Rojas, mas, na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o diretor encara sozinho a missão de contar a história de Edgar Wilson (Selton Mello) e a cidade de Abalurdes, que está prestes a passar pelo apocalipse. Enterre Seus Mortos faz parte da seção Mostra Brasil e é uma produção Globoplay que adapta o romance homônimo de Ana Paula Maia.
Com o lançamento de Continente, equipe e elenco falam sobre Cinema de gênero, linguagem e Terror
Davi Marcelgo
As terras gaúchas se transformaram em palco para sangue e suor no Halloween de 2024 com Continente, terceiro longa-metragem de Davi Pretto, vencedor do prêmio de Melhor Direção na Competição Novos Rumos do Festival do Rio 2024. O filme confronta as raízes do Brasil colonial com toques de vampirismo e com as influências de Glauber Rocha e Jacques Tourneur no DNA, este por quem Pretto diz ter uma “grande fixação, principalmente [por] Cat People e I Walked with a Zombie, que são dois filmes que eu acho absolutamente geniais”.
No pódio dos filmes mais aguardados pelo público da programação da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Anora só fica atrás de Ainda Estou Aqui. O novo longa de Sean Baker (Projeto Flórida) faz parte da seção Perspectiva Internacional e narra a história de Anora (Mikey Madison), uma prostituta que é pedida em casamento por Ivan (Mark Eidelstein), um jovem russo podre de rico que está em temporada de férias nos EUA. Não demora muito para o sonho cor-de-rosa da personagem começar a desbotar.
Ao assistir a um filme, a atividade é inconsciente. O cérebro vai interpretando através do olhar, dos ouvidos e das convenções e elementos em cena que são familiares. Uma pessoa andando sozinha em uma noite escura é sinal de que o assassino vem aí, já um parceiro novo em uma franquia de ação, na certa, é um agente duplo. Na Comédia romântica, clichês não faltam, mas são justamente eles que fazem tantas pessoas terem como confort movie 10 Coisas que Eu Odeio em Você (1999), por exemplo. Nesse sentido, Todo Tempo que Temos é o mais novo candidato para entrar na lista de filmes que assistimos quando precisamos.