Na música pop, artistas femininas são colocadas a prova a cada trabalho que realizam. Criam-se rivalidades entre cantoras, de Madonna à Gaga até Taylor Swift e Katy Perry. Seja pela sonoridade, pelos vocais ou pela composição, as mulheres do gênero musical precisam se esforçar duas vezes mais se comparadas aos cantores masculinos. Com Dua Lipa, a situação não foi diferente: desde a sua estreia, com o álbum homônimo, mesmo com números exorbitantes – a exemplo o clipe de New Rules, que possui mais de três bilhões de visualizações no Youtube –, a cantora não ficou ilesa das críticas devido aos seguintes questionamentos: ‘ela vai aprender a dançar?” e ‘ela irá superar o primeiro trabalho?’. Após o lançamento do Future Nostalgia, em 2020, a britânica provou que, daqui 40 anos, vamos sentir saudades do seu dance-pop.
Agora, iniciando a sua terceira era, Radical Optimism, a artista se afasta da sonoridade que abordou durante os três anos do seu segundo disco. No lançamento de Dance The Night para Barbie (2023) e os três singles, o público quis testar a albanesa ao apontar que o novo projeto seria uma coleção de descartes do FN. Porém, desde Houdini,a influência de Kevin Parker (Tame Impala) com os arranjos de sintetizadores e pianos elétricos, deixaram claro a pegada psicodélica do mais recente trabalho, distanciando-se dos laços com as pistas de danças da década de 1990. Mas será que com as diferenças, o mergulho de Dua Lipa entre tubarões é tão profundo e memorável quanto seu antecessor?
O mês de outubro foi o mais agitado de 2021 aqui no Persona. Iniciado com o especial para o Mês do Horror e intermediado pela cobertura intensa da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, os últimos 31 dias também viram o nascimento do nosso Clube do Livro, que aqui no site se materializou na Estante do Persona, nosso novo quadro mensal literário. Entre todas essas atividades, não deixamos de acompanhar o mundo da Música, e agora, chegamos para comentar tudo o que rolou no décimo mês do ano no Nota Musical.
Tudo começou com um misterioso número 30 surgindo nas principais cidades do mundo. Como um bat-sinal, Adele criou um momento no início de outubro para a divulgação de seu retorno, que acontece depois de seis silenciosos anos que sucederam seu último disco, 25. Agora, seremos apresentados aos 30 da artista, e o singleEasy On Mefoi mestre em nos introduzir ao novo estágio da vida de Adele, que encontrará seu lugar no mundo em forma de disco no próximo dia 19 de novembro.
Enquanto Adele ressurgia com os seus números, Ed Sheeran retornava com os seus sinais. Como anunciado pelas variáveis e constantes de Bad Habits e Shivers, o novo disco do cara mais legal do pop chegou para continuar sua concepção musical pautada na matemática. Agora, +, × e ÷ tem a companhia de =, e para o bem ou para o mal, a música de Ed é assumidamente definida pelo símbolo de igual.
Por outro lado, as sábias operações musicais de Lady Gaga e Tony Bennett decidiram apostar tudo num jazz que coloca o amor à venda. Da mesma forma, Hans Zimmer, por sua vez, concluiu na trilha do novo 007 que não temos tempo para morrer, The War on Drugs percebeu que precisa de um novo lugar no indie rock, e Brandi Carlile criou sua aclamada música country a partir de dias silenciosos.
Há também os que buscam a maior abstração possível. É assim com Coldplay e seu novo disco Music of the Spheres, que inventa de buscar outras formas de vida e de expressão distanciando-se do que nos conecta uns aos outros aqui na Terra. Mas nem tudo está perdido: as viagens atmosféricas de outubro funcionam sob a condução de Felipe de Oliveira, Tirzah e Black Country, New Road. Quem quiser acompanhar as belezas descobertas pelos artistas em ascensão, pode conferir os discos Terra Vista da Lua e Colourgrade e o singleChaos Space Marine.
Se alguns embarcam em direção ao exterior, outros mergulham no interior. Na MPB, essa foi a direção de Caetano Veloso em Meu Coco, e de Ney Matogrosso em Nu Com a Minha Música. No rock, o movimento nos entrega o melhor de Sam Fender em seu segundo disco, Seventeen Goin Under. No pop, foi a tática de importantes estreias: lá, FINNEAS descobriu um otimismo agridoce e PinkPantheress resolveu mandar tudo pro inferno.
É da dimensão íntima que outros grandes nomes trazem grandes coletâneas. Silva comemorou seus dez anos de carreira com De Lá Até Aqui; Megan Thee Stallion presenteia seus fãs com Something for Thee Hotties;Elton John traz sua música de quarentena em The Lockdown Sessions; Nick Cave & The Bad Seeds desenterram alguns tesouros em B-Sides & Rarities (Part II); e Madonna disponibiliza sua experiência ao vivo de Madame X nas plataformas de streaming.
Assim, outubro também foi um mês de retornos. Primeiro, The Wanted movimentou a internet com seu comeback anunciado através de Rule The World, primeiro lançamento da banda desde sua separação em 2014. Depois, Agnes chega para o revival da era disco em seu quinto álbum, Magic Still Exists, que finaliza um hiato de quase dez anos. Já Tears For Fears viveu um intervalo um pouco maior, mas agora o jejum iniciado em 2004 está encerrado com The Tipping Point, faixa-título do novo álbum da dupla britânica, cujo lançamento está previsto para o início de 2022.
Fora do país, o nome segue sendo o de Anitta, que esse mês, apareceu junto de Saweetie em Faking Love. Mas desta vez, a Girl From Rio não representou o Brasil sozinha na música internacional. Nas tabelas, A QUEDA de Gloria Groove significou ascensão, e a drag brasileira estreou na parada global da Billboard. O mesmo sucesso e apreço não pode ser encontrado na colaboração entre Jesy Nelson e Nicki Minaj, já que o lançamento de Boyz veio encharcado de polêmicas da líder Barbz nas redes sociais, e episódios de blackfishing por parte da ex-Little Mix.
Ainda bem que a Música pode contar com a honestidade de Phoebe Bridgers, que usou That Funny Feeling para levantar sua voz em oposição à legislação antiaborto mais restritiva dos Estados Unidos que avança no Texas. O cover da artista esteve no radar mensal do indie, que também tem novidades preciosas no novo disco de Lana Del Rey e nas canções de Mitski e Michael Kiwanuka.
Por fim, outubro ainda trouxe um belo descarte de Ariana Grande, novos contornos para a Conan Gray, clipes de Troye Sivan, Kacey Musgraves e Olivia Rodrigo, e o encontro gigante de The Weeknd com Swedish House Mafia. Foi um mês e tanto, mas o Persona nunca deixa de se atentar às novidades e decepções que a Arte nos oferece. Na décima edição do Nota Musical, nossa Editoria e nossos colaboradores se reúnem para vasculhar os CDs, EPs, músicas e clipes que ecoaram por aí em Outubro de 2021.
É quase impossível pensar em Coldplay sem associar o grupo às suas costumeiras melodias enérgicas, letras imaginativas e canções vívidas encaixadas dentro de um pop eletrônico que colocou arenas inteiras em estado de catarse nos últimos dez anos. Antes de desviar-se por essa direção, a banda fez seu nome com um rock alternativo sentimental, poético e igualmente atraente com seu álbum de estreia em 2000 e através dos outros dois que o seguiram, estourando com algo mais pop em 2008. O que veio depois disso é alvo de opiniões fortes, mas apesar das inconsistências que a arte de uma banda altamente vendável vivencia ao decorrer dos anos e das respostas conflitantes que podem surgir do público e da crítica, o sucesso que o grupo conseguiu construir em suas diferentes identidades é um fato inquestionável.
Se em 1994 o Oasis conquistou o mundo, no ano seguinte o quinteto de Manchester o tinha na palma da mão. Depois de ganharem a atenção do público e da mídia inglesa com o sucesso do álbum de estreia Definitely Maybe, os irmãos Gallaghers e companhia estavam mais que preparados para o perigoso teste do segundo álbum. E o resultado não poderia ser diferente. (What’s the Story) Morning Glory?, lançado no dia 2 de outubro de 1995, é uma das jóias mais preciosas da coroa britânica que ocupa um lugar sagrado juntamente com Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band(1967), dos Beatles, e a coletânea Greatest Hits (1981), do Queen, como terceiro álbum mais vendido na história da Inglaterra.
1994 foi um ano de altos e baixos para a música. O maior baque foi com certeza a morte de Kurt Cobain, no dia 5 de abril, com apenas 27 anos. O líder do Nirvana não tirou apenas a própria vida após apertar o gatilho daquela espingarda, mas levou consigo toda a glória e entusiasmo que o grunge prometia para os anos 90. Mas claro que o show deve continuar. Enquanto a música americana ainda sentia a perda de Cobain, do outro lado do oceano, cinco desgraçados de Manchester berravam que seriam estrelas do rock ‘n’ roll.
Dizem que tudo tem um lugar certo e uma hora exata, e para o Oasis o melhor momento foi em 29 de agosto de 1994. O álbum de estreia da banda, Definitely Maybe, chegava como um furacão para consagrar Liam e Noel Gallagher – sem exageros – como salvadores do rock.