O segundo semestre do ano finalmente chegou. No meio dos dias dolorosamente frios de Julho, o que faltou de calor teve de lançamentos – alguns ótimos, e outros nem tanto. As músicas e álbuns lançados no último mês já marcaram 2021, e com certeza vão entrar nas listas de playlists de quarentena. Então, para não deixar nada passar batido, o Persona lhes presenteia com mais um Nota Musical.
Se em Junho Doja Cat fugiu para seu próprio planeta, em Julho, foi a vez de Coldplay dar o fora da Terra em Coloratura. A música mais longa da banda, com 10 minutos de duração, já anima os ouvintes para sua próxima era que promete correr longe dos problemas mundanos. Outro fandom presenteado com um ótimo single foi o de Lorde. Com a melancólica faixa Stoned at the Nail Salon, a ex-sumida nos deixa cada vez mais ansiosos para Solar Power, seu novo disco a ser lançado no fim de agosto.
E entre os admiradores da neozelandesa está Conan Gray, que depois de anos cantando sobre a mesma pessoa, diz nunca ter se apaixonado em People Watching. Sério, Conan? Por outro lado, quem não esconde se sentir sufocada por um amor tão nocivo quantos seus vícios é Letrux. A artista bilíngue conta do ano mais difícil da sua vida no single I’m Trying To Quit. Ambos os cantores parecem concordar com a sueca Lykke Li quando ela diz que às vezes tudo que a gente precisa é chorar de noite em Wounded Rhymes (Anniversary Edition).
Enquanto isso, Jack Antonoff manda a tristeza embora em Take the Sadness Out of Saturday Night, o terceiro disco de seu projeto solo como líder do Bleachers. Fora do mainstream, o produtor queridinho do mundo indie pop libera toda a sua criatividade musical em álbuns ricos em referências, camadas, sentimentos e energia. Agora, para os que querem gritar no quarto às 3 da manhã, o álbum da WILLOW promete te fazer sentir tudo. O rock alternativo de lately i feel EVERYTHING é honesto em todas as suas faixas, que viajam entre seu coração partido e amadurecimento.
Além da filha do icônico Will Smith, Billie Eilish é outra jovem que liberta suas emoções para quem quiser ouvir. O impecável Happier Than Ever expressa mais sinceridade do que a cantora já fez em toda sua carreira, em um dos discos mais esperados de 2021. A queridinha do Grammy bem que merece um segundo Álbum do Ano, não é mesmo?
Já aqui no Brasil, que está mais unido do que nunca para assistir aos angustiantes jogos das Olimpíadas, nada como boa Música para celebrar o nosso país ganhando – ou perdendo. Luísa Souza comemorou seu aniversário lançando DOCE 22, tão bem recebido pelo público que entrou na lista dos Top 10 Debuts de sua semana de lançamento no Spotify Global. Mas entre acertos e bastante erros na internet, quem merece o seu título de mulher do ano é a inovadora e talentosa Linn da Quebrada. O quem soul eu? é perfeito para quem precisa viajar dentro de si mesmo, assim como todas as faixas intrigantes de Trava Línguas.
O radar de novidades nacionais do Persona também entrou na vibração do jazz de Amaro Freitas em Sankofa, curtiu o rock do novo EP de Ovedrive Saravá, e sentiu o Drama de Rodrigo Amarante. O destaque maior da música brasileira em julho, no entantanto, foi para Marisa Monte, que retorna abrindo as Portas do seu talento para que possamos entrar em seus universos e sermos abraçados por um pouco de otimismo em um ano tão infernal.
Emicida é outro que nos ilumina com sua versão ao vivo de AmarElo. Ouvir as faixas que foram gravadas em um São Paulo de 2019 nos deixa nostálgicos e ansiosos para poder logo voltar a cantar e dançar na companhia de uma multidão. Quando isso for possível, por favor, toquem Borogodó nas festas, pois todos precisamos rebolar ao som de MC Carol novamente.
Falando em festas, o Ander de Elite provou que como cantor é um ótimo ator. Torcemos para que Aron Piper perceba logo que deveria ficar apenas atrás das câmeras, e não do microfone. Ao lado do alemão na lista de decepções do mês, estão Camila Cabello e John Mayer, que pelos méritos de seus novos trabalhos, mostram que já podemos deixar seus lançamentos caírem no esquecimento.
Mas o que não dá e nem se deve esquecer é que ainda vivemos uma pandemia. E em um dos períodos mais dolorosos da humanidade, mais de 4 milhões de vidas foram perdidas. Vidas de parentes, de amigos e de pessoas amadas por outras pessoas. O sentimento tão solitário está, para o bem ou para o mal, juntando cantores e seus ouvintes em faixas que tentam explicar como é tenebroso passar pelo luto.
Em julho, Imagine Dragons e Eliza Shaddad mergulharam em letras que confortam os corações de quem perdeu alguém. A banda estadunidense faz isso através de Wrecked, prenunciando seu novo álbum, enquanto a artista indie sente o luto em In the Morning (Grandmother Song), parte importante de The Woman You Want, disco que é uma das melhores descobertas do ano.
Completando o sétimo mês de Nota Musical, a Editoria do Persona e nossos Colaboradores se uniram, ao lado dos recém-chegados na equipe de Redação, para entregar o apanhado de tudo que rolou em Julho. Para começar bem o segundo tempo desse jogo estressante que está sendo 2021 – não dava para não ter referências de esporte, sabe? -, pegue o lápis e o papel e se prepare para anotar muitas indicações musicais incríveis.
CDs
Billie Eilish – Happier Than Ever
Dois anos depois de pintar e bordar, enfiar aranha na boca e chorar petróleo, Billie Eilish retorna, mais feliz que nunca. Só que essa felicidade, dissecada nos cinquenta e seis minutos de seu segundo álbum de estúdio, é fachada para o que a jovem de 19 anos realmente sente: medo, alívio, tensão, soberba, cansaço. Billie Eilish, enfim, se sente humana.
Menos interessada em cantar sobre caras maus e fazer referências à sua série favorita, agora é hora dela se abrir como nunca antes. Getting Older é simplista na ideologia, mas desdobra Eilish em uma camada inédita até então. A cantora, vencedora dos 4 grandes prêmios no Grammy 2020, se considera sábia na flor da juventude e, carambola, ela o prova incessantemente em Happier Than Ever, contando mais uma vez com a assinatura do talentoso irmão mais velho.
Os singles lançados ao longo dos meses não apontavam para a direção certeira e ousada da toada do registro, e quando ouvidos em conjunto às 16 faixas, a aura de Happier Than Ever pega pra valer. Das inéditas, crescem Billie Bossa Nova (trilha sonora de qualquer cena tropical do 007), Oxytocin (a canção que mais remete ao pesadelo escuro do CD anterior) e a faiscante e dúbia faixa-título, o melhor trabalho de sua carreira. Vem mais um Álbum do Ano por aí? – Vitor Evangelista
Marisa Monte – Portas
Abram alas – e portas – que Marisa Monte está de volta, cantando para nós meros mortais. Uma década após emplacar Depois e Ainda Bem com o álbum O Que Você Quer Saber de Verdade, a cantora retorna com sua sonoridade ímpar, nos fazendo olhar com menos afobação para o passado e ter esperanças no futuro. Não foi surpresa a calma e paz da cantora acolher de forma calorosa com uma sonoridade agradável aos ouvidos.
Se dedicando desde 2019 à produção do disco, Marisa acompanhou do quintal de sua casa o mundo inteiro se isolar. Todos os desafios, angústias, anseios e medos reformularam aquele trabalho já começado e se transformaram em 16 canções, mais uma vez comprovando que a arte salva e sempre está presente. Portas é um grito de otimismo nesse país caótico e desgovernado.
A melhor música do álbum, Língua dos Animais, é uma parceria entre Marisa e o tribalista Arnaldo Antunes, além dessa, eles dividem outras duas composições (Portas e Vagalumes). Mas, quem se destaca fortemente na lista de compositores é Chico Brown. O filho de Carlinhos Brown provou que o fruto não cai longe do pé, assinando, com a mesma dedicação do pai, cinco canções de Portas. O álbum ganha um respiro com Elegante Amanhecer, uma ode de amor à Portela e parceria com Pretinho da Serrinha, se destaca pela saudade do Carnaval e da Avenida. – Ana Júlia Trevisan
Linn da Quebrada – Trava Línguas
quem soul eu? Imerso em tom reflexivo, o novo álbum de Linn da Quebrada é diferente de todos os trabalhos anteriores dessa cantora da (re)invenção. Mas não se engane: “feito uma cobra rasteira”, esse disco vem para, sutilmente, nos conquistar. Diante de um novo território, que nos convida a “divagar mais, divulgar menos”, somos presenteados com os experimentalismos imprevisíveis de Linn. E antigos fãs não precisam se assustar, pois juntos de um novo público, serão banhados e capturados pela feitiçaria do contraditório.
Sofisticando a utilização costumeira de aliterações e paronomásias, as composições de Trava Línguas usam e abusam de palavras que se desdobram em novos termos, ou que adquirem novos significados. Se a preocupação com a linguagem é uma constante nas criações de Linn da Quebrada, esse novo CD conduz os ouvintes do “fundo do poço” à “profundidade do posso”. Isso porque, dos versos mais filosóficos às batidas mais repetitivas e dançantes, há espaço amplo, de 11 faixas, para refinamentos e branduras.
Quer matar a saudade das pistas de dança? É só mergulhar em pense & dance. Quer sentir um último suspiro de Pajubá? mate & morra está aí para isso. Caso queira ainda descobrir nomes pouco difundidos da nossa literatura, temos, por sorte, a delicada medrosa – ode à Stella do Patrocínio. Seja sozinha, em companhia de Luísa Nascim ou de Ventura Profana, Linn está, neste álbum, mais múltipla do que nunca. E ao mesmo tempo unificada, em um trabalho coeso, que renova, do início ao fim, a sonoridade de uma artista-fênix misteriosa e autêntica. – Eduardo Rota Hilário
Amaro Freitas – Sankofa
“O futuro é ancestral”. É a partir dessa premissa que Amaro Freitas desenvolve o seu terceiro álbum, bebendo de ritmos, histórias e filosofias do passado africano e do Brasil, misturando-os às suas habilidades virtuosísticas no piano. Amaro, que com menos de 30 anos já é um nome internacional do jazz, já tendo realizado turnês em vários países, além de colaborações de destaque como o EP Existe Amor, em parceria com Criolo e Milton Nascimento.
Desde a polirritmia fragmentada de Baquaqua, até a serenidade de Vila Bela, Amaro busca traduzir para a linguagem do instrumento de origem clássica européia, sensações afro-brasileiras que Chopin jamais ousaria conceber. Mesmo nos seus momentos mais intensos em Batucada e Malakoff, Amaro trabalha o ritmo ágil e pulsante e as harmonias dissonantes com tamanha leveza, que seus dedos mais parecem estar acariciando as teclas do que as pressionando de fato. O carinho de Amaro ultrapassa o toque das teclas e transparece aos nossos ouvidos com sua música. – João Batista Signorelli
Eliza Shaddad – The Woman You Want
As descobertas do Nota Musical seguem revelando alguns dos melhores trabalhos musicais de 2021. O achado da vez é o segundo álbum de Eliza Shaddad, que só precisa de 9 músicas para conquistar um lugar nos ouvidos de quem procura por boas novidades no rock alternativo. Agora definitivamente, já que a artista se colocou no radar indie depois de trabalhar com o grupo de música eletrônica Clean Bandit em New Eyes, de 2014. Os EPs Waters (2014) e Run (2016) precederam o primeiro álbum, que rolou em 2018. Mas em The Woman You Want, ela chega cheia de destreza para apresentar o que pode fazer quando se expressa livremente através da Música.
E o que a ‘multilinguista’, ‘formada em filosofia’ e ‘fundadora coletiva de artes liderada por mulheres’ diz em The Woman You Want é que ela tem as suas inseguranças e questões pessoais como qualquer outra jovem adulta do século 21. Sejam nos questionamentos do rock levemente inclinado para o country de Heaven – que seria a filha perfeita das HAIM com a Arlo Parks -, na segurança e charme harmoniosos de Fine & Peachy, ou na autoanálise melancólica da faixa-título – deliciosamente influenciada pelo som do Radiohead -, a coisa mais fácil do mundo é se render à maestria musical e simpatia sentimental de Eliza Shaddad.
Então, quando ela canta sobre o luto na poderosa In the Morning (Grandmother Song), a beleza de The Woman You Want se revela ainda mais universal. O melhor momento do álbum, no entanto, é quando ela brinca com elementos eletrônicos e com solos de guitarra delicados para criar uma atmosfera ao redor de Waiting Game, que ilumina uma musicista detalhista, diversa e habilidosa. Ao final, estamos ouvindo a maravilha de Blossom, vidrados na estonteante performance da artista e nos questionando: porque não falamos sobre Eliza Shaddad antes? – Raquel Dutra
Clairo – Sling
Abandonando o pop que marcou seu álbum de estreia, Clairo (nome artístico da cantora e compositora Claire Cottrill) está de volta com Sling, um disco marcado pelos instrumentos de corda e sopro e um clima intensamente doméstico. Elaborado no período de pandemia, o CD (co-produzido por Jack Antonoff) chega carregado de reflexões sobre maturidade e maternidade, criando uma narrativa forte, apesar de se distanciar da sonoridade anterior da artista.
Sling é, às vezes, uma obra entediante. Como um filme que passa cenas demais estabelecendo seus personagens e sua ambientação, Clairo passa algumas faixas além da conta esperando para introduzir suas melhores composições. Apesar disso, ela ainda consegue criar uma linha de narrativa forte graças ao maior destaque dado aos seus vocais silenciosos, e que persiste ao longo das 12 faixas, conseguindo emocionar com sua confiança e seu violão suave. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Genesis Owusu – Missing Molars (Swnt Deluxe)
O rapper de origem australiana retorna poucos meses depois de lançar Smiling with No Teeth, dessa vez com a versão deluxe do álbum. Mas, Genesis Owusu não ia cair no esperado e simplesmente adicionar um ‘dlx’ ao fim do título: ele expande o conceito da obra e batiza o CD irmão de Missing Molars.
São 5 novas canções, todas ainda na roupagem de pop-punk-rap que o mestre nos saudou com no disco original. “Essas são faixas que eu senti serem especiais da sua própria maneira e que mereciam ser compartilhadas. Isso é Música sem fronteiras”, ele declarou, junto do lançamento do clipe de The Fall. – Vitor Evangelista
Midwife – Luminol
Não tem material mais instigante para a Arte do que o âmago da experiência humana e todas as coisas que podem ser encontradas lá. Midwife, projeto experimental de Madeline Johnston, não perde tempo e se volta exatamente para essa profundidade vasta e por vezes incômoda até mesmo em seu trabalho mais notável, o álbum Forever, de 2020. Mas agora, depois de tudo o que aconteceu no mundo no último ano, os indivíduos que circulam por aí estão com suas questões especialmente afloradas, e o ímpeto analítico de Johnston captura todas elas em Luminol.
Como reflexo desse movimento, a primeira identidade de Midwife não dá as caras no novo disco. Antes no pop, a música de Johnston agora se desvia para um rock progressivo, muito sensorial e instrumental, mas que não se esquece da sua dimensão lírica. Em God Is a Cop, Enemy e Colorado, o principal aspecto de Luminol se mostra justamente o resultado da combinação dos elementos: partindo de uma experiência muito pessoal, o álbum ainda dialoga de uma forma muito direta e profunda com o ouvinte, porque a multi-instrumentista sabe como despertar os nossos sentidos e abrir a nossa compreensão. A começar pela capa composta por instigante uma fotografia da mãe da artista, editada para esconder seu rosto, que ao mesmo tempo transmite uma sensação de serenidade.
Apostando alto em seus acordes fortes, graves e obscuros que se misturam com vocais suaves e versos passivos e cíclicos, Luminol constrói uma verdadeira experiência sonora. Quando estendidas às seis longas faixas do disco, no entanto, essas sensações perdem a força, tornando-se incômodas para quem sai da imersão de do álbum por um segundo que seja, principalmente na última faixa, a mais pessoal da obra de Johnston. Mas até chegar lá, Luminol já atraiu e perturbou tudo o que tinha direito. – Raquel Dutra
Lykke Li – Wounded Rhymes (Anniversary Edition)
Após 10 anos de lançamento do intenso Wounded Rhymes, Lykke Li anuncia a nova edição de aniversário do segundo álbum da carreira. A rainha da melancolia traz na reedição as dez faixas originais do disco somadas a remixes que incluem Tyler, The Creator e o DJ The Magician, além de demos inéditas dos sucessos Youth Knows No Pain, Jerome e o hino da década de 2010, I Follow Rivers – não há quem não se renda as batidas da percussão catártica do single.
Em vocais que ecoam languidamente sobre a composição crua, Wounded Rhymes parece ter sido feito oportunamente para o presente: “Minhas rimas aflitas produzem choros silenciosos esta noite/E eu as manterei como uma queimadura/Ansiando de longe”, profere a artista sueca em Sadness Is a Blessing. Ao celebrar o passado de alguém que já foi, Lykke Li nos lembra por meio de versos cortantes que, principalmente em tempos tão sombrios de pandemia, instabilidade e descaso político, está tudo bem em aceitar a tristeza. – Ayra Mori
cajupitanga – Tradição/Tradução
Unindo duas das mais marcantes frutas originárias das terras brasileiras, o acústico à atmosfera eletrônica, a riqueza da tradição à ousadia daquilo no qual ela pode se transformar, além da criatividade de duas mentes originárias de Vitória da Conquista (BA), o primeiro álbum do duo cajupitanga é uma bela descoberta. A composição formada por botões, folhas e retalhos da capa já de cara revela o caráter artesanal do disco: uma produção inteiramente caseira utilizando celulares, aos moldes dos primeiros trabalhos da banda Boogarins.
Ao contrário do que poderia ser de se esperar, a limitação de recursos de em nenhum momento se traduz em limitação criativa ou de qualidade. A faixa O Homem abre o disco com versos reflexivos e estabelecendo um clima de serenidade e contemplação que predomina pelo resto do álbum. A canção em espanhol A Todos Nosotros e Quase Santo também se destacam dentre as músicas encontradas nessa pequena pérola que merece atenção. – João Batista Signorelli
Emicida – AmarElo – Ao Vivo
Impossível AmarElo ficar melhor, certo? Errado. Quando finalmente conseguimos processar e nos acostumar com a obra-prima musical mais recente de Emicida, ele vai lá e leva a coisa toda pra um outro nível. Agora, o artista nos presenteia com a versão ao vivo do disco, gravada na icônica apresentação no Theatro Municipal de São Paulo, que também rendeu material para o documentário AmarElo – É Tudo Pra Ontem. A tracklist naturalmente linda do disco ganha ainda mais encanto com outras canções significativas da Música brasileira e da carreira do artista, que foram entoadas pela harmonia deliciosa de Emicida, sua banda e seu público naquela noite maravilhosa do dia 27 de novembro de 2019.
A beleza de AmarElo – Ao Vivo é daquelas que só se compreende sentindo. Como explicar a energia de Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo) correndo pelo ambiente ou o amor que preenche quem tem a chance de ver Alma Gêmea virando música diante de seus olhos? É a mesma impossibilidade que o arrepio de Hoje Cedo logo sucedido pelo êxtase de AmarElo guardam para quem tenta defini-los em palavras. Assim também é a poesia transcendental de Principia e a sonoridade milagrosa de Levanta e Anda, que vão além de suas próprias e mais belas palavras e notas musicais.
O instrumental catártico de Paisagem e a experiência visceral de Ismália ao vivo dizem muito mais do que qualquer tentativa mirabolante de significar as canções de Emicida. E é exatamente dessa forma que a Música trabalha. Não existe espetáculo mais lindo do que o que surge quando a Arte é celebrada em carne e osso e no coletivo. Por isso é que todos os elogios do mundo não compreendem a preciosidade que é sentir um pouquinho do que foi o momento de viver um dos melhores discos dos últimos tempos. Perdão se tiver falhado na missão de reportar AmarElo – Ao Vivo, mas o que eu tenho são só as palavras, e sobre ele, eu escrevo como quem manda cartas de amor. – Raquel Dutra
Pop Smoke – Faith
Morto em fevereiro de 2020, o jovem rapper Pop Smoke retorna aos holofotes com seu segundo álbum póstumo, Faith. A abertura Good News, que intercala uma mensagem de voz da mãe do artista com uma batida emocional e gravitante, já começa o trabalho da maneira errada.
Buscando uma falsa simetria entre a arte e a emoção, as vinte faixas se dividem entre demos, canções nada finalizadas e uma porrada de arranjos comerciais trabalhados sem qualquer zelo ou cuidado. Sem fé, senso artístico ou mesmo respeito pela memória de Pop Smoke, uma voz influente e enriquecedora à cultura do rap. Apenas com o almejo de fabricar hits, Kanye West, Pusha T, Kid Cudi, Pharrell e Chris Brown aparecem na tracklist, deixando espaço para uma desconfortável parceria com Dua Lipa. Com Faith, é melhor passar longe. – Vitor Evangelista
Maria Bethânia – Noturno
Com uma das capas mais fracas de toda a carreira de Maria Bethânia, Noturno é, ironicamente, um dos melhores álbuns da nossa Abelha Rainha. De aspecto extremamente minimalista, a porta de entrada desse CD primoroso até funciona em disco físico, mas perde força nas plataformas digitais, sem a companhia de atrativos como a textura e o encarte. E por ser toda branca, não expressa muito bem o jogo entre luzes e sombras que move as 12 faixas do novo trabalho de uma das maiores intérpretes do Brasil.
Dualidade constante, as trevas da vida já eram anunciadas no lead single A Flor Encarnada. Nessa composição de Adriana Calcanhotto, o desamparo de uma pessoa “afogada num sertão de lágrimas” dói fundo em cada nota e verso. Por outro lado, em Lapa Santa, segundo single do álbum, percorremos caminhos mais luminosos, em tom de celebração: “louvado seja o Velho Chico”, rio que banha o “arraial do Bom Jesus da Lapa”. Nesses conflitos duplos, típicos de nossos tempos, a saudade de sentir prazer e o medo da intensidade da dor são nossos inevitáveis companheiros.
Sem dúvidas, um dos pontos mais altos de todo o repertório desse CD é a faixa Dois de Junho, também escrita por Calcanhotto. Nela, vemos que aquela Maria Bethânia mais política, de Carcará e Balada de Gisberta, ainda está atenta, denunciando um dos piores episódios do Brasil de 2020: o caso Miguel. Mas logo encontramos uma esperança certeira, alocada no lirismo da declamação que encerra o álbum. É diante da poesia de Jorge de Sena que, entre suspiros ou lágrimas, temos certeza de que estamos diante de uma obra muito mais significativa do que o último lançamento da diva baiana. – Eduardo Rota Hilário
Giovani Cidreira – Nebulosa Baby
Desde o lançamento do mágico disco Japanese Food em 2017, Giovani Cidreira vêm se revelando uma das figuras mais versáteis e inclassificáveis da cena contemporânea nacional. Nebulosa Baby vem não apenas para provar isso, como também para expandir o leque de colaborações e sonoridades exploradas pelo cantor-compositor-instrumentista. Alice Caymmi e Luiza Lian são alguns dos nomes que despontam na tracklist, além da produção assumida por ninguém menos do que Benke Ferraz do Boogarins. Para completar o pacote, Gio também lança um álbum visual e uma websérie explorando as inspirações e os bastidores de Nebulosa Baby.
Misturando as sonoridades acústicas de Japanese Food ao eletrônico explorado em seus trabalhos e colaborações mais recentes, Nebulosa Baby permanece embalado pela doce voz do cantor baiano, que ainda encontra espaço para o uso criativo do autotune e distorções vocais que só enriquecem a experiência. Solos explosivos de saxofone, batidas dançantes, harmonias vocais teclados, batidas eletrônicas, harmonias vocais misteriosas, Giovani Cidreira abraça um pouco de tudo. Sangue Negro, Saudade de Casa, Claridades e Luzes da Cidade são algumas amostras da pluralidade de Giovani Cidreira, que vem provar que ainda tem ainda muitos caminhos novos a trilhar. – João Batista Signorelli
Soda Blonde – Small Talk
Small Talk é o álbum de estreia da banda Soda Blonde. Estreia com algumas fofocas. Os integrantes da banda já são velhos conhecidos por Little Green Cars, onde um dos cinco membros resolveu dar disband. Soda Blonde estreia o novíssimo CNPJ em alta categoria e de forma transparente, com reflexões sobre a juventude e seus anseios. A faixa homônima ao disco é um aglomerado de perguntas que são respondidas ao longo do trabalho que se completa em ciclos.
A musicalidade de Small Talk soa como trilha sonora de filme. Os versos carregam um brilho e contam uma história cinematográfica sobre si próprios. Tiny Darkness, faixa de abertura, introduz à sombrias novas tentativas de recomeço. In the Heart of the Night mantém os sentimentos com mais peś no chão e The Dark Trapeze apresenta a solidão. Choices encerra o álbum como se voltasse para a primeira cena com as paisagens vivas. Small Talk é um álbum agridoce, que encanta com toda sua composição artística e garante seu lugar nos melhores do ano. – Ana Júlia Trevisan
Brittany Howard – Jaime Reimagined
O que Brittany Howard faz em Jaime Reimagined não é para qualquer artista. Criar uma nova versão de uma obra tão aclamada como seu debut é um risco que a genialidade da guitarrista do Alabama Shakes não só assume como transforma num completamente. Na releitura de Jaime, Howard reaquece o clamor pelas suas músicas de 2019 na companhia de um seleto grupo de colaboradores formado só por quem dá conta de manipular músicas daquele nível, que vai de Childish Gambino a Bon Iver.
Desde a abertura com 13th Century Metal, passando por faixas como Baby, Georgia e He Loves Me até finalização com Run to Me, a riqueza de Jaime Reimagined reinventa o repertório de Brittany, conhecido pelas composições íntimas musicadas no R&B, jazz, rap e blues. Na obra da vez, a artista ainda brinca com elementos da música clássica e efeitos eletrônicos, criando uma verdadeira experiência musical. Por favor, Brittany, imagine e reimagine o quanto quiser. – Raquel Dutra
Mariah The Scientist – RY RY WORLD
Além de cientista, Mariah Buckles é uma tremenda contadora de histórias. RY RY WORLD, seu segundo registro de estúdio, serve como reafirmação da estadunidense como uma das vozes mais potentes e calibradas dessa geração mais jovem, que sabe muito bem mesclar as influências múltiplas de R&B com o pop.
Como em um teatro de sombras, a cantora nos leva numa jornada emocional ao extremo. A capa, com uma flecha atravessada em seu peito se tornando motivo de riso, demonstra o potencial artístico de Mariah The Scientist. Agora, suas dores e traumas não incomodam tanto quanto antes, abrindo espaço para que suas composições se deliciem no ardor.
O breve disco se concentra em nos apresentar, ao longo de meia hora, apenas dez faixas. Entre parcerias com Young Thug e Lil Baby, Mariah brilha melhor sozinha. RIP é um hino do gênero e All For Me reafirma o caráter de cura que RY RY WORLD desempenha na discografia da cantora. Ouça sem moderação. – Vitor Evangelista
Half Waif – Mythopoetics
Por definição, mitopoética refere-se à procura da riqueza criadora, da poética dos mitos. Não tem nome melhor para batizar o lançamento mais recente da cantora Half Waif: Mythopoetics, o quinto álbum da artista, usa as suas 12 faixas de duração para abraçar a bagunça e a beleza interior – e o que vem no meio disso.
Se a sonoridade é repetitiva, as letras de Plunkett compensam. “Entrando no meu próprio caminho/Ninguém vai me salvar/E eu vou ficar desapontada”, ela desabafa em Take Away the Ache, a terceira faixa. Já em Sodium & Cigarretes, introspectiva e reflexiva, ela questiona: “Eu mereço o que vem para mim?”. Até a capa, com Half Waif gritando ao posar em frente a um céu azul e um jardim, é ao mesmo tempo catártica e acolhedora, como cada minuto dos quase quarenta de duração do Mythopoetics. – Vitória Lopes Gomez
Lightning Bug – A Color of the Sky
É curioso dizer que A Color of the Sky é inspirado pelo ato de soltar pipa, mas o que a vocalista Audrey Kang diz sobre o terceiro disco de Lightning Bug se prova uma verdade através das 10 canções do álbum. A história começa em 2019, quando a banda havia finalizado October Song, seu segundo trabalho de estúdio, num processo criativo exaustivo que durou cinco anos entre composição, gravação e finalização. Esgotados, cada um foi pro seu canto, e o destino de recuperação de Kang foi o Washington State International Kite Festival, o maior encontro de amantes de pipa da América do Norte. Lá, além de encontrar vazão para uma nova, aleatória e inocente obsessão, Audrey também descobriu seus próximos passos enquanto artista.
A magia por trás da pré-produção se materializa no disco logo de cara com a hipnotizante The Return, e quando o ouvinte de A Color of the Sky se dá conta, já está perdido no universo onírico do grupo. O voo é guiado apenas pela melodia, que permanece a mesma desde o início, mesmo com o crescimento da música que abraça muitos novos elementos em seus mais de seis minutos. Ali, se compreende que Lightning Bug procura tratar as dores e as delícias do autoconhecimento e do processo criativo em canções dialógicas, que se encaixam dentro de um art rock e abraçam uma das melhores criações do indie rock, o shoegaze.
Mas a amplitude sensorial de A Color of the Sky não se prende nas caixinhas de nenhum gênero, vide o single September Song, pt. ii, que mostra influências da música oriental, ao mesmo tempo em que complementa a penúltima faixa do fatídico álbum anterior. Ainda fiel à estética original, o disco muda um pouco os rumos da sua viagem em Song Of The Bell, que se aprofunda nas notas amargas do rock dos anos 70, e assim segue na seriedade suave de I Lie Awake e The Flash, misturando tudo o que fez no disco até o momento com um pouco de folk. O destaque vai também para a meditativa Wings of Desire, que mostra o desejo inspirado de Lightning Bug. De volta à metáfora da pipa, A Color of the Sky não quer só passear pelo céu, mas também desvendar e criar seus próprios elementos celestiais. – Raquel Dutra
Inhaler – It Won’t Always Be Like This
It Won’t Always Be Like This, álbum de estreia da banda irlandesa Inhaler, é uma bela chegada. O quarteto reúne, em onze faixas, uma mistura de revolta juvenil com singles chiclete, com traços do indie e do pop rock. Não estranhe em se pegar cantarolando por aí.
Existem ecos de Arctic Monkeys, Stereophonics e Oasis em todo o CD, especialmente nas faixas My King Will Be Kind e Strange Time To Be Alive. A música que dá título ao álbum foi regravada, com sua primeira versão lançada em 2019. Na nova gravação, o baixo tornou-se mais potente, os sintetizadores ganharam espaço, e alguns ruídos foram retirados. No que parece ser uma adaptação de público alvo, a nova versão soa bem melhor.
Inhaler parece explorar diversos subgêneros nas canções, algumas mais lentas e outras mais agitadas — no melhor estilo música-para-tocar-em-rádio —, mas sem deixar de lado sua essência indie. O álbum é uma bela amostra do talento do grupo, provando, em sua melhor forma, que não são apenas aquela banda do filho do Bono Vox. – Bruno Andrade
WILLOW – lately i feel EVERYTHING
Não há lugar melhor para expressar sentimentos urgentes do que o rock. E quem sente TUDO como WILLOW sabe bem disso. Como diz o título, o quarto disco da artista é um compilado de viagens emocionais. Das experiências mais profundas às mais superficiais – se é que podemos assim definir – todas são dignas em lately i feel EVERYTHING. Na base geral do gênero, ora ela afoga as mágoas numa sonoridade mais punk, ora busca conforto numa musicalidade mais alternativa, que tem sido sua casa de experimentações desde sua estreia em 2015 com ARDIPITHECUS.
A identidade musical de WILLOW é intrinsecamente sentimental, desenhando uma estética um pouco mais serena em The 1st (2017), muito mais caótica no autointitulado de 2019 e completamente psicológica em THE ANXIETY, seu projeto de 2020 realizado em parceria com Tyler Cole cujo objetivo era investigar as dimensões da ansiedade. Então, a obra de 2021, nascida na pandemia, não poderia ser menos à flor da pele. Já na abertura de lately i feel EVERYTHING, a artista não mede suas palavras ao falar sobre as contradições das relações sociais ao lado de seu maior parceiro no disco, o baterista do blink-182 Travis Barker. Logo em seguida, ela grita com todos os pulmões um desejo de desgraça para quem quebrou seu coração e reflete sobre amadurecimento na companhia de Avril Lavigne.
A crueza sentimental não significa falta de cuidado, planejamento e organização quando tratadas na habilidade musical de WILLOW. Ela cria em lately i feel EVERYTHING os lugares perfeitos e necessários para que a sinceridade amarga das suas letras e a empatia doce dos seus sons se encontrem em faixas como 4ever. E mesmo nas músicas mais inflamadas como Gaslight, Come Home e ¡BREAKOUT!, o processo terapêutico da artista é concluído – mas é preciso entender que isso nem sempre significa um final pacífico ou feliz. O que importa é que sentimos TUDO e mais um pouco junto de WILLOW. – Raquel Dutra
MC Carol – Borogodó
Após cinco anos de Bandida, álbum de estreia que escancarou a majestosa MC Carol no cenário do funk brasileiro, a cantora, compositora e ativista lança seu novíssimo trabalho: Borogodó. A capa do disco faz alusão a pintura de Sandro Botticelli, O Nascimento de Vênus e o clipe de Mulher do Borogodó é repleto de referências ao mundo encantado da Disney. Todos elementos escolhidos por Carol para Borogodó são extremamente essenciais, é uma mulher negra e periférica levando o funk a um patamar onde os boys não a queriam ver.
O funk não é o único a aparecer nesse álbum eclético em suas faixas. O trap, o pagode baiano e o bregafunk marcam presença em músicas como Meu Vizinho e Novinho de 17. Mais um vez, MC Carol usa de sua profissão para dar voz a sua vida e explorar o empoderamento feminino da sexualidade. O álbum também cumpre com sua proposta de levar a periferia além, contando MC Reino, CL no Beat e Cleytinho Paz e O Maestro, artistas jovens para contribuir no trabalho. Não vejo a hora de estar numa festa em república cantando Borogodó. – Ana Júlia Trevisan
Jxdn – Tell Me About Tomorrow
Sob a tutela de ninguém mais, ninguém menos do que o veterano do punk Travis Barker, o ex TikToker Jaden Hossler se enfia de vez na carreira musical com o lançamento de seu primeiro álbum, Tell Me About Tomorrow. As 18 faixas incluem um feat com Machine Gun Kelly e são produzidas pelo baterista da blink-182, algumas em parceria com o cantor blackbear e o produtor Andrew Goldstein, responsável por sucessos de bandas como All Time Low e Linkin Park: a estreia de Jxdn é permeada de bons nomes e referências.
Hossler é assumidamente o pupilo de Barker, que o assinou em seu selo musical após ver a estrela do TikTok na rede social. Muito provavelmente, é o dedo do padrinho e a influência de outras personalidades do gênero que fazem do álbum tão enérgico e impressionante como é. Não se pode dizer que Jxdn tenha virado somente um performer, já que ele tem participação nas letras: depressão, vício, decepções amorosas e a ascensão à fama são temas cantados por ele, que até nos vocais soa como uma versão mais nova de Machine Gun Kelly.
Tell Me About Tomorrow não renova o gênero, como o padrinho musical apostou (Tickets To My Downfall, a qual Hossler aspira, não tem nem um ano) e é similar às referências do artista. Isso não é necessariamente é ruim: com um pop punk animado em todas as faixas, a estreia de Jxdn não precisa inventar a roda para ser promissora e divertida. – Vitória Lopes Gomez
John Mayer – Sob Rock
O novo álbum de John Mayer facilita muito o trabalho de quem tem a tarefa de opinar sobre ele. Como ele mesmo avisou em entrevista à Apple Music antes do lançamento, quando explicou suas intenções com o disco já na defensiva e com um pouco de arrogância provocativa, “chama-se Sob Rock porque é uma merda”. Bom, já defender algo que já tem sua integridade questionável graças ao histórico de seu criador, especialmente quando o próprio define o seu trabalho dessa forma. E tudo isso fica ainda mais incômodo quando combinado num álbum que é atrasado em suas referências e raso em todas as suas intenções.
A premissa de Sob Rock de deixar-se influenciar pelo rock da década 80 não poderia ser mais ultrapassada e preguiçosa, já que acontece no ano seguinte em que a dita cuja foi explorada e revirada pela indústria, e já que não se preocupa em apresentar sequer uma das muitas faces da Música de 40 anos atrás que valha a pena reviver. O tédio das escolhas de John Mayer compromete logo o início do disco, nas insignificantes Last Train Home e Shouldn’t Matter But It Does. Depois, o single que trabalha pelo álbum desde 2018, New Light, mostra um pouco de ânimo e originalidade, mas não dá conta de driblar a reação irritante que se desenvolve em quem tem que ouvir um homem de 40 e poucos anos cantando “Por que você não me ama?” no refrão de uma música chamada Why You No Love Me.
O que daria pra salvar de Sob Rock está Wild Blue, mas nem mesmo ela justifica o play no disco. E nem deveríamos esperar algo diferente de John Mayer, que depois de ascender como um dos musicistas mais notáveis do rock nos anos 2000 e viver seu auge ali naqueles primeiros 10 anos, se mostrou alguém digno do ostracismo ao se sentir confortável em despejar racismo numa entrevista de 2010. Assim como os três álbuns que o precedem, Sob Rock é insuportavelmente leviano. E assim como seu nome sugere, está exatamente abaixo de algo digno dentro do gênero. E eu não sei porque ainda precisamos falar sobre o trabalho de John Mayer em 2021. – Raquel Dutra
Charlotte Day Wilson – Alpha
Nome já conhecido na cena R&B contemporânea, a cantora, produtora e compositora canadense, Charlotte Day Wilson, passou os últimos anos colaborando com representantes em ascensão do gênero – incluindo uma posição nas paradas da Billboard com What You Need em parceria com KAYTRANADA ou mesmo com seus poucos projetos autorais, como o incrível Work. A artista, contudo, não se limita a nenhuma sonoridade, orbitando entre o soul de Daniel Caesar ao PC Music em composições junto de Iglooghost.
Alpha foi produto de um longo processo de amadurecimento artístico de Wilson, trazendo influências claras de suas colaborações passadas mescladas à experiência pessoal. Em seu primeiro álbum solo, a artista de Toronto entrega ao público 11 faixas coesas entre si, que fluem como água. Através de sua voz poderosíssima, nos derramamos em confissões quase religiosas: “Oh-oh eu te banharia/Lavaria você dos pecados que te atormentam/Livraria-te dos fardos e você seria livre mais uma vez”, verso de If I Could.
Sem deslizes, Wilson aborda cada um de seus sentimentos de maneira muito imersiva, criando uma experiência cinematográfica épica intensificada com o uso de vocais como instrumento que garantem textura transcendental às faixas. Em meio aos muitos destaques, se sobressai o single Keep Moving acompanhado de seu videoclipe, uma carta de amor calorosa à comunidade LGBTQIA+. Inspirado nas lésbicas sêniores que inauguram muitas Paradas do Orgulho – Dykes on Bikes –, Keep Moving mostra um bando de gente dançando, amando e existindo sem desculpas. – Ayra Mori
Luísa Sonza – DOCE 22
Ame ou odeie, é fato que Luísa Sonza é uma das artistas nacionais que mais sofre com a misoginia expressa em ataques de ódio, que nascem no mundo virtual e se concretizam também no mundo real. Cercada pela mídia e julgada pelo tribunal da internet, a jovem viveu momentos difíceis no último ano desde que o fim de seu casamento com o comediante Whindersson Nunes deixou de ser assunto pessoal para se tornar uma questão de debate nacional. Depois de tentativas vãs de defesa e justificativas, Sonza entendeu que a situação era maior que ela, finalmente se blindou e prometeu trazer sua versão dos fatos através de seu ofício, que chega entre os altos e baixos irônicos e nem sempre simpáticos de DOCE 22.
O segundo disco de Luísa Sonza não carrega o peso de uma possível escolha da artista de calibrar suas palavras e disfarçar seus sentimentos, que são muito complexos a essa altura da sua carreira. Depois da estreia notável e promissora de Pandora, os singles sucessores já eram manchados pela opinião pública da artista, que se combinou à reação natural de exaustão diante da identidade reciclada. Assim, ela desabafa sobre tudo isso em DOCE 22, cada música à sua maneira. As coisas são mais diretas no pop absoluto e sarcástico de INTERE$$EIRA e MULHER DO ANO XD, enquanto as baladas penhasco. e melhor sozinha :-)-: exploram como as circunstâncias atingiram sua dimensão pessoal.
Repleto de referências e emoções, DOCE 22 estoura no paladar de seu ouvinte. O som da Princesa do Pop toma forma na voz de Sonza em 2000 s2, e na carona de MODO TURBO, ela também faz a festa das colaborações com 6LACK, Pabllo Vittar, Anitta, Jão e LUDMILLA. No meio de tantos elementos, o maior triunfo do álbum são as experimentações de Luísa em cima da base pop que ela conhece muito bem. Um gostinho de country surge nos últimos suspiros de DOCE 22, soltando a interpretação de Sonza no desabafo de o conto dos dois mundos (hipocrisia), que se emenda com o gracejo das gaitas de Lulu Santos em também não sei de nada 😀, de longe uma das melhores surpresas do disco. Depois de cantar sobre tudo o que a aprisiona, Sonza cria o seu momento de ir além e libertar de vez sua vida e sua capacidade artística. – Raquel Dutra
The Kid LAROI – F*CK LOVE 3+: OVER YOU
O terceiro volume do F*CK LOVE, F*CK LOVE 3+: OVER YOU, fecha o projeto de mixtapes do artista australiano The Kid LAROI. As 13 faixas inéditas são reunidas às antigas, que vêm sendo lançadas desde 2020 em EPs separados, e finalizam o álbum em uma coletânea com 35 canções . Agora com apenas 17 anos, Charlton Howard, que adotou o nome artístico e assinou com o empresário Scooter Braun, ascende à fama com feats com Justin Bieber, Machine Gun Kelly e Miley Cyrus.
Porém, se as referências pop ou rap de The Kid LAROI o permitem explorar estilos, as batidas genéricas em que o cantor cai fazem da uma hora e dezoito minutos de duração total soar quase iguais. Apesar de uma ou outra canção destoar e desafogar do comum do álbum, ao final, a decisão de compilar as 35 faixas em uma sequência tornam F*CK LOVE 3+: OVER YOU mais do mesmo. – Vitória Lopes Gomez
Rodrigo Amarante – Drama
Drama é o segundo álbum da carreira solo do ex-Los Hermanos, Rodrigo Amarante. A faixa homônima, que abre o disco, é um conjunto de instrumentos, palmas e risadas armando o circo no qual estamos prestes a entrar. Amarante, que vive nos Estados Unidos, mistura a essência das musicalidades, compondo um trabalho bilingue. Drama é introspectivo e intimista, nos transportando entre lugares e amores.
Suas letras seguem o romantismo noventista que acalenta. Seu instrumental tem grande peso na obra, com os metais deixando ainda mais claro a assinatura de Rodrigo Amarante dentro do mundo da Música e conversando diretamente com o ouvinte. The End, a faixa que encerra Drama, surpreende por sua complexidade. A balada começa sutil e cresce dentro de seu próprio jogo melódico, conseguindo resumir em partes tudo aquilo que o cantor se permite aventurar sete anos após seu disco de estreia. – Ana Júlia Trevisan
Bleachers – Take the Sadness Out of Saturday Night
O tempo todo estamos ouvindo Jack Antonoff. O compositor e produtor de confiança de artistas como Taylor Swift e Lana Del Rey assina boa parte das obras favoritas do indie pop, e dispensa explicações sobre o seu trabalho expresso nos sucessos de folklore, Melodrama e Norman Fuckin Rockwell!. Mas se como produtor Antonoff se concentra em trabalhar na música do momento, como líder do Bleachers ele mostra um musicista que se permite influenciar pelo passado livremente, ao mesmo tempo em que segue admirando o presente e vislumbra o futuro. Strange Desire, o primeiro álbum do grupo, mostra a exata concretização dessa identidade, numa explosão de criatividade, referências e lirismo, que se estende de forma mais lapidada e madura no segundo disco, Gone Now.
Dessa vez, o caminho é um pouco diferente, ainda mais vintage e menos eletrônico, mas fresco como nunca e livre como sempre. Em Take the Sadness Out of Saturday Night, Bleachers incorpora elementos da música clássica e deixa uma pontinha de country e blues crescer na essência indie pop rock do grupo. O primeiro cenário é formado pela épica 91, que joga as expectativas lá em cima ao abrir o disco. Já o segundo é expresso nos minutos livres, leves e soltos de How Dare You Want More e Stop Making This Hurt, canções impossíveis de não constarem nas trilhas sonoras daqueles filmes dos anos 2000 que estão na nossa lista de favoritos da vida. O terceiro, por sua vez, surge determinado na sonoridade de Big Life e tímido na serenidade complexa de Strange Behavior.
A vibe de Take the Sadness Out of Saturday Night ainda é brincar de ser boomer ao lado de Bruce Springsteen e voltar para as experiências jovens adultas de 2021 com Lana Del Rey. Junto dos vocais da diva indie, a melhor canção do álbum acalma os ânimos de quem se genuinamente gosta do que faz para saborear com mais tranquilidade a obra de Bleachers na companhia de 45 e What’d I Do With All This Faith?. Entre as guitarras, baterias, saxofones, teclados e sintetizadores, está uma música vivaz, única, criativa, temperamental e certeira, que varia conforme o momento e conforme seus membros. A âncora de tudo é a preciosa mente musical de Jack Antonoff, que longe da pompa do pop, nunca decepciona os que a compreendem. – Raquel Dutra
EPs
Samia – Scout
Como a própria cantora Samia Finnerty descreve, seu EP mais recente, Scout, é a irmã mais velha moral de The Baby, o álbum de estreia da norte-americana. Com sonoridades muito similares às do trabalho anterior, as quatro faixas inéditas se diferenciam pelas suas letras mais maduras.
As canções compostas por Samia exploram temas como amizade, vulnerabilidade, amadurecimento, sentimentos conflitantes, relações familiares e amorosas. Cantando os próprios sentimentos e experiências, citando até nomes nas faixas, a voz suave da norte-americana embala o melodrama atraente de Scout. – Vitória Lopes Gomez
Olivia Dean – Growth
Reunindo os dois singles lançados em 2021, Olivia Dean traça um paralelo entre os seus cabelos e o seu crescimento pessoal no EP Growth. Produzido durante a pandemia, o novo trabalho da cantora capitaliza na sua bela voz e em instrumentos que a complementam, especialmente o piano.
Apesar de conter os ótimos singles Be My Own Boyfriend e Slowly, o grande destaque do disco vai para Cross My Mind, a terceira faixa, que parece liberar toda a tensão contida nas duas primeiras, dando voz ao crescimento de sua artista e finalmente deixando suas asas se abrirem. Juntando novos sons de jazz ao seu repertório, Olivia Dean cria uma adição forte à sua crescente discografia e reforça seu lugar como uma das vozes emergentes da cena indie britânica. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Yves Tumor – The Asymptotical World EP
Sempre com looks ousados e fugindo de rótulos, Yves Tumor é provavelmente um dos nomes mais significativos da música eletrônica experimental a ultrapassar o underground nos anos recentes. Com o EP The Asymptotical World, Tumor mantém a espacialidade e a energia que caracterizaram seus lançamentos recentes, mas com forte ênfase na guitarra.
Por mais que o trabalho tropece ao se aproximar demasiadamente de um rock pouco inspirado, ainda há momentos energéticos voltados à experimentação pura como em Tuck, ou potência das cordas da guitarra elétrica em Katrina, faixa que encerra o EP. Mesmo não apresentando todo o potencial para o inusitado que transparece em sua carreira multifacetada até aqui, The Asymptotical World tem bons motivos para agradar os fãs– João Batista Signorelli
Overdrive Saravá – CIGARRA
A música brasileira contemporânea é perfeitamente contemplada no novo EP de Overdrive Saravá. Da mistura de ritmos produzida pelos vocais de Gregory Combat, baixo de Matheus Freire, guitarra de Thiago Henud e bateria de Caio Dalmacio, nasce um grupo fundamentado nas tradições nacionais e influenciado pela atitude do rock, como o próprio nome da banda sugere ao misturar o imaginário da brasilidade com uma definição sonora do gênero.
Depois de demarcar essas premissas no álbum de estreia autointitulado, o grupo se aprofunda na estética com alguns encaminhamentos específicos em CIGARRA. Mais político, livre e encorpado, o trabalho de Overdrive Saravá agora procura alcançar novos espaços através. E através de O Mar, João do Amor Divino e Entrevero, assim o faz. – Raquel Dutra
Tkay Maidza – Last Year Was Weird, Vol. 3
O terreno explorado por Tkay Maidza desde o primeiro volume de sua trilogia de EPs foi vasto. A rapper australiana, nascida no Zimbábue, cria melodias próprias e transforma qualquer oportunidade de rima e composição em aventuras de exploração. A capa de Last Year Was Weird, Vol. 3 representa com exatidão a pegada do trabalho: futurista e frutífera, mas ainda sensível (é só dar play em Cashmere, logo ali embaixo, pra sentir o gostinho).
Enquanto reflete sobre a estranheza do “ano passado”, conceito que premeditou a pandemia que nos tranca em casa por bastante tempo, Tkay Maidza se desdobra em rimas catárticas e ácidas ao extremo. Kim, a faixa mais despojada do registro, é a melhor vitrine de seu talento. Cantando sobre a personagem Kim Possible, Maidza se coloca no centro da ação, e, entregando som foda atrás de som foda, por Deus, que ela continue exatamente lá. – Vitor Evangelista
Músicas
Lorde – Stoned at the Nail Salon
Segundo tira-gosto do vindouro Solar Power, o novo single de Lorde é um mergulho nas águas geladas da incerteza adulta. “Tem um ossinho da sorte no parapeito da janela da minha cozinha/Só para o caso de eu acordar e perceber que fiz a escolha errada”, ela canta em uma das aberturas mais fortes da carreira. A partir daí, a kiwi mais querida do mundo desata a desabafar sobre o período entre-safras de sua vida. Quando está em turnê, sente falta da vida pacata, e quando está no salão de manicure no terceiro copo de limonada, sente falta do alvoroço dos shows.
Como já é de praxe, Lorde relaciona questões muito particulares de sua vivência como uma super estrela com visões mundanas. Em Stoned at the Nail Salon, o rabo do foguete é mais metafórico que o usual, vale o ressalve. A batida calminha, acompanhada de cordas agradáveis, enfraquece o soco da composição, mas não é nada que oblitere o senso artístico de Lorde e Jack Antonoff, principal colaborador desde o longínquo Melodrama.
Cantando sobre a brevidade de tudo que nos cerca, Lorde muito mais aconselha do que divaga, e sempre que está prestes a tomar uma decisão, ela volta atrás e admite a incerteza, afinal, ela só poder estar chapada no salão de beleza, é óbvio. Para agora, é gratificante ouvir lembranças de Pearl, o cãozinho que faleceu e desestabilizou a concepção do álbum tantos meses atrás, em “Eu amo essa vida que tenho/A videira pendurada sobre a porta/E o cachorro que vem quando eu chamo”. Poucas semanas antes de Solar Power eclipsar o mundo, a minha cantora favorita me abraça e prova que a espera sempre valerá a pena. – Vitor Evangelista
Caroline Polachek – Bunny Is A Rider
Após o aclamado Pang (2019), Caroline Polachek criou um clima de ansiedade do que estaria por vir em seus próximos projetos solos. Com o single Bunny Is A Rider, Polachek retorna em meio a assobios, preenchendo todas as expectativas do público ao apostar no seguro. Contando com a co-produção de Danny L Harle – parceria frequente de trabalhos passados –, a artista não foge dos conceitos cunhados no primeiro álbum mas não deixa de entregar um delicioso hit, prévia do que vem em seguida.
Nas palavras da própria Polachek: “‘Bunny Is A Rider’ é uma jam de verão sobre não estar disponível. Bunny é escorregadio, impossível de segurar. Talvez seja uma fantasia, talvez seja uma atitude ruim. Mas qualquer um pode ser Bunny, pelo menos por três minutos e dezessete segundos.” – Ayra Mori
Angel Olsen – Gloria e Safety Dance
Depois da melancolia no álbum All Mirrors, e de remoer ainda mais aqueles sentimentos ao reinterpretar as mesmas canções em Whole New Mess, já passava da hora de Angel Olsen voltar a trazer algumas cores para sua vida. E essa parece ser justamente a proposta de seu próximo EP, trazendo covers de hits dançantes dos anos 80. Em Gloria e Safety Dance, os dois singles do EP divulgados no último mês, ela faz uso de sintetizadores e pesa fortemente no efeito reverb, do mesmo modo que fez em All Mirrors. Com a mesma beleza épica, mas sem os anseios e as lágrimas, as releituras de Olsen anunciam uma nova fase menos monocromática na carreira da cantora-compositora. – João Batista Signorelli
CHVRCHES – Good Girls
Completando tematicamente a trilogia de singles do disco Screen Violence antes do seu lançamento em agosto, Lauren Mayberry está de volta para afirmar que não é boa moça. O novo single de CHVRCHES, Good Girls, é o mais energético dos três, captando toda a frustração de sua vocalista contra a erradicação da “menina má” em narrativas de terror.
Adicionando uma pitada de explicitude em sua letra (“Matar seus ídolos é tão chato/Entediante pra caralho/Mas não precisamos mais deles”), CHVRCHES entrega o melhor single de Screen Violence até agora, dando voz a sentimentos intensos e reflexivos. A pista final dos temas a serem explorados na próxima geração de sintetizadores da banda, Good Girls marca a discografia dos escoceses da melhor maneira possível. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Letrux – I’m Trying To Quit
I’m Trying To Quit é o single de abertura do mais novo projeto de Letrux, que trará composições antigas da cantora e nunca antes gravadas. A música foi escrita em 2013 – anos que Letícia disse ter sido o mais insano de sua vida. A letra bilíngue é carregada de emoções que explodem no vocal de Letrux. A guitarra elétrica adiciona uma angústia I’m Trying To Quit, mostrando a dimensão do quão fundo é o buraco dos vícios. O single também ganhou um clipe dirigido por Clara Cosentino, que elucida toda abstratividade da solidão e acende o alerta de perigo. – Ana Júlia Trevisan
Troye Sivan – could cry just thinkin about you (Full Version)
O sucesso artístico e salto emocional do EP In A Dream colocou as composições de Troye Sivan em outro nível. O australiano, que cada vez mais se abre e se permite explorar territórios distintos em suas canções, agora lança a versão completa de could cry just thinkin about you, o hinário de sofrimento que aparecia como interlude no trabalho de 2020. Disponibilizada após um show ao vivo de Sivan, a música machuca em todos os pontos certos, e até quem nunca traiu o parceiro sente a dor ensanguentada do par de chifres que Troye botou no namô. – Vitor Evangelista
BTS – Butter / Permission to Dance
O mundo do k-pop não para. A temporada está lotada de ótimos lançamentos, então é claro que os queridinhos da Coreia – e do mundo – não poderiam ficar de fora. Com duas músicas e suas versões instrumentais, BTS cria um mini-álbum bem colorido para pintar a vida de seus ouvintes, mais uma vez.
Butter, lançada originalmente em junho, segue uma temática mais romântica, e as piscadinhas dos membros para as câmeras são de deixar qualquer um sem fôlego. Quando o clipe começa, todos bem estilosos em seus ternos, é possível entender o porquê uma grande legião de adolescentes se apaixonou pelo grupo. Realmente, Taehyung, BTS é quente como o verão.
A beleza dos garotos, porém, não é a única coisa que cativa. A letra positiva de Permission to Dance traz esperança para quem estiver ouvindo. Na coreografia do music video, símbolos da língua de sinais foram incluídos levando palavras sobre alegria e paz. BTS quer – e vai – levar sua mensagem para todos. – Mariana Chagas
Shakira – Don’t Wait Up
Um dos retornos mais esperados aconteceu em julho de 2021. E infelizmente, não foi como o esperado. O single Don’t Wait Up traz um vislumbre do 12º disco de Shakira prometendo novidades para o mercado mundial, uma vez que a artista tem se concentrado na música latinoamericana nos últimos anos. Pois bem, aí aconteceu que, tirando as teias de aranha dos seus estúdios, Shakira caiu num deprimente refrão de balada hétero, dá pra acreditar? E mais infelizmente ainda, isso é tudo o que precisamos saber sobre sua nova música. – Raquel Dutra
Coldplay – Coloratura
Chris Martin definitivamente cansou do planeta terra. Depois de uma viagem por diversas culturas no álbum Everyday Life, tudo indica que para o próximo CD ele estará levando o Coldplay para bem longe do cotidiano e dos problemas mundanos, o que fica claro no segundo single para o nono trabalho de estúdio da banda, que será intitulado Music Of The Spheres. Se Higher Power, a canção anterior, parecia apenas mais daqueles hinos pop repetidos pela banda à exaustão, Coloratura é uma faixa ambiciosa que expande os horizontes de Martin e sua trupe, ou melhor, vai para onde não há horizontes. Literalmente.
A faixa mais longa já gravada pelo Coldplay, com 10 minutos de duração, nos leva de balão a uma jornada entre as estrelas, luas de neon, e além. Segmentada em diversas sessões instrumentais além dos versos da canção, Coloratura remete diretamente às longas peças de rock progressivo eternizadas por grupos como Pink Floyd e Yes; não à toa, as cordas do refrão ecoam Comfortably Numb da primeira à última nota. De qualquer modo, da harpa ao glockenspiel, Coloratura mostra que o Coldplay está disposto a explorar além de sua zona de conforto, e torçamos para que as próximas faixas, inclusive as com títulos impronunciáveis, façam o mesmo. – João Batista Signorelli
Alessia Cara – Sweet Dream e Shapeshifter
A cantora canadense Alessia Cara vem experimentando diversas sonoridades através de EPs e parcerias desde seu segundo álbum de estúdio, The Pains Of Growing, onde abordava o contraste entre a dor de amadurecer e a suposta alegria da juventude. O novo disco, ainda sem título anunciado, pretende ampliar ainda mais a discussão sobre dualidades como indica as duas músicas lançadas como singles: Sweet Dream e Shapeshifter.
Em Sweet Dream, a cantora narra as dificuldades que tem com a insônia e como isso transforma o período onde deveria descansar em um caos existencial. O clipe lançado junto com a música estabelece uma atmosfera de sonho com pitadas de pesadelo, enquanto a sonoridade une melodias de canções de ninar ao pop com traços de trap que vem dominando a rádio nos últimos anos. Uma mistura inusitada que só funciona por conta da composição sagaz e do carisma da cantora.
Já em Shapeshifter, ela entrega a canção mais sofisticada de sua carreira. Ao lado do produtor Salaam Remi, que trabalhou em várias músicas de Amy Winehouse (artista da qual Alessia se declara fã), ela não esconde suas influências, ao contrário, Alessia as transborda. A letra explora os sentimentos conflitantes após uma decepção amorosa onde o rancor é tanto que a linha entre repulsa e desejo se confunde, assim como a percepção sobre quem a pessoa amada é. – G. H. Oliveira
Conan Gray – People Watching
Que Conan Gray é um hopeless romantic já ficou bem claro. Mas depois de uma longa temporada gostando da mesma pessoa – o que rendeu um EP, um álbum e alguns singles -, o cantor parece ter finalmente desapegado. Conan poderia aproveitar as férias e descansar um pouco seu coração sofrido, mas o garoto já está pronto para mais uma jornada no mundo perigoso e incrível dos romances.
Em People Watching, o artista volta a se reunir com Dan Nigro para cantar sobre querer se apaixonar. A letra começa narrando o relacionamento de sua melhor amiga, Ashley, que inclusive apareceu no clipe. A surpresa dos fãs foi tanta que levou o nome da jovem para os assuntos do momento. Em um namoro há muitos anos, Ash é apenas uma das pessoas que o cantor assiste enquanto sofre sozinho. Se até Conan Gray se sente carente, quem somos nós para não nos sentirmos também? – Mariana Chagas
Thom Yorke e Radiohead – Creep (Very 2021 Rmx)
Mesmo tendo sido a grande responsável por emplacar o Radiohead no cenário do rock alternativo no início da década de 90, Creep não levou muito tempo para deixar a banda cansada a ponto de se recusar a tocá-la por anos. Talvez seja pelo fato de que, apesar do que diz a canção, Creep não era “esquisita” o suficiente para competir com qualquer coisa que o conjunto tenha feito nos anos seguintes. Quase 30 anos depois, o vocalista Thom Yorke vem finalmente fazer jus à letra nesse novo remix da canção. Ao literalmente deformar o indesejado hit, estaria ele fazendo as pazes com o passado? Ou apenas zombando das expectativas dos fãs?
Intitulado como Very 2021 Rmx (algo como “Remix muito 2021”), Yorke nesse lançamento obviamente não quis dar ares de Olivia Rodrigo ou Lil Nas X para Creep, pelo contrário. A partir da versão acústica da música (a melhor delas), ele a destitui de qualquer característica que possa tê-la transformado em um sucesso. O tempo aqui é estendido a ponto de distorcer a qualidade do áudio original ao longo de 9 minutos carregados por uma atmosfera melancólica. O grande momento fica a cargo da entrada dos sintetizadores a partir no segundo verso, que dão sustentação para o resto desta estranha versão. Thom Yorke finalmente resolveu voltar ao seu passado, mas só para acabar com ele de vez. – João Batista Signorelli
Silk Sonic – Skate
Para o bem ou para o mal, estamos finalmente diante de um sucessor para Leave The Door Open. Depois do sucesso estratosférico de seu primeiro single, Silk Sonic volta a se divertir pela música dos anos 80 por iniciativa de Bruno Mars e Anderson .Paak. A estética de Skate é exatamente a mesma que bombou em todos os últimos meses (também, para o bem ou para o mal, considerando que essa é a intenção, mas precisa realmente ser sempre assim?). Agora, a dupla talvez só esteja menos manhosa. Todo o resto, no entanto, é como sempre: despojados e românticos até demais, os músicos seguem apegados aos seus instrumentos e babando nas mulheres que cruzam seu caminho. – Raquel Dutra
Imagine Dragons – Wrecked
Passar pela fase de luto, com certeza, é uma das piores sensações que já vivenciei. Parece que, quando somos menores, esse sentimento agonizante consegue se dissipar (ou pelo menos, enfraquecer) com mais facilidade. Falando de uma pessoa que recentemente passou por isso, é difícil visualizar uma luz no fim do túnel numa dor que é impossível mensurar. Dizem que extravasar emoções, seja por lágrimas, gritos e afins, é a maneira mais fácil de amenizar a perda. Dan Reynolds decidiu atenuar sua tristeza em uma canção para Imagine Dragons e o resultado não podia ser mais impressionante.
Sendo a música um subterfúgio para artistas puderem demonstrar seus sentimentos, Reynolds usou melodias dramáticas para tentar lidar com a perda da cunhada por um câncer. Seguido de uma percussão incessante e ritmada, o refrão é quase um suplício, um grito de angústia e sofrimento. É quase impossível não se emocionar quando ele pergunta, como é que eu vou seguir em frente? Sim Dan, dizem que o tempo cura, que a dor vai embora, mas a inquietude e a amargura estão presentes, ainda que existam momentos em que elas adormeçam.
Depois de uma pausa na carreira, a banda soltou duas músicas em março deste ano que devem fazer parte do novo álbum Mercury – Act 1, com previsão de lançamento para setembro. Tendo Wrecked como terceiro single, essa nova produção não deve falhar no quesito sucesso, algo difícil de acontecer para Imagine Dragons. – Júlia Paes de Arruda
PVRIS – Monster
Após a notícia de que entrariam em uma nova era e dariam uma repaginada em seu visual, o duo PVRIS nos presenteou com um novo single no fim de julho, com a promessa de mais duas novas músicas durante seu tour nos Estados Unidos em agosto. Se apoiando ainda na batida eletrônica pesada e sombria que marcou seu último álbum, Monster faz um ótimo uso dos vocais de Lynn Gunn, criando uma melodia cadenciada, misturando hard rock rock com dark pop. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Cazuza – Mina
Sem dúvidas, Cazuza é um dos poetas mais geniais que o Brasil já teve o prazer em chamar de filho. Partindo cedo, em 1990, com apenas 32 anos, suas músicas ainda são cultuadas por todo bom amante de música nacional. Agora, mais de três décadas após sua morte, uma nova gravação foi descoberta no fundo do baú da imortal obra, e relançada no dia que o cantor faria aniversário.
Mina bebe da mesma fonte de Garota de Bauru. A música conta com a parceria de George Israel e Nilo Romero, e é inspirada em uma briga de bar em Minas Gerais. A faixa foi gravada para o álbum Só se for a dois, mas não chegou a versão final e ganhou novos arranjos refeitos por Nilo. Mina é viciante, diferente do que estamos acostumados a ouvir de Cazuza, mas ainda assim com a forte assinatura do gênio. Para completar a comemoração, Mina também ganhou um clipe animado para acompanhar a saudosa voz de Cazuza. – Ana Júlia Trevisan
Violet Chachki & Allie X – Mistress Violet
Entre vencer a sétima temporada de RuPaul’s Drag Race e se tornar um ícone da moda, a drag queen Violet Chachki mostrou que não está para brincadeira. A empreitada da vez é na Música, ao lado da musa canadense Allie X, na sedutora Mistress Violet. A batida retrô-futurista nos transporta para a pista de dança, enquanto o visual extravagante e camp é brindado pela pompa que apenas uma superstar como Chachki possui. – Vitor Evangelista
Isaac Dunbar – celebrate
Para quem ama pop alternativo, a discografia de Isaac Dunbar está cheia de faixas imperdíveis. E a coleção de músicas boas não para pois, desde o início de 2021, o cantor vem trazendo novidades. Depois do EP evil twin ser lançado em fevereiro, Isaac volta com um alegre single: celebrate.
Em um momento de tantas desgraças acontecendo, Isaac quer dar a volta por cima. O ritmo dos anos 80 se casa com a voz forte do artista e constrói uma canção perfeita para, em um mundo utópico onde a pandemia não existe, cantar bem alto em uma festa e se deixar levar pela melodia.
Em versos que parecem quase pessimistas, o cantor conta alguns desabafos e desculpas já usados por ele mesmo para continuar em um lugar ruim de sua vida. A reviravolta vem no refrão, onde Isaac convida seus ouvintes a celebrar suas dores, ao invés de se afundar nelas. Apesar de estar sendo difícil achar motivos para comemorar ultimamente, a canção pode plantar um pouco de esperança em nossas cabeças exaustas. – Mariana Chagas
Taylor Swift – the lakes (original version)
Julho foi mês de celebrar o primeiro aniversário do melhor feito de Taylor Swift nos últimos anos. No dia 24, folklore completou um ano de lançamento, e o presente da artista para os amantes de seu oitavo álbum foi a versão original de the lakes, faixa bônus do disco que acabou se transformando numa das que melhor representa a identidade maravilhosa de folklore. Muito mais acústica e retrô do que a que integra a tracklist da versão Deluxe do disco, a canção ainda representa a habilidade de sua compositora e intérprete, que transformou seu período de isolamento social numa obra repleta de beleza e criatividade. Sejam em antros espirituais de de poetas, uma infância na Pensilvânia ou em amores adolescentes de verão, o desejo para o primeiro aniversário de folklore é que Taylor Swift continue nos levando para onde suas histórias forem. – Raquel Dutra
MARINA e Tove Lo – Venus Fly Trap (Kito Remix)
Com o sucesso que seu quinto álbum gravado em estúdio tem atingido, a cantora e compositora britânica MARINA lançou um novo remix do single Venus Fly Trap. Uma das aclamadas faixas do disco Ancient Dreams In A Modern Land agora ganhou uma versão produzida pela DJ e produtora australiana Kito, que também contou com a participação vocal da cantora sueca Tove Lo. Vale relembrar que este não é o primeiro remix do hit, anteriormente MARINA trabalhou em parceria com Blossom em uma outra versão que foi lançada logo depois da estreia da música original.
Conhecida por seu estilo que mistura indie-pop e new wave, neste novo álbum não foi diferente, que ainda veio com letras carregadas de tons críticos. Inclusive no clipe original de Venus Fly Trap, MARINA traz em cena a representação de um estrela do cinema passando pelas várias eras de Hollywood, destacando os estereótipos femininos que surgiram ao longo da história do Cinema. Agora, neste novo remix, a canção tomou uma vibe mais dançante, com direito a adição de versos de Sunshine Kitty, álbum de Tove Lo. E a conclusão que temos, é de que Venus Fly Trap fica mais viciante a cada versão. – Gabriel Brito de Souza
Aly & AJ – I Need My Girl
Após o lançamento de seu novo álbum de estúdio em maio deste ano, as irmãs Michalka não demonstram sinais de querer parar. Depois de sua estreia no Lollapalooza, Aly & AJ disponibilizaram seu cover de I Need My Girl, da banda The National, que elas já haviam tocado ao vivo algumas vezes antes. A voz de Aly entra em primeiro plano, carregando a letra melancólica com poucas alterações da melodia, mas com a harmonia de AJ adicionando profundidade e peso à canção. – Gabriel Oliveira F. Arruda
AURORA – Cure For Me
O Mês do Orgulho pode ter acabado, mas a luta da comunidade LBGTQIA+ continua. Dentre tantas violências físicas e psicológicas que o grupo sofre diariamente, talvez uma das mais absurdas é a tentativa de criação de uma cura gay. E é contra esse crime que AURORA canta em Cure For Me.
O single demorou dois anos para ser visto como uma música de potencial. Pronto desde 2019, foi apenas agora que a equipe da cantora achou que seria bom o lançamento. Mas a demora valeu a pena. A nova era, disse AURORA para a NME, será recheada de músicas políticas floreadas por uma batida leve, e Cure For Me carrega bem esse conceito.
Quando questionada sobre a resposta do público, AURORA confessou não ter medo de perder seguidores que vão contra os direitos humanos. Mesmo assumida como parte da comunidade há anos, a cantora confessa que a música não é sobre ela, mas sobre aqueles que mais tiveram e têm que lutar para terem o direito de serem quem são. “Não há cura, e nunca deveria haver cura para quem você é e como nasceu”, comenta em entrevista. – Mariana Chagas
ARON – Me Reces
Ok, acho que já posso parar de defender a carreira musical de Arón Piper. Após inúmeros erros e pouquíssimos acertos, é necessário perceber que ARON, como decidiu assinar, é preferível como ator (na maior parte do tempo) do que como músico. Ainda que as pausas dramáticas sejam positivas para introduzir o verso principal de Me Reces, o alemão sempre peca no mesmo ponto: o abuso de auto-tune. Não que o uso de tal ferramenta seja errada, mas sua exagerada aplicação desfavorece todo o trabalho que ele pretende construir. É como se enxergássemos duas personalidades extremamente contrastantes dentro de uma composição, vomitando emoções de forma ritmada. Desculpa Arón, mas acho que você deveria repensar suas concepções musicais. – Júlia Paes de Arruda
Normani e Cardi B – Wild Side
Após quase dois anos do lançamento da finada Motivation, Normani se despede de vez do colorido pop de seu passado e reinventa sua identidade sonora com o seu mais novo single, Wild Side. Servindo como o carro-chefe de seu antecipadíssimo álbum de estreia, a canção canaliza a energia gloriosa de Aaliyah e consegue entregar, com ressalvas, um debut sólido de Normani no R&B.
Financiado parcialmente pela cantora, o videoclipe eleva Wild Side para outro patamar, e a coreografia excepcional de Normani consegue chamar até mais atenção que a música em si. O que desencanta é o rap nada marcante de Cardi B. O flow desanimador da rapper não soa nem um pouco com nenhum dos versos icônicos de sua discografia, e também desacelera totalmente a construção da canção, que se torna esparsa e desajustada.
No entanto, a faixa ainda consegue retornar majestosamente no último minuto, com direito a uma deliciosa outro e a belíssimos adlibs. Wild Side não deixa dúvidas: Normani tem tudo para se tornar um dos grandes nomes do R&B. Agora, o que resta é esperar para ver se ela finalmente vai levar a era adiante. – Laís David
Khalid – New Normal
Uma semana antes de lançar New Normal em todas as plataformas digitais, Khalid a pré-estreou ao vivo, no primeiro voo da aeronave Unity 22 Virgin Galactic em 12 de julho, quando o fundador da Virgin Galactic, Richard Branson, voou por cerca de 20 minutos. Para a Rolling Stone, o músico contou que o single era a forma de contar a ansiedade do último ano pandêmico.
O single, que saiu oficialmente – com clipe – no dia 21 de julho, é a entrada do 4º álbum de Khalid, Everything Is Changing. New Normal desenha o trabalho que virá: um melodrama de vocais baixos, o mínimo de beat possível, e arranjos doces. É como um belo dia de primavera, muito bem explorado pela voz de Khalid. Letra e clipe não conversam bem, ambos abordam a mudança tecnológica e a era do “novo normal” pós pandemia, mas enquanto o clipe é estático e confortável, a letra causa desesperança. – Nathália Mendes
HAIM – Cherry Flavored Stomach Ache
Parte da trilha sonora do novo filme da Netflix que provavelmente poucas pessoas viram apesar dos nomes grandes no elenco, Cherry Flavored Stomach Ache é uma adição curiosa à discografia das irmãs Haim. Começando mais acelerada que as faixas mais recentes da banda, o novo single parece ansioso para acabar antes mesmo de começar, custando para fazer com que o ritmo engate, apesar do som surpreendente de uma gaita surgir para acompanhar os vocais excelentes de Danielle. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Melim e Alok – Somos
Fugindo das notas acústicas que definem Melim, o trio se reuniu com o DJ Alok para conduzir o ritmo de Somos. Criado para beneficiar o projeto Criança Esperança, o single tem uma mensagem positiva a respeito de união e amor, ensinamentos inseparáveis da banda. Com as batidas de Alok, a canção ganha um compasso mais coreografado, ganhando passinhos espontâneos ao ouvi-la. Por isso, além de apreciar uma música animada e otimista, cada play equivale a um valor doado ao projeto da Globo. Está esperando o que para ouvir? – Júlia Paes de Arruda
Big Red Machine e Taylor Swift – Renegade
Aaron Dessner e Taylor Swift já provaram ser uma ótima dupla meses atrás, quando um álbum recheado de música dos compositores ganhou a maior categoria no Grammy. A química entre os artistas foi tão boa que, dessa vez, Aaron chamou a loirinha para cantar no álbum de sua banda com Justin Vernon.
How Long Do You Think It’s Gonna Last? vai sair em agosto e Big Red Machine já deu um gostinho do que está por vir. O indie rock na voz de Taylor desabafa sobre amar alguém que nem mesmo se ama, e as dificuldades que transformam um relacionamento em desastroso. Acompanhada pelo instrumental da banda, a letra é agressiva mas também divertida. Mesmo sem apelo comercial, Renegade debutou na 73ª posição da Billboard Hot 100. – Mariana Chagas
Lil Nas X & Jack Harlow – INDUSTRY BABY
Não é de hoje que Lil Nas X mostra para o que veio à indústria musical, e o quão caricata é a sua imagem. Em sequência do sucesso de MONTERO (Call Me By Your Name), ele quer mais com o lançamento de INDUSTRY BABY, single em parceria com o rapper Jack Harlow e produção de Kanye West. Todo o trabalho tem sido coeso com seu estilo, criando expectativas para o primeiro álbum Montero, ainda sem data de estreia e com um possível vazamento das faixas na internet.
Desde Old Town Road até aqui, Lil Nas segue o caráter sexual, a batida de rap com backgrounds variados e a audácia em fazer mais do que Música. Em INDUSTRY BABY, a letra e o fundo são complementares, já que o rap enfatiza os prêmios do cantor e o back é uma sinfonia acompanhando a batida. No single que quebrou a internet na madrugada do dia 23 de julho, o rapper diz que avisou “on the road” – na estrada – que ele era o que a indústria precisava. Com razão.
O clipe é revolucionário. Um presídio masculino com uniforme rosa pink, muitas críticas sociais e conotação sexual performam uma provocação. Todo o dinheiro arrecadado nas plataformas irá para o Bail X Fund, um fundo criado na organização The Bail Project para tirar negros presos nos Estados Unidos por infrações leves. Assim, Nas constrói sua música fielmente ao que é e o que vive, do processo da Nike ao racismo diário, afinal, ele não corre de nada, cachorro. – Nathália Mendes
Adriana Calcanhotto – Veneno Bom
A pandemia aflorou composições em muitos artistas, afinal, apenas a arte para nos livrar desse inferno. No Brasil, o destaque para álbuns de quarentena, sem dúvidas, fica com Adriana Calcanhotto que lançou Só em 2020, com nove canções. Esse mês, a cantora revelou que uma música ficou de fora da tracklist a pedido de Maria Bethânia. Adriana conta que enviou todas as composições para a menina de Oyá, que comentou uma delas usando a expressão Veneno Bom. Apenas essa frase foi suficiente para que no outro dia a cantora usasse seu dom melódico para escrever uma letra que traduz a dualidade de romances lancinantes, sendo batizada com a expressão de Bethânia. – Ana Júlia Trevisan
Camila Cabello – Don’t Go Yet
No mês de julho, Camila Cabello retornou de um longo hiatus para lançar o primeiro single de seu terceiro álbum de estúdio, Familia. Numa tentativa cansativa de homenagear suas raízes latinas, Don’t Go Yet não replica o sucesso de Havana ou o romantismo dinâmico de Never Be The Same, e também falha ao entregar vocais desajustados e uma produção extremamente tumultuosa.
No entanto, ela conseguiu tornar a faixa pior. Na performance de estreia de Don’t Go Yet para o The Tonight Show, Cabello provou que, além de péssima, ela continua problemática. Para tentar entrar no conceito estereotipado da apresentação, um dos dançarinos da cantora fez uso de blackface, que é o ato racista de pintar a pele para satirizar pessoas negras. Para piorar, ela tentou amenizar a situação com uma declaração mal feita no Twitter, alegando que a performance tentava “satirizar brancos excessivamente bronzeados” dos anos 80.
Racismo não é nem minimamente justificável, e é absurdo que, ao invés de escutar propriamente as observações da comunidade negra e se desculpar pelo feito, ela preferiu legitimar suas ações problemáticas em uma mísera justificativa no app de notas do iPhone. A partir de hoje, é melhor deixar Camila Cabello no passado. – Laís David
Luke Hemmings – Motion
Mal superamos a chegada de seu primeiro single, e Luke Hemmings nos surpreendeu com mais uma música de seu próximo álbum solo. Totalmente contrastante com Starting Line e similarmente aos trabalhos de Troye Sivan, Motion tem um ar mais psicótico, mais alucinante, como se os sentimentos estivessem à mercê da loucura. Trabalhando com a desconfiança, as melodias traduzem uma incerteza do eu-lírico, como se o corpo funcionasse apenas por inércia. O movimento dos pensamentos é tão rápido que tudo acaba se tornando um borrão. Será o suficiente? Também não sei dizer, Luke. – Júlia Paes de Arruda
Anná – Tico-tico no Fubá
Exagero, muito exagero! Um dos símbolos que a multiartista Anná herdou de Carmen Miranda é, com certeza, a extravagância. E isso está nítido em Tico-tico no Fubá, repaginação do clássico de Zequinha de Abreu, originalmente imortalizado na voz da Pequena Notável. Se as cores escandalosas da capa do single já davam pistas do que estava por vir, o videoclipe repleto de figurinos, adereços e maquiagens em cores neon chegou para comprovar que estamos diante de uma arte de excessos.
Com produção musical de Ubunto, a recriação de Anná mescla, com maestria, chorinho, pagodão baiano e música eletrônica. Mas as misturas não param por aí. Extrapolando o nível sonoro de criação, a cantora mocoquense funde também a coreografia dos braços de Carmen Miranda com o TikTok, em um diálogo criativo e frutífero entre tradição e vanguarda. Ainda sob a missão da música de colagem, o novo lead single da neta tropicalista prepara curioso solo para o álbum Bra$ileyrah, previsto para sair ainda neste ano. – Eduardo Rota Hilário
Post Malone – Motley Crew
Premeditando um quarto álbum, Malone voltou em julho com o single e o clipe de Motley Crew, dois anos depois de sua última aparição. Sugerindo rimas pesadas para o futuro e apreciando a banda de heavy metal dos anos 80 Mötley Crüe, o single é um tributo. Além de reforçar a caminhada do rapper com sua gangue de grandes nomes, dentro e fora da indústria, que amam correntes brilhantes.
Uma rima clara e um refrão recheado de referências retoma o rap de beat forte de Malone, um pouco apagado no seu último álbum, Hollywood’s Bleeding. Mas os traços do pop permaneceram, e a batida bem feita – influência do metal de Mötley Crüe, é quebrada em um pré-refrão melodioso. A música, letra e clipe casam muito bem, todos erguendo o pedestal da gangue de Malone no topo do mundo. – Nathália Mendes
Jennifer Hudson – (You Make Me Feel Like A) Natural Woman
E a Aretha Franklin dos cinemas não cansa de alimentar as expectativas sobre a cinebiografia da diva do soul. Mais uma vez, estamos maravilhados com a performance de Jennifer Hudson nas canções sagradas de Franklin, que agora, interpreta um dos maiores sucessos da artista. Aretha ficou marcada na história com (You Make Me Feel Like A) Natural Woman, e Hudson se sente como uma verdadeira estrela da música na trilha sonora de Respect, que finalmente chega até nós neste mês de agosto. – Raquel Dutra
Clipes
Twenty One Pilots – Saturday
Que a Twenty One Pilots gosta de inovar não é novidade. Dessa vez, direto de um submarino em uma paisagem gelada, o duo norte-americano levou o título Scaled and Icy a sério no videoclipe de Saturday. Da festa neon submersa seguida de um monstro aquático às guitarras animadas lado a lado de pianos calmos nas faixas do CD, o single renova a mistura contrastante entre o colorido e o sombrio que marca a nova era da dupla.
Também não é novidade que Josh Dun e Tyler Joseph não costumam casar as letras das canções com as histórias dos vídeos, o que já rendeu clipes dos mais performáticos aos mais cinematográficos. Com as referências ao universo fictício criado por eles mais tímidas do que em Trench, mas igualmente instigantes e sempre divertidos, o melhor single do álbum até agora, a dançante e animada Saturday ganha um clipe à altura. – Vitória Lopes Gomez
Madison Beer – Reckless (Official Alternate Ending Video)
Se tem alguém que não cansa de inovar em seus trabalhos, essa alguém é Madison Beer. Depois de uma era futurista com clipes recheados de tecnologias e até viagens espaciais, Beer volta à Terra e se perde na natureza. O clipe original de Reckless foi lançado junto à música em junho, e, um mês depois, a artista deu mais um gostinho do vídeo ao liberar sua versão alternativa.
Em Reckless (Official Alternate Ending Video), Madison traz um final menos dramático do que antes. Passeando entre diferentes ambientes, o clipe é tão visualmente agradável que ver apenas uma vez não é o suficiente. Dirigido por Amber Park junto da própria cantora, Reckless é uma das melhores produções visuais da carreira de Madison Beer. – Mariana Chagas
Paul McCartney e Beck – Find My Way
Um jovem Paul McCartney nos leva por uma viagem psicodélica entre os corredores de um hotel à medida que os ambientes se transformam gradualmente, tornando-se cada vez mais inusitados e adoidados. Essa poderia facilmente ser uma cena de Magical Mistery Tour, ou de alguma outra das outras aventuras audiovisuais psicodélicas que os Beatles embarcaram ao longo de sua carreira. Mas na realidade, se trata do novíssimo videoclipe lançado para acompanhar a versão de Beck de Find My Way para o álbum McCartney III – Imagined, uma coletânea de releituras de canções do último disco do cantor feitas por convidados ilustres.
A versão de Beck para a canção é dançante, estranha e divertida, combinando perfeitamente com os corredores que mudam de cor, e com as distorções de imagem alucinantes. A estranheza é ressaltada pelos vocais que em nada parecem combinar com o sósia de McCartney, o que acaba sendo bem justificado pela surpresa do twist ao final do clipe. Find My Way diverte os fãs, e ainda abre brechas para tornar as teorias da conspiração de que Paul está morto ainda mais interessantes. Em resumo, vale a pena. – João Batista Signorelli
Luke Hemmings – Starting Line
Depois de Ashton Irwin, Luke Hemmings decidiu dar a largada num novo trabalho musical solo. De acordo com o vocalista do 5 Seconds of Summer, seu álbum surgiu depois do ano de confinamento forçado, tentando compreender os últimos anos da sua vida até o presente momento. Coincidentemente ou não, sua linha de partida se deu no dia 30 de junho com a chegada de Starting Line.
Similarmente aos trabalhos de 5SOS, Starting Line é magnética e teatral. Cada palavra que o músico canta é perceptível sua emoção. No verso estou perdendo todas essas memórias, talvez elas nunca foram minhas, conseguimos enxergar a raiva, a solidão e a agonia que o eu-lírico exalta pelas ruas de Los Angeles. Num clipe simplista estilo Harry Styles, Luke caminha, corre e sobrevoa as avenidas tentando seguir em frente, libertando-se de sentimentos torturantes. Sendo um extraordinário cantor e um excelente compositor, não restam dúvidas de que os próximos passos de sua carreira serão vitais para enfrentar as coisas as quais nos afastamos. – Júlia Paes de Arruda
Alec Benjamin – The Way You Felt
Alec Benjamin, compositor do sucesso Let Me Down Slowly, também não tem nada para fazer na pandemia. O último ano deixou todo mundo um pouco doido e muito introspectivo. Passar tanto tempo sem poder ir para fora nos faz viajar para dentro de si mesmos, e foi no meio dessa jornada interior que Alec escreveu sua história. Em The Way You Felt: The Story, o cantor nos permite ler toda a sua verdade.
A música, escrita em abril, só agora ganhou clipe. Nele, o cantor nos leva para todos os cantos de sua cidade e de sua casa que fizeram parte do seu falho romance. Mesmo sem citar nomes, a descrição tão detalhista da sua ex-namorada nos faz sentir saudade da garota. Esse talvez seja o resultado de tanta sinceridade colocada no vídeo. “Este clipe é o primeiro que eu fiz que me sinto 100% representado’’, comentou o artista em seu Twitter. – Mariana Chagas
Performance
Lucy Dacus no Tiny Desk
O melhor lugar para cantar músicas de um disco sobre a adolescência é uma sala de aula do Ensino Médio, pode acreditar. Lucy Dacus, então, aceita o convite do Tiny Desk e revive os traumas e temores e amores de Home Video, sentada à mesa marrom e cheia de livros e janelas nubladas ao seu redor, em sua alma mater em Richmond, Virginia.
O repertório é curto, mas incrivelmente potente. O pontapé vem com Brando, a canção mais alto astral do CD, mas que esconde em sua composição traços da vulnerabilidade que fazem de Home Video um registro tão singular e vistoso. Ao lado da banda, Dacus ainda revisita VBS, sobre primeiras vezes e a juventude queer, e Going Gone Gone, uma ópera distante, mas profunda.
Sozinha, a artista logo anuncia que Thumbs, a saideira da performance, é dolorosa. Cantando sobre abuso e relações familiares quebradas, ela grita em silêncio que, se a parceira quisesse, ela bem poderia enfiar os dedões nos olhos daquela figura malévola do outro lado da mesa. Entre o belo e o bruto, que bom que Home Video vive. – Vitor Evangelista