Do barro ao belo: Cerâmica do Japão – a geração emergente do forno tradicional japonês

JUN

Obra de Kawaguchi Jun

Vinícius Becker de Souza

Vasilhames servem para muitas coisas. Para por flores, servir sopas, beber vinho, guardar cereais, como peso de porta, como enfeite na sala e, também, como expressão artística. Vasilhames é o tema da segunda fase da exposição “Cerâmica do Japão – a geração emergente do forno tradicional japonês” que celebra a cerâmica japonesa, em cartaz até dia 20 de abril no Centro Cultural de Bauru. As obras ali expostas são a prova de que vasilhames vão muito além de suas utilidades – servem de suporte para as expressões artísticas mais diversas.

Com um recorte que abrange as regiões de Seto, Mino e Tóquio, propõe um passeio de releituras do Japão feudal a pop arte, passando pelo kitsch e pelo concretismo. Existem vasos que parecem pedaços do cosmo, ou uma planta de um arquiteto modernista. Jogos de chá e bandejas para servir a culinária japonesa que seria um pecado corromper com comida – melhor comer com os olhos.

Realizada pela Japan Foundation, que busca divulgar a cultura japonesa pelo mundo a fora, mostra como um artesanato milenar e cotidiano assume nova dimensão na contemporaneidade, agindo como veículo sentimental e afetivo da herança popular. Ainda que ressignificados nas mãos de artistas, as técnicas básicas são as mesmas que os primeiros japoneses a lidar com argila desenvolveram.

MASAMITSU
Obra de Masamitsu

A curadoria, espalhando a terra pelas mesas onde são expostas as peças. A matéria-prima se faz representar, fato que não aconteceria se apenas as obras fossem expostas – a transformação porque passa o barro faz com que esqueçamos a origem das superfícies brilhantes e densas.

O senão fica por conta da limitação logística. Por ser uma exposição itinerante, apenas duas peças de cada artista foram trazidas, recorte que limita o olhar para os aspectos mais globais de conjunto da obra. Ao espectador parece que viu o resumo, não o todo. A seleção das peças, que não é esclarecido pelos textos explicativos e de apresentação, acaba por definir cada artista por uma só técnica, estampa ou cor.

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Obra de Nagae Shigekazu

Ainda que a exposição não se aprofunde na carreira de nenhum dos artistas, não deixa de nos impressionar algumas obras pontuais. Como a de Nagae Shigekazu, mestre na arte de fundição, que causa espanto e dúvida com sua forma dobrada, lembrando um instantâneo de um movimento de origami. Shibata Masamitsu apresenta um conjunto de estampas que flertam com a pop art lembrando, pelos usos das cores e motivos, a obra do brasileiro Romero Britto. Mas, ao contrário deste que produz estampas em série, na cerâmica de Masamitsu cada desenho, cada linha, cada matiz são únicos.

Já Kawaguchi Jun tenta construir o seu próprio mundo, utilizando traços de uma graça infantil – é como se tivesse colado as pinturas que as crianças fazem na pré-escola sobre a superfície cerâmica. Outro artista que merece destaque é Hirose Yoshiyuki, que consegue reproduzir o movimento de um pássaro alçando voo, mostrando toda a fluidez e dinâmica da arte cerâmica. Não substitui nem compensa a distância transoceânica que separa nosso olhar da totalidade da produção japonesa. Mas nos permite abrir os sentidos, e sermos tocados pela sinuosidade das formas, a profusão das cores, o relevo de texturas e a sutileza das gravuras, trabalho e suor dos artistas que se voltam para uma tradição que não se permite ser deixada de lado.

 

A exposição é gratuita e está aberta a visitação até quarta, das 8h30 às 17h.

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