A Arte precisa sempre ser inovadora? Essa pergunta guiou a discussão de muitos fãs, especialistas e entusiastas de cultura pop ao escutarem Something To Give Each Other. Troye Sivan, em seu terceiro álbum de estúdio lançado em Outubro de 2023, nos leva a uma viagem dançante, eletrizante e intimista, que celebra a liberdade de expressão queer. Longe de ser inovador e revolucionário, o álbum é o que se propõe a ser: pop.
“Eu sou a artista favorita do seu artista favorito. Eu sou a garota dos sonhos da sua garota dos sonhos”. Foram com essas palavras que Chappell Roan se apresentou ao mundo, ‘de supetão’ mesmo. E nada mais justo. Hoje, o pop se mostra um gênero extremamente cruel, onde se consolidar nele é como lutar por sobrevivência na savana africana. E não foi só com sua personalidade, mas também com seu disco de estreia, The Rise and Fall of a Midwest Princess, que a intérprete chegou para impor seu lugar e permanecer no estilo.
Um tablado preto de teatro. Uma luz no fundo, de onde vem um par de pernas que veste uma calça cinza clara e um sapato terrivelmente branco. Essas pernas chegam até um microfone e então é posto um rádio ao lado. A mão do corpo a quem pertence tais pernas dá play no aparelho, e então uma bateria digital começa aquela que seria uma das versões mais emblemáticas de Psycho Killer. A câmera sobe até o vislumbre de um jovial David Byrne e o resto é história. Assim começa aquela que, posteriormente, seria considerada a obra definitiva quando o assunto é filmes-concerto: Stop Making Sense.
Descrever Ludmilla em termos simplistas e centralizados é uma tarefa cada vez mais difícil, afinal, a cantora está “Do funk ao pagode, dominando tudo”, com uma maestria que a MC Beyoncé – primeiro vulgo da artista – provavelmente não imaginava. Em faixas envolventes e dignas de serem chamadas de Arte, o trabalho mais recente da cantora, Numanice #3 (Ao Vivo), é um deleite para as mulheres que amam suas mulheres, as minas de periferia e, é claro, os apaixonados por sunsets e bons pagodes.
Com 18 faixas e sete parcerias, o disco gravado ao vivo materializa a brisa quente de uma tarde de domingo em volta da churrasqueira. Na multiplicidade de influências rítmicas que se juntam ao pagode, a sensação de improviso acertado das milenares rodas de samba se intensificam. Apesar de calculado, o mérito de Numanice #3 (Ao Vivo)está na facilidade com a qual conversa com diferentes manifestações musicais e seus públicos.
Billie Eilish entrou para a história em 2020, na 62ª edição do Grammy Awards, quando seu álbum de estreia aclamado, WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO?, ganhou o prêmio de Álbum do Ano, o que a tornou a garota mais jovem a conquistar essa categoria. Ao longo das 14 faixas que compõem o disco, a artista navegou por diferentes sentimentos, desde os melancólicos até os mais obscuros.
Na música pop, artistas femininas são colocadas a prova a cada trabalho que realizam. Criam-se rivalidades entre cantoras, de Madonna à Gaga até Taylor Swift e Katy Perry. Seja pela sonoridade, pelos vocais ou pela composição, as mulheres do gênero musical precisam se esforçar duas vezes mais se comparadas aos cantores masculinos. Com Dua Lipa, a situação não foi diferente: desde a sua estreia, com o álbum homônimo, mesmo com números exorbitantes – a exemplo o clipe de New Rules, que possui mais de três bilhões de visualizações no Youtube –, a cantora não ficou ilesa das críticas devido aos seguintes questionamentos: ‘ela vai aprender a dançar?” e ‘ela irá superar o primeiro trabalho?’. Após o lançamento do Future Nostalgia, em 2020, a britânica provou que, daqui 40 anos, vamos sentir saudades do seu dance-pop.
Agora, iniciando a sua terceira era, Radical Optimism, a artista se afasta da sonoridade que abordou durante os três anos do seu segundo disco. No lançamento de Dance The Night para Barbie (2023) e os três singles, o público quis testar a albanesa ao apontar que o novo projeto seria uma coleção de descartes do FN. Porém, desde Houdini,a influência de Kevin Parker (Tame Impala) com os arranjos de sintetizadores e pianos elétricos, deixaram claro a pegada psicodélica do mais recente trabalho, distanciando-se dos laços com as pistas de danças da década de 1990. Mas será que com as diferenças, o mergulho de Dua Lipa entre tubarões é tão profundo e memorável quanto seu antecessor?
Em 2020, a cantora Jessie Ware, já consolidada na época no mercado fonográfico britânico com três álbuns lançados, entrava em uma empreitada importante para sua carreira: o lançamento do seu quarto disco, intitulado What’s Your Pleasure?, que trouxe uma sonoridade diferente da que a artista vinha explorando anteriormente. Naquele ano, Ware explorava a pergunta “qual é o seu prazer?”. Já em 2023, That! Feels! Good! é lançado e faz uma afirmação na qual o prazer é celebrado. Esse pequeno detalhe, embora pareça pouco importante, nos ajuda a entender as transformações nos estilos explorados pela cantora.
O que os dois álbuns mais têm em comum talvez seja a presença da Música disco, juntamente com as letras e melodias cativantes que compõem a trajetória da diva. Investindo em ritmos dançantes e com um apelo comercial maior do que seus primogênitos – Devotion (2012) e Tough Love (2014) –, ela passa a ganhar cada vez mais espaço nos charts e admiração da crítica.
Aviso: o seguinte texto discursa sobre temas que podem se tornar gatilhos para algumas pessoas que sofrem/sofreram com dependência por uso de álcool e depressão.
Marina Iwashita Canelas
Se por um lado, as cidades industriais inglesas do final da década de 1970 à metade de 1980 já tivessem tido dias mais coloridos, por outro, a sua cena musical era visualmente escura, com neblina e lápis preto nos olhos. Foi em uma apresentação pouco concorrida dos Sex Pistols no Lesser Free Trade Hall, em Manchester, que os fãs ali presentes posteriormente formariam bandas do movimento post punk, como o Joy Division e The Cure.
A música pop sempre esteve no auge do mundo, principalmente após o início dos anos 2000. A ascensão de nomes como Britney Spears, Beyoncé, Lady Gaga e Rihanna fez com que a régua de exigência em relação a cantoras que iriam surgir a partir dali fosse muito alta. Com o passar do tempo, a forma de se consumir música pela grande massa mudou. O TikTok, a rede social mais usada pela Geração Z, tem grande influência na indústria fonográfica, com o poder de ressuscitar grandes clássicos e fazer pequenos artistas se tornarem globais, como Olivia Rodrigo, por exemplo. Tate McRae também faz parte dessa nova leva de cantores, e isso fica evidente em seu novo álbum de estúdio, THINK LATER.
Quando Beyoncé idealiza um projeto, dá adeus aos limites e insiste até funcionar. Em sua nova empreitada, COWBOY CARTER, ela definitivamente não chega de ‘mansinho’ para cavalgar pelo country. Diante de um gênero musical financiado por uma indústria conservadora que já a alertou para ‘tirar o cavalinho da chuva’, a texana se aventura enquanto, pelo bem e mal, deixa a sua marca registrada em todas as 27 faixas.