Marília Mendonça e o eterno legado das Patroas

Maiara, Marília e Maraisa, três mulheres brancas, estão de olhos fechados e chorando lágrimas douradas. Na parte superior, está escrito “Patroas 35%” em dourado, com um fundo preto. Elas também utilizam brinco e anel dourado.
As precursoras do feminejo das patroas em seu último trabalho juntas (Foto: Som Livre)

Giovana Guarizo

Na tarde do dia 5 de novembro, o Brasil foi surpreendido por um plantão da Globo, o qual anunciava um acidente aéreo envolvendo a cantora Marília Mendonça. Até então, foi informado pela emissora, através de informações dadas pela assessoria da artista, que ela e outras quatro pessoas estariam bem. Entretanto, era tudo incerto, pois não haviam informações confiáveis que comprovassem tal afirmação. Após algumas horas de muito trabalho por parte da equipe de bombeiros, veio a notícia que ninguém queria receber: o falecimento da cantora Marília Mendonça, aos 26 anos de idade.

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A Paixão segundo G.H. é um passeio por nós mesmos

A imagem é uma arte com fundo vermelho com a capa do livro A Paixão segundo G.H. ao centro e um selo escrito Clube do Livro Persona no canto direito inferior e o logo do Persona no canto esquerdo superior. A capa tem um fundo na cor creme com linhas de distorção, é possível ver no canto superior direito dunas de areia e edifícios que remetem à arquitetura árabe. Abaixo, está escrito Clarice Lispector em letra cursiva e na cor vermelha e o título do livro em caixa alta e na cor bege. No canto inferior esquerdo, abaixo do título, há o desenho de uma moça branca, com cabelos castanhos longos presos em um rabo de cavalo baixo; ela veste uma blusa azul clara de mangas compridas.
Com 165 páginas, A Paixão segundo G.H. foi a primeira leitura do Clube do Livro do Persona (Foto: Reprodução/Arte: Jho Brunhara)

Vitória Silva

Nascida em 1920, Clarice Lispector é um dos nomes intocáveis da nossa Literatura. A ucraniana, batizada como Haya Pinkhasovna Lispector, chegou ao Brasil aos dois meses de idade, com seus pais de origem judaica que fugiram do país devido à perseguição durante a Guerra Civil Russa. Inicialmente residente em Maceió, em sua infância e pré-adolescência, a autora passou por Recife e pelo Rio de Janeiro, e, por onde trilhava seu caminho, carregava consigo sua paixão pelos livros. 

Após ingressar na Faculdade Nacional de Direito, em 1941, trabalhou como redatora da Agência Nacional e, posteriormente, do jornal A Noite, dando seus primeiros passos no universo da escrita. Não demorou muito para que mergulhasse de vez nele, e publicou seu primeiro romance em 1944, com o título Perto do Coração Selvagem. A obra estreante retrata uma perspectiva sobre o período da adolescência e, logo de cara, fez com que Clarice abrisse novos horizontes na Literatura nacional. 

Quebrando todo e qualquer paradigma literário da época, Lispector abandona noções de ordem cronológica e funde um lirismo único a sua forma de representar ações e emoções humanas, traços que se tornaram mais do que característicos de toda a sua carreira. Não à toa, a produção foi agraciada pelo Prêmio Graça Aranha, e, mais tarde, a autora colecionaria outros títulos de referência, como Laços de Família (1960) e A Hora da Estrela (1977), em que este último ainda ganhou uma adaptação para as telonas, em 1985.

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Se você não pode parar a chuva, dance com ela ao som de Equals

Capa do álbum Equals, de Ed Sheeran. O fundo é vermelho, com jatos de tintas preta, amarelo e rosa. Ao centro, está pintado em preto um sinal de igual. Em torno do sinal, estão desenhos de borboletas em movimento. Na parte inferior uma amarela e, no sentido anti-horário, estão uma azul, uma verde claro, uma bege claro, uma verde e uma azul piscina.
O aguardado quinto álbum solo de Ed Sheeran saiu no final do mês de outubro (Foto: Asylum Records UK/Warner Music UK)

Heloísa Ançanello e Júlia Paes de Arruda 

Amadurecer pode trazer consigo um sentimento de nostalgia. Relembrar, de bom agrado, os velhos tempos e se deliciar com os novos caminhos que tem pela frente. É nessa atmosfera que Ed Sheeran apresenta = (Equals), com um doce sabor que não víamos desde seu último lançamento solo, em 2017. Ainda que o britânico permaneça na sua zona de conforto com o pop comercial, o álbum se destaca por sua qualidade em cada nota e ritmo, tornando-o um dos melhores e mais vulneráveis trabalhos que o cantor já nos apresentou. 

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A segunda temporada de Drag Race Holland é gloriosa até em suas falhas

Cena de Drag Race Holland, mostra a drag Vanessa Van Cartier com a Coroa e o Cetro nos braços. Ela é uma mulher branca, que usa tinta dourada no couro da cabeça, além de um visual de gladiadora na mesma cor.
Vanessa Van Cartier é a vencedora da segunda temporada de Drag Race Holland (Foto: Videoland)

Vitor Evangelista

RuPaul, por favor, está demais! Sem folga, a máquina Drag Race mastigou e nos entregou mais uma edição de sua infinita coleção de franquias. Dessa vez, é hora de analisar a segunda temporada de Drag Race Holland, uma das primas europeias do show. Setembro de 2021, mês de encerramento desse ciclo, foi histórico para a comunidade trans, que assistiu a duas mulheres serem coroadas como as Próximas Super Estrelas Drags. Kylie bradou vitória na América, enquanto a Holanda foi o lugar do triunfo de Vanessa Van Cartier.

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Um bilhão de hits traçam os 10 anos de Austin & Ally

Cena do seriado Austin & Ally. Da esquerda para a direita, estão os atores Calum Worthy, Ross Lynch, Laura Marano e Raini Rodriguez. Eles estão dentro de um escritório, com três quadros pendurados ao fundo. Uma porta cinza escuro com vidro e persiana. Calum é um homem ruivo. Ele veste uma camisa branca estampada e uma jaqueta azul clara. Ele está de lado, olhando para Ross, e passando a mão do amigo com a mão direita. Ross é um homem de cabelo loiro claro liso. Ele veste uma camisa verde militar e uma calça estampada estilo militar, com cinto preto. Ele está sorrindo, olhando para Calum, o abraçando com a mão direita. Ao seu lado, mais abaixo, está Laura. Ela é uma mulher de cabelos ondulados castanhos com luzes loiras. Ela veste uma blusa vermelha com bolinhas esverdeadas na parte superior e 3 pulseiras de fitas pretas. Ela sorri de olhos fechados e está abraçando Ross, com os braços ao redor do pescoço dele. Atrás de Ally, está Raini. Ela é uma mulher de cabelos pretos cacheados compridos. Ela veste uma regata azul e, por baixo, uma regata verde e usa pulseiras coloridas no braço esquerdo. Ela está sorrindo de olhos fechados e engloba Austin e Ally em um abraço. 
“Esse amor nunca vai desaparecer/Nós somos infinitos” (Foto: Disney)

Júlia Paes de Arruda

São seis horas da tarde. O Zapping Zone começa com aquele gosto de comida de vó no jantar. Os olhos estão compenetrados na TV, aguardando o primeiro episódio da nova série do Disney Channel. A sinestesia é tão grande que quase posso me imaginar no sofá, com o olhar vidrado na vinheta promocional. Infelizmente, já não é 2011 e não tenho mais 11 anos. Porém, a lembrança permanece tão fresca na memória que nem parece que uma década se passou desde a estreia de Austin & Ally.

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Ataque dos Cães adestra caubói na marra

Cena do filme Ataque dos Cães, mostra o caubói Phil com a mão no pescoço do jovem Peter. Phil é um homem branco, com barba escura e chapéu marrom, ele tem a pele suja. Peter, de costas, tem pele branca e cabelos pretos, e usa uma camisa branca.
Ataque dos Cães é um faroeste psicológico (Foto: Netflix)

Vitor Evangelista

Vinte e um anos atrás, Bronco Henry morreu. Estamos em 1925 e Phil (Benedict Cumberbatch), seu aprendiz, amigo e muito provavelmente amante, ainda não superou essa perda. Sua maneira de lidar com o luto é se tornando um completo babaca, abusivo com o irmão mais jovem e tóxico com seus funcionários do rancho em Montana. Sob a direção sempre alerta e nada ociosa de Jane Campion, a Netflix constrói no íntegro Ataque dos Cães um drama acrônico, atemporal.

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Abram alas e abram Portas para Marisa Monte

Foto retangular da cantora Marisa Monte. Marisa é uma mulher branca, de cabelos ondulados e pretos. Seus olhos também são escuros. Ela está sentada numa cadeira branca. Ela veste um vestido preto de mangas bufantes e gola. Ela usa uma tiara preta e seus cabelos estão presos em uma trança lateral. Ela usa brincos pratas. Suas unhas estão esmaltadas de preto. Ela está apoiada numa mesa branca. Em cima da mesa há cartas de tarô. Na mão esquerda da cantora também há cartas de tarô. Na mão direita há uma carta de tarô, levantada na altura dos olhos e cobrindo seu olho direito. O fundo é uma parede branca.
Quase 10 anos sem lançar inéditas, Marisa Monte nos presenteia com Portas (Foto: Fernando Tomaz)

Ana Júlia Trevisan

O ano era 2019, a mágica turnê dos Tribalistas havia oficialmente chegado ao fim após o lançamento do DVD, e Marisa Monte anunciava em suas redes que iria se ausentar do mundo real para se concentrar em um novo álbum de inéditas, quase uma década depois de O Que Você Quer Saber de Verdade. O ano terminou e 2020 veio sorrateiramente trazendo a pandemia que colocou um ponto final em milhares de vidas pelo mundo. O Brasil, que já vivia em negação pelo troglodita que assumiu o cargo de chefe de Estado, viu Bolsonaro assumir sua pior faceta e se manter impune de um genocídio anunciado. Toda revolta e inquietação ganhou o agravante do isolamento, transformando as mentes em oficinas do diabo. Sobre o colo de Marisa caiu a tarefa de se refugiar – e oferecer refúgio – através da sua Arte.

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Giles Corey: 10 anos de uma visita pelos cantos mais sombrios de uma mente desesperada

Aviso de prevenção de gatilho: Giles Corey pode contar com elementos possivelmente prejudiciais aos que sofrem com pensamentos suicidas ou depressão.

Capa do disco Giles Corey. A imagem é uma pintura em preto e branco, de uma pessoa, vestindo um terno com um pedaço de pano cobrindo a cabeça e o escrito Giles Corey na parte central da imagem.
Capa do disco Giles Corey (Foto: The Flenser)

Frederico Tapia

Em 2011, Dan Barrett, membro da banda Have A Nice Life, lançou o primeiro e único LP sob o nome Giles Corey. A origem do nome adotado por Barrett é de um fazendeiro com o mesmo nome que viveu no século 17 e foi morto durante os julgamentos das bruxas de Salem. Ao longo dos 56 minutos que constituem o álbum, ele fala abertamente sobre suas lutas internas, principalmente contra a depressão e o suicídio. Ele mesmo afirma em seu perfil no Bandcamp: Giles Corey são músicas acústicas sobre depressão, suicídio e fantasmas”.

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Wagner Moura faz de Marighella uma experiência coletiva

Cena do filme Marighella, mostra Seu Jorge, um homem negro e adulto, com o filho no colo, uma criança que usa camisa branca e se abraça ao pescoço do pai. A cena é de dia e ao fundo vemos árvores e carros.
A coletiva de imprensa de Marighella ocorreu no Cine Marquise, na Avenida Paulista, à duas quadras de distância do local onde o Guerrilheiro foi assassinado em 1969 (Foto: O2 Filmes)

Vitor Evangelista

52 anos se passaram desde que Carlos Marighella foi alvejado por tiros em uma emboscada, dentro de um carro na Alameda Casa Branca, em São Paulo. O momento, marcado para sempre nos livros de História como mais um dos massacres políticos e sociais da Ditadura Militar, agora é transposto às telas da ficção, na dolorosa constatação de que o Brasil de 1969 dialoga com eloquência e pesar com o país de 2021. Marighella, cinebiografia do Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, aposta no Cinema de ação e revolta para, em meio ao banho de sangue e lágrimas, exprimir esperança.

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Os M’s de Maid: maternidade, machismo e meritocracia

Cena da série Maid, na imagem Alex e Maddy passeiam por uma floresta. A mãe branca e de cabelo preto veste um colete de tom roxo escuro por cima de uma blusa de manga comprida no tom azul escuro. Ela também usa um gorro azul enquanto carrega a sua filha no ombro. A criança tem a pele branca e o cabelo loiro, ela veste uma jaqueta cinza com estampa infantil acompanhada de um suéter amarelo mostarda
Em entrevista, Margaret Qualley falou sobre como foi importante passar tempo com Riley além do momento das gravações, para que conseguissem capturar uma essência mais autêntica como mãe e filha (Foto: Netflix)

Nathalia Tetzner e Thuani Barbosa

Retratando um cenário particular que reflete as diferentes realidades da maternidade, Maid exibe com fidelidade o machismo e a falta de oportunidade vivenciada por mães que sofrem com algum tipo de violência. A minissérie original da Netflix estreou arrebatando emoções e nos obrigando a preparar os lencinhos. Jovem, Alex (Margaret Qualley) larga os estudos e o sonho de ser escritora para cuidar da filha Maddy (Rylea Nevaeh Whittet), mal sabendo que no futuro, o conjunto de registros realizados durante o seu trabalho como faxineira a salvariam. 

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