A fantasia de uma Despedida

A imagem é uma cena do filme Despedida. Nela, há o horizonte de um rio, em que é possível uma lua cheia coberta pela metade ao fundo. No centro dela, há um barco com um cachorro à esquerda e uma menina à direita.
A produção nacional é uma das participantes da seção Mostra Brasil na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Elo Company)

Vitória Silva

Despedida é o toque de imaginação que faltava na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Em um feriado de Carnaval, Ana (Anaís Grala Wegner) viaja com a mãe (Patricia Soso) para uma cidadezinha no interior do Sul do Brasil. Mas o tom colorido e animado da data comemorativa é tomado pela frieza e escuridão do luto, ao ter como destino principal o funeral da avó (Ida Celina), que tinha fama de bruxa da cidade. Assim se inicia toda uma aventura por trás do que parecia ser um simples adeus.  

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O Pai da Rita celebra um reencontro de gerações

Imagem de divulgação do filme O Pai da Rita. A imagem mostra da esquerda para a direita, Pudim, Ritinha e Roque. Pudim é um homem negro de barba grisalha, boina, e jaqueta jeans sobre uma camisa estampada. Ritinha é uma mulher negra de cabelo afro, brincos dourados e vestido vermelho estampado de flores. Roque é um homem negro de cabelos brancos, chapéu panamá branco, camisa beje e marrom, e calça branca.
O Pai da Rita foi exibido na Mostra Brasil da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: O2 Play)

João Batista Signorelli

“A Rita levou meu sorriso/No sorriso dela/Meu assunto/Levou junto com ela/E o que me é de direito/Arrancou-me do peito/E tem mais…” cantava Chico Buarque em uma de suas primeiras gravações. Mas, afinal, quem foi essa Rita que arrasou os sentimentos do artista? Em O Pai da Rita, novo longa de Joel Zito Araújo que estreou na Mostra Brasil da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, a tal da Rita não roubou somente o coração de Chico, como também de dois sambistas da Vai-Vai, em um filme leve e divertido, que celebra a paternidade e o reencontro de gerações.

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Só restam cinzas após A Noite do Fogo

Cena do filme A Noite do Fogo. Três meninas, de aparentemente 8 anos, estão do lado uma da outra, enquadradas do peito para cima e de frente para a câmera. A primeira tem a pele mais escura, cabelos escuros compridos e usa uma camiseta amarela. Ela está com o dedo nos lábios. A segunda tem a pele mais clara, tem os cabelos escuros presos e usa uma camisa branca com um coração e um colar. A última é mais alta que as outras duas, também tem a pele clara e os cabelos escuros presos. Ela usa uma blusa vermelha com o número 23 e mangas compridas, e olha em direção ao chão.
O trio de protagonistas mirins de A Noite do Fogo são um show à parte dentro da seção Perspectiva Internacional da Mostra de SP (Foto: Vitrine Filmes)

Caroline Campos

“Agora vamos deixar você feia, minha mãe disse”. As primeiras palavras do livro de Jennifer Clement, Reze pelas mulheres roubadas, são marcadas pela dor – e é exatamente nesse sentimento que a livre adaptação cinematográfica de Tatiana Huezo se pauta. A Noite do Fogo, presença fortíssima na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é um filme de muitas cicatrizes, todas elas compondo a grande ferida aberta e pulsante de cores e dores que é a América Latina.

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Transversais planta sementes

Cena do documentário Transversais mostra uma mulher loira sorrindo na praia.
Acompanhando 5 histórias no Ceará, o documentário Transversais brilha na 45ª Mostra de São Paulo (Foto: Deberton Filmes)

Vitor Evangelista

Dividido entre a Competição Novos Diretores e a Mostra Brasil, o documentário Transversais é um dos filmes imperdíveis da frutífera seleção da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Coletando depoimentos e a vivência de 5 pessoas residentes do Ceará que tem contato com as vivências trans, a produção escrita e dirigida por Émerson Maranhão dá protagonismo à comunidade que é constantemente ignorada pela Arte.

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Os Donos da Casa perde de 7×1

Cena do documentário Os Donos da Casa. Ao centro vemos duas pessoas de costas caminhando apoiadas uma na outra. À esquerda está um homem branco. Ele veste camiseta amarela, calça cinza e sapato fechado. Seu cabelo é curto e grisalho. À direita está uma criança. Ele veste camisa vermelha de gola branca, bermuda vermelha e chinelo. Seu cabelo é preto, liso e um pouco abaixo da orelha. Sua mão esquerda está passada na cintura do outro homem, apoiando ele a andar. Eles estão sob um trilho de trem e a segundo plano vemos um céu claro e à direita o brilho do sol.
Exibido na 45ª Mostra internacional de Cinema em São Paulo, Os Donos da Casa faz parte da Mostra Brasil e da Competição Novos Diretores (Forward – Imagens que Movem)

Ana Júlia Trevisan

60 segundos. Esse é o tempo definido pela FIFA para a execução do hino nacional, mas, naquele 12/06/2014, a torcida brasileira parecia não ligar para as determinações. A emoção transbordava na Arena Corinthians, palco de Brasil x Croácia, jogo que abriu a Copa do Mundo de 2014, e a plenos pulmões a arquibancada gritou os versos mandando apoio aos jogadores de nossa seleção. Apesar de todo espírito da Copa transmitido na televisão, os bastidores eram muito diferentes para inúmeros brasileiros afetados diretamente pelo megaevento. Os Donos da Casa, exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, traz a história de quatro deles, impactados positiva e negativamente pela FIFA World Cup

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O punk é pop em Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente

Cena do filme Bob Cuspe - Nós Não Gostamos de Gente. A imagem da animação em stop-motion mostra Bob Cuspe, um homem de pele verde, nariz gigante, óculos escuro e roupas pretas de couro, em um elevador diante de Angeli, um homem branco de meia idade, cabelo curto branco, e camiseta roxa, que está de braços abertos estendidos. Eles estão em um elevador, e o espelho atrás de Angeli, com o vidro quebrado, reflete a imagem dos dois.
Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente teve exibições presenciais na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, incluindo uma gratuita no vão livre do Masp (Foto: Vitrine Filmes)

João Batista Signorelli

Estrela da revista underground Chiclete com Banana, que reunia o trabalho de cartunistas como Laerte e Glauco, Bob Cuspe é um dos mais icônicos personagens de Angeli, que também povoou o imaginário dos quadrinhos brasileiros com Rê Bordosa, Wood & Stock, Mara Tara, e tantos outras. Ácido e subversivo, Bob, que estrela a animação de grande destaque na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, representava nos anos 80 a anarquia subversiva da geração punk, ao mesmo tempo que era uma espécie de alter ego exagerado do próprio autor. 

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Meu Tio José lembra que nunca é tarde para dizer “Ditadura Nunca Mais”

Cena da animação Meu tio José. Na ilustração em preto e branco, vemos o personagem José entrando em uma farmácia, com prateleiras e caixas brancas em seu entorno. Ele é um homem branco, possui cabelos e bigode de cor preta, veste uma camiseta de cor cinza e uma calça e sapatos de cor preta.
Exibido na seção Mostra Brasil da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Meu Tio José retrata a Ditadura Militar brasileira sob o olhar de uma criança (Foto: Fênix Filmes)

Bruno Andrade

“Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”, escreve Chico Buarque na canção Roda Viva. Das diversas interpretações possíveis, a mais cruel e — infelizmente — presente diz respeito à vivência na Ditadura Militar brasileira, em especial durante o endurecimento do regime com o AI-5, período também conhecido como os Anos de Chumbo. Dentre as histórias manchadas pela repressão política, encontramos José Sebastião Rios de Moura, personagem fundamental em Meu Tio José, animação dirigida, roteirizada e ilustrada por Ducca Rios, e que integra a 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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Medusa, meretriz, monstro, mulher

Cena do filme Medusa. A atriz Mari Oliveira está no centro. Ela é uma mulher negra, de cabelos escuros e presos e usa uma blusa rosa. Seu rosto está com uma espécia de argila verde e ela espalha com as duas mãos. Ao fundo, vemos a cabeceira da cama e uma parede com fotos.
Medusa agraciou a seção Mostra Brasil da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, mas apenas em sessões presenciais (Foto: Bananeira Filmes)

Caroline Campos

Por Poseidon, Medusa foi violentada. Por Atena, foi castigada, seus cabelos viraram cobras e seu olhar se tornou mortal. Por Perseu, a já criatura foi decapitada e transformada em arma de guerra. Pela História e pela Arte, foi vilanizada, perseguida e satirizada. Mas, no Brasil de 2021, Medusa foi a escolhida por Anita Rocha da Silveira para intitular seu segundo longa-metragem, que, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, honra, com moldes trágicos e atuais, a trajetória da bela sacerdotisa amaldiçoada.

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Lavoura Arcaica: tradições podem destruir uma família

Cena do filme Lavoura Arcaica em que aparece toda a família sentada à mesa, com quatro membros de cada lado e o pai ao centro como o patriarca.
20 anos depois de seu lançamento, os simbolismos familiares de Lavoura Arcaica permanecem fortes (Foto: Núcleo Luiz Fernando Carvalho)

Gabriel Gatti

Toda família se constrói em cima de tradições e costumes passados de geração em geração. Muitos desses hábitos sofrem modificações conforme os tempos avançam, mas em alguns casos há resistência daqueles cegados pelas crenças pavimentadas em sua mente. Essa relação familiar complicada é o que motiva André (Selton Mello) a abandonar o lar e partir rumo ao desconhecido em busca daquilo que realmente acredita. A premissa de Lavoura Arcaica se desenvolve em uma trama complexa e profunda durante 2 horas e 43 minutos de filme.

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Vire-se, seus sonhos serão frutificados no Deserto Particular

Cena do filme Deserto Particular, mostra uma mulher dentro do carro, escuro e com apenas seu nariz e cabelo iluminados pelo poste da rua.
Submissão do nosso país para o Oscar 2022, Deserto Particular estreou na seção Mostra Brasil da 45ª Mostra de SP (Foto: Pandora Filmes)

Vitor Evangelista

A tarefa de selecionar, entre uma vastidão de olhares e marcas, um único filme para representar o país mundo afora não é nada fácil. Afinal, qual a fórmula secreta para a submissão perfeita? Quais atributos um longa nacional deve possuir para, de fato, ser o “mais brasileiro” possível? Em 2022, a missão é de Deserto Particular, bela produção comandada por Aly Muritiba e presente na seção Mostra Brasil da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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