10 anos de O Lobo de Wall Street: eis que a caça vira o caçador

Cena do filme O Lobo de Wall Street. Na imagem, Leonardo DiCaprio interpreta Jordan Belfort em um iate. Ele, um homem branco de cabelos escuros e olhos claros, veste uma camisa polo branca e calça bege com cinto preto. Em uma de suas mãos, Belfort carrega uma taça e, na outra, ostenta um relógio. A câmera o captura a partir do joelho, com o enquadramento também mostrando a bandeira dos Estados Unidos e um grande edifício ao fundo.]
The Wolf of Wall Street arrecadou mais de 400 milhões de dólares em bilheteria (Foto: Paramount Pictures)

Nathalia Tetzner

Poucos diretores sabem explorar o lado mau dos homens como Martin Scorsese e, no campo dos atores, são raros aqueles que, à la Leonardo DiCaprio, sabem se despir para viver na pele uma figura ‘8 ou 80’. Na floresta do capitalismo selvagem, O Lobo de Wall Street surge, em 2013, sem escrúpulos ou moralismo para retratar a trajetória de Jordan Belfort pelos edifícios carnívoros do distrito financeiro mais cobiçado do mundo.

Mais uma vez no universo cinematográfico de Scorsese, o cenário é o mundo dos crimes de Nova Iorque. O roteiro de Terence Winter adapta a biografia homônima de Belfort com uma dose considerável e proposital de glamourização e exagero. Nas telas do Cinema, a luxúria e corrupção do ex-corretor da bolsa de valores estadunidense se transformam em uma Comédia, com momentos desconcertantes que também causam um verdadeiro terror na audiência.

Cena do filme O Lobo de Wall Street. Da esquerda para a direita na imagem, estão: Leonardo DiCaprio, que interpreta Jordan Belfort, e Matthew McDonough, que interpreta Mark Hanna. A câmera os captura a partir dos bustos, eles estão sentados em cadeiras em volta de uma mesa de restaurante repleta de taças e flores de cor laranja claro. Belfort, um homem branco de cabelos escuros e olhos claros, veste um terno cinza sobre uma camiseta branca e gravata amarronzada. Hanna, um homem branco de cabelos escuros e olhos claros, veste um terno azul com listras brancas sobre uma camiseta branca e gravata avermelhada. Ao fundo, os grandes edifícios de Nova Iorque aparecem diante de uma vidraçaria.
A melodia icônica de Mark Hanna se trata de um aquecimento vocal utilizado por Matthew McConaughey nos bastidores (Foto: Paramount Pictures)

Sentado atrás de escrivaninhas capengas, telefonando incansavelmente na busca de alguém que acredite em suas palavras e visão de mercado, Jordan Belfort passa de caça a caçador. Ao longo dos anos, a única coisa que permaneceu em sua rotina foi a amizade com o colega de trabalho Donnie Azoff, interpretado brilhantemente por Jonah Hill, peça fundamental na organização de todos os tipos de práticas condenáveis na sala que, agora, é enorme o suficiente para o ego inflado de ambos.

O grande despertar de Belfort acontece em uma das cenas mais memoráveis do filme, o almoço com o mentor e ex-patrão Mark Hanna, extremamente ‘charlatão’ graças a atuação certeira de Matthew McConaughey. Ao ouvir de Hanna sobre o suposto poder do uso de cocaína e prostitutas durante o trabalho, o protagonista ganha de Leonardo DiCaprio uma dimensão tão dinâmica e explosiva quanto a Fotografia de Rodrigo Prieto.

Fotografia dos bastidores de O Lobo de Wall Street. Da esquerda para a direita na imagem estão: Margot Robbie, que interpreta Naomi Lapaglia, Leonardo DiCaprio, que interpreta Jordan Belfort, e o diretor Martin Scorsese. A câmera os captura por inteiro, os três estão sentados no chão de um quarto de criança todo enfeitado na cor rosa. Lapaglia, uma mulher branca de cabelos e olhos claros, veste um vestido rosa de mangas longas que se estende até a altura dos joelhos. Belfort, um homem branco de cabelos escuros e olhos claros, veste uma camiseta de botões de mangas longas, uma gravata vermelha e uma calça preta. Scorsese, um um homem branco de cabelos grisalhos e olhos escuros, veste uma camiseta de botões de mangas longas e uma calça preta.
Margot Robbie improvisou um tapa na cara de Leonardo DiCaprio durante os testes para o filme (Foto: Paramount Pictures)

Roubando a cena, Margot Robbie traz profundidade para Naomi Lapaglia que, na entrega de qualquer outra atriz, poderia ser considerada apenas como a jovem que acabou com o primeiro casamento de Jordan Belfort. Da futilidade natural de sua personagem, Robbie nasce em Hollywood como uma sex symbol, porém, passados os dois primeiros arcos do longa, demonstra uma potência dramática que justifica o encanto de Martin Scorsese e DiCaprio no casting.

Passados 10 anos desde o lançamento, é de se acreditar que as polêmicas teriam desaparecido, mas não, até porque existem aqueles que continuam sem entender a crítica e realmente se iludem com o espetáculo de Scorsese. Entre os defeitos do longa, o uso condenável de animais em cenas explícitas e a possibilidade de uma interpretação ‘incel’, ou melhor, a ambiguidade que permite a falta de qualquer raciocínio lógico por parte dessas pessoas são, de longe, os piores erros.

Cena do filme O Lobo de Wall Street. Da esquerda para a direita na imagem estão: Jonah Hill, que interpreta Donnie Azoff, e Leonardo DiCaprio, que interpreta Jordan Belfort. A câmera captura Azoff a partir do joelho e Belfort a partir do busto, isso porque o primeiro está de pé cumprimentando o segundo, que está sentado em uma cadeira frente a uma mesa de cafeteria com café, pães e jornal. Donnie Azoff, um homem branco de cabelos e olhos claros, veste um conjunto de moletom azulado. Jordan Belfort, um homem branco de cabelos escuros e olhos claros, veste um terno azul sobre uma camiseta branca e gravata amarronzada.
O longa quebrou o recorde de uso de palavrões no Cinema estadunidense (Foto: Paramount Pictures)

Na temporada de premiações, O Lobo de Wall Street garantiu cinco indicações ao Oscar 2014 – incluindo Melhor Direção e Melhor Filme –, porém, a equipe saiu de mãos vazias. Já no Globo de Ouro do mesmo ano, Leonardo DiCaprio levou para casa a estatueta de Melhor Ator em Comédia ou Musical. Em 2019, mais um escândalo atingiu a produção, uma acusação de lavagem de dinheiro contra Riza Aziz, recentemente retirada.

Explícito, violento e viciante, a maior bilheteria da carreira de Martin Scorsese evita saídas fáceis e recusa a ‘moral da história’. Diante de uma década desde sua chegada catapultada por controvérsias, O Lobo de Wall Street se materializa como uma das melhores performances de DiCaprio e a revelação da atriz mais requisitada dos últimos anos, Margot Robbie. Ao final, se para alguns não ficou nítido, é bom lembrar: um dia é da caça e, o outro, do caçador.

Deixe uma resposta