The Ride: há 5 anos, nos perdíamos com Catfish and the Bottlemen

Capa do álbum The Ride. Mostra a ilustração de um jacaré em branco mordendo a própria cauda. No canto superior esquerdo vemos o nome da banda, Catfish and the Bottlemen, em branco, com o nome do álbum logo abaixo. No canto inferior direito há o aviso de conteúdo explícito. O fundo da imagem é preto.
“Talvez eu não aja da maneira que eu costumava/Porque eu não sinto o mesmo sobre você/Na verdade, isso é uma mentira, eu quero você” (Foto: Universal)

Ana Laura Ferreira

A geração emo dos anos 2000 envelheceu e hoje é responsável por dar as novas rédeas do que influencia o mundo. Não é à toa que o sample de Misery Business do Paramore se tornou um sucesso nas mãos de Olivia Rodrigo em seu single good 4 u, conquistando os ouvintes de todas as idades. Entretanto, quando pensamos em uma evolução um pouco mais madura dessas influências de alguns anos atrás, somos levados até bandas como Catfish and the Bottlemen. Com sua originalidade pautada nas boas memórias da era de ouro do rock feito no início do século, The Ride chegava aos nossos ouvidos há 5 anos, marcando sua presença com hinos que ficarão para sempre.

Mantendo a mesma toada de seu álbum anterior, a banda britânica consegue seguir um nível de coesão que torna este disco uma complementação de seu primeiro, fazendo com que toda a sua harmonia sonora possa não apenas se perpetuar, mas solidificar seu estilo e originalidade. Desse modo, The Ride abre suas 11 faixas com uma das canções mais conhecidas da banda, 7. Dando o tom do disco, a música é uma mistura de referências que percorrem desde Evanescence até Kings of Leon. Assim, sua pegada um tanto densa se responsabiliza por nos imergir nessa narrativa.

Imagem da banda Catfish and the Bottlemen. Mostra os integrantes, quatro homens brancos andando em uma rua. Da esquerda para direita vemos o primeiro deles com jaqueta, calça, blusa e tênis escuros, óculos e cabelos encaracolados soltos, ao lado de um homem com roupas iguais e um cachecol enrolado no pescoço, ele usa uma boina. Ao centro há um homem com roupas pretas e cabelo curto e liso solto e ao seu lado outro integrante com jaqueta, calça e tênis escuros, camisa branca e cabelos encaracolados soltos. A imagem é em branco e preto.
O vocalista da banda, Van McCann, contou que a composição e gravação do disco foram feitas em um abrigo antibombas, onde “não tinha sinal de telefone, nem janela. Ficávamos lá concentrados, atenção total” (Foto: Jordan Curtis Hughes)

Flutuando entre a sua unicidade e clichês do estilo que percorre o rock alternativo, podemos dizer que o álbum definitivamente não é vanguardista. Entretanto, essa não é uma crítica negativa, uma vez que ao se manter na simplicidade, Catfish and the Bottlemen consegue construir uma relação mais próxima ao seus ouvintes, mantendo o foco não em serem um sucesso com a crítica especializada, mas sim em construir um diálogo que fosse facilmente entendido. Jogando todas as cartas na mesa, o disco não esconde seus coringas, já inserindo Twice, com sua ambiguidade sonora, e Soundcheck, a música mais destoante da coletânea, logo na sequência.

E falando em crítica especializada, The Ride não foi muito bem em seu ano de lançamento. Sendo tachado como uma queda brusca de qualidade em comparação com o disco antecessor, o calcanhar de Aquiles do álbum aniversariante foi a expectativa. The Balcony, obra primogênita de Catfish and the Bottlemen, é sem sombra de dúvidas um diamante. Com canções marcantes, como Kathleen e Cocoon, que conseguem equilibrar passado, presente e futuro – e que se mantém atuais mesmo já completando 7 anos -, o primeiro lançamento da banda fez barulho e chamou a atenção por ser uma composição extremamente bem lapidada, ainda mais para o debut de um grupo.

Se mantendo na zona de conforto das influências e abrindo mão de um caráter progressista para isso, The Ride foi sim uma decepção que, para nossa felicidade, conseguiu se recuperar. Envelhecendo tão bem como um vinho, o álbum hoje atingiu maiores reconhecimentos. Talvez pela empolgação do novo lançamento em meados de 2016, acabamos nos cegando para o tínhamos em mãos enquanto pensávamos no que poderíamos ter. Agora, olhando para o produto final de uma perspectiva um pouco mais completa, já com a continuação da banda em The Balance, e sem nos prender em expectativas próprias, notamos que o disco é completo em todos os sentidos da palavra.

Outra crítica feita ao álbum é sua falta de organização narrativa, já que, aparentemente, acompanhamos uma mesma história contada em ordem totalmente desconexa. Partindo da poderosa Oxigen, que sonoramente falando mistura referências à la Green Day com um toque do punk setentista emprestado de bandas como Blondie, ouvimos a narração de um amor insistente e resistente ao que escutamos “Eu te amava nessa época, e eu te amo agora”. Entretanto, sem a transição necessária, somos logo jogados em Red e seu ciúmes barulhento, afinal “Ele pode fazer o que eu faço por você?”

Nos perdendo um pouco nessa história que vai e vem sem muita organização, às vezes nos pegamos mais entretidos em tentar mostrar seu quebra-cabeça cronológico do que simplesmente absorver sua construção. Contudo, para isso também há uma explicação, uma vez que a escolha da bagunça narrativa pode ser justificada a nosso olhos por uma priorização da harmonia sonora do álbum. Criando transições perfeitas, temos a impressão de estarmos quase que escutando uma faixa única, já que, em questão de batidas, nossa imersão é tão poderosa que chegamos até a nos assustar com a quebra brusca de atmosfera ao fim do disco, que encerra com a interrupção rude de Outside.

Assim, podemos facilmente resumir o segundo álbum da banda como uma mistura madura das canções que os músicos provavelmente escutavam em sua adolescência. É possível sentir toda a personalidade e identidade que os britânicos colocaram em The Ride, sem que temessem serem recheadas por isso. Afinal, como já até comentamos, o objetivo do disco não é ser um sucesso absoluto, mas uma conversa franca com que envelheceu na mesma época que eles. 

Imagem em preto e branco do vocalista Van McCann com as duas mãos segurando o microfone no pedestal. Ele usa uma blusa preta e tem os cabelos soltos e lisos. Vemos apenas parte do rosto encoberto pelas mãos. Acima de sua cabeça há um holofote o iluminando e no fundo há um pedaço do letreiro do Troubadour. No canto inferior esquerdo, há o guitarrista da banda, Johnny “Bondy” Bond, com uma blusa preta sem mangas e boina escura. Apenas metade dele aparece.
The Ride foi produzido por Dave Sardy, o qual também trabalha com nomes como System of a Down e The Who entre suas produções (Foto: Tamarind Free Jones)

The Ride é o reflexo de uma geração toda que cresceu cercada de influências musicais dos mais diversos tipos. Podendo encontrar pistas sonoras que vão desde de Panic! At The Disco até mesmo a Oasis, o que Catfish and the Bottlemen nos concede nesse disco é um amadurecimento punk e rock da primeira década deste século. Um tanto saudosista, o único empecilho que torna essa obra imperfeita é a sedenta necessidade de escrachar suas referências. Entretanto, mesmo entre altos e baixos, não podemos negar que esta é uma coletânea que consegue, com sucesso, resumir em poucas palavras a essência do rock alternativo.

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