A Maldição da Casa Winchester e a saturação de filmes de assombração

Longa se passa em 1906 e aborda questões de âmbito social ainda em vigor nos Estados Unidos do século XXI (Foto: Reprodução)

Vitor Evangelista

Nos Estados Unidos, a era Trump, além de marcada pelo caos político
e por um festival de intolerância, trouxe também à tona a velha discussão sobre o controle do uso de armas pelos cidadãos. Esse debate, que se intensificou após uma série de tiroteios que mancharam de sangue escolas e universidades do país, gera um número exorbitante de pontos de vista; no Ccinema, um deles foi abordado recentemente no último longa dos Irmãos Spierig: A Maldição da Casa Winchester.

A primeira questão a chamar atenção é o fator real da história. A casa-título realmente existe em San Jose, na Califórnia, e é representada no filme como algo vivo e em incessante criação e destruição. Mas o que dá vida à trama não é apenas a personificação.

Antes do terremoto de 1906, que causou estragos em todo o estado americano, a casa tinha sete andares (agora são somente quatro), nos quais ficavam distribuídos 160 cômodos, entre eles 40 quartos, dois salões, 6 cozinhas, 47 lareiras, 2 porões e 13 banheiros (mas apenas um chuveiro) [Foto: Reprodução]
O elenco, estrelado pela veterana e ganhadora do Oscar de Melhor Atriz, Helen Mirren, possui papel fundamental na construção narrativamesmo que esta em um papel apático, sem nenhum desafio e talvez um dos mais questionáveis de sua carreira. Ela interpreta uma viúva, dona de uma companhia de armas e que deve ser diagnosticada pelo doutor Erik Price. Contratado pela diretoria da empresa que busca tomar posse das mãos da mulher, alega sua perda de sanidade ao lidar com os espíritos que permeiam sua mansão.

Price é vivido por Jason Clarke, que aqui repete a fórmula do herói atormentado e assombrado por traumas do passado (ótimo em Planeta dos Macacos: O Confronto e sem sal em O Exterminador do Futuro: Gênesis). Inclusive, seu personagem tem a maior descaracterização do filme, ao primeiro ser retratado como um boêmio apaixonado por drogas e prostituição, e depois ter sua imagem limpa, se tornando um simples homem com problemas de bebida.

A dinâmica entre médico e paciente de Clarke e Mirren é mal desenvolvida e sem muito aprofundamento psicológico (Foto: Reprodução)

Além dos dois protagonistas, o filme conta com Sarah Snook e Finn Scicluna-O’Prey como mãe e filho, em uma dinâmica que bebe na fonte de Shelley Duvall em O Iluminado e no núcleo familiar de O Exorcista.

Não chegando, porém, ao nível simbólico de nenhum dos dois. Um dos maiores desapontamentos (quiçá o maior) que Winchester desperta no público é a sensação de desaproveitamento de uma locação estupenda e insana, que se restringe a tomadas em ambientes fechados e estáticos.

O filme mostra uma ou duas vezes um movimento significativo de câmera, andando pelos corredores e saboreando a arquitetura travessa e incômoda do ambiente. Ora, uma casa que é reconstruída a todo momento deveria, pelo menos uma vez, mostrar o processo disso em vez de apenas filmar ao longe os pedreiros com capacetes e barras de ferro suspensas! 

Os diretores não aproveitam luzes ambientes e carregam o filme num tom escuro e melancólico, com poucos momentos em que o espectador consegue enxergar a trama e se afeiçoar a ela (Foto: Reprodução)

Um exemplo de filme que abraça a ideia da casa protagonista é o excelente A Casa Monstro, animação de 2006. Outro é Invocação do Mal 2, de 2016, que dá, acima de tudo, um exemplo de filmagem instigante em ambientes claustrofóbicos.

Outra questão que deixa a desejar é a existência ou não dos espíritos na Mansão, respondida logo de cara, tirando o gosto do mistério e o sentimento de não saber ao certo o que ocorre naquele ambiente tão caótico e cheio de pregos e escadarias. A personagem de Mirren, Sarah, poderia ser o ponto de virada da história, na tentativa do doutor determinar sua sanidade ou não. Isso com certeza incharia o filme e o faria mais interessante.

Um dos poucos momentos em que a câmera ousa e capta as imagens em ângulos mais corajosos e menos convencionais (Foto: Reprodução)

Após um primeiro arco conciso e o mais direto possível, A Maldição da Casa Winchester segue, numa segunda etapa repetitiva e que não diz muito, uma série de caminhadas noturnas e viradas rápidas de câmera para os sustos momentâneose um dos terceiros atos mais longos e anticlimáticos de que me recordo. A quantidade exorbitante de momentos de tensão, que se sobrepõe um ao outro, provocam cansaço e a sensação de que o tempo não passa, mesmo sendo esse um filme de apenas 100 minutos. No fim das contas, Winchester se mostra mal dosado e mal planejado, o que certamente frustraria os esforços de seus antecessores.

3 comentários em “A Maldição da Casa Winchester e a saturação de filmes de assombração”

  1. Ancho que é um filme que vale a pena assistir, gostei o trabalho do elenco. Os filmes de terror evolucionaram com melhores efeitos visuais e tratam de se superar a eles mesmos. Eu gosto da atmosfera de suspense que geram no filme, vale a pena assistir a It a coisa acho que conseguem muito bem. Eu acho que o remake do filme superou em muito o primeiro, agora eu espero pelo Capítulo II. O elenco é parte fundamental para que o filme de um medo terrível, se comprometeram com suas personagens.

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