Andreza Santos
Como seria pudéssemos descobrir o que o outro está sentindo ou pensando para assim resolver problemas no relacionamento a dois? Essa é a premissa inicial da nova série de humor ácido da HBO Max intitulada Made for Love, que estreou em abril de 2021 na plataforma. Estrelando a talentosa Cristin Milioti (Palm Springs e How I Met Your Mother) no papel de Hazel Green, uma mulher que vive em um relacionamento sufocante de 10 anos com seu atual marido, Byron Gogol (Billy Magnussen de Aladdin), um magnata da tecnologia, sarcástico, controlador e impiedoso.
No primeiro episódio, batizado de You’re User One, vemos Hazel ao lado de Byron sempre mantendo as aparências e fingindo estar feliz naquela vida vazia dentro do Hub – assim é denominada o terreno todo montado a partir de cubos hiper tecnológicos que viram qualquer lugar do mundo que você desejar –, o lugar onde os dois vivem há quase 10 anos reclusos do mundo exterior. Todo dia, na mesma rotina, ela se encontra infeliz e deslocada dentro deste mundo à parte da realidade.
E é em uma festa dentro do Hub onde Hazel descobre que o marido implantou em seu cérebro – sem o seu consentimento – o novo dispositivo tecnológico desenvolvido por ele e sua equipe, um chip que promete compartilhar todos os pensamentos e dados emocionais entre o casal, os interligando para sempre. Hazel não consegue esconder a sua ira ao descobrir este feito e tenta se afogar na piscina do casal onde consegue escapar com a ajuda do golfinho de estimação do casal, chamado Zelda.
Em meio a flashbacks de sua infância e flashforwards, Hazel volta a sua cidade natal – no meio do nada – e vai ao encontro de seu pai Herbert (Ray Romano, de Everybody Loves Raymond) que vive com uma parceira sintética, a Diane, porque nunca superou a morte da esposa e mãe de sua filha. Quando ela finalmente acredita ter despistado Byron, descobre estar sendo vigiada por meio do chip em seu cérebro. Cada passo e cada conversa são observadas atentamente por Byron, que a persegue incansavelmente tentando convencê-la a voltar para a vida a dois.
Dentre ser bizarra, engraçada, assustadoramente tecnológica e distópica, Made for Love surge com uma proposta relativamente nova, e surpreende quem a assiste sem ler a sinopse. Entretanto, é a partir do quarto episódio, intitulado I Want a New Life, que conseguimos entender parcialmente aonde a história quer chegar.
A série é produzida e roteirizada por Patrick Somerville, que também trabalhou em The Leftovers e Maniac – minissérie da Netflix com Emma Stone e Jonah Hill –. A série se utiliza de elementos também já vistos em outras produções sci-fi, como Upload (Amazon Prime Video) e Black Mirror (Netflix), e sendo mais específica, Made for Love possui muitas similaridades com o episódio The Entire History of You.
O humor irônico dos personagens de Cristin Milioti – que já virou uma marca registrada da atriz – está de volta com muito carisma e suspense, o que segura bem a série. Ray Romano também tem ótimos momentos em cena com Cristin, e claro, com sua parceira Diane. Por outro lado, Billy Magnussen traz um perfeito aprendiz de psicopata, obcecado pela ex-mulher, o que lhe rende cenas estranhas, porém, engraçadas.
Os efeitos visuais super bem trabalhados e o elenco coadjuvante entram neste meio termo entre o ‘mundo perfeito’ e o real de forma bem inteligente. Fiffany (Noma Dumezweni, de The Undoing), cirurgiã e ajudante de Byron, percebe o quão louco seu patrão se mostra neste tempo longe de Hazel, e juntamente com Herringbone (Dan Bakkedahl, de Veep) tenta ajudar a moça, mas sem sucesso.
Made for Love caminha bem entre relacionamentos, superficialidade e a problemática da tecnologia em sua primeira temporada. Contudo, conforme vamos adentrando mais a história, não conseguimos nos apegar emocionalmente a nenhum personagem. Mesmo com atores e atrizes de qualidade, esse assunto não é tão explorado.
Essa falta de apego emocional é um pouco diminuída no último episódio, Let’s Meet, mas no contexto geral, a série não prepara o público para a resolução encontrada pelos roteiristas para Hazel. Na verdade, ela causa revolta, e caso seja o final oficial da série – que não confirmou se haverá uma segunda temporada –, trouxe a tona uma controvérsia, se a decisão da protagonista foi por apreço ou talvez uma Síndrome de Estocolmo mal resolvida, mas independente da motivação, o resultado, infelizmente, deixou a desejar.