Caio Machado
O verão é um terreno fértil bastante explorado pelo Cinema. Os lugares bonitos e ensolarados já foram palco de histórias intensas de amadurecimento, discussões sobre o amor e até mesmo terrores arrepiantes. I Comete – Um Verão na Córsega, filme exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, aproveita a estação do ano para elaborar um mosaico fascinante da vida das pessoas que moram em uma pequena vila da ilha francesa.
A produção francesa, vencedora do Prêmio Especial do Júri no Festival de Roterdã, não tem uma trama bem definida. O que temos aqui é a junção de fragmentos da vida de vários personagens da região. Observamos as crianças brincarem nas ruas, adolescentes jogarem conversa fora, adultos sofrendo por amor ou discutindo sobre o futuro, e idosos refletindo sobre a passagem do tempo, tudo sob o sol quente do Mediterrâneo.
Por ter essa estrutura mais livre, é fácil ficar perdido no meio de tantos personagens, mas o filme compensa isso ao estabelecer uma atmosfera calorosa e familiar nas situações que exibe. A escolha de deixar a câmera parada na maioria das cenas, sem mexer um milímetro enquanto os personagens falam tudo o que vêm na cabeça, dá à produção uma naturalidade tão grande que parece que estamos vendo um documentário e não uma obra de ficção.
Durante as mais de duas horas de duração, o espectador se torna um dos moradores da região, deixando-o tão a par da história local e dos relacionamentos ali estabelecidos quanto os personagens. A experiência cinematográfica se torna uma ótima viagem de férias. Naturalmente, algumas das situações não são tão bem trabalhadas quanto outras, e parecem mais aleatórias diante do conjunto, como, por exemplo, as conversas que uma personagem tem com um homem misterioso pela internet, ao ar livre. São cenas curiosas, mas interrompem a experiência que I Comete está tentando oferecer.
Outras situações cativam pela sensibilidade, como as cenas de François-Régis (Jean-Christophe Folly) com a avó ou quando uma menina confessa, em uma rua vazia, seu amor por um rapaz popular da cidade. São momentos que transmitem emoções universais, como a paixão e a saudade, e é justamente isso que as tornam tão potentes. É um pequeno enquadramento da vida onde é muito fácil de se identificar com algumas situações.
Com seus altos e baixos, I Comete – Um Verão Na Córsega chama atenção por construir uma atmosfera tão agradável e vívida que transporta o espectador para a região francesa. Seu estilo documental o torna ainda mais imersivo e sensível diante das situações pelas quais os personagens passam. Assim como todos os bons filmes de verão, estabelece um mundo próprio que poderíamos ver por horas, sem cansar. Não dá vontade de ir embora.