Através do Fluxo encontra a beleza da vida por meio da casualidade

O cenário é uma mesa de um restaurante. Três personagens estão em cena. Na direita está o personagem de Kwon Hae-hyo com uma roupa preta e com a mão no queixo. Na esquerda está Kim Min-hee com uma roupa cor de bege. No centro está Jo Yun-hee com uma blusa rosa. As duas olham para o personagem de Kwon Hae-hyo. Existem três taças na mesa na frente de cada um. Eles estão bebendo alguma bebida alcoólica.
Hong Sang-soo é reconhecido por lançar um filme por ano e por ter uma filmografia muito regular (Foto: Jeonwonsa Film)

Guilherme Moraes

Hong Sang-soo é considerado um dos grandes cineastas contemporâneos por conseguir trazer profundidade em meio a diálogos, aparentemente, banais, uma condução discreta e histórias simples. Em Através do Fluxo, filme que fez parte da seção Perspectiva Internacional na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, ele encontra a beleza da vida por meio da casualidade.

Continue lendo “Através do Fluxo encontra a beleza da vida por meio da casualidade”

O Pardal na Chaminé compartilha o desejo de escapar

Cena do filme O Pardal na Chaminé. Cinco pessoas estão lado a lado, com expressões introspectivas e semblantes melancólicos, sugerindo um momento de reflexão ou tristeza. À esquerda, um jovem de cabeça baixa veste uma camisa clara, enquanto ao seu lado está um homem de barba curta, usando um suéter marrom. No centro, uma mulher de cabelos curtos e roupa leve, com uma blusa listrada e shorts roxos, olha para baixo com ar desanimado e rosto sujo de sangue. Ao lado dela, uma mulher de cabelo preso veste uma camisa vermelha, enquanto a última personagem, à direita, usa uma camiseta verde com a palavra "Chicago". A composição evoca uma atmosfera de tensão emocional, capturando um instante de silêncio e introspecção compartilhada pelo grupo. Ao fundo, há vegetação densa e uma parede clara, próximo a uma casa.
A desesperança é o único sentimento que encontramos em O Pardal na Chaminé (Foto: Zürcher Film)

Henrique Marinhos 

Exibido na seção Perspectiva Internacional da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, O Pardal na Chaminé (Der Spatz im Kamin, no original), é um filme suiço dirigido por Ramon Zürcher e chega para provar que o ditado popular “família não se escolhe” não é só uma frase jogada ao vento – é uma sentença. Uma casa de campo, que parece um refúgio de tranquilidade, não demora a se mostrar uma prisão emocional onde as tensões familiares afloram o pior de cada um.

Continue lendo “O Pardal na Chaminé compartilha o desejo de escapar”

Zafari: uma metáfora de fuga e desespero

Cena do filme Zafari. Na cena vemos Ana, Bruno e Francisco olhando para algo. Ana, mulher branca com cabelos castanhos, veste uma blusa na cor azul. Bruno, adolescente branco de cabelos castanhos, usa uma camiseta de manga longa vermelha e cinza. Francisco, homem branco com cabelos e barba grisalhos, usa uma camiseta de botão listrada branca e amarela. Todos encontram-se na lateral direita da imagem, e, ao fundo, é possível ver árvores e vegetação.
Zafari também foi exibido no Festival de San Sebastián (Foto: Vitrine Filmes)

Vitória Borges

A produção venezuelana Zafari, presente na seção Perspectiva Internacional da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, conta a história de uma família em situações precárias vivendo em uma Caracas distópica. Produzido por Mariana Rondón, o longa mostra a cidade dividida entre uma sociedade que está à beira de desmoronar e a ânsia pela fuga do país – fazendo uma clara comparação com a situação da Venezuela contemporânea.

Continue lendo “Zafari: uma metáfora de fuga e desespero”

Quando Peter Pan pede Cinderela em casamento, o resultado é Anora

Na imagem, Anora está centralizada, ela está dançando em uma balada com iluminação azul e roxa. Ela usa um vestido vermelho com toda região de tórax e peito descobertos. Ela está sorrindo e com os olhos fechados. Ao seu redor há outras pessoas, que seguram copos de bebida. Ela é uma mulher de pele clara, na faixa dos 25 anos, de cabelos longos, ondulados e escuros com algumas mechas de brilho rosa.
O filme foi vencedor da Palma de Ouro da 77ª edição do Festival de Cannes (Foto: Universal Pictures)

Davi Marcelgo

No pódio dos filmes mais aguardados pelo público da programação da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Anora só fica atrás de Ainda Estou Aqui. O novo longa de Sean Baker (Projeto Flórida) faz parte da seção Perspectiva Internacional e narra a história de Anora (Mikey Madison), uma prostituta que é pedida em casamento por Ivan (Mark Eidelstein), um jovem russo podre de rico que está em temporada de férias nos EUA. Não demora muito para o sonho cor-de-rosa da personagem começar a desbotar. 

Continue lendo “Quando Peter Pan pede Cinderela em casamento, o resultado é Anora”

Um Homem Diferente se assemelha nas crises existenciais

Cena de Um Homem Diferente. Nela, vemos Edward, interpretado por Sebastian Stan. Edward é um homem branco com o rosto desfigurado. Ele veste uma camisa xadrez e encara a câmera. O fundo está escuro e uma luz foca no rosto do personagem
Longa teve recepção calorosa em suas exibições na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: A24)

Guilherme Veiga

Se tem um tema que o Cinema injetou no debate público nos últimos tempos foi o da busca por padrões. Com o sucesso estrondoso de A Substância (2024), Um Homem Diferente chegava às telas da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo através da seção Perspectiva Internacional com cara de mais do mesmo: alguém insatisfeito com seu corpo, um tratamento milagroso e o mais puro caos. Porém, o longa entrega uma intrigante e curiosa abordagem sobre perda e subversão da identidade.

Continue lendo “Um Homem Diferente se assemelha nas crises existenciais”

Folhas de Outono é uma comédia romântica sem paixão

Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes, Folhas de Outono integrou a seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: O2 Play)

Vitória Gomez

Em um dia cinza, uma trabalhadora de um supermercado é demitida por furtar uma refeição vencida, que iria para o lixo. Pouca diferença faz, já que um serviço tão mecânico poderia ser melhor aplicado em qualquer outro lugar. Na mesma cidade, mas aparentemente sem conexão nenhuma, um homem alcoólatra é dispensado por beber no trabalho. Para ele, a mesma coisa: com exceção do salário no fim do mês, pouco importa. É nesse cenário de desilusão e desesperança total que ambos se encontram, e Folhas de Outono mostra que é possível fazer comédia romântica sem nenhuma paixão ou graça.

Presente na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e no Festival de Cannes, o longa do finlandês Aki Kaurismäki parte de um lugar comum: uma demissão – ou melhor, duas demissões. No entanto, com a constante frieza do trabalho assombrando o dia a dia, as risadas se fazem no absurdo e na solidão compartilhada entre dois protagonistas que igualmente buscam por conexão humana (ou animal) em meio a um cotidiano de sobrevivência.

Continue lendo “Folhas de Outono é uma comédia romântica sem paixão”

O pesadelo feminino toma forma em The Royal Hotel

Cena do filme The Royal Hotel. Da esquerda para direita, Liv (Jessica Henwick) abraça por trás Hanna (Julia Garner) e descansa a cabeça em seu ombro. As amigas estão em uma sacada, olhando para o lado de fora.
Kitty Green colabora novamente com Julia Garner, estrela do seu filme anterior, A Assistente (Foto: Universal Pictures)

Giovanna Freisinger

Um bar fuleiro, na fronteira de uma remota cidade mineradora no deserto australiano, com a população majoritariamente masculina. Essa é a ambientação de The Royal Hotel. Não tem espíritos possessivos nem psicopatas mascarados, mas é um cenário para um filme de terror tão assustador quanto, senão mais. Pergunte a qualquer mulher. A diretora Kitty Green aperfeiçoa o pesadelo feminino, comunicando eficientemente a sensação de ser observada como um pedaço de carne fresca, em meio a predadores famintos. O suspense se constrói sobre aquilo que é desconfortável, sinistro e, assustadoramente, familiar. 

Continue lendo “O pesadelo feminino toma forma em The Royal Hotel”

Tomando Veneza, arte e política andam lado a lado

Cena do filme Tomando Veneza. Na imagem há dois homens segurando uma tela pintada à mão nos tons de cinza e amarelo. Os dois estão em uma lancha branca que é conduzida por um terceiro homem. A lancha flutua em um rio esverdeado de Veneza.
Exibido na seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Tomando Veneza dissolve um quebra-cabeças (Foto: Gert Films)

Jamily Rigonatto 

Quando o estalo da ruptura chega, é impossível deixar de ouvir. O som estrondoso carrega um posicionamento, mas nem sempre se insere de forma natural. Na maioria dos casos, o ruído depende de mais artimanhas do que somos capazes de imaginar. Em Tomando Veneza, documentário dirigido por Amei Wallach e pertencente à seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, os mistérios por trás do som são mais que desvendados.  Continue lendo “Tomando Veneza, arte e política andam lado a lado”

A Sobrevivência da Bondade mostra que nem ela está viva

Cena do filme A Sobrevivência da Bondade. Na cena, que se passa durante o dia, podemos ver, ao fundo, uma estrutura de tijolos, que aparenta ser uma casa abandonada. Em um primeiro plano, ao centro, vemos uma mulher preta, de aparentemente 50 anos, com cabelos curtos e castanhos claros, vestindo uma camisa xadrez bege com listras pretas. Ela encara algo a direita da imagem, que não podemos ver.
Presente no Festival de Cannes, Veneza e Berlim, A Sobrevivência da Bondade também integrou a programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Fandango Sales)

Vitória Gomez

Reencontrar sentido em seus recomeços. É o que a sinopse de A Sobrevivência da Bondade propõe. Na trama, exibida na seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e vencedora do Prêmio da Crítica do Festival de Berlim, uma mulher negra é abandonada no deserto dentro de uma jaula. Conseguindo milagrosamente escapar depois de dias, ela cruza a paisagem árida em busca de salvação, para encontrar ainda mais barbárie na civilização. 

A sinopse busca por recomeços, mas, a cada novo cenário apresentado, essa ideia parece mais distante. BlackWoman – como a protagonista é chamada nos créditos finais, uma vez que o longa-metragem praticamente não tem diálogos – cruza campos arenosos sem sinal de vida, cidades abandonadas por uma suposta guerra e trilhas em ambientes hostis, com o inimigo caminhando poucos metros à frente. A mulher não tem outro objetivo senão a sobrevivência e, para o espectador, o tom é contemplativo. O que estaria acontecendo ali? E, acima de tudo, o que isso significa?

Continue lendo “A Sobrevivência da Bondade mostra que nem ela está viva”

Dulcineia explora a música como a conexão, inspiração e destino de um artista em busca de sua identidade

Cena do filme Dulcineia. Na imagem estão os dois protagonistas Hugo e Dulcineia andando de bicicleta. Hugo é um homem de meia idade com cabelos lisos, longos e presos. Ele tem uma barba preta que cobre seu rosto enquanto anda de bicicleta. Dulcineia é uma mulher branca de cabelos castanhos longos. Ambos estão em uma rodovia movimentada e muito iluminada por postes e reflexos da água em poças formadas pela chuva. Estão usando capas de chuva, Dulcineia uma capa vermelha e Hugo uma capa transparente.
Junto a Dulcineia, mais de 20 filmes portugueses integram a 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Bando à Parte)

Henrique Marinhos

Dirigido e roteirizado pelo cineasta português Artur Serra Araújo, Dulcineia conta a história de Hugo, um contrabaixista de jazz que decide tirar um ano sabático e voltar a Porto, sua cidade natal, em busca de equilíbrio e inspiração. No entanto, como o fio condutor da trama, a sinfonia se desenvolve lentamente em torno de um mistério como um pianista famoso, que toca uma música que o protagonista vem escrevendo na sua cabeça há anos, mas nunca conseguiu colocá-la no papel.

A obra está presente na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Perspectiva Internacional, e mistura elementos de romance, suspense e uma quase fantasia. Suas referências também são diretas e bem-vindas, construindo uma base sólida para o desenvolvimento da narrativa: Dom Quixote, que influi o nome da personagem Dulcineia (Alba Baptista) e sua relação com Hugo (António Parra); a própria cultura de Porto, retratada em belas imagens e diálogos; e o jazz, a paixão e a expressão de Hugo e dos demais músicos que ele encontra em sua nova jornada de autoconhecimento. 

Continue lendo “Dulcineia explora a música como a conexão, inspiração e destino de um artista em busca de sua identidade”